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Destinos Trocados

por Andrusca ღ, em 16.09.12

Capítulo 18

Criar Laços

 

Caroline estava deitada na cama simplesmente a olhar para o tecto e a pôr as ideias em ordem. Ontem tinha sido um dia simplesmente duro. Não fora nada fácil descobrir que tinha sido raptada, ver Keith contra o pai e perceber que Cindy não a queria mesmo por perto. Mas ela tinha a noção de que amanhã seria ainda mais difícil. Terry e Marshall falaram com o director, e amanhã Caroline iria para a escola juntamente com a irmã. Apesar de ter descoberto tudo de uma vez, e de ter um turbilhão de pensamentos ao mesmo tempo, não conseguia deixar de admitir que se sentia muito mais aliviada. Tinha uma família agora. Pais, uma irmã… talvez até um futuro em Medicina como sempre desejara.

Bateram à porta e, antes que Caroline desse a ordem, abriram-na. Nate sorriu-lhe e olhou em volta. Durante o dia Caroline e Terry tinham ido às compras, e o quarto da rapariga estava completamente reformulado. Bem… as coisas essenciais, pelo menos. Já tinha uma cama de casal, uma secretária e um espelho. O closet ainda se encontrava vazio, mas Marshall tinha-lhe dito que ia tratar do seu cartão de crédito para que pudesse ir às compras para comprar as roupas que queria; até lá, usaria as de Cindy. Faltavam também os “enfeites”, como as flores falsas, os quadros, todas as bugigangas que se usam para complementar um espaço.

- Nate – murmurou a rapariga, levantando-se logo.

Ele fechou a porta e caminhou até ela, dando-lhe um beijo na bochecha.

- Desculpa aparecer sem avisar – desculpou-se ele, sentando-se sem cerimónias na cama dela. Caroline sentou-se também, ao lado – Queria falar contigo… ontem acabámos por não ter tempo nenhum e…

- Sim – interrompeu ela – Eu sei, também queria falar contigo. Nate… desculpa ter-te mentido. E… por ter ido embora sem me despedir.

Ele riu-se e abanou a cabeça.

- Não – afirmou – Não te foste embora… desviaste-te um bocadinho. Estás aqui agora, é tudo o que importa.

- Sim. E vou-te dizer tudo o que quiseres saber, prometo.

- Ainda bem, porque tenho uma pergunta.

Caroline assentiu em preparou-se para tudo. Ele podia perguntar o que quisesse sobre Roger. Podia perguntar-lhe como tinha sido morar na rua, o que tinha feito e como tinha sobrevivido. Podia querer saber se não lhe custou mentir a toda a gente durante aquelas semanas sem fim. Podia perguntar qualquer coisa sobre ela, do que gostava, do que não gostava. Caroline tinha resposta para qualquer uma dessas perguntas, mas não para a que ele realmente colocou.

- Eu sei que isto vai ser tudo novo – murmurou ele – Tens os teus pais… e a Cindy… e vais começar a ir para a escola. Mas queria saber se vais ter algum espaço para mim – Caroline franziu as sobrancelhas – Acho… acho que o que estou a tentar perguntar é: queres ser a minha namorada?

A rapariga ficou a olhar para ele sem qualquer reacção. Esperava qualquer pergunta menos aquela. Nate Montgomery, o garanhão do liceu, invejado pelos rapazes e cobiçado pelas raparigas, estava a pedir-lhe que fosse sua namorada.

- Tens a certeza? – Murmurou ela – Tu nem sequer conheces Nate…

Nate encolheu os ombros e depois abanou a cabeça.

- Conheço sim – discordou – Sei que és bondosa, e gentil, e divertida e inteligente. Sei que te importas com os teus amigos, porque se não nunca terias feito o que fizeste pelo Keith… nunca deixarias o Joseph sair ileso. E, graças a todas as novidades, sei que és forte e persistente e uma verdadeira lutadora. És alguém com quem se pode falar, alguém que sabe como ouvir e aconselhar. E sei que, se tivesses mesmo ido embora, ia ficar sem uma parte de mim. Porque, Caroline, uma parte de mim já é toda tua – Caroline começou a sentir as bochechas a arder, e Nate pegou na mão dela e levou-a ao seu peito, permitindo-lhe sentir a velocidade do seu coração – Consegues sentir isso? Cada vez que te vejo… que penso em ti… o meu coração simplesmente acelera. Não quero saber se és a Cindy, ou a Caroline, ou o que quer que seja. Não me apaixonei pelo teu nome, apaixonei-me por ti. Apenas por ti.

- Sim – disse ela, com os olhos brilhantes, após alguns segundos de silêncio – Eu também me apaixonei por ti. Por isso sim, adorava ser a tua namorada.

 

✽✽✽

 

Caroline já estava completamente despachada. Tinha acordado cedo demais, e por isso tinha decidido tomar logo o pequeno-almoço. Encontrou Dorcas e Kim na cozinha, e conversou um bocado com a cozinheira e a empregada, que lhe confidenciaram terem suspeitado o facto de “Cindy” andar tão simpática ultimamente. Falaram de mais coisas, e Caroline fê-las prometer que não a iriam tratar por “menina”, nem “senhora”, nem nada disso. Caroline chegava e bastava, ela detestava aquele tipo de maneiras. Depois de ter comido, sentou-se no sofá da sala e ligou a televisão. Começou a dar um documentário sobre a Idade Média, a época preferida de Caroline.

Aos poucos ia ouvindo os seus pais a despacharem-se, e o barulho que Cindy fazia nos saltos altos ao andar de um lado para o outro. Terry veio-se despedir dela pois tinha que ir para o hospital.

- Caroline – Caroline olhou para o lado e viu Marshall, que lhe sorria – Já estás pronta?

- Sim, estou à espera da Cindy – o pai assentiu, estava preocupado com a relação entre elas as duas. Cindy sempre fora tratada como única e exclusiva, e ele temia que, por isso, tivesse uma reacção menos feliz quanto à irmã. Mas tinha que esperar para ver.

- O que estás a ver? – Contornou o sofá e sentou-se ao lado dela.

- Oh… estava só a ver um programa, nada de especial.

- Ai sim? O que gostas de ver?

- Documentários sobre história… e coisas assim – Caroline encolheu os ombros e depois ficou a olhar para ele, vendo a surpresa espalhada no seu rosto.

- A sério? Sabes, a Cindy só gostas dos reality-shows, mas eu detesto-os. Ele adora um que é sobre as Kardashian, não percebo bem porquê.

Os dois soltaram uma boa gargalhada.

- Eu também odeio esses programas.

- Vês? É uma coisa que temos em comum – Ele começou-se a entusiasmar. Tinha perdido tanto tempo que agora só queria conhecer a filha o melhor que pudesse – E que mais? O que queres ser?

Caroline engoliu em seco e desviou o olhar para o chão.

- Gostava de tirar Medicina… mas sei que não é possível – acabou por falar.

- E porque não? A tua mãe é médica, tenho a certeza que te está no sangue.

- Nunca conseguiria pagar… pessoas como eu nunca vão… para… a faculdade – na verdade Caroline não esperava que eles assumissem nenhuma dessas “obrigações”. Sabia que eram educados o suficiente para a porem na escola e lhe darem tudo, mas não sabia até que ponto a mandariam para a universidade. Via que estavam felizes por a terem lá, mas não se queria impor nem pedir coisas. Esse nunca fora o seu feitio.

- Agora tens uma família. Deixa-nos preocupar com isso – mas, tanto Marshall como Terry se queriam certificar que nada faltaria a nenhuma das filhas. Caroline iria ter tudo o que quisesse. Tudo o que merecesse.

Cindy desceu para o pequeno-almoço e viu-os os dois à conversa, tão sorridentes e felizes. Mordeu o lábio e cruzou os braços, enquanto olhava para eles de olhos cerrados. “Tenho que a tirar daqui”, pensou, com urgência. Não a queria naquela casa nem mais um dia. Nem mais um minuto. Tinha que a fazer ir embora. Tinha que a fazer perceber que o seu sítio não era ali. Talvez a pudesse induzir a ir para Inglaterra, ou para a Europa, algum sítio bem longe. Tinha a perfeita noção que os pais nunca lhe perdoariam, mas simplesmente não a podia ter ali. Mais tarde lidaria com eles.

- Menina Cindy… - Kim chamou-a, despertando-lhe a atenção – O seu pequeno-almoço está na mesa. A sua mãe já saiu.

Cindy não lhe disse mais nada e dirigiu-se à sala de jantar, deixando-a a pensar no quão diferente era da irmã.

Depois de ter comido, voltou ao andar de cima onde foi buscar a mala e depois foi ter à sala.

- Estás pronta? – Perguntou, para Caroline, sem um único pingo de simpatia na voz.

- Cindy – repreendeu-lhe o pai.

- Não, não faz mal – disse Caroline – Sim, estou pronta. O Keith também já está despachado?

Cindy revirou os olhos.

- Para o que é que eu quero saber se o filho do raptor está despachado? A minha sentença, é levar-te a ti para a escola – disse.

Caroline engoliu em seco, e Marshall levantou-se com um ar autoritário. Ia ralhar uma vez mais, mas a sua filha adiantou-se.

- O Keith é bom rapaz – defendeu Caroline –, e não tem culpa do que o pai fez. Vai connosco para a escola.

- É o meu carro – afirmou Cindy.

- Na verdade… eu comprei-o – Marshall calou-se ao ver que estava a receber uma chamada – Tenho que ir meninas. Porta-te bem Cindy. Boa sorte no primeiro dia, Caroline.

Assim que o pai saiu da sala, Cindy aproximou-se da irmã de um modo intimidador e colocou-se à frente dela com um ar superior.

- Não pertences aqui – declarou – Se fores esperta, percebes que o melhor é ires embora. Senão…

- Senão…? – Caroline interrompeu-a – Vais-me ameaçar, Cindy? Porque quero que saibas que sobrevivi a um traficante, a ladrões, e a cães enormes abandonados. Não tenho medo de ti.

- Ainda.

- Pensei que pudéssemos ser amigas. Que ter uma irmã podia ser bom. Porque é que és assim? – Cindy engoliu em seco e revirou os olhos.

- Quero-te fora daqui – limitou-se a proferir.

 

Parece que a Cindy não vai facilitar...

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