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Pétalas de Rosas

por Andrusca ღ, em 13.10.10

Capítulo 13

Visita Indesejada

 

Chorei abraçada a Scott durante imenso tempo, e quando me perguntou o porquê de estar assim, não respondi. Primeiro, não queria falar nisso. E segundo, seria demasiado penoso pronunciá-lo em voz alta. Ele não voltou a perguntar.

Embrulhou-me no seu casaco cinzento com um capuz e levou-me até a casa, no meu carro. Estacionou-o e ajudou-me a sair do lugar do passageiro. As minhas pernas tremiam imenso, mas as lágrimas já tinham parado… por agora. Ele levou-me até à porta, abriu-a e entrou a agarrar-me. A casa já estava toda às escuras, não estava ninguém acordado.

Levou-me até ao andar de cima, ao meu quarto, e deixou-me cair na cama. Eu estava completamente congelada, não me mexia, e quando me mexia, era tipo um robô. Ele foi à casa de banho e comecei a ouvir a água a escorrer. Voltou para ao pé de mim.

- Pus a banheira a encher de água quente – disse-me – Toma um banho e descansa, que logo temos escola.

Não lhe respondi. Ele saiu do quarto em menos de três tempos, e além da água que escorria, o silêncio invadiu a casa.

Estive estática, sentada em cima da cama – a molhá-la por completo com as minhas roupas – durante um tempo, até que me levantei e arrastei para a casa de banho.

Depois de um banho de água quente, e nada tranquilizante, vesti o meu roupão de algodão, branco, que me dá pelo joelho e deixei-me cair na cama, com a cabeça em cima da almofada, enquanto as lágrimas continuavam a querer cair.

Acabei por adormecer, mas pouco depois o despertador tocou. Eram sete horas e um quarto. Levantei-me e arrastei-me até ao quarto de Abby. Abanei-a.

- O que foi? – Perguntou-me, rabugenta.

- Acorda, levanta-te, acorda o teu irmão, despacha-te e vão para a escola – ordenei, dando meia volta.

- Então e tu? – Perguntou, já bem acordada.

- Eu não vou, estou doente.

Saí do quarto sem lhe dar tempo para dizer mais nada, e voltei a enfiar-me no quarto, deixando-me cair de novo na mesma posição em que estava antes de o despertador tocar.

Não suportaria ir à escola hoje. Aliás, não sei quando suportarei. Não sei quando estarei pronta para ir a qualquer lado sem Derek, mas definitivamente não é hoje.

Na escola, para qualquer lado que olhasse, lembrar-me-ia dele. E isso é o que menos quero agora. Apesar de não conseguir não me lembrar dele.

Aqui, fechado no quarto, é só dele que me lembro. De todos os momentos aqui passados, desde a primeira noite em que se deitou ao meu lado – contra a minha vontade – porque estava a ferver, por causa do calor gerado por Verónica.

Tudo à minha volta parecia emitir a cara dele. E as lágrimas eram cada vez piores de controlar.

Tirando as breves idas à casa de banho, fiquei a manhã toda na cama. Quando chegou a hora do almoço, deixei-me estar. Não sentia fome, nem frio, nem nada. Era como se estivesse completamente morta.

Ouvi Abby e Dylan chegarem, e também que não vinham sozinhos. Não me incomodei em levantar, sei que Verónica, Gary e Gwen vêm ter comigo de qualquer maneira.

Bateram à porta do quarto e entraram sem esperar pela minha ordem. Virei a cabeça e verifiquei, de facto, que eram eles.

As lágrimas já tinham secado, mas de certeza que a minha cara está horrível. E ainda estou com o roupão do banho. Se fosse noutra ocasião, sentir-me-ia desconfortável, mas agora, agora não quero saber de nada.

- O que raios é que aconteceu?! – Gritou Verónica. Notou-se na voz dela que estava chateada. Não a culpo.

- Verónica, não quero falar – murmurei, ainda deitada e com a cabeça na almofada.

- O que é que fizeste?! – Acusou Gary – Importas-te de explicar porque é que mandaste o nosso irmão embora?!

- Eu não quero mesmo falar – repeti, já com uma voz cansada.

- Tu mandaste-o embora por uma razão, e nós queremos saber! – Exigiu Verónica.

Ao ouvir isto explodi completamente. Estava farta que me acusassem. Farta que exigissem mais do que eu pudesse dar. Farta de tudo.

Levantei-me da cama e pus-me de pé.

- Eu mandei-o embora porque acabou! – Gritei, a segurar as lágrimas – Eu estou farta de tudo Verónica! De tudo! Não aguento mais!

- Do que é que estás a falar?! – Gritou-me ela – Enlouqueceste de vez?!

- Eu fartei-me, ok?! Fartei-me dos perigos, das ameaças, de estar constantemente na corda bamba. Fartei-me.

- Só isso? – Gary soava desanimado – Afastaste o nosso irmão de nós por puro egoísmo? Porque não pensaste bem o que querias e te fartaste depois de o teres?! – E agora já soava revoltado.

- Se há coisa que não sou é egoísta! – Gritei – Não tive culpa, ok?! Fiz o que tive que fazer!

- Porquê?! – Agora foi Gwen a gritar-me. Gostava que tivesse sido com eles e não comigo, mas acho que a minha melhor amiga não me vai ajudar nesta causa.

Baixei os olhos e comecei a abanar a cabeça. Não lhes podia contar sobre a Charlotte. Senão tudo teria sido em vão, e acabaria por perder mais alguém.

- Porque quis.

- E não sabias pensar nisso antes de o fazeres apaixonar-se por ti?! – Gary agora soava com raiva.

- Eu… - estava a ficar sem palavras.

- Tu foste egoísta, e mimada, e agora acabaste de perder tudo, e espero que estejas muito feliz Chloe! – Disse-me Verónica.

Não sei como é que as lágrimas não me caíram, mas a verdade é que as consegui aguentar.

- Sai da minha casa – pronunciei, áspera. Quem era ela para me dizer isto? Depois de tudo, quem era ela para me acusar fosse do que fosse?! Ela devia-me era agradecer por ainda ter pescoço, por não ter morrido ninguém!

- Com prazer – disse-me, enquanto virava costas e saía pela porta num passo humano.

- Tu desiludiste-me mesmo – disse Gary, seguindo a irmã.

Gwen ficou dividida, sem saber se ia ou ficava. Ela é a minha melhor amiga, deveria ficar comigo. Mas é a namorado do Gary, logo iria com ele.

Olhou-me praticamente a suplicar que lhe dissesse o que fazer, e eu mais uma vez segurei as lágrimas.

- Vai – disse-lhe, com a voz já mais fraca – Eu não te vou obrigar a escolher entre mim e o teu namorado. Vai Gwen, estás livre.

E ela olhou para mim uma última vez, e foi. Magoou-me como tudo, vê-la a sair por aquela porta sem sequer olhar para trás. Sem sequer ripostar. Sem pensar duas vezes. Ela simplesmente foi. A minha melhor amiga… tinha também acabado de me abandonar.

Ela é a minha melhor amiga praticamente desde que nascemos, e agora, quando eu mais precisava que alguém me defendesse, ela deixou-me.

Fechei a porta depois de ela sair, e desta vez sentei-me no parapeito da varanda. Vi-os meterem-se no carro e avançarem, e então ouvi barulho nas escadas, e baterem-me à porta outra vez.

Não estava com paciência nenhuma.

Entraram, e senti uma mão no meu ombro, era a de Dylan. Não precisei de virar a cara.

- Ele foi-se mesmo embora? – Perguntou-me Dylan, com uma voz calma.

Senti um nó na barriga, e apesar de querer responder, não conseguia. A minha voz não saía, e mais lágrimas escorreram. Teria que o dizer em voz alta, para responder ao meu irmão. Teria que dizer que Derek se foi mesmo embora. Teria que admitir, em voz alta, tudo o que estava a acontecer. Engoli em seco.

- Ele foi-se mesmo embora – afirmei, levando as mãos à cara por causa das lágrimas que teimavam em escorrer.

Dylan abraçou-me por trás e pousou o seu queixo na minha cabeça.

- Porque é que o mandaste embora? – Perguntou. Bolas, mas ele não vê que isto ainda me põe pior?!

- Porque tive que mandar – murmurei, virando-me e abraçando-me a ele.

- Shh, vai ficar tudo bem – numa altura destas, nunca na minha vida pensei ser Dylan a consolar-me.

Olhando para trás, Dylan nunca seria o bom irmão consolador e querido a quem uma pessoa pedia um abraço. Nunca seria a pessoa com quem se pode falar, e que oferece o ombro para se chorar nele. E de pensar no que ele mudou nestes últimos meses, faz aliviar um pouco a minha dor. Mas só um pouco.

Fiquei a chorar no ombro de Dylan durante mais um tempo, e acabámos por nos sentar na cama enquanto ele me tentava consolar, sem sucesso.

No fim ele perguntou-se se já tinha comido, e como neguei, foi-me fazer um lanche tardio, deixando-me de novo com os meus pensamentos.

Voltei a sentar-me no parapeito da janela, até que ouvi uma pessoa a clarear a garganta, e virei-me, limpando os olhos com as mangas do fato de treino – que tinha vestido quando Dylan me obrigou, antes de nos sentarmos na cama.

Levantei-me repentinamente.

- Deus, tu pareces… péssima – disse Charlotte – Mas parabéns, fizeste bem o teu trabalho.

- O que é que estás aqui a fazer?! – Mas será que não posso ter sossego?! Será que ela me vai continuar a infernizar a porcaria da vida?!

- Tem calma, eu vim-me despedir – disse, rindo-se em seguida – Credo, estás um bocadinho sensível.

- Adeus Charlotte.

- Não tão rápido. Eu vou, não vou voltar à escola, e deixo-te em paz. Tu não me vais ver. Mas eu posso-te ver, por isso se contares isto a alguém, a ameaça ainda conta, estamos entendidas?

- Adeus Charlotte – Repeti.

- Adeus querida – e desapareceu por completo. Vi o cortinado a abanar, tinha saído pela varanda. Mas ela não se preocupa em expor-se? Eu tenho vizinhos… e se ela se expusesse, então Derek seria exposto e… senti de novo aquela dor no peito, e fui forçada a cair para cima da cama. Derek não se importaria, porque não está cá…

Dylan trouxe-me uma sandes com um aspecto horrível, ele não tinha mesmo jeito para fazer comida, e um sumo de laranja. Ao princípio não queria comer, mas depois ao ouvir a minha barriga roncar, cedi.

Depois de comer fui para a sala, e tentei explicar a Abby o que se passara. Com ela consegui conter melhor as lágrimas. Fiz todos os esforços e mais alguns, e consegui. Ela é uma pessoa especial, e quando vê alguém a chorar, em vez de confortar essa pessoa, chora também. Vá-se lá perceber.

- Porque é que não vais dar uma volta? – Perguntou Dylan – Ia-te fazer bem. Nós encomendamos pizza.

Olhei para o relógio do telemóvel, eram seis e meia.

- Sim… acho que não faz mal ir dar uma volta – disse-lhe.

Fui mesmo assim de fato de treino, só calcei os ténis e voltei a passar a cara por água.

Ao sair de casa apercebi-me que não tinha sítio nenhum para ir, porque todos eles me lembravam Derek.

Acabei por parar no parque infantil, no centro da cidade, que estava vazio. Sentei-me no baloiço e comecei a baloiçar, devagarinho, e sem levantar os pés do chão. Senti uma pontinha de alegria por nunca ter vindo com Derek a este parque, e em seguida senti arrependimento pela mesma razão.

Apareceu uma rapariga com umas tranças enormes, num tom castanho-clarinho, que aparentava ter uns dez, onze anos. Vinha de mão dada com uma mulher, a quem a ouvir chamar “mãe”. Isso fez-me pensar na minha própria mãe. E em seguida em Aisaec. Esse seguir-me-á para toda a eternidade, ou pelo menos até morrer, visto que a eternidade não faz mais parte dos meus planos. Senti-me aliviada por isso. Viver para sempre com esta dor constante e esta vontade de estar sempre a chorar era uma tortura infindável.

Os meus pensamentos viraram-se depois para Gary e Verónica. Não tinham feito nada que eu já não estivesse à espera, afinal, eu afastei o irmão deles. Mas mesmo assim não gostei do que me disseram, era como se não me conhecessem de todo. Como se nunca me tivessem conhecido realmente.

E lembrei-me do que lhes disse. Que estava farta. E não era totalmente mentira. Claro que só estava farta das coisas más, tipo Charlotte, e que se não fosse ela nunca diria isto. Se ela não me obrigasse a abdicar de Derek, aguentaria todo o tipo de coisas más, fossem elas o que fossem. Mas Derek tinha que estar presente, tal como os meus irmãos, e Gwen.

Levantei-me do baloiço e caminhei em direcção a casa. Entrei e sentei-me para comer, a pizza já estava na mesa, e os meus irmãos sentados.

Depois de comermos, Dylan insistiu em lavar a loiça, e eu não discuti. Subi para o quarto, e depois ele veio-me dizer que ia dar uma volta. Abby ia para o quarto, ler, para variar.

Tocaram à campainha, mas não vi ninguém da janela. Desci as escadas e quando abri fiquei espantada.

Era uma mulher com quase cinquenta anos, e várias operações plásticas em cima. Tinha o cabelo encaracolado, num ruivo não muito bonito, que lhe dava até um pouco acima dos ombros. Estava tão pintada como se fosse Halloween, e o seu sorriso alargou-se ao ver-me. Tinha umas calças justinhas e uma blusa amarela, com um casaco de peles castanhas vestido por cima. Era um estilo mesmo à vedeta.

Claro que eu sabia quem era, e sinceramente, era das últimas pessoas que me apetecia ver. Ela avançou e deu-me daqueles abraços mesmo apertados e sufocantes, e em seguida apertou-me as bochechas.

- Darla! – Exclamei, com uma felicidade falta. Tudo o que me faltava era que esta agora me viesse ver.

Darla Dixon é uma das mais bem pagas actrizes de Hollywood, e a melhor amiga da minha mãe. É daquelas pessoas fúteis e mesmo estúpidas que só ligam à imagem e ao que vem nas revistas.

- O que é que fazes aqui? – Perguntei.

Ela começou a entrar pela casa adentro.

- Bem, eu disse à tua mãe que precisava de fugir um bocadinho, e ela disse-me que podia vir para cá e ficar o tempo que fosse preciso, não é maravilhoso? – Perguntou, com um sorriso nos lábios.

- Maravilhoso? – Não! É terrível! Era só o que me faltava, como se o meu dia já não me estivesse a correr mal que chegue.

- Sim! Então… onde é o meu quarto?

Começou a subir as escadas e eu segui-a.

- Darla, a minha mãe não mora mais aqui e…

- Sim, sim, sim, eu sei. Tanto faz. Podes trazer as minhas malas, por favor? Eu ainda me lembro de onde é o quarto das visitas.

E continuou a subir.

Mordi-me toda para não lhe responder, mas estava completamente esgotada, e não ia aguentar mais gritos hoje. Arrastei as cinco malas dela, escadas acima, e deixei-as à porta do quarto de hóspedes.

Nós nunca usamos este quarto, quando eu e Abby éramos pequenas, e o nosso pai vivo, dormíamos no mesmo quarto porque eles estavam a remodelar o de hóspedes, mas depois de tudo, eu mudei-me para o quarto dos meus pais, Abby ficou no nosso, e Dylan ficou no seu, logo nunca mais arranjámos esse quarto.

Entreguei as malas a Darla, que fez todas as criticas possíveis ao quarto, e depois ouvi a porta da rua abrir-se. Dylan tinha chegado. Desci as escadas e interceptei-o quando ia a subi-las.

- A Darla está cá! – Disse-lhe, rápido.

- O quê?! Eu não a quero cá!

- Nem eu, mas sabes como ela é. É uma semana, não é mais. Por favor…

- Está bem, mas só porque sei que não andas bem para discutir.

Pedi a Dylan para contar a Abby, porque estava esgotada do dia, e só queria dormir.

 

O primeiro capítulo do drama xD espero que tenham gostado :D

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