Our Scars
E chegámos ao fim, espero que tenham gostado ^^
Capítulo 19
O Amanhecer de Um Novo Dia
Os primeiros raios de sol entravam pelas janelas da esquadra da polícia. Eu estava sozinha, sentada num banco castanho e comprido, enquanto Caleb se encontrava mais afastado, a falar com dois polícias.
Os vizinhos ouviram o barulho, e chamaram a polícia, que chegou pouco depois de Caleb ter feito Jay desmaiar. E então trouxeram-nos para cá, para que pudéssemos explicar tudo.
Mesmo que não acreditem, eu ainda tremia. Neste momento estava enrolada numa manta azul clara, fininha, e apertava-a contra mim com bastante força. Não queria que Caleb se tivesse afastado. Precisava de o ter junto a mim. Mas ele tinha que contar a história, visto que eu mal proferi uma palavra.
Ouvi a porta da esquadra abrir-se e dirigi para lá a minha atenção, para ver a minha mãe entrar com um ar preocupado e desnorteado.
- Mãe – chamei, enquanto me levantava, ainda com as pernas a tremer.
- Dawn – proferiu, com alívio. Andou apressadamente até mim e abraçou-me com força – Estás bem. Oh graças a Deus que estás bem. Lamento tanto, filhinha. Lamento tanto.
- Não foi culpa tua – afirmei – Nós vamos ficar bem.
A polícia tinha telefonado à minha mãe pouco depois de nos terem trazido aqui, tal como aos pais de Caleb, mas ela estava a meio de uma cirurgia e não lhe disseram logo, para bem do paciente. Por isso apenas apareceu agora.
- Eu amo-te Dawn – proferiu ela, largando-me e fazendo questão de me olhar nos olhos – És a minha filhinha, amo-te independentemente das escolhas que faças. Nunca, nunca, teria vergonha de ti.
- Obrigada mãe – murmurei, abraçando-a outra vez.
- Dawn – ouvi. Larguei a minha mãe para olhar para Caleb, que me sorria debilmente – Os polícias querem falar contigo. E devias ir tratar desse corte…
- Eu sei – afirmei, levantando-me e dando a fina manta à minha mãe. Num impulso abracei Caleb, ainda não conseguia acreditar no que se tinha passado há poucas horas atrás – Obrigado.
- Amo-te – sussurrou-me ele, ao ouvido.
- E eu a ti – jurei, dando-lhe um beijo suave nos lábios, sem tão pouco me importar com a presença da minha mãe ou fosse quem fosse.
Deitei-lhe um pequeno sorriso, e outro à minha mãe, e dirigi-me aos dois homens com os uniformes, que me observavam. Quando lá cheguei, ambos me cumprimentaram com um sorriso.
- Vamos tratar dessa ferida – disse um – Ouvi dizer que não te deixaste ser tratada quando te encontraram.
- Só queria sair de lá – murmurei.
- Nós percebemos – disse o outro – Podes-te sentar aí?
Ele apontou para uma cadeira que estava encostada à parede, e eu obedeci, vendo-o pôr um pouco de água oxigenada num algodão e em seguida dirigi-lo à minha testa. Tinha um corte pequenino, provavelmente de quando caí nas escadas. Ardeu, por isso gemi, mas eles deitaram-me um pequeno sorriso.
- Então Dawn, conta-nos o que aconteceu – pediu o polícia que tratava do meu corte.
- Tinha saído para ir comprar sumo à mercearia, e quando cheguei a casa o Caleb veio até mim com uma faca e disse-me que estava mais alguém na casa. Assustei-me e tentei fugir, mas a porta estava trancada e a chave tinha desaparecido. Foi aí que o… - Deus, ainda nem acredito no que ele fez – Jay bateu no Caleb e o pôs inconsciente…
E assim simplesmente, contei a história inteira. E como foi encontrado no lugar, com a faca que planeava usar para me matar, e como há testemunhas, além de me ter confessado ter matado Dana, os polícias garantiram-me que ele apanhava anos de prisão para uma vida inteira.
Quando disseram que podíamos ir embora, fomos para casa, e eu insisti que Caleb viesse connosco, coisa que estranhamente a minha mãe nem discutiu antes de aceitar. Talvez lhe desse uma chance, talvez percebesse que é bom rapaz.
A minha mãe preparou-nos um pequeno-almoço enquanto nós esperámos no meu quarto. Estávamos deitados na cama, eu voltada para Caleb e abraçando-o pela cintura.
- Que noite de loucos – murmurou ele.
- Podes crer – respondi – Obrigado por não me teres deixado.
- Nunca – afirmou, voltando-se também para mim – Desculpa ter-te assustado.
- Isso não importa – garanti, chegando os meus lábios lentamente aos dele, para o beijar.
Mas mesmo no momento em que se estavam prestes a tocar, ouvimos um barulho junto à porta e separámo-nos à velocidade do vento, vendo a minha mãe a olhar para nós e com um sorriso de gozo na cara.
- Desculpem meninos – desculpou-se ela –, mas chegaram umas pessoas que acho que deveriam ver.
O quê?
Descemos as escadas e assim que tivemos visibilidade para a sala, vi Marissa correr até mim e dar-me um abraço bem apertado.
- A tua mãe contou-me – explicou. Deitei um olhar de reprovação à minha mãe, mas ela apenas encolheu os ombros – Estou tão feliz por estares bem. Por ambos estarem bem – e dirigiu um sorriso a Caleb.
Sorri-lhe e assenti com a cabeça, dirigindo a minha atenção a Tess, Claire e Jill, que também me observavam. Claire foi a primeira a dar um passo na minha direcção e sorriu-me tristemente.
- Lamento tanto – murmurou ela – Por tudo o que disse, a ambos vocês. Eu sei que não sou uma pessoa fácil de lidar, mas espero que me possam perdoar.
Sorri-lhe e abanei a cabeça. Acho que isto é o mais perto que um pedido de desculpas da Claire McLoren chega, por isso o melhor é aproveitar. E por isso mesmo, dei-lhe um abraço.
- Está tudo bem – afirmei, sorrindo-lhe. Seguiu-se então um abraço de grupo, bem apertado, em que até a minha mãe entrou.
Aí, percebi. Posso passar a vida a mudar-me de um sítio para o outro, mas não vale a pena. Vou sempre ter que me importar com alguém. Vou sempre arranjar os tão denominados amigos, mais cedo ou mais tarde.
Todos nós temos as nossas cicatrizes, mesmo que a maior parte não esteja à vista. Sejam elas a falta de um amigo que nos foi retirado, ou memórias de coisas infelizes que fizemos ou que foram feitas por pessoas que nos são queridas.
Ninguém é perfeito, e ninguém ganha nada ao tentar fingir que o é.
Somos imperfeitamente perfeitos, e basta. Somos Humanos. Normais. Desde que sejamos felizes e lidemos bem com as cicatrizes, tenho a certeza que tudo correrá bem.
Fim