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Our Scars

por Andrusca ღ, em 20.08.11

Capítulo 10

Falso Assaltante

 

Depois do Baile as coisas ficaram meio estranhas, mas começaram a acalmar aos poucos. Jay amuou por não ter aceitado o seu convite, e ter ido com o “assassino esquisito”, palavras dele. Claire ficou mais chocada do que era suposto, coisa que gostava de saber a razão, e o resto do grupo teve uma surpresa menos desejada, mas já superou. Marissa deu-me mais uma lição de como devia ter cuidado, e tudo o mais, mas eu disse-lhe para ficar descansada, afinal, já não sou uma criança de chucha. Ah, Claire ainda resmungou comigo por não ter usado um vestido dourado ou prateado e ter ido segundo as minhas próprias regras, mas às tantas eu desliguei e passei a dizer “sim”, ou “está bem”, mesmo sem já a estar a ouvir.

- Queres ir lá para casa? – Convidou Marissa, sorrindo-me.

- Ah… adorava – e surpreendentemente, não menti – Mas a minha mãe quer que limpe a casa, ela tem trabalho sem parar e já parece que vivemos numa barraca dos ciganos.

- É pena – disse, quando acabou de rir do que lhe tinha dito – Nesse caso, boa sorte para a limpeza.

- Pois… obrigada.

Limpezas… bah, nunca gostei, nunca vou gostar.

Despedi-me de Marissa quando cheguei à minha casa, e quando entrei dei com a minha mãe no sofá, a dormir. Ela andava a fazer os turnos da noite, por isso andava com o sono todo descontrolado. Decidi não a acordar, por isso comecei a limpar o pó ao andar de cima. Primeiro o meu quarto, depois o dela, as casas de banho… e depois passei para o andar de baixo. Limpei os móveis e tudo o resto, mas quando tive que ligar o aspirador, lá para cima, ela acordou e disse que ia tratar do jantar.

Continuei com o meu trabalho e depois de aspirar lá em cima, aspirei cá em baixo.

Fiz uma pausa para jantar com ela, e já sabia que depois ia ter que arrumar a cozinha porque ela já estava a ficar atrasada como sempre.

- Sabes que não gosto muito de te deixar sozinha, este tempo todo – disse ela. É sempre o mesmo discurso de todas as vezes em que tem os turnos da noite.

- Eu fico bem – e eu, claro, dou sempre a mesma resposta.

Quando acabámos o nosso jantar lavei o chão da sala e depois tratei da loiça. A seguir fui lá para cima lavar o chão dos quartos e das casas de banho, e depois lavei o da cozinha. Assim o da sala já estava enxuto e já podia ir para lá. Quando acabei tudo, já eram dez horas e qualquer coisa, mas surpreendentemente ainda não tinha sono.

Sentei-me no sofá, com as pernas dobradas também em cima dele, e liguei a televisão. Fiquei a mudar de canal durante um bom bocado, até que parei num filme que me pareceu interessante. Pois, péssima escolha, quando percebi que era de terror já tinha mandado meia dúzia de berros.

Eu odeio filmes de terror.

Comecei a ouvir passos vindos da cozinha e engoli em seco. Aos poucos fui voltando a cabeça para olhar para a porta e vi uma sombra a passar para o outro lado. “Tem calma, respira”, pensei, enquanto tremia da cabeça aos pés. Levantei-me devagar, a tentar não fazer barulho, e agarrei no candeeiro que estava em cima da mesa, desligando-o da ficha. “Isto não pode estar a acontecer, não pode”, pensei, em pânico.

Pus-me ao lado da porta e aos poucos fui vendo a sombra aproximar-se mais, e quando vi que estava perto o suficiente, dei-lhe com o candeeiro, soltando um grito em seguida e acendendo a luz do candeeiro de cima. Toda eu tremia.

- Caleb?! – Perguntei, ainda aos gritos.

- Au – queixou-se, levando a mão ao sofá, para se levantar. Não me tinha apercebido que o tinha mandado ao chão – Que raio é que se passou?!

- O que é que estás aqui a fazer?! – Retorqui, ainda no mesmo tom de histerismo.

- Estava a passar na rua e ouvi gritos, por isso decidi entrar para ver se estavas bem – disse, enquanto levava a mão à testa.

- Claro que estou bem! Estava a ver um filme de terror! Pregaste-me um susto de morte, mas o que é que te deu?!

- Desculpa, pensava que estavas a ser assaltada ou assim…

- Credo – suspirei, encostando-me à parede, levando a mão aos olhos. E então comecei a ouvi-lo a rir. Acho que nunca tinha ouvido isso, Caleb a rir devia ser um evento raro – Não tem graça – reclamei, apesar de também já estar com vontade de soltar uma boa gargalhada – Assustaste-me mesmo Caleb – resmunguei.

De um momento para o outro o seu sorriso fechou e parou de olhar para mim directamente, dirigindo a sua atenção para o chão.

- Sim, devia estar habituado a isso – lamentou. Engoli em seco. Tinha a impressão que tinha dito qualquer coisa de mal, mas porquê? Não disse nada de especial. Dei poucos passos para chegar à sua beira mas fui interrompida pela sua voz – Não te aproximes. Eu não te quero assustar de perto.

- Caleb… - murmurei – Tu não me assustas – afirmei.

Ele deu um pequeno sorriso, mas não me pareceu um bom sorriso, era sombrio, diferente.

- Claro – notei na sua voz que não concordava, estava cheia de sarcasmo. Olhou para mim e rapidamente se aproximou, agarrou-me nos pulsos e encostou-me à parede, com uma certa brutidão – Já estás assustada?

- Não – afirmei –, não me vais fazer nada. Não a mataste a ela, não me vais matar a mim.

A minha voz transmitia certeza, e estranhamente, era assim que eu me sentia.

- Como é que podes ter tanta certeza? – Gritou, fazendo-me estremecer – Porque é que tens tanta fé em mim quando todos os outros estão cheios de certeza que sou um assassino?! Hã?!

Engoli em seco.

- Tu não és assim – murmurei. Da maneira como estávamos, cada palavra que ele dizia expelia o ar directamente para a minha cara, e idem. Estávamos tão perto que a única coisa que podia ver eram aqueles olhos. Um dos pares de olhos mais bonitos que alguma vez vi. E eles não estavam cheios de raiva, ou sede de sangue. Estavam cansados, atormentados, lamentavam. E era por isso que eu sabia que ele não é quem dizem ser.

- Como é que podes saber? – Gritou-me de novo.

- Porque estás aqui ocupado a perguntar-me coisas, e ainda nem te aproveitaste da posição, nem agarraste num objecto pontiagudo para me espetares.

Ele abanou a cabeça e largou-me, voltando-se de costas e dando mais meia dúzia de passos pela minha sala.

- Gostava de te conseguir entender – confessou.

- Consegues – afirmei – Só pelo facto de não pensares que sou como aparentemente me vês. És a primeira pessoa a não acreditar no “disfarce”.

- Então diz-me porque estás “disfarçada” – implorou, voltando-se para mim também – Se estás em algum problema… és a minha única amiga Dawn, e contigo sinto que não preciso de mais ninguém, por isso se tu podes fazer isso por mim, porque é que não me deixas fazer nada por ti?

- Já fazes – garanti, agarrando-lhe numa mão – Não me julgas quando não estou a sorrir, não me forças a mentir, e contigo posso ser quem sou, quer esteja num dia mau ou num dia bom. Isso ajuda, ok?

- O que é que te aconteceu? – Perguntou, enquanto me apertava mais a mão e olhava para lá.

- Talvez um dia te conte – pensei, em voz alta.

 

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