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Pétalas de Rosas

por Andrusca ღ, em 19.10.10

Desculpem estar a postar só a esta hora, culpem a escola e a minha mãe

Tenho uma boa notícia (acho eu): afinal isto não acaba amanhã, é no dia a seguir (tinha dividido este cap em dois e esqueci-me xD)

 

Espero que gostem :D

 

Capítulo 19

Fé e Esperança

 

Josh agarrou em mim enquanto Charlotte foi na direcção da saída do parque.

- Larga-me seu imbecil! – Gritava, enquanto esperneava e lhe dava murros nas costas, apesar de me aleijar mais a mim do que a ele.

- Podes lutar tanto quanto quiseres, e mesmo assim não vai adiantar de nada Chloe – disse ele.

Parou em frente àquela abertura no chão e saltou lá para dentro. Não consegui não gritar. À medida que íamos caindo naquele buraco escuro e que aparentava ter gotas a cair, ia sentindo o terror a crescer cada vez mais. Será que Derek está aqui? Será que ainda está vivo? Senti um tremor na barriga só de pensar na possibilidade de não estar.

Finalmente aterrámos, e pareceu demorar séculos e não segundos.

Josh largou-me e pôs-me no chão, mas continuou a agarrar-me no braço. Começou a andar e quase que me arrastava. Eu andava aos tropeções, não conseguia ver nada e ele andava demasiado depressa. Parou e acendeu uma lâmpada que vinha do tecto, mas a luz estava sempre a piscar e era fraca.

- Larga-me seu bruto! – Gritei-lhe.

Ele virou-se para mim e agarrou agora os meus dois braços.

- Tive saudades tuas – pronunciou, com um sorriso parvo e um tom maníaco.

- O que é que queres?! – Perguntei, a estremecer da força dele.

- Quero-te a ti. Não percebes pois não? Tudo isto… - e começou a entortar o pescoço para me olhar de diferentes ângulos – foi para te ter.

- Tudo isto? – Perguntei, a medo. Tudo isto o quê?

- É um plano sem falhas. E no fim… vais ser minha para sempre – e continuou a sorrir.

- Do que é que estás a falar? Eu nunca vou ser tua!

- Vais sim. Eu estou apaixonado por ti. E quando não houver mais Derek… tu vais ser minha.

O quê? Senti o pânico a tomar controlo de tudo e fiquei petrificada.

Pelo menos uma coisa sei. Derek ainda não está morto. Ainda existe.

- A Charlotte deve estar quase a chegar – disse-me – Vamos.

Voltou a puxar-me apenas com uma mão no meu braço, com força excessiva. Abriu uma porta de metal e mandou-me para lá. A sala também estava escura.

- Mata as saudades enquanto podes – disse-me – Em breve serás minha e só minha.

Fechou a porta e ouvi-o trancá-la. “Mata as saudades? Mato as saudades de quem?”, pensei.

Levantei-me do chão e vi que já tinha os braços todos arranhados. E para piorar, quando Josh me agarrara ainda lá em cima, tirara-me a mochila com a água benta.

Levantei-me com as pernas a tremer e encostei-me à porta. Não conseguia mesmo ver nada. Percorri a parede com as mãos até chegar a um interruptor de luz, e acendi-a. A luz também era fraca, mas era melhor que nada.

Ouvi um suspiro vindo detrás de mim e voltei-me num pulo. Os meus olhos não conseguiam acreditar no que viam. A felicidade que senti não tem explicação, e de um momento para o outro, era como se o mundo fizesse sentido de novo e nada me pudesse magoar.

Corri, aos tropeções e ainda com as pernas a tremer, até Derek e baixei-me ao lado dele. Ele parecia fraco, mal mantinha os olhos abertos. Mas mesmo assim era ele. Era Derek. O meu Derek.

Acabei por tropeçar e cair ao lado dele.

- Chloe… - não era mais que um suspiro. Um suspiro baixo e fraco. Mas era alguma coisa.

- O que é que eles te fizeram? – Perguntei, desviando-lhe uma madeixa de cabelo dos olhos, e já com os meus enlagrimados – O que é que eu te fiz?

- Chloe… - murmurou, de novo.

Dava para notar que estava em dor. Mas não podia ser apenas a que eu lhe tinha causado.

Senti uma dor enorme ao ver como ele estava. Tão destroçado, tão fraco, tão… e a culpa era toda minha. Sem sequer dar por isso, uma lágrima começou a escorregar pela minha bochecha.

- Shh – fez-me, como se me quisesse consolar mas não conseguisse.

Limpei a lágrima e notei que ele estava acorrentado. Nem sei como não o tinha notado antes.

Mas correntes nunca o deixariam tão fraco ou impotente. A não ser… eu não sou a única pessoa/ser existente que sabe os efeitos que a água benta tem nos vampiros…

- Ele pôs água benta nas correntes? – Perguntei, a tentar não soluçar nem deixar mais lágrimas caírem.

Ele assentiu com a cabeça.

Queria-lhe tirar as correntes. Libertá-lo. Mas eu não tenho a força de um vampiro; não tenho nada além do normal dos humanos.

Olhei em volta à procura de qualquer coisa que me permitisse abrir os cadeados da corrente, mas não conseguia ver nada além das quatro paredes de metal, e do chão escuro e frio no qual estava agora sentada.

Levei a mão ao bolso das calças, mas já nem o telemóvel tinha. Josh devia tê-lo tirado sem me aperceber. Credo, aquele cretino tocou-me e eu nem sequer dei por isso. De pensar nisso deu-me um arrepio.

Derek estremeceu pela milionésima vez. De certeza que além de lhe pôr água benta nas correntes, também a injectou nele, senão não estaria assim tão fraco.

Não tinha nada que o pudesse ajudar. Senti-me tão inútil, tão imprestável. Vim para aqui com um único propósito: ajudar Derek. E agora nem abrir uma porcaria de um cadeado consigo.

Tentei abri-lo com as mãos, ideia idiota.

Acabei por me render e encostei-me à parede. Derek deixou cair a sua cabeça no meu ombro e não pronunciou nada. Vieram-me de novo as lágrimas aos olhos.

Será que ainda está chateado comigo? Eu sei que se fosse comigo estava… será que ainda está magoado? Este silêncio vindo dele mata-me. Eu sei que não é culpa dele, mas mesmo assim… estar finalmente ao seu lado e não poder ouvir a sua voz, beijá-lo… a lágrima começou a escorrer e eu limpei-a com a mão.

- Não chores – ouvi, agora um pouco mais alto que antes, mas mesmo assim muito fraco.

- Desculpa – pronunciei – Não fales.

Consegui ouvir um pequeno som, que indicava que ele sorria, com dificuldade.

- Desculpa – pronunciei, uma vez mais – por tudo. Eu não queria mas… - e outra lágrima escorreu – Fui cobarde e fiquei com medo que alguma coisa acontecesse e…

- Shh – interrompeu-me – Está tudo bem.

- O quê?! Não! Não está tudo bem. Eu amo-te… e estraguei tudo – agora já não conseguia segurar lágrima nenhuma, as que queriam cair, caíam à vontade.

- Eu também te amo… não te preocupes.

O efeito da água benta parecia estar a passar. Ele já falava melhor, e parecia conseguir mover-se também com mais facilidade. Retirou a cabeça do meu ombro e olhou para mim. Ganhei finalmente coragem e olhei directamente para aqueles olhos verde-esmeralda, que me observavam com cautela.

- Como é que te sentes? – Perguntei. Que pergunta mais parva. Ele está aqui trancado desde que eu acabei com ele, como será que está?!

- Melhor agora. Tu estás aqui.

Sorri.

- Lamento mesmo muito…

- Eu sei.

Senti outra lágrima descer-me pela face, mas desta vez foi parada por um dedo suave e gelado.

- Anda cá – disse-me, enquanto a sua mão me puxava a cara para a dele.

Deixei-me ir sem problemas. Queria-o só para mim. Queria aqueles lábios juntos aos meus. E assim foi. Derek beijou-me como se não houvesse amanhã para nenhum dos dois, o que possivelmente é verdade. E ao beijá-lo senti-me viva novamente, como já tinha saudades de me sentir. De uma coisa tive a certeza. Dê por onde der, nunca mais me vou separar de Derek. Nunca.

- Tive saudades tuas – sussurrou, quando me deu finalmente um tempo para respirar.

Sorri-lhe, mas senti um arrepio que me fez regressar à realidade. “Tive saudades tuas…”, tinham sido das primeiras palavras que Josh me dissera. E que ia matar Derek tinham sido as próximas. Mas ele não ia matar ninguém. Não podia. Eu não aguentaria se o fizesse mas… não creio que ainda reste alguma humanidade em Josh.

- Temos que sair daqui – proferi.

- Daqui a poucas minutos já devo estar melhor – disse-me – Então talvez consigamos sair daqui…

Encostei-me agora a Derek, à espera que o tempo passasse rápido. Mas não. Poucos minutos parecia uma eternidade.

O sol começou a nascer, apenas a claridade entrava pela sala por uma pequena janela redonda no tecto, que devia equivaler ao chão do parque, mas não era muita. As nuvens deviam estar mais carregadas que normalmente.

- O que é que a Charlotte tem a ver com isto tudo? – Perguntei.

- Ela transformou o Josh – disse-me ele – Diz que está apaixonada por ele.

- O quê?! Mas ele está a usá-la e…

- Ela é perigosa. Já viste o que pode fazer.

- Sim… eu sei. Ia ser mau para vocês se ela morresse, não ia?

- Nesta altura… eu matava-a com as próprias mãos – arrepiei-me ao ouvi-lo dizer isto, embora soubesse que o disse apenas por estar chateado. Se Derek matasse Charlotte nunca mais seria o mesmo, disso tenho a certeza. Juro que não faço ideia como é que alguém ainda pode sentir alguma empatia por ela, mas a verdade é que todos os Thompson o sentem.

Decidi mudar o rumo da conversa, esta estava-me a deixar arrepiada.

- Como é que tu acabaste aqui? O Scott não me explicou bem as coisas…

- Depois de tu… - notei uma pausa desconfortável, e senti de novo aquela dor que teimava em não me abandonar. Eu sabia o que ele ia dizer – de eu ter decidido sair de Great Falls, encontrei o Josh e Charlotte. Foi fácil para eles agarrarem-me. A Charlotte é mais velha, e além disso eu não dei lá muita luta.

- Desculpa.

- Não peças desculpa. O que já está, já está.

- Mas…

- Shh – pareceu concentrar-se durante poucos segundos e depois voltou a olhar para mim – O Josh saiu, a Charlotte chega daqui a poucos segundos. Está perto.

- E o Josh?

- Está a afastar-se cada vez mais… já não o consigo ouvir.

- Nem ele a nós… - pensei, em voz alta.

- No que é que estás a pensar? – Perguntou-me, sem perceber.

- Já vês. Como é que te sentes?

- Desde a última vez que perguntaste? Melhor… mais forte… agora o problema são as correntes, cada vez que me movo, é como se me queimassem de fora para dentro.

- Aguenta-te, nós havemos de sair daqui.

Levantei-me e comecei a caminhar até à porta, mas mal dei dois passos, ela abriu-se e Charlotte entrou. Tinha aquele sorriso maldoso nos lábios, mas não estava com os caninos descidos nem os olhos vampirescos.

- E como é que estão? – Perguntou, arrogante – Confortáveis?

- Oh sim, não podíamos estar melhor – respondi-lhe, puro sarcasmo.

- Espero que gostem da estadia – continuou, com a mesma voz – Apesar de não ser longa. Mas vejam o lado positivo, pode ser que se encontrem em espírito…

Senti uma raiva a crescer dentro de mim, como nunca tinha sentido por ninguém. E ao mesmo tempo, ao olhar naqueles olhos reluzentes… senti pena dela. Ela está a ser completamente manipulada, e nem sequer se apercebe. Como é que alguém tão habituado a entrar na cabeça dos outros, não repara quando entram na dela? Como é que alguém tão manipulador consegue ser tão ingénuo? Parece completamente impossível, e no entanto Charlotte consegue.

Tudo o que sei é que gosto mais das histórias em que são os rapazes a salvar as raparigas, os príncipes a salvar as princesas, do que ao contrário.

- Querida… não achas mesmo que me consegues derrubar? Pois não? – Agora falou com um tom convencido.

Como já tinha sentido muitas vezes que o meu fim ia chegar, decidi que estava na hora de mudar de técnica. Não ia empatar. Não ia tentar persuadi-la a fazer uma coisa que não queria.

Ao olhar para ela, mesmo enquanto me ameaçava, vi que não passava de uma miúda com um espírito de dezassete anos, uma miúda frágil e medrosa com medo de tudo.

Agora não iria implorar para me deixar viver. Não iria implorar para que Derek vivesse. Agora iria dizer as verdades. Todas elas.

- Sei que sou estúpida o suficiente para tentar. Tu pensas que sabes tudo, não pensas? – Perguntei, não com um tom acusador, mas de pena.

- Desculpa… eu posso não saber tudo, mas sei como é que isto vai acabar.

- Vais mesmo matar o Derek? O teu irmão?

- Vá lá, não me venhas com sentimentalismos, nós nem partilhamos sangue nem nada.

- E eu? Pensas que me vais matar? Porque não vais.

- Como se conseguisses impedir.

- O Josh vai impedir. Tu simplesmente não vês, pois não? Ele está apaixonado por mim.

- Cala-te.

- Charlotte… lamento… mas é a verdade.

- Cala-te… - repetiu.

- Acredita, quem me dera que não estivesse, mas está. Não percebes que ele só te está a usar?! És assim tão cega? Quando ele já não precisar de ti, dispensa-te. E algo me diz que os vampiros são um bocadinho mais rigorosos do que dizer “vai-te embora, adeus”. Quando matares o Derek – estas palavras arderam-me tanto, mas tanto – ele vai-te matar a ti, e transforma-me a mim, para podermos ficar juntos. E vamos todos ficar mal.

- Eu disse para te calares!

Não a consegui ver chegar ao pé de mim, mas senti uma dor horrível nas costas, ao ponto de me fazer ficar com as lágrimas nos olhos, ao embater contra a parede.

Derek gritou mal eu bati na parede, e tentou soltar-se das correntes, mas não conseguia. Remexia-se e remexia-se, mas cada vez que se tentava libertar, gritava mais, mas agora não só de desespero, mas também de dor. As correntes banhadas de água benta queimavam-no, mas ele mesmo assim não desistia. Queria-me ajudar. Tal como eu o queria ajudar a ele.

Charlotte agarrava-me pelo pescoço, já com os caninos descidos e mais perto de mim do que desejaria. Olhava-me com aqueles olhos com os vasos sanguíneos vermelhos, cheios de raiva. Mas eu não me iria calar. Nunca mais. Fi-lo por uma vez, e trouxe-me até aqui. Agora… agora nunca mais vou ter medo de falar novamente.

- Eu odeio-te – murmurei, a tentar manter a voz firme – Odeio! Do fundo do meu coração. E posso garantir que não ia chorar a tua morte, porque desde que apareceste que só me fizeste ficar mal. Mas a Verónica e o Gary são meus amigos. E o Derek… o Derek é o meu tudo. Ele é tudo. E sei que pode não parecer, mas ao contrário de ti, eles preocupam-se contigo, e iam ficar mal se morresses. Ouve, eu não estou a dizer isto por dizer. Por isso pensa um bocado. O Josh não merece o que estás a fazer. Ele não merece nada, e muito menos que pessoas morram para lhe satisfazer a vontade.

Ela largou-me o pescoço, mas num movimento rápido mas visível aos meus olhos de humana, agarrou-me num ombro e fez-me “voar” até à outra ponta da sala, onde aterrei estampada no chão. Estremeci de dor. Não ia aguentar isto muito mais.

Charlotte inclinou-se para mim e mostrou-me novamente as presas.

- Ele é um vampiro, ele precisa de pessoas para sobreviver, por isso sim, pessoas têm que morrer para o satisfazer – disse, agora com sobretudo ódio.

- Então vampiros. Tu, o Derek. Vocês não precisam de morrer por causa do egoísmo dele.

- Eu não vou morrer. Eu amo-o, e ele ama-me. E tu e o teu querido… bem, vocês podem amar-se os dois no inferno!

Endireitou-se e saiu porta fora, batendo com ela com força e trancando-a em seguida.

Engatinhei de novo até Derek, e encostei-me à parede. Ele já não gritava. Já não se tentava libertar das correntes.

- O que é que te deu? – Perguntou-me – Ela podia ter-te morto ainda agora Chloe! Tu não tens noção do perigo?!

- Não te preocupes. A ajuda vem a caminho.

- Tu avisaste os meus irmãos? – Agora parecia surpreendido.

- Não – admiti –, mas não te preocupes.

- Se não os avisaste, então como é que…

- Derek… - rastejei para a frente dele e agarrei-lhe na face com as duas mãos – vai ficar tudo bem, prometo. Agora só temos que ter fé e esperança.

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