O Amor na Porta à Frente
Capítulo 18
Surpresas no Aniversário
Fevereiro já ia a meio e a neve tinha acabado de aparecer. As temperaturas estavam mais baixas que o normal, o que fazia com que Evelyn andasse de mau humor. Detestava o frio, apesar de apreciar o espectáculo que aqueles flocos de neve faziam ao caírem do céu.
Ia a sair de casa para ir para a clínica quando esbarrou em Doug, também ele a sair. Notou na sua mala de viagem, e franziu as sobrancelhas.
- Vais a algum lado? – Apesar do modo brincalhão com que o perguntou, estava mesmo intrigada e curiosa em saber para que quereria ele aquela mala.
- Ah, sim – disse ele, um pouco sem jeito, enquanto passava com a mão nos cabelos negros – O meu pai faz anos hoje, a família vai-se reunir toda. Pedi ao chefe para me dispensar dois dias.
Evelyn olhou para ele e engoliu em seco, sem saber bem o que dizer.
- Não levas nenhuma namorada falsa desta vez? – Perguntou, num tom algo acusatório.
Ele franziu as sobrancelhas e, como se aquela pergunta não o tivesse atingido, encolheu os ombros.
- Desta vez não.
∴
O avião tinha acabado de aterrar em Mobile mas, como Steve não podia ir buscar o filho, Doug foi obrigado a ir de táxi para Billingsley. Enquanto o caminho durava pensava no que tinha pensado em todo o tempo no avião: o que dizer aos pais sobre Evelyn não ir com ele desta vez. A sua mãe tinha mesmo gostado dela, e decerto que Lola a esperava de novo.
- Está com problemas? – Perguntou-lhe o taxista, de um modo casual. Era um homem já velhote, com um ar simpático.
- Nem queira saber.
- Ora, dizem que taxistas são como psicólogos, mas o preço é mais baixo. Arrisque, pode ser que o ajude.
Doug riu.
- Estou apaixonado pela minha vizinha do lado – disse, pela primeira vez em voz alta, engolindo depois em seco.
- Então e qual é o problema, jovem? Ai o amor… ainda me lembro de quando tinha a sua idade, posso não parecer agora, com estes quilos e a falta de cabelo, mas era um verdadeiro mulherengo. Mas quando conheci a minha Sophie… oh menino, foi o destino. E não se foge ao destino.
Doug sorriu, a sua mãe dizia-lhe o mesmo.
- O problema é que ela tem um namorado. Estão juntos há dez anos.
- E ela ama-o? A esse namorado?
Doug demorou algum tempo a responder.
- Não sei… mas a maneira como falava dele… sim, ela ama-o.
- Quer o conselho de um homem que já viveu muito?
- Diga lá.
- Há poucas coisas nesta vida pelas quais vale a pena lutar. Amor é uma delas. Nunca desista do amor.
Quando chegaram Doug pagou ao taxista e saiu. A pequena Lola correu-lhe para os braços assim que entrou em casa, e a sua mãe veio logo espreitar. Steve, que estava na sala, levantou-se também para vir receber o filho.
- Então tio, não trouxeste a tia? – Perguntou a menina, com os caracóis presos num rabo-de-cavalo.
- A Maura ainda não chegou? – Perguntou Doug, sem perceber. Lola riu.
- Não, a tia Evie! – Esclareceu ela, como se fosse a coisa mais lógica do mundo – Tu és o meu tio, e se ela é tua namorada e pode vir a casar contigo, então é minha tia. Não percebes nada.
Doug sorriu, mas não o suficiente para conseguir enganar Theresa. Ela viu que por trás daquele sorriso o filho estava em sofrimento.
- Ela teve que ficar a trabalhar, tonta – mentiu ele – Talvez da próxima vez.
Maura chegou pouco depois, trazendo um bolo redondo de chocolate, e jantaram todos juntos. Então Steve apagou as velas, cinquenta e um sete, e depois fugiu para a sala enquanto a neta o seguiu.
A noite foi avançando, e como Lola estava cheia de sono e cansada do dia de escola, foi para a cama cedo, deixando-os a todos na sala à vontade para falarem.
- Porque é que não a trouxeste desta vez, querido? Chatearam-se? – Theresa tocou no assunto que já a estava a incomodar há algumas horas, e o filho mordeu o lábio.
- Não mãe, nós…
- Não me digas que acabaram tudo! Ela era tão boa rapariga, Doug – repreendeu ela, já a imaginar erradamente o que ele ia dizer.
- Nós não acabámos… nem sequer chegámos a começar – murmurou ele, pondo todos com uma expressão de interrogação.
- Como assim? – Perguntou-lhe a irmã.
Ele suspirou.
- Ela vive no meu prédio, na porta em frente à minha, e quando acabou as coisas com o namorado digamos que nos aproximámos um pouco. Ela sempre se enervou comigo por tocar guitarra, por isso prometi-lhe que parava se viesse comigo ter com vocês, como minha namorada. A mãe está sempre a dizer que eu nunca mais assento, e isso tudo e… na altura pareceu-me boa ideia.
Todos ficaram incrédulos a olhar para ele, e por momentos nem uma mosca de ouviu. Doug esperava gritos e repreensões, mas não foi isso que aconteceu.
- Podes tê-la chantageado para vir contigo, mas nunca a poderias chantagear para te olhar da maneira como olhava – disse Theresa, sorrindo-lhe depois – Ninguém pode fingir aquilo.
- Não interessa – apressou-se logo Doug a afirmar – Ela voltou para o ex-namorado, e eles estão felizes e perfeitos como sempre.
- Bolas… - murmurou Steve, intervindo pela primeira vez na conversa.
- O que foi? – Perguntou-lhe o filho.
- Gostas mesmo desta.
Doug engoliu em seco, abanou a cabeça e levantou-se. Saiu a dizer que tinha que apanhar ar, e ficou encostado à parede da casa, a mirar o céu. Pouco depois a porta abriu-se a Maura colocou-se ao lado dele, respirando fundo. Ela fazia sempre isto, sempre que o irmão estava mal dava-lhe algum espaço, e depois ia dizer o que achava e tentar ajudar.
- Diz Maura – disse ele, que já sabia como ela era.
- Porque é que não vais atrás dela?
- Ela voltou para o namorado. Nunca íamos resultar, de qualquer maneira…
- Uau… pensava que mudavas com o tempo, crescias, mas estava errada. Vais ser sempre esse tipo – Doug olhou para ela e franziu as sobrancelhas.
- Qual tipo?
- O que pensa sempre que não é bom o suficiente, que tem medo de tentar.
- Ela está melhor com ele.
- Eu não o conheço Doug, mas tenho a certeza que isso não é verdade.
- Só me quero concentrar na minha música. Nada mais.
Quem é que já tinha saudades da Lola? (a)