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One Shot - Desejos Mortais

por Andrusca ღ, em 22.06.11

"Era impossível ver-lhe a cara, mas o ser emitiu um som que Rose identificou como um riso. E assim começaram a lutar. Mas por um breve segundo Rose distraiu-se. Kyle distraiu-a ao pegar na sua espada para a ajudar. E um segundo depois, era demasiado tarde. Rose tinha sido mortalmente trespassada por aquela espada de prata, bicuda. Porém, não caiu sem antes, num último esforço, espetar também a sua no ser que se encontrava à sua frente, transformando-o em pó.

À medida que caía, Rose sabia que estava mais perto do fim do que nunca. Kyle debruçou-se sobre ela e agarrou-a, vendo-a fechar os olhos calmamente, apesar de não se sentir assim de todo. Tinha morrido."

 

Parte 4

 

Kyle observou a face de Rose e fez-lhe uma festa na bochecha suavemente, fechando-lhe os olhos em seguida, enquanto se sentia mal com ele próprio. A sua mente estava invadida com a palavra “talvez”. Talvez se não a tivesse distraído. Talvez se não tentasse agarrar a espada. Talvez ela ainda estivesse viva se não fosse por ele.

Deu por si a pensar no porquê de se sentir tão mal com a morte da sua forte heroína, visto que nem a conhecia de lado nenhum, mas não conseguiu chegar a uma explicação racional. Não havia nenhuma. Era uma coisa que se sentia, não se explicava. Como viver. Como amar. Era apenas algo forte dentro dele.

 

Jess estava a começar a ficar aborrecida. O filme de terror tinha acabado e agora a sua barriga dava horas, mas estava demasiado preguiçosa para ir preparar qualquer coisa e não tinha bolachas. Mais uma vez dirigiu a sua atenção ao Postal dos Desejos e, apesar de ter noção que os estava a desperdiçar em coisas provavelmente inúteis, não conseguiu resistir em agarrá-lo e fazer mais um.

- Desejo ter um bolo – assim que Jess proclamou estas palavras, a campainha soou e ela apressou-se a ir ver quem era.

Ao abrir a porta viu a Sra. Finnis, sua vizinha, com um bolo de chocolate na mão, com um aspecto bastante apetitoso.

- Estive a fazer um bolo, e lembrei-me de ver se o queriam, querida – disse a velhota, estendo-lhe o prato com o bolo. Jess agarrou nele e agradeceu, indo de novo para dentro de casa e pousando-o na bancada na cozinha.

- Isto cheira bem – afirmou, antes de começar a cortar a primeira fatia.

 

Kate aconchegou-se mais no peito do seu namorado Paul. Estavam todos sentados no chão, uns mais esgotados que outros, uns com mais medo, outros que sabiam disfarçar melhor.

- Não achas que estão a demorar demasiado? – Perguntou Leanne, referindo-se a Rose e Kyle.

- Acho – foi Fred quem lhe respondeu – Devemos ir à procura deles?

- Não! – Exclamou logo Vanessa – Estás louco?! Não podemos sair daqui, eles matam-nos!

- E se aconteceu alguma coisa? – Perguntou Callie.

- De certeza que não aconteceu nada – Paul tentou acalmar o ambiente, mas era escusado, nem ele acreditava no que dizia – Ouçam, aquela rapariga, Rose, parece saber o que está a fazer. Tenho a certeza que eles estão bem.

- Mas estão a demorar tanto… - murmurou Kate, que já tinha adormecido por duas vezes, mas nunca durante mais de cinco minutos – Estou tão cansada Paul… quero sair daqui.

- Eu sei amor – Paul acariciou-lhe a face e ela deixou cair uma pequena lágrima. Ela não se importava em esconder o medo que sentia. – Eu também. Não te preocupes, vai correr tudo bem.

Uma vez mais, ninguém acreditava naquilo.

 

Kyle não sabia o que fazer. Por um lado queria fugir dali, tinha medo que mais assassinos viessem, mas por outro não queria deixar Rose, e não sabia se a deveria levar, ou se pertenceria àquele sítio.

No exacto segundo em que decidiu levantar-se e lhe fez a última carícia na bochecha, Rose abriu os olhos repentinamente e tomou uma grande golfada de ar, pondo o coração do rapaz a bater mais do que se tivesse acabado de correr a maratona. Kyle impulsionara-se para trás com o susto, e Rose voltara-se de lado enquanto tossia e tentava respirar. Ele não percebia nada; ela não lhe queria explicar, ia achá-la uma abominação, uma pessoa terrível.

- Ro… Rose – gaguejou Kyle, com os olhos esbugalhados, a olhar para a ruiva.

- Sim – disse ela, que, por já saber o que ele ia perguntar em seguida, adiantou-se – E sim, eu explico.

- Óptimo.

O coração de Kyle ainda batia descompassadamente quando se aproximou mais de Rose e ficou sentado ao seu lado. Mas apesar do susto, sentia-se feliz. Ela tinha vivido, apesar de não fazer menor ideia como.

Rose não sabia como começar. Na verdade, isto era novo para ela. Era raro ser tão descuidada, e sempre que era, ninguém estava por perto para a ver nem fazer perguntas. Apenas morria em paz. Mas não desta vez. E Rose não lidava bem com coisas novas.

- Como? – Perguntou Kyle, ainda com a voz a tremer – Tu estavas morta, eu vi…

- Eu tenho… sete vidas – disse Rose, observando a expressão do rapaz – Bem, tinha sete vidas. Na verdade, agora apenas me resta uma.

- O quê?! – Kyle gritou, mas Rose tapou-lhe a boca logo em seguida. Não queria que nenhum assassino aparecesse, apesar de estar viva, sentia que precisava de recuperar por um pouco – O quê? – Repetiu Kyle, mais baixo. – Quem és tu, afinal?! – Não havia nada de acusador na voz do rapaz, apenas um grande nível de curiosidade. Ele queria saber mais sobre a rapariga que o deixava a pensar a cada segundo e o maravilhava.

- Eu não vim aqui parar como tu – proclamou Rose, preparando-se para partilhar algo que nunca tinha partilhado com ninguém – Não sei há quanto tempo foi, aqui isso não existe, o tempo não passa, mas num dia, eu recebi o Postal dos Desejos. Estava sozinha, e apesar de no princípio achar ridículo, depois de experimentar a primeira vez vi que funcionava. Por isso comecei a usá-los. Desejei as coisas mais absurdas, era um vício. Mas depois quis partilhar. Nenhum dos meus amigos me atendia o telemóvel, por isso usei o quinto desejo para ir ter com eles. Isso trouxe-me aqui. – Dizer esta história em voz alta fez com que Rose sentisse tudo de novo, algo a que já não estava acostumada. Algo que não queria que acontecesse. Fazia-lhe mal. – Encontrei-os mortos. Todos, excepto o meu namorado. – Engoliu em seco enquanto via a surpresa nos olhos de Kyle crescer, porém também o remorso de a ter forçado a explicar – Usei o sexto desejo para o deixar a salvo, mas tudo o que foi preciso foram palavras mal ditas, e ficou tudo distorcido. Foram-lhe dadas sete vidas, tal como a mim. Mas ele era imprudente. Desperdiçou-as. E por isso acabou por morrer. Deixou-me.

- Rose… lamento tanto…

- Não lamentes – a rapariga do cabelo ruivo tentou fazer-se de forte, mas era difícil, mesmo para ela, e Kyle percebeu isso.

Num impulso abraçou-a, e ela deixou-se ir. Não sabia há quanto tempo não recebia um abraço, mas era há tempo demais, tinha a certeza. E sentir-se querida sabia bem, até a ela. Kyle apertou-a mais e quando a largou ficou a poucos centímetros dos seus lábios. Se ela fosse uma qualquer com quem Kyle não se importasse, ele rapidamente avançaria para o próximo passo, mas ela não era. Com ela, ele importava-se, e por isso olhou-a nos olhos pedindo-lhe permissão para continuar.

- Não – disse Rose, engolindo em seco.

- Porquê? – Perguntou Kyle, ainda sem se desviar dela.

- Já só tenho uma vida.

- E eu sempre vivi com apenas uma – contrapôs o rapaz.

- Mas eu já desperdicei seis.

- Rose… uma vida chega, se for bem aproveitada…

- Não é suficiente.

Para salvação de Rose, a casa começou a tremer fortemente. Parecia um terramoto mas era diferente. Era a mudança. A casa estava finalmente a mudar. As paredes ficaram distorcidas e adquiriram novas formas, criando novas portas e arcos, escadas, e todas as outras coisas. Kyle mais uma vez estava assustado, estes acontecimentos punham-no fora de si. Mas percebeu o que era, mesmo sem Rose lhe explicar. Ele, além de bonito e atlético, era inteligente.

- Então e o sétimo desejo? – Perguntou, a Rose, a tentar parar com o momento constrangedor que se instalara.

- Está guardado para a Maldiva – respondeu-lhe a rapariga, quando o tremor finalmente parou. Ela queria vingança. Rosas não são apenas bonitas flores. Elas picam.

 

Afinal isto vai ter mais uma parte que o planeado, ficam a faltar 2 ^^

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