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O Anel de Ruby

por Andrusca ღ, em 06.02.13

12.  Noite dos Diabos

 

As coisas têm estado a piorar. Desde que Elise morreu, há quase três semanas, que o comportamento de Lewis é pior. Antes achava que não tinha qualquer respeito à avó, mas agora começo a achar que até se retraía bastante por causa dela, e a prova disso é que as minhas cicatrizes dobraram desde que ela partiu. O mais frequente é vê-lo bêbedo, drogado até algumas vezes, sempre de mau feitio e sempre pronto a usar alguém como saco de pancada. Às vezes, entre chapadas e pontapés, dou por mim a pensar que já não aguento, que o meu corpo vai quebrar, mas então lembro-me que, mesmo que isso aconteça, o meu espirito não o pode fazer. Fiz uma promessa a um rapazinho, e mesmo que não fizesse mais nada por toda a vida, iria honrar essa promessa. Não o ia deixar sozinho com esta besta, nunca o ia abandonar à mercê da sorte que, já evidentemente, não tinha.

Estava sentada no sofá, sozinha na sala, com uma chávena de chá de camomila nas mãos a ver o programa da Oprah quando ouvi uma grande barafunda na rua. Era música extremamente alta para a hora da noite em que já estávamos, e eu sabia exactamente a quem pertencia. Ele tinha voltado, e o meu sossego terminado.

Desde que Elise morreu que Lewis faz várias noitadas. Sai com os amigos, vão para discotecas, clubes, chega bêbedo a casa, drogado, e quem as paga sou eu. Os amigos eram tal e qual como ele e, na semana passada, quando me disse que vinham cá almoçar, tremi da cabeça aos pés ao imaginar todas as coisas horrendas que me pudessem fazer. Mas a verdade é que, bem ou mal, o almoço passou e eu continuo aqui.

Ouvi a porta abrir-se e bebi um pouco de chá, respirando fundo em seguida.  Assim que a porta se fechou algo caiu no chão e se partiu, ouvi então outro pequeno embate na parede. “Ele hoje vem bonito”, pensei com sarcasmo, espreitando por cima do ombro. Vi-o aparecer com um aspecto terrível, e engoli em seco. Nada de bom podia acontecer a partir de agora, por isso achei por bem retirar-me. Levantei-me do sofá, fui pôr a caneca à cozinha e apenas lhe falei quando ia já a meio das escadas.

- Vou dormir – disse-lhe.

Não obtive resposta mas, assim que entrei para o quarto, a porta abriu-se atrás de mim, assustando-me. Lewis olhava-me com um ar psicótico, não parecia estar em si, talvez fossem as drogas, talvez o facto de ser a reencarnação do diabo, mas nunca tive tanto medo dele como naquele momento. E tinha razões para tal.

- Ruby… - murmurou, fechando a porta e dando dois passos na minha direcção. Pregou-me um beijo nos lábios, o seu bafo tresandava a álcool, e eu, inconsciente e agindo apenas por reflexo, afastei-o com um empurrão. Nunca esquecerei o olhar que me deitou – Nunca faças isso outra vez!

- Lewis…

Ele deu-me uma chapada que me fez cair por cima da cama, e num ápice já se encontrava em cima de mim enquanto desapertava o cinto das calças e passava com as suas mãos imundas por todo o meu corpo. Tentei sacudi-las, tentei repeli-lo. Quando se levantou pensei que tivesse desistido, que se fosse embora, mas quando o vi tirar as calças e tudo o resto percebi qual era a sua intenção. Voltou a colocar-se por cima de mim, impingindo-me beijos, forçando-me carícias. Quando senti as suas mãos gélidas por dentro da minha camisola, não consegui evitar tentar defender-me.

- Pára! Larga-me! – Gritava enquanto esperneava e tentava escapar – Pára Lewis, por favor pára!

Mas ele não me ligava. Num golpe de sorte consegui arranhar-lhe a cara, apanhando-lhe o canto do olho esquerdo, e ele logo se apressou a agarrar-me na mão com uma força brutal.

- Vais-te arrepender disso, puta.

Tinha a cara lavada em lágrimas quando, alertado pelo barulho, um Joshua curioso abriu a porta e parou completamente chocado com o que via.

- Vai-te embora! – Gritou-lhe o irmão, completamente fora de si. Vi-o dar mais um passo para dentro do quarto, e então lembrei-me: “não importa o que me aconteça, desde que o Joshua fique bem”.

- Pára Joshua. Vai. Por favor – pedi, tentando fazer um ar tranquilo – Vai.

Ele, visivelmente em conflito, acabou por dar meia volta e fechar a porta fortemente. Mais tarde disse-me ter posto os fones nos ouvidos e a música em altos berros por se sentir tão cobarde e não suportar ouvir os gritos.

Lewis despiu-me as calças e rasgou-me a blusa, apressando-se depois a tirar-me também a roupa interior. Depois de muito me debater, depois de muito chorar, implorar, amaldiçoar, vi que era escusado. Limitei-me a ficar ali deitada enquanto o seu corpo se roçava no meu, enquanto abusava de mim repetidamente. Senti-me impotente, indefesa como nunca antes. De quando a quando ele olhava-me directamente, como se me desafiasse, mas logo se voltava a concentrar no que queria realmente e me voltava a penetrar com toda a força que possuía. A brincar com o meu corpo.

Ao fim das primeiras vezes os gritos cessaram, as lágrimas secaram, fiquei apática a tudo. Parei de sentir os apalpões, a força com que me apertava, os beijos nojentos com que me cobria o corpo.

Quando se deu finalmente por feliz levantou-se e enfiou apenas os boxers, aproximando-se de novo de mim e, com uma só mão, apertando-me as bochechas como se faz a uma criança.

- Vês? Não foi tão difícil, pois não? Da próxima vez nem discutas.

E foi-se embora. Saiu do quarto e deixou-me na cama, toda enrolada e desnuda, de novo a chorar e a tremer de tanta raiva, com o corpo todo dorido, sem forças, sem fé, sem nada, como uma bebé. Não preguei olho toda a noite e, quando os primeiros raios de sol passaram pela janela, obriguei-me a arrastar-me até à casa de banho e a tomar um duche. Esfreguei freneticamente cada centímetro de pele, mas nem por isso consegui parar de me sentir tão suja. Quando saí da banheira fiquei horrorizava com o que via em frente ao espelho. Estava com um mau aspecto tremendo, tinha umas olheiras gigantes e hematomas espalhados pelo corpo, uns olhos sem qualquer faísca e um ar envelhecido uns dez anos. “Há mortos mais apresentáveis”, lembro-me de ter pensado.

Vesti o roupão e voltei a deitar-me na cama. Sentia-me abúlica, não tinha vontade de fazer nada. Joshua passou pelo meu quarto e pude ver a pena nos seus olhos, perguntou-me se estava bem e depois disse que Lewis já tinha ido trabalhar e que ele ia para a escola. Permaneci quieta por sabe Deus quanto tempo, até que reuni todas as minhas forças e agarrei no telemóvel.

- “ “Um Amigo”, bom dia, sou o Tyler” – atendeu Tyler ao fim do segundo toque. Sem conseguir aguentar mais, voltei de novo a chorar compulsivamente, mas ele já conhecia o meu choro, os meus soluços – “Ruby?”

- S… sim… - disse, aos gaguejos por causa dos soluços.

- “Ruby o que aconteceu? Fala comigo” – não consegui dizer nada – “Ruby por favor… O que é que ele fez desta vez?”

- Ele… ele… ele violou-me – dizê-lo em voz alta apenas me fez chorar ainda mais.


Não sei quantos capítulos faltam, mas devem só uns 4 ou 5.

E então, o que acharam deste? Quero saber tudo!

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