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O Véu entre Mundos

por Andrusca ღ, em 02.09.11

Capítulo 4 (parte 1)

Tia Emprestada

 

- Aí estás tu – murmurei, vendo Frank parado em frente à minha nova televisão. Ele voltou-se para mim e sorriu-me.

- Gostei do que fizeste com a decoração – elogiou – E com os fantasmas… está tudo tremendamente calmo aqui.

- Pois… tratei deles – murmurei – E tu deixaste-me, lembras-te? És cá um medricas Frank.

- Desculpa, desculpa. Mas se queres saber, eu aproveitei estas duas semanas da melhor maneira.

- Será que quero perguntar?

- As Bahamas querida, as Bahamas – Esfregou as mãos e mordeu o lábio, fazendo-me uns olhos de psicopata que apenas me fizeram rir.

- Bem, enquanto tu estavas na boa vida… - “boa vida”? Não me parece que seja certo… - Ou devo dizer a aproveitar a morte? Eu estava a tratar da casa, e a trabalhar para o FBI. Já desvendei três casos – gloriei-me, sorrindo em seguida.

- Para os toscos que te prenderam? Bolas, meteste-te sempre com as pessoas erradas, miúda – resmungou.

- Não, eles são porreiros. E o Rick vai-me ajudar com o meu irmão Frank. Sinto que finalmente vou obter respostas, sabes? É tão bom.

- Mas vai demorar, sabes disso, certo?

- Tenho estado a esperar desde que tinha oito anos. Não me importo de esperar mais um pouco.

- Tu é que sabes. E já que estás tão interessada, tenho ouvido uns boatos…

- Sobre o quê?

- Ti.

- Os mortos andam a falar de mim? Isso não é estranho Frank, é normal, eu sou aquela que lhes dá voz, lembras-te?

- Primeiro, já não te disse que te referires a nós como “os mortos” é ofensivo? E segundo, parece que tens umas almas bastante chateadas Nikki. O que é que tens feito?

- Chateadas? Porquê? Nada, eu tenho feito a minha vida normal. Às vezes aparece cá uma para falar, ou para me fazer entregar um recado mas… nada além disso.

- Vou averiguar melhor mas… não sei, não tenho um bom pressentimento.

- Tu nunca tens um bom pressentimento Frank. Tenho a certeza que não é nada. Mas obrigado pela preocupação.

- Pois, pois…

E desapareceu. Os mortos… ok, os espíritos, têm andado a falar de mim? E estão chateados? Porquê? Tudo o que faço que tenha a ver com eles é para que fiquem todos melhor, certo?

De qualquer maneira, de certeza que Frank exagerou. Ele exagera sempre.

Voltei a agarrar no saco com os restos das minhas limpezas e saí, deixando a porta aberta, para o ir pôr nos contentores do outro lado da estrada. Ninguém consegue sonhar a quantidade de lixo que eu tirei desta casa, é completamente inimaginável.

Quando ia regressar, vi os faróis de um carro ligados ao pé da casa de Eleanor, e aproximei-me para ver quem era. Vi Sheilla ao telemóvel, com a pequena Maggie encostada ao carro, e Jesse agarrado à sua perna. Andei na direcção deles e aos poucos comecei a ouvir a conversa de Sheilla, ainda que sem intenção.

- Sim, eu sei mãe… eu esqueci-me, está bem? Credo… não mãe. Não sei, acho que os vou ter que levar comigo. Não, ele não pode vir de transportes, esqueceu-se da carteira, lembras-te? Não, o Rick está a trabalhar e não os quero nem perto do FBI. Não é culpa tua… eu esqueci-me, desculpa. Continua a divertir-te. Adeus.

Ela desligou e eu fiz um pequeno barulho com a garganta que fez com os três se voltassem para mim. Sheilla suspirou e sorriu-me, ainda que ligeiramente, e deu uns quatro passos na minha direcção. Parecia um bocado aflita.

- Passou-se alguma coisa? – Perguntei.

- Sim… não… mais ou menos. É só que o James teve que ir trabalhar para outra cidade, e esqueceu-se da carteira, documentos, tudo. E agora tenho que o ir buscar. Mas é uma viagem de três horas e as crianças têm escola amanhã… e pensei que a minha mãe podia ficar com elas, mas esqueci-me completamente que ela tinha uma festa com o grupo de caridade em que anda metida esta semana… por isso estou feita, basicamente.

- Respira Sheilla – murmurei, fazendo-a sorrir-me de novo e abanar a cabeça – Quando é que o Rick sai do FBI?

- Não sei… ele diz que não sabe, eles estão a seguir uma pista e…

- E não há ninguém da família do James que possa ficar com os miúdos?

- Não, todos moram em Inglaterra. Os que estão vivos, de qualquer maneira.

- Bem… acho que posso ficar com eles…

- Não Nikki, eu… não te quero dar trabalho, e a Maggie é bastante esquisita com a comida, e o Jesse está na fase em que pergunta tudo ao mesmo tempo e… são os meus filhos, eu arranjo uma maneira.

- Eu sei que não me conheces muito bem, por isso é normal que não os queiras deixar comigo… mas o Rick vai sair daqui a poucas horas, certo? Ele pode vir dar-me uma ajuda e trazer as coisas que as crianças precisam. E além disso, eu adoro crianças. E eles parecem calmos, quão difícil pode ser?

- Oh, obrigada – e lançou-se para mim, dando-me um daqueles abraços mesmo apertados, largando-me em seguida e cerrando os olhos – Só para que conste, não és uma assassina, és?

- Não… - murmurei.

- Óptimo.

Ela voltou para ao pé dos filhos e segundos depois deu-lhes dois beijos a cada um, e eles começaram a vir para ao pé de mim. Após me gritar um “obrigado”, Sheilla meteu-se no carro e começou a desviar-se, deixando-me com os miúdos ao meu lado. Olhei para eles e sorri, e agarrei na mochila que Maggie tinha ao ombro.

- Vamos? – Perguntei.

Andámos os três muito bem até que chegámos à frente da minha casa e Jesse parou, fazendo Maggie parar com ele. Eles olhavam para a casa com uma expressão assustada, e posso jurar que os conseguia ver a tremer.

É famoso dizer-se que as crianças jovens têm uma maior percepção ao sobrenatural, e está também certo. Crianças e animais, está provado. E eles sentem que algo está errado com esta casa, tal como eu.

- O que foi rapaziada? – Perguntei, como se não me sentisse do mesmo modo que eles. A diferença era que eu já me conseguia controlar. Mais ou menos.

- A tua casa é assustadora – foi Maggie quem falou, e notei que estava a fazer um pequeno esforço para que as palavras de facto saíssem.

- Eu sei – murmurei, pondo-me de cócoras, para ficar à altura de Jesse e mais próxima de Maggie – Ouçam, eu sei que a casa parece… assombrada? – Eles assentiram com a cabeça – Mas acreditem em mim, lá dentro é muito melhor. Eu remodelei-a toda. Sabem como as casas assustadoras têm a mobília estragada e as portas enferrujadas? – De novo, assentiram-me com a cabeça – Em vez disso, eu tenho um sofá grande, e… uma televisão enorme. E sabem o que podemos fazer?

- O quê? – Perguntou Jesse.

- Depois de tomarem banho, e do jantar, eu vou-vos mostrar que a casa não é assustadora de todo. Vamo-nos divertir, ok?

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