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Together as One - The Second Part

por Andrusca ღ, em 10.05.11

Capítulo 24

Terra dos Sonhos

 

Danny

 

Décimo oitavo dia. Agora até eu me estava a começar a sentir doente, apesar de não o admitir a ninguém. Estava a precisar de dormir num sítio que não fosse um sofá. Precisava de comer comida da Alice, de preferência aquecida, e de tomar um banho de jeito. Mas antes de tudo isso, precisava que ela acordasse. E apenas e só quando o fizesse, é que reconheceria que também tenho que cuidar de mim. Ela vem primeiro. Ela virá sempre primeiro.

Sentei-me na minha cama improvisada – ou seja, o sofá que se encontrava encostado à parede lateral à sua cama –, e encostei-me, suspirando em seguida.

- Ell… quanto mais tempo? – Perguntei, com a voz desesperada.

Alice já se andava a passar por eu andar a faltar tanto à escola, mas eu disse-lhe que depois metia a matéria em dia, e era o que fazia enquanto esperava fortemente que Ellie acordasse. Os meus pais começaram a telefonar-me mais, apenas para me dizerem que não posso parar a minha vida por causa de uma pessoa que pode nunca mais voltar. Mas ela vai voltar. Eu tenho que acreditar que ela vai voltar. Porque se não acreditar… então o que é que sobra para mim além de miséria?

Os pais da Ellie tentaram correr comigo daqui várias vezes, mas nunca conseguiram, e quando se desmanchavam em lágrimas eu percebia que não era por mal, apenas queriam que eu continuasse a viver.

O que as pessoas não entendem – o que eu por tempos acreditei – é que não há vida sem ela. Pelo menos para mim.

Suspirei e dirigi de novo o meu olhar àquela face de anjo. Como é que podia estar a demorar tanto tempo? Porque é que não acordava?

No segundo em que desviei o olhar dela ouvi um gemido que me fez o coração saltar, e juntamente com ele todo o meu corpo, que rapidamente se levantou e se juntou à cama.

- Ellie – disse.

Ela abriu os olhos com bastante força, respirando uma grande golfada de ar, e em seguida fechou-os com a mesma rapidez com que os tinha aberto.

- Ellie abre os olhos! – Gritei-lhe, completamente desesperado. Aqueles olhos… por momentos pude jurar que olharam para mim – Ellie!

Uma das máquinas começou a fazer um bip, e quando olhei vi que era a do batimento cardíaco, que baixava cada vez mais.

- Ellie não! – Murmurei, com as lágrimas a caírem-me dos olhos. Ela tinha olhado para mim! Tinha gemido e aberto os olhos, tinha acordado! Eu sei que sim! Corri até à porta – Alguém ajude! – Gritei, com toda a força que tinha – Ajudem!

Em poucos segundos o quarto encheu-se de médicos e enfermeiros, todos de volta dela. Sentia o meu coração aos pulos. Uma parte de mim estava ciente que a estava a perder a cada segundo que passava, mas a outra queria acreditar que apenas a parte dela ter aberto os olhos tinha acontecido.

- O que é que está a acontecer?! – Gritei, a tentar que me ouvissem – O que é que lhe vão fazer? – Mas não obtive resposta. O alarido era tanto que nada se ouvia dentro desta sala. Os batimentos desceram cada vez mais, até que o bip foi constante pararam de fazer a Reanimação Cardiorrespiratória. Senti-me a perder todas as forças, mas mesmo assim corri até ela, porém antes de sequer ter conseguido penetrar a barreira de médicos que se instalara, um enfermeiro agarrou-me.

Vi que um médico pegou nas pás eléctricas e abriu a bata de Ellie.

- Rápido – disse ele –, carreguem a 200. Afastem-se – e deu-lhe um choque. O seu corpo reagiu, levantando-se e voltando a cair, porém continuava sem batimento cardíaco. “Ellie não!” – Estamos a perdê-la, de novo.

- Eleanor Davies, nem te atrevas a deixar-me assim! – Gritei-lhe, enquanto as lágrimas me escorriam a uma velocidade furiosa, e me tentava soltar do enfermeiro. “Não me deixes Ellie… por favor não me deixes assim…”

 

Ellie

 

- Eleanor Davies, nem te atrevas a deixar-me assim! – Ouvi, o que me fez abrir os olhos com rapidez. Porém nada vi. Estava escuro, não conseguia avistar uma coisa que fosse, nem sequer o meu próprio corpo.

Sentia-me calma, demasiado calma para o normal. A minha respiração estava regularizada e não tremia. De facto, podia jurar que nunca tinha estado tão calma em toda a minha vida. Porém não me conseguia lembrar de como tinha chegado aqui, seja isto onde for.

- Eleanor… - ouvi, numa voz idêntica à minha.

Levantei-me e calmamente dei um passo em frente, fazendo com que a escuridão se deixasse iluminar por uma claridade que não conseguia distinguir por onde me chegava. Dei mais uns quantos passos, com medo que fosse embater em qualquer coisa, mas não. Onde quer que estivesse, era um sítio amplo e vazio, em que apenas eu e a portadora da voz nos encontrávamos.

- Eleanor… - voltei a ouvir, desta vez por trás de mim. Voltei-me depressa, dando de caras comigo própria. A rapariga, igual a mim até ao mais ínfimo pormenor, olhava-me com um certo cuidado.

- Quem és tu? – Perguntei-lhe – Onde estamos? O que é que se está a passar?

- Tu não sabes? – Arrepiei-me ao ouvi-la falar. Soava tal como eu. Abanei a cabeça – Não te lembras de nada?

Comecei a vaguear entre os pensamentos. Lembrava-me do meu nome. Lembrava-me de que morava com os meus pais e tinha um irmão… mas além disso, era tudo uma enorme mancha na minha memória.

- Não – respondi.

- Não importa agora – disse, calmamente – O teu tempo chegou. Vem – esticou-me a mão, porém eu não a agarrei. Não sentia que era o certo a fazer. Sentia que havia qualquer coisa que me impedia de ir com ela, mesmo que não conseguisse saber o quê.

- Não posso – disse-lhe – Não está certo.

- Vem – insistiu, ainda de braço esticado.

Fechei os olhos e respirei fundo. Se ao menos conseguisse perceber que sensação é esta dentro de mim, aquela que me diz que alguém me espera noutro sítio, que não me deixa avançar… um rosto apareceu. O cabelo era curto e num tom castanho, penteado – ou deverei dizer despenteado? – de forma selvagem. Os olhos eram os mais doces que alguma vez poderia ter visto, e irradiavam um brilho que me fazia quase derreter inteiramente. Antes que pudesse notar, um sorriso formou-se nos seus lábios ao pronunciar um nome. “Ell”, dissera ele. Seria algum diminutivo de Eleanor? Sorriu de novo e desta vez pude ver que algo na sua orelha brilhou. Uma argola de prata.

Daniel. Danny.

O nome apareceu-me na cabeça tão, ou mais rápido ainda, que o rosto. Não conseguia perceber quem era este estranho, não me conseguia lembrar dele, apenas conseguia sentir que algo forte nos ligava um ao outro. Algo que não estava disposta a deixar escapar. Algo que se me escapasse, de certo que morreria.

- Não – disse, para a Eleanor que me fitava, impaciente.

Senti-me ficar sem ar e foi como se um choque eléctrico me passasse pelo corpo, fazendo-me tremer por todos os lados, parando segundos depois. Senti o meu coração a palpitar como há segundos atrás não o fazia. Toda a calma me abandonara, tal como a outra Eleanor, restando agora o pânico e a confusão. De novo outro choque. Desta vez vi um clarão de luz. Vi homens, e uma mulher… balbuciavam coisas sem sentido e usavam batas brancas, e vi-o mais atrás. Mas a luz não durou muito mais tempo e depressa regressei à escuridão. Daniel… ele era real. E também aquilo que tínhamos. Mesmo que não soubesse o que era, sabia que era qualquer coisa. O mais forte dos choques atingiu-me, cegando-me completamente quando toda aquela luz e claridade me atingiram.

 

Aproveito para dizer que a história só vai ter 27 capítulos + prólogo, logo está quase a acabar...

Espero que tenham gostado ^^

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