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O Amor na Porta à Frente

por Andrusca ღ, em 01.12.12

Não fiz deste capítulo aquilo que queria e acho que não ficou grande coisa :s

Mesmo assim, espero que gostem na mesma

 

Capítulo 22

A Ordem Natural das Coisas

 

Evelyn estava em pulgas para falar com Doug, para lhe dizer que tinha ido ao concerto, que tinha ouvido aquela música, que estava apaixonada por ele. Mas já tinha esperado tanto tempo que sentia que agora não fazia mal esperar mais algumas horas. Tinha até medo de ter esperado tempo demais, de ter perdido a sua oportunidade, que aquela canção já não passasse apenas disso. Mas decidiu ignorar esse medo e estava determinada a falar com ele. Mas o que lhe diria? Que estava apaixonada por si? Que o amava? Que, após tanto tempo de se andarem a chatear mutuamente, tinha sido apanhada pelo seu canto de sereia sem ter tido sequer uma oportunidade de se esquivar? O melhor era não pensar muito e deixar que as palavras apenas lhe fluíssem, quando a hora chegasse.

Para seu azar, o Dr. Porter adoeceu, e pediu-lhe que o substituísse no turno da noite. Só sairia da clínica por volta das duas da manhã, mas até lá ainda havia tempo. Almoçou calmamente e resistiu à tentação de ir bater à porta em frente à sua. Em seguida vestiu-se e foi à rua, à procura de uma loja de música. Não percebia nada de instrumentos, mas quis comprar uma guitarra. Queria que, desta vez, fosse ele a ir ter consigo.

Carregou-a até ao prédio e usou o elevador pela primeira vez para a levar para o seu andar. Tirou-a da caixa e deixou-a na sala. Não deu por qualquer movimento nas escadas, por isso não se atreveu a ir bater à porta dele. Eram perto das seis da tarde quando foi para a clínica, e viu que aquilo estava cheio de gente. Era época de alergias e, aliadas a elas, vinham várias inflamações na garganta, faringes e outras coisas associadas.

A clínica raramente ficava aberta até depois das onze da noite, mas em tempos mais propensos a doenças e quando os médicos sabiam que o hospital estava muito cheio, alargavam um pouco horário. Evelyn jantou sozinha perto das nove horas, tinha encomendado comida chinesa, e ficou a ver televisão na sala de convívio enquanto não lhe aparecia mais nenhum paciente. Acabou por dormitar alguns minutos aconchegada no sofá, e então foi despertada por um senhor que tinha entrado há poucos momentos e chamava por alguém que o viesse atender. Bocejou, esfregou os olhos e então saiu na direcção dele, de sorriso no rosto.

- Boa noite – cumprimentou – Eu sou a Dra. Tucker, em que posso ajudar?

- Ai, lamento ter vindo para aqui a uma hora destas… mas a minha neta não pára de vomitar e os pais estão fora… não sabia o que fazer.

Por trás do senhor Evelyn viu uma rapariga nova que, por breves segundos, lhe lembrou Lola.

- Ora essa, é para isso que cá estou. Como é que te chamas, pequena?

- Diana.

- Então anda lá comigo, Diana, vamos para o meu consultório. O senhor também pode vir.

Diana tinha um vírus muito comum, e a médica passou-lhe um antibiótico para que o tomasse por dois dias. Em seguida eles foram embora, e com tudo aquilo já era perto das duas horas. Evelyn vestiu o seu casaco, desligou as luzes e pôs-se a caminho de casa. Estava esgotada e, assim que caiu na cama, adormeceu por completo. Teve sonhos tranquilos que a fizeram despertar, cedo demais, com um sorriso nos lábios. Eram sete da manhã e já ela tinha tomado duche, vestido o fato-de-treino e tomado o pequeno-almoço.

Foi até à sala e pegou na guitarra que tinha comprado no dia anterior. Abriu a porta do seu apartamento e colocou-se no hall a tocar bem alto e de um modo descoordenado e grotesco. Por outras palavras, a fazer barulho. “As vizinhas vão-me esganar”, pensou, algo divertida.

Não precisou de esperar muito até que a sua porta se abrisse e aparecesse um homem com apenas uns boxers e uma t-shirt vestidos, com o cabelo negro todo desgrenhado e muito, muito, sonolento.

Doug olhou-a incrédulo e ainda sem conseguir pensar nitidamente, apenas sabia que só ouvia aquele barulho ensurdecedor. Nos outros andares as pessoas também iam acordando e indo espreitar às portas, porém poucos se atreviam a descer ou a subir as escadas para ir até ao apartamento da médica.

- Que raio estás a fazer?! – Gritou Doug, por cima de todo o barulho que Evelyn fazia, pondo-lhe um certo sorriso de troça nos lábios e um bonito brilho no olhar – São sete da manhã! Endoideceste?!

- Estou a treinar para a minha banda! – Berrou Evelyn, rindo-se. Ele revirou os olhos.

- Tu não tens nenhuma banda! – Discutiu, tirando-lhe o instrumento das mãos e pousando-o ao canto por trás dela.

- É irritante, não é? – Perguntou ela, a rir-se – Mas tu também não tinhas… e agora tens.

- O que é que te deu? Estás a falar do quê?

- Vi-te naquele café… o teu concerto.

Doug ergueu uma sobrancelha e esperou que ela dissesse mais alguma mas, como não o fez, decidiu arriscar.

- Porque é que fizeste isto? Acordaste o prédio inteiro.

- A Lizzie hoje disse-me que o Grayson me ia pedir em casamento – Doug engoliu em seco ao mesmo tempo que sentiu uma facada no coração, porém nada fez para demonstrar essa dor, a sua expressão parecia impenetrável – O problema foi que... ele não teve a oportunidade de me pedir porque acabei com ele.

O coração de Doug falhou uma batida e começou a bater-lhe descompassadamente no peito. Teria ouvido bem?

- O quê…? Porquê?

- Porque não o amo. Não é justo que uma rapariga como eu não possa acabar com um rapaz como tu – afirmou ela, devido à conversa que ambos tinham tido quando regressaram de Alabama – Não é justo, e é muito, muito, infeliz. E, sinceramente, não quero saber disso para nada. Eu fico com quem eu quiser, e não com quem tiver mais dinheiro, ou posses, ou títulos. E tu és muito arrogante, e convencido, e rude. Mas também és atencioso, e amoroso, e sei que por trás dessa máscara também te preocupas comigo. E nós conseguimos fazer com que isto resulte, porque eu estou apaixonada por ti, e não por qualquer outra pessoa.

Depois de dizer tudo aquilo de rajada Evelyn tomou noção do que tinha acabado de lhe sair pela boca, mas não voltou com a palavra atrás. Em vez disso esperou, calmamente por fora – mas numa pilha de nervos por dentro –, que o vizinho se pronunciasse.

- És completamente louca, boneca – murmurou ele, fazendo-a rir – E aborrecida, e stressada… e não sei como é que conseguiste, mas foste capaz de me pôr a pensar em ti dia e noite. Para alguém que não acredita em magia… soubeste aplicá-la em mim bastante bem.

Ela não esperou mais, já tinha ouvido o que precisava e o seu dia tinha começado da melhor maneira. Mandou-se para ele e abraçou-o com força, não esperando nem mais um segundo para juntar os lábios de ambos no beijo que há muito ansiavam. Do lado de fora do apartamento uma pequena salva de palmas soou, feita por vizinhos de pijama e todos despenteados, o que fez com que os dois se afastassem e se desmanchassem a rir.

- O meu dia não podia ter começado melhor – confidenciou Doug, sorrindo – Mas por favor… por favor… nunca mais te aproximes daquela guitarra. Estás a estragar a música para toda a gente.

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