One-Shot - The Killer
Trancou a porta e correu escadas acima como muitas já o tinham feito. A respiração estava irregular, o coração batia descompassadamente. Ela sabia que se encaixava no perfil de vítimas. Loira, olhos verdes, idade entre os vinte e os vinte e quatro anos. Ela sabia que era a próxima.
Entrou pelo quarto a dentro e fechou a porta, pondo-se de baixo da cama em seguida. Passaram-lhe memórias de tudo pela cabeça. Memórias da infância, adolescência, o primeiro namorado, a primeira pessoa que lhe partiu o coração. E imaginações de um futuro diferente do qual sabia que iria ter. Casar. Ter filhos. Ser avó.
Já não conseguia conter as lágrimas e muito menos o pânico. Tinha medo. Não queria ser a próxima. Não queria morrer.
Ouviu a porta abrir e passos pesados aproximarem-se cada vez mais. Levou as mãos à boca para suprimir qualquer som que pudesse fazer, enquanto via aquele par de botas de borracha escuras e enlameadas pisar o chão que com tanto esforço construiu para começar a sua nova vida. As lágrimas escorriam-lhe velozmente até atingirem o chão, e estava a começar a ficar sufocada, mas sabia perfeitamente que se respirasse iria fazer barulho e a sua vida acabaria por ali. Sentia um pavor enorme, e tremia por todos os lados.
Tentou lembrar-se de tempos felizes para ver se era capaz de se abstrair do facto do assassino se encontrar mesmo ao seu lado. Lembrou-se de quando os seus pais lhe compraram o seu precioso cão, que tinha deixado para trás na sua terra natal. Um caniche branco e bastante brincalhão. Como ela adorava esse cão. Depois a sua mente foi até ao seu grupo de amigos também da terra em que nascera. Das gargalhadas. Das saídas. Da felicidade. Mas depois, quando o seu coração acalmou, ainda que pouco, a sua mente navegou até ao momento em que encontrou a sua porta das traseiras, desta pequena casa de rés-do-chão e primeiro andar, toda escancarada e se apercebera que não se encontrava sozinha em casa, e aí o pânico regressou todo.
Já sabia da existência deste sociopata. Tinha ouvido falar dele na televisão e das vítimas que fazia. Tinha visto as famílias a chorar pela falecida filha, ou esposa, ou mãe. Tinha presenciado a tristeza vivida por aquela gente.
E agora era a vez da sua gente. Da sua família chorar pelo seu falecimento.
A sua vez de ir para baixo da terra e de lá apodrecer até mais tarde a retirarem para enterrarem outro pobre coitado.
Pousou a testa no chão e tentou respirar fundo, mas o ar não entrava e ela não conseguia conter as lágrimas.
De novo viu as botas enlameadas movimentarem-se, passando agora para a frente da cama. Para a sua frente.
Desejou por tudo que ele não se baixasse. Rezou aos céus que não a encontrasse e desistisse. Mas Deus não a ouviu. Não tinha nenhum anjo a olhar pelo seu ombro. Apenas o Destino. O seu Destino frio e cru.
Viu que o homem se ia começar a dobrar, por isso rastejou lentamente e preparou-se para que no momento em que ele se baixasse completamente, levantar-se e fugir em direcção à saída sem nunca olhar para trás.
O homem levantou a colcha e espreitou, vendo-a levantar-se rapidamente, de relance, e começar a correr toda trémula pelo corredor.
Ele sorriu. Gostava quando fugiam. Dava-lhe prazer. Gostava de as caçar. Não gostava quando eram fáceis e não davam luta.
Agarrou com força no facalhão ainda com restos de sangue da sua última “caçada”, e correu atrás dela como se nunca a pudesse perder.
Ela correu e correu, mas quando chegou ao pé das escadas tropeçou nos seus próprios pés e começou a rolar por elas abaixo até atingir o chão. Sentia-se toda dorida, e jurava ter ouvido os ossos a estalar em qualquer lado, mas não se podia dar ao luxo de pensar por um momento que fosse. Tinha que fugir. Tinha que se manter viva.
Levantou-se e coxeou até à porta.
- Socorro! – Gritou, em plenos pulmões, quando a conseguiu abrir. O sangue vermelho vivo da sua mão tingiu o branco perfeito da porta. – Alguém!
Preparava-se para sair quando foi arrastada para trás, pelos cabelos, e a porta fechada. Engoliu em seco, do chão, onde tinha caído, e memorizou a face do seu atacante. Moreno, quarenta e poucos anos, olhar de psicopata.
- Por favor, não me mates – implorou pela sua vida. Implorou vezes e vezes, apesar de saber que não resultaria.
O assassino apenas sorriu e aproximou-se dela, enquanto ela ia rastejando pelo chão até não poder mais devido à parede.
- Vou fazer depressa – foram as últimas palavras alguma vez ouvidas pela rapariga.
A parede amarela clara foi tingida de vermelho de uma forma grotesca. Os gritos de dor ouviam-se até ao fundo da rua. Ela tentou fugir, tentou espernear, tentou ripostar. Mas já tinha perdido demasiado sangue. E ainda iria perder muito mais.
Ele era insaciável. Ele ia continuar a matar. Ia continuar a caçar. E nunca, nunca, iria parar.
E pronto, não há continuação.
Que tal?
Eis o acordo: se conseguir mais 3 comentários no capítulo da história, posto o outro a seguir ^^