Behind Appearances - Mini História
"Os olhos de Juan ficaram presos na rapariga, com um brilho assombroso.
- Sua Alteza – cumprimentou ele, curvando-se no cavalo.
Agora a vez de ficar em pânico foi de Danielle.
- Não, não, não – disse ela – Por favor, a minha família foi capturada, não me podeis chamar assim. Por favor, vão ouvir, vão-me capturar também.
- Bem, não tendes nada a temer – continuou Juan – O jovem Frederick é… - Frederick, sem que Danielle visse, fez sinal a Juan para que não dissesse o que pensava. Ele também tinha um segredo. – Ele é um óptimo espadachim – disfarçou Juan."
Parte 3
Enquanto Juan negociava o aluguer de uma modesta casa com uma velha senhora, Frederick e Danielle esperavam junto a essa mesma casa.
Frederick observou a beleza da acompanhante, única sem qualquer dúvida.
- Já está – anunciou Juan, aproximando-se do rapaz e da jovem – É nossa até querermos – ou enquanto pagassem – A senhora foi também amável em emprestar algumas roupas para Vossa Alteza.
- Juan…
- Perdão… Danielle – interrompeu Juan.
Entraram os três. A casa era modesta, e um pouco fria. Tinha apenas um quarto com uma cama, e um humilde sofá na sala, em frente a uma mesa de madeira. Danielle sentiu-se deslocada, não estava habituada a viver em tão humilde ambiente, porém não a fazia sentir-se mal. Apenas diferente.
- Podeis ficar com a cama – anunciou Frederick.
- Agradeço, mas o Juan devia ficar com ela. Ele é mais velho, deveria ficar mais confortável.
- Por favor, não deixeis que o cabelo grisalho engane, milady, sou tão duro como uma rocha – afirmou o acompanhante de Frederick.
Uma grande barulheira chegou da rua, já envolta no escuro da noite, e os três dirigiram-se ao exterior. O Bispo tinha saído do palácio. Encontrava-se agora em cima do seu cavalo branco, com o seu Padre fiel, Claude, ao seu lado também montado num cavalo.
- O Rei foi preso! – Anunciou, cheio de orgulho. Danielle escondeu-se atrás de uma árvore enquanto Frederick e Juan se aproximaram mais, mas ela conseguia ouvir bem do seu esconderijo – Ele estava a tentar trair o seu Reino! Por isso foi detido! Ele, junto com suas filhas, deverá ser decapitado!
- Mas ele é o nosso Rei! – Atreveu-se um camponês.
- Como te atreves? – Claude rangeu os dentes – Deverás arder no Inferno por duvidares de Sua Eminência.
- Mas…
- Desejais isso? – Meteu-se o Bispo – Queimar no Inferno?
- Perdão, julguei mal a situação – desculpou-se o camponês – Por favor, perdoai-me.
- Muito bem, apenas que não se repita, ou Deus não será misericordioso – disse o Bispo.
- Não quero arder no Inferno – reforçou o camponês.
- Estás absolvido. Não arderás.
Danielle bufou. Não era um hábito bonito enquanto princesa, mas de quando a quando ela tinha que o fazer. Achava uma estupidez autêntica a maneira como a Igreja tratava as pessoas. Afinal, não seriam nada sem o povo.
- Em breve, será anunciada a data em que se fará cumprir a sentença da família real. Agora começou o reinado do Rei Jullian – comunicou o Bispo, antes de se voltar e ir embora. Jullian… ela sabia que o primo estava metido de algum modo em tudo isto.
Danielle e os dois companheiros regressaram para dentro de casa, e pouco depois a velha senhora foi entregar uma roupa para que Danielle vestisse.
Saiu de dentro do vestido de princesa, já todo sujo e roto, sem qualquer esplendor, e cobriu o seu corpo com um mais modesto, castanho claro e também comprido.
Juan trouxe pão e vinho, e esse foi o jantar dos três. No dia seguinte Juan iria comprar comida.
A noite avançou depressa. Juan insistiu que Danielle ficasse com o quarto e ao fim de um pouco esta aceitou.
Deu voltas e voltas na cama, enquanto Frederick se ajeitava no sofá e Juan dormia calmamente num monte de feno, ao pé da cozinha.
Frederick acordou, e ao abrir os olhos lentamente deu por Danielle debruçada sobre a janela da sala, a encarar a lua, pensativa.
Esfregou os olhos e foi até ela, mas a rapariga estava de tão modo imersa nos seus pensamentos, que até pulou de susto quando este lhe pousou a mão no ombro.
- A pensar? – Perguntou Frederick.
- Não é estranho que ontem eu tenha até rezado para que algo deste género acontecesse? – Perguntou Danielle, como se falasse sozinha.
- A sério? – Mas Frederick forçou o seu caminho para dentro da conversa.
A rapariga suspirou.
- Para não ter que me casar.
- Estais noiva?
- Infelizmente.
- Porquê? Não desejais casar-te?
- Desejo, mas desejo que seja com alguém que ame, e não alguém que nunca vi na minha vida.
- Ir-se-á tudo resolver, ides ver.
- A maneira como o Claude e o Bispo trataram da situação do camponês… com as conversas de Deus, e o Inferno… é uma anedota. Eles brincam connosco. O meu pai não traiu ninguém. Ninguém.
- Não acreditais em Deus? – Frederick estava perplexo, aquilo sim poderia ser uma anedota. Danielle poderia arder no Inferno só por ter pensamentos desses, pensava o jovem.
- Apenas disse que não acredito no Deus deles. Mas acredito em Deus, fortemente. Mas não consigo crer que Deus, o Deus de que eles falam, goste de sacrificar pessoas, acredite que matar inocentes é bom. A Igreja usa o nome de Deus apenas para benefícios próprios, egoísmos. E Deus… o Deus em que eu acredito, é completamente altruísta. É um Deus que prefere a vida dos seus filhos, à dele.
- Mas não temeis o Inferno?
- Não acredito que Deus me mandaria para o Inferno. Eu rezo, eu acredito nele…
- Mas estais zangada com Ele – constatou o rapaz.
- Não entendo porque é que fez isto à minha família.
- Talvez queira que proveis alguma coisa.
- Considerarias ensinar-me a lutar? – A pergunta veio totalmente do desconhecido, mas a vontade de Danielle era forte. Ela queria salvar a família, independentemente dos perigos.
- Mas sois mulher.
- E vós sois homem. Frederick, eu preciso de ajuda para salvar a minha família.
- E eu vou ajudar.
- Obrigado. Tendes sido tão amável comigo. Porquê?
- Talvez algumas pessoas apenas gostem de dar – mas nem Frederick acreditava nisso.
Amanhã não vou postar nada.
Aproveitem para ler o que postei hoje xD