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O Véu entre Mundos

por Andrusca ღ, em 06.09.11

Capítulo 5 (parte 2)

Investigação

 

- Nikki? Nikki! – Só quando Rick me deu um empurrão no ombro é que acordei das memórias onde me tinha afundado, e apenas aí é que reparei que ele já tinha chegado.

- Hã? – Perguntei, olhando finalmente para ele.

- “Hã?” – Perguntou ele, imitando-me – Fiquei a tocar à campainha por minutos, e quando entrei e te vi tão quieta pensei que te tivesse dado uma coisa má.

- Desculpa, só estava a… pensar – respondi, levantando-me da cadeira e suspirando.

- Eu só… quase todas as pessoas relacionadas com este caso estão mortas, por isso quero que tenhas cuidado, só isso – disse ele, já com uma voz mais calma.

- Espera… “quase todas”? Rick, há alguém vivo? – Há alguém vivo? Não sabia disso. Sempre me disseram que todos os polícias envolvidos na investigação, ou se suicidaram, ou morreram perante circunstâncias estranhas. Mas se há alguém vivo, então isso quer dizer que há uma pessoa que me pode dizer alguma coisa. Que posso finalmente ter algumas respostas.

- Eu não tenho andado a dormir Nicole – disse ele, sorrindo-me – Agarra o teu casaco, está frio lá fora.

Sorri-lhe e fiz exactamente o que me aconselhou. Agarrei num casaco quente, que tinha já preparado em cima do sofá, e vesti-o. Estávamos em pleno Novembro, o frio já se notava bastante bem.

Fomos para o carro de Rick, e ele começou a conduzir sem me dizer nada.

- Quem é que está vivo? – Perguntei.

- Duas pessoas. Vamos começar por ir ver um polícia que trabalhou apenas por uma semana no caso do teu irmão. Ele teve que se mudar, por isso destacaram outra pessoa para o continuar.

- Ele mudou-se? Para onde?

- Alasca – engoli em seco e olhei para ele. Alasca? Ele estava a planear levar-me para o Alasca sem sequer me ter avisado? – Tem lá calma Nikki, ele regressou há três semanas, a casa é perto – suspirei de alívio e ele riu-se.

Seguimos caminho por quase meia hora, e depois ele estacionou o carro em frente a vários prédios, e indicou-me que tínhamos chegado. Saímos do carro e eu segui-o, dirigindo-nos a um dos prédios. Estava um homem a sair, por isso não tocámos à campainha e subimos logo pelo elevador até ao andar em que o polícia reformado morava.

Rick bateu à porta, uma, duas, três vezes. Eu chamei pelo polícia, de seu nome Horatio, e nunca obtivemos resposta.

- Se calhar não está em casa – murmurei.

- Hum…

Ia voltar para trás quando Rick me agarrou no braço para que não andasse, e se pôs de cócoras, perto da porta. Segui-o com o olhar, e vi que por baixo da porta podia-se ver sangue no chão.

- Afasta-te – pediu, enquanto deu um pequeno impulso para em seguida dar com o ombro na porta. Ao fim da terceira vez, abriu-a. Sacou da arma que tinha à cintura e empunhou-a, fazendo-me sinal para ir sempre atrás dele. Assim que passei da porta para dentro da casa, vi o polícia, Horatio, deitado no chão, com uma arma ao seu lado, e um buraco de uma bala na parte lateral da cabeça, que estava virada para cima. Engoli em seco e levei a mão à boca, enquanto me começava a sentir enjoada. Rick relaxou e voltou a guardar a arma, dando-me uma olhadela rápida, para depois se dirigir ao corpo que jazia no chão.

Eu deixei-me ficar quieta, à entrada, petrificada.

- Um único tiro – murmurou Rick – E há um papel aqui… parece uma carta de despedida. Suicídio. E não me parece que tivesse acontecido há muito tempo. – Só quando acabou de falar é que olhou para mim, e notou que ainda não tinha movido um único músculo – Nicole, o que é?

- Eu… - engoli em seco e tentei olhar para qualquer lado menos o corpo no chão, coisa que não deu lá muito resultado – nunca tinha estado tão próxima de um morto antes. Faz-me impressão.

- Mas pensava que vias fantasmas – disse ele, ao levantar-se para vir ter comigo, enquanto fazia uma cara confusa.

- E vejo, mas… é diferente. Eles aparecem-me como querem. Alguns nem dá para imaginar como morreram, podem aparecer completamente normais. Outros sim, vejo buracos de balas, facadas, todo o tipo de coisas. Mas é… é diferente num fantasma. Não te consigo explicar, é como se eu fosse feita para aceitar nos fantasmas, e não para conseguir ver nos corpos. Nos fantasmas é mais… irreal. De uma maneira real, mas… irreal.

Vi pela sua expressão que ainda o tinha deixado mais confuso, e suspirei. Não o conseguia fazer entender, não é algo que se entende, é algo que se sente. Enquanto fantasmas, sei que estão mortos, não há nada a fazer, e o meu dever é guiá-los em direcção à luz e fazê-los seguir em frente resolvendo qualquer assunto inacabado que tenham deixado para trás. Mas num corpo táctil, é… faz-me perguntar como é que alguém pode estar bem num momento e no outro transformar-se naquelas coisas que apenas eu vejo. É esquisito, diferente… assustador. É por isso que evito ao máximo estar ao pé de cadáveres, e é por isso que com os fantasmas me consigo controlar melhor. Claro, também me fazem confusão. Bastante. Às vezes aparecem-me todos deformados, e queimados ou cheios de arranhões ou cicatrizes, e isso transtorna qualquer pessoa, mas acho que também é isso que me faz querer ajudá-los, para ver se no meio de tanta mágoa, consigo aliviar um pouco.

- Tens razão – disse Rick, abanando a cabeça –, eu não percebo. Ouve, tenho que ligar ao FBI, encontrei um corpo, não o posso esconder. Nikki desculpa, podemos… podemos continuar isto outro dia?

- Claro – respondi depressa, e assenti com a cabeça ao mesmo tempo. Era o seu dever, eu não me ia meter no meio – Liga ao Marty, façam o que tiverem que fazer, e quando me puderes ajudar telefona.

- Está bem – disse ele, sorrindo-me.

- Eu… eu vou para casa. Não te preocupes, apanho um táxi.

- Tu e os táxis, hã?

- Eu e os táxis.

Saí da casa e vi Rick a mexer no seu telemóvel, para o levar em seguida à orelha. Devia estar a reportar o acontecido. Desci até à porta do prédio e saí. Não me apetecia apanhar já o táxi, queria espairecer um pouco. Ouvi um pequeno ruído da lateral do prédio, que ficava escondida pela lateral do outro prédio ao lado, e comecei a dirigir-me para lá para espreitar. Estava um homem encostado à parede, baixado, todo encolhido, a balançar-se de um lado para o outro. Sorri, reconheci-o como Horatio.

- Horatio? – Chamei. Ele agiu como se não me tivesse ouvido, por isso comecei a aproximar-me mais. Tenho que admitir, ver fantasmas até me dá jeito de quando a quando – Horatio, preciso de falar consigo.

- Não – estremeceu – As sombras… os borrões… - começou a balançar-se com mais força, cada vez mais, até que desapareceu por completamente. Olhei em volta, e quando me voltei para trás vi que ele estava mesmo perto de mim.

- Horatio, você trabalhou num caso há uns anos. Hugh Conrad. Lembra-se dele? – O seu rosto tornou-se assombroso e começou a fazer um barulho como se estivesse a sufocar – Horatio, ele é o meu irmão. O que aconteceu?

- Os borrões… - gemeu e levou as mãos à cabeça, como se algo por dentro o torturasse, lhe proporcionasse uma dor sem fim – Louco… lúcido… quem sabe? – Parou e riu-se, altas gargalhadas – O menino… eu lembro-me… os borrões… loucura.

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