Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Destinos Trocados

por Andrusca ღ, em 14.09.12

Capítulo 17

A Verdade

 

Só segundos depois de Nate ter beijado Caroline é que Keith percebeu o que se estava a passar, e correu também até lá. Não reparou nos pais dela, nem em Cindy, e muito menos no seu pai. Apenas a abraçou. Caroline sorriu-lhe, mas ao olhar para o lado viu que Terry e Marshall a olhavam, completamente especados, tal como o resto das pessoas no ginásio. Isto era uma surpresa para todas elas, “duas Cindy’s”. Caroline engoliu em seco e partilhou um breve olhar com Nate antes de se virar para os pais. Ia dizer qualquer coisa, mas uma voz soou antes da sua.

- Temos que encontrar um sítio privado para falar – quem falou foi Joseph – Acredito que há assuntos que devem ser discutidos em privado.

Caroline olhou em volta e percebeu que todos os olhos estavam sobre si, e apenas assim aceitou a proposta do mordomo. Foram todos para dentro de uma das salas de aula, e o clima não podia estar mais estranho. Cindy estava sentada numa das mesas, a contorcer-te de raiva por Caroline estar de volta; Keith e Nate encontravam-se ainda equipados, encostados à parede; Caroline observava a chuva pela janela, sem fazer ideia do que dizer; os seus pais olhavam-na, especados, no meio da sala; Joseph limitava-se a arranjar coragem para o que vinha a seguir.

- Estás viva... – Caroline voltou-se para o lado de dentro da sala ao ouvir a voz da mãe. Terry deixou que uma lágrima lhe escorresse pelo rosto, e Caroline olhou-a confusa – Nunca pensámos que, após todos estes anos, estivesses viva. É um milagre.

- O quê? – Perguntou, sem perceber o que a mãe queria dizer. Se a tinham deixado, porque poderiam acreditar que estava morta? – Um milagre? Pensava… vocês não me abandonaram?

Tanto Marshall como Terry olharam para ela incrédulos, e foi ele a tomar o primeiro passo na sua direcção, apesar de ter parado logo a seguir.

- Abandonar-te? Nunca! – Garantiu – Começámos a amar-te a partir do momento em que nasceste, mesmo antes disso até, a ambas vocês… Mas duas noites depois foste roubada do hospital.

Nate dirigiu o olhar para Caroline, que estava claramente em choque. Então eles não a tinham abandonado? Eles queriam-na? Amavam-na?

- O quê? – Foi Keith quem quebrou o silêncio – Peço desculpa por me meter, mas… ela não foi abandonada? Foi raptada?

- Oh, cala-te filho do mordomo – mandou Cindy, que revirou os olhos.

Joseph respirou fundo e depois deu três pancadinhas na mesa de madeira do professor, o que indicava que estava nervoso. Nunca pensou que este dia pudesse chegar, mas estava na hora. Tinha que revelar o seu segredo a todos naquela sala, mesmo que magoasse cada um deles.

- Perdoem-me a intrusão… mas acho que está na altura de todos vocês saberem uma coisa – começou por dizer – Quando era mais jovem tive um problema com drogas. Fiquei mesmo mal.

Cindy soltou um risinho cínico e depois abanou a cabeça.

- Ninguém se importa, Joseph – declarou – Isto não é sobre ti.

- Por favor, é importante – pediu ele, para depois prosseguir – A minha mulher estava grávida, e comecei a pedir favores às pessoas erradas. Quando o bebé nasceu, o meu traficante veio-me cobrar os favores. Disse que, se não lhe desse o meu bebé, matava a minha mulher. Estava a olhar para o berçário, mais tarde, quando notei duas bebés iguais com o mesmo apelido. Uma Cindy, e uma Caroline. Comecei a pensar que não era justo que essa família tivesse dois bebés, quando eu não podia ter nenhum se quisesse salvar a minha mulher. Não pensei nos meus actos, e nessa mesma noite… eu… eu…

- Foste tu – concluiu Caroline, completamente incrédula – Raptaste-me.

Todos olharam para Joseph e ninguém conseguia acreditar naquilo. Keith deu um passo em frente, com a decepção explícita no rosto.

- Pai… - murmurou.

Joseph apenas engoliu em seco e olhou para baixo, com vergonha de tudo o que tinha feito.

- Perdoa-me filho – murmurou, voltando-se depois de novo para Caroline – Sim. Entreguei-te a ele, e quando o vi a levar-te arrependi-me. Quis-te de volta, percebi que não era acertado o que tinha feito, mas ele tirou uma pistola do casaco e deu-me um tiro no braço. Vi o seu carro a desaparecer enquanto estava ainda deitado no chão. Voltei para o hospital, apenas para descobrir que a minha mulher tinha morrido. Um problema com o cérebro, devido ao parto. Talvez fosse o destino a punir-me. Mesmo assim, fiquei com o meu filho e endireitei a minha vida. Meses depois fui chamado ao centro de emprego e soube que uma família precisava de um mordomo, e oferecia todas as condições para o emprego. Aceitei-o na hora, e quando vos vi… - Joseph voltou-se depois para os Geller – Quando vi a vossa bebé… sei que devia ter dito alguma coisa, ainda estavam despedaçados, mas mantive-me calado. Pelo que sabia, a Caroline já podia até estar morta. Por isso prometi-me que nunca deixaria que nada acontecesse à pequena Cindy. Não passou um dia sem que eu pensasse no que fiz. Não espero que nenhum de vocês me perdoe, mas…

- Foi assim que soubeste como me encontrar. Eras o único que sabia que eu era a irmã gémea da Cindy – deduziu Caroline.

- Procurei-te por anos, e quando finalmente te encontrei, comecei a seguir todos os teus passos. Quando a Cindy desapareceu, pensei que se te pusesse no lugar dela por alguns meses os vossos pais não iriam notar, e, por isso, não iriam sofrer. De novo, foi errado. Em poucas horas arruinei a vida de um bebé que não tinha culpa de nada… obriguei-o a crescer nas ruas, a crescer demasiado rápido… lamento tanto, Caroline. Estou pronto para arcar com as consequências de tudo o que fiz.

Caroline engoliu em seco e olhou para Keith. Detestou a maneira como viu o amigo, tão desanimado, tão desnorteado.

- E vais – garantiu Marshall, com uma voz mais triste que dura.

- Espera… - todos olharam para Caroline, a quem caiu uma pequena lágrima que depressa foi limpa – Joe… obrigado por teres contado a verdade.

Joseph olhou para ela e abanou a cabeça.

- Não me agradeças, nunca fiz nada para merecer os teus agradecimentos.

Terry, que entretanto se tinha desviado até à janela, olhou para eles e cerrou os olhos.

- Há quanto tempo estavas aqui? – Perguntou, para Caroline – Se percebi bem, estavas a substituir a Cindy… por quanto tempo?

- Há quase três meses.

Terry sentiu um aperto no coração e começou a respirar mais depressa. Três meses?

- Tivemos-te três meses na nossa casa… e não notámos? – Perguntou, com a cara lavada em lágrimas, virando-se depois para a outra filha – E onde é que estavas tu, Cindy? Para onde foste?

Cindy engoliu em seco. Claro que agora tinha que sobrar para si.

- Ela só precisou de arejar as ideias – meteu-se Caroline, para defender a irmã – Precisou de um tempo… Eu sabia onde ela estava a todo o tempo.

Cindy olhou para a irmã curiosa. Era boa mentirosa também, estava no sangue da família.

- Ainda não acredito – murmurou Marshall, dirigindo-se a Caroline – Posso… posso-te abraçar?

Caroline riu, e assentiu com a cabeça. Enquanto Marshall e Terry abraçavam a filha e deixavam cair as lágrimas, Nate perguntou a Keith se ele estava bem e Cindy revirou os olhos. A história não estava, definitivamente, a levar o rumo que ela pretendia. Joseph esgueirou-se para ao pé do filho, e desfez-se em perdões e pedidos de desculpas, que Keith estava relutante em aceitar.

- Vou chamar a polícia – declamou Marshall, por fim. Joseph assentiu com a cabeça, não iria fugir, nem dar luta, apenas receber o que merecia.

Caroline olhou para ele e, apesar de todo o mal que lhe tinha feito, não conseguiu deixar de sentir pena. Sabia que era parvo e demasiado inocente da sua parte sentir pena de uma pessoa que a tinha raptado, manipulado e depois pagado para desaparecer, mas não o conseguia evitar. E, além disso, sentia pena de Keith. O único que a tinha apoiado e sido seu amigo.

- Pai, pára – os olhos de Marshall brilharam ao ouvi-la chamá-la de “pai” pela primeira vez, e Caroline levou a mão ao telemóvel e tirou-o das mãos dele – Eu sei… - Caroline olhou para Keith, e depois encolheu os ombros à medida que abanava a cabeça – Eu sei que o que o Joe fez foi errado. O traficante… o Roger, eu cresci com ele. E sei do que é que ele era capaz. Não cresci com dinheiro, como vocês, por isso roubei, arrombei casas, dormi ao relento e procurei por comida nos sítios mais odiosos. E tenho a certeza de que, se tivesse alguém ao meu lado durante todo esse tempo, teria feito tudo para proteger essa pessoa. Porque viver nas ruas… não ter nada… transforma-nos em pessoas diferentes. Pessoas desesperadas. E eu só quero começar de novo.

- O que estás a dizer…? – Questionou-lhe a mãe.

- Que levar isto a tribunal levaria demasiado tempo. Nunca poderíamos esquecer, nunca poderíamos seguir em frente – afirmou ela – Ele merece ser punido, sim, mas nós também merecemos? Ou devíamos finalmente seguir em frente? Todos nós. Não chamem a polícia, só… deixem-no ir. Para onde quer que queira, deixem-no ir. É só o que peço.

Marshall olhou para baixo e depois andou na direcção do mordomo, pregando-lhe um murro que o mandou ao chão, fazendo com que Terry soltasse um pequeno guincho.

- Tu ouviste-a – declarou, enquanto olhava o outro – Vai para onde quiseres… mas se te volto a pôr a vista em cima, mato-te.

Joseph assentiu e, levantando-se, caminhou de novo até ao filho.

- Ele pode ficar – assegurou Terry, surpreendendo todos – O que fizeste não implica o teu filho. Se o Keith quiser, pode ficar connosco e acabar a escola.

Keith olhou para ela e sorriu-lhe.

- Eu visito-te – disse, para o pai. Joseph assentiu e, após lhe dar um breve abraço, saiu.

Fez-se silêncio durante algum tempo, e então Caroline aproximou-se de Keith e abraçou-o com bastante força.

- Lamento – murmurou-lhe.

- Não – disse o rapaz – Eu é que lamento. Estás ensopada – constatou o óbvio – Precisas de um bom banho quente para não ficares doente.

- Caroline – disse Marshall – Hoje ficas no quarto de hóspedes. Amanhã Remodelamos o teu quarto, pode ser?

Cindy cerrou os olhos. “Assim as coisas não resultam”, pensou.

Em poucos minutos todos saíram de lá, conscientes de que os tabloides do dia seguinte apenas falariam de como os Geller tinham duas filhas em vez de apenas uma, que a gémea desaparecida tinha finalmente recordado.

 

E pronto, um dos mistérios está desvendado.

Agora falta descobrir porque é que a Cindy desapareceu... mas ainda vão ter que esperar um bocadinho até lá (a)

8 comentários

Comentar post