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O Deus Caído

por Andrusca ღ, em 03.10.12

Quinta Parte

 

Suptka estava caótica e, assim que Kröll chegou ao seu destino, um esquadrão inteiro esperava-o.

Gnaux estava sentado no seu trono, com um ar triunfante, enquanto via os seus guardas a lutar com o irmão que, apesar de bom guerreiro e de ter dado o seu melhor, foi derrotado por estar em grande desvantagem numérica.

- Vais apodrecer com o pai – anunciou o Imperador, antes de arrastarem Kröll para as celas.

Tinha sido uma armadilha. Gnaux sabia que o irmão podia conseguir derrotar o seu melhor guerreiro, sabia que se conseguisse ter a Pedra Lunar ia conseguir retornar, por isso preparara logo todos no Solar Divino para que a sua chegada não fosse nenhuma surpresa.

O Deus foi fechado numa das celas e, enervado, começou a pontapear a parede. Queria sair dali, queria lutar, defender a justiça, regressar para o seu amor na Terra. Pensou nela, em como estaria, se esperaria por si.

 

✵✵✵

 

Natalie ainda ficou algum tempo especada naquela cratera. Era tudo tão inacreditável, tão irreal. E, no entanto, não tinha qualquer dúvida em que acreditar. Sabia, desde o primeiro momento em que pousara os olhos nele, que era especial… só não sabia o quanto.

Arrastou-se até à escola, já com as lágrimas limpas, e entrou na sala dos professores com um ar pálido e triste, dando às outras professoras uma desculpa para comentarem que estava cada vez pior. Estava apática a tudo, não se conseguia concentrar em nada. Deu as aulas mas não dizia coisa com coisa. Não fazia sentido. Os alunos mandavam-lhe papéis, faltavam-lhe ao respeito, mas ela não se conseguia preocupar. No pensamento apenas tinha aqueles cabelos loiros e olhos azuis. Estava preocupada… e se ele não estivesse bem? E se algo de mal lhe acontecesse? E se não voltasse por ela?

- Calem-se! – Berrou, assustando toda a turma. Nenhum deles, nunca, a tinha ouvido gritar daquela maneira. Claro que já os tinha repreendido, mandado calar, mas nunca assim. Não da maneira decidida e implacável como fizera desta última vez – Vocês são adolescentes desobedientes, malcomportados e sem qualquer futuro pela frente se não mudarem! Parem de me infernizar a vida e preocupem-se com a vossa! Não sou paga para aturar crianças infantis!

Não se ouviu mais uma mosca naquela sala, e Natalie suspirou.

- Sra. Jenkins… - murmurou um dos alunos.

- Cala-te – mandou ela – Só… saiam. Saiam, a aula acabou.

Estaria a enlouquecer? Ou estaria finalmente a fazer o que devia ter feito desde o início? A ser honesta consigo própria em relação à vida que queria para si.

A noite chegou mais depressa que o esperado e, como sempre em altura de avaliações, as reuniões prolongaram-se até tarde. Ainda ninguém fazia ideia do que tinha acontecido no parque, mas decerto que mais tarde viria qualquer referência a tal na televisão.

- Vais para casa? – Finn aparecera de surpresa por trás dela, quando saíra da reunião.

- Ainda aqui estás? Pensava que já tinhas saído – comentou ela.

Ele abanou a cabeça, e convenceu-a a jantarem juntos. Foram a um café-restaurante no centro da cidade, como costumavam fazer vezes sem contas desde que se tinham conhecido. O ambiente era bom, e as pessoas simpáticas.

Natalie não falou muito, continuava presa à última memória que tinha de Kröll, e Finn estranhou o silêncio da amiga. Na televisão, nas notícias, uma gravação amadora do que tinha acontecido no parque ao início do dia apareceu, pondo todos de boca aberta. Natalie assistiu àquelas imagens como se fosse a primeira vez, absorvendo cada pormenor minuciosamente, e Finn olhou depois para ela, completamente chocado.

- O que estavas a fazer ali…? – Questionou – Estás bem…?

Ela assentiu com a cabeça, e então os outros fregueses do café-restaurante reconheceram-na como sendo a mulher da filmagem.

- Quero sair daqui.

Saíram de lá e começaram a andar pela rua.

- Não me vais explicar o que aconteceu?

Natalie engoliu em seco.

- O homem que acolhi é um Deus – Finn olhou-a com cepticismo – Não estou a gozar, Finn. Teve que voltar para o planeta de onde é, e…

Ela calou-se e parou de andar, mirando o céu. “Kröll…” pensou. Nada. As estrelas estavam todas iguais. Ela estava a pensar nele, mas nenhuma estrela imitia um brilho maior que qualquer uma das outras. Teve um mau pressentimento, algo de errado se passava.

- Natalie, de certo que…

O casaco de Natalie escapou-lhe das mãos e caiu no chão, interrompendo de novo a conversa. Ao apanhá-lo, a mulher reparou que algo lhe tinha caído do bolso, e apanhou a pedra redonda e amarela, formando um pequeno sorriso.

- O que é isso? – Perguntou Finn.

- A Pedra Lunar… - murmurou ela – Usa-se para se viajar entre planetas. É… é o meu caminho para ele.

Finn franziu as sobrancelhas e suspirou. Que o homem de quem a amiga falava não era propriamente normal, não podia discutir. Ele vira a filmagem, vira as roupas dele mudarem e a forma como lutara. Mas daí a que Natalie deixasse tudo para trás era um enorme passo.

- Natalie, não podes mesmo estar a pensar ir ter com ele.

- Porque não? Tenho que ir… Ele deixou-me isto porque sabia que eu ia querer ir ter com ele, tenho a certeza. Vamos ser sinceros, detesto a minha vida. Estou melhor com ele.

- Mas só o conheces há três dias! – Discutiu ele.

- Quanto tempo é que a Jane precisou para conhecer o Tarzan? Ou a Jasmin, para se apaixonar pelo Alladin? – A resposta de Natalie foi rápida.

- Mas isso são histórias, Nat, são…

- Histórias de um amor que dura para sempre – interrompeu ela, com o sorriso mais maravilhoso que Finn alguma vez lhe vira – É o que eu quero. E sei no meu coração que o nosso amor nunca vai acabar Finn. Sei disso.

Ele formou também um pequeno sorriso e assentiu com a cabeça. Sabia que ela era decidida, e podia ver-lhe nos olhos um fogo e um brilho que nunca antes vira.

- Vou ter saudades tuas – prometeu.

Natalie sorriu e abraçou-o com força.

- Obrigado por seres meu amigo.

Caminhou até ao parque e vestiu o casaco, apertando bem a Pedra Lunar nas mãos. Viajar entre planetas… tinha curiosidade em saber como era, e em ver o sítio de onde Kröll tinha vindo. Medo? Sentia algum, mas nada que a fizesse recuar ou mudar de ideias. “Quando superares esse medo vais ver que consegues ser uma pessoa ainda mais extraordinária” dissera-lhe o Deus uma vez. Ela fechou os olhos e respirou bem fundo.

- Leva-me a Suptka – ordenou, à pedra mágica que tinha na sua posse.

 

Afinal ainda faltam duas partes, pensava que era só uma... mesmo assim, tenho que começar a escrever a história nova :o

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