As Leis do Amor
Parte 3 – A Chance De Voltar à Glória
- Trouxe o pequeno-almoço! – Anunciei, mal entrei na clínica. Tom estava de costas, e voltou-se para mim com um sorriso que detectei ser um bocado falso – O que se passou?
Pousei o saco com os bolinhos que comprei na pastelaria em cima da secretária e aproximei-me um pouco dele, vendo-o suspirar.
- Lê – passou-me um jornal para as mãos. Assenti com a cabeça e comecei a ler.
- Parece que mais uma vez o julgamento é adiado. O advogado da defesa desistiu do caso e, de novo, Luke White encontra-se sem representante para o tribunal. O caso que era para ser exposto ao juiz já nesta terça feira fica, agora, adiado por uma semana – li em voz alta, olhando depois para Tom – Luke White? É da tua família?
Ele assentiu.
- Meu irmão.
- O que… porque é que está a ser julgado? – Vi que o seu semblante mudou. Ficou mais tenso, mais nu de sentimentos, e eu arrependi-me logo depois de ter feito aquela pergunta – Não tens que me dizer se não quiseres…
- Por homicídio – respondeu – Mas é inocente. Claro que nada disso conta quando a acusação é mandada por gente com dinheiro.
Claro. Quando a acusação, ou a defesa, têm dinheiro complica sempre o caso. Há sempre uma parte que não pode ficar mal vista, que tem sempre que sair por cima. Foi isso que me estragou tudo em Washington.
- O que é que aconteceu para o advogado desistir?
- Suspeito que tenha sido um suborno, tal como aos outros. O caso já se arrasta há quase três meses e nunca pudemos ir a tribunal por isso. Os advogados desistem nas vésperas. E durante todo esse tempo ele está na cadeia! Não é justo!
Ele parecia mesmo desesperado. E tinha razões para tal, advogados a desistirem por receberem subornos eram uma vergonha para a profissão.
- Tom…
- E o que é que eu vou fazer agora? Hum? Explicas-me? Prometi-lhe que o tirava de lá, e não vou conseguir cumprir essa promessa Sarah!
- Acalma-te, as coisas vão-se resolver.
- Como? Para começar preciso de um advogado, e já que os do estado tendem a desistir à última hora e não posso pagar a um particular, como é que vou fazer, hum?
A situação não era boa, de todo. Engoli em seco e pousei-lhe a mão no ombro, para ver se o acalmava. Nas três semanas em que cá trabalho nunca o vi tão chateado, nem nunca ele tinha falado deste assunto. Talvez nos pudéssemos ajudar mutuamente. Se eu impedisse um inocente de ir preso, então voltaria à glória, e se vencesse uma família rica era meio caminho andado para obter trabalho em alguma firma de DC.
- Eu posso ajudar – afirmei, vendo a confusão espelhada no seu olhar – Antes de vir para cá, era uma advogada.
Tom olhou para mim admirado, já sabia que tinha dado um “tempo” do meu trabalho, mas não sabia o que fazia.
- Uma advogada? – Quis conferir. Eu assenti – E estás disposta a ajudar-me? Mesmo que não te possa pagar muito?
- Sim.
- Tu… eu agradeço imenso mas… como posso saber se és boa? Sarah, és uma excelente secretária e até me sinto mal em te pedir, mas há alguém com quem possa falar? Um chefe, um antigo cliente?
- Hum… claro, claro! – “Boa, agora sim é que estou feita… já sei!” – Eu dou-te o número.
Acabei por lhe dar o número do telemóvel que apenas usava para casos da firma, e disse-lhe para telefonar apenas à noite pois era quando o meu suposto patrão tinha tempo para falar. Não sei como, mas ele acreditou, e o dia correu normalmente.
Cheguei a casa já estafada, e corri até ao quarto para ir buscar o telemóvel e o ligar, mesmo a tempo dele começar a tocar. Desci as escadas também depressa e fui ter com o meu pai, à sala.
- Pai! – Exclamei – Preciso que atendas e fales bem de mim. É o Tom, do veterinário, e ele precisa de uma advogada. Eu explico-te tudo depois mas agora atende. O teu nome é Harold e és o meu antigo chefe – não lhe dei tempo para dizer nada, carreguei no botão para atender a chamada e encostei-lhe o telemóvel ao ouvido. Ouvi-o dizer coisas como “sim”, “concordo”, e “ela tem bastante potencial”, enquanto me fazia caras estranhas por não estar a perceber nada do que se passava. Despediu-se com um “espero que fique contente com os seus serviços”, e depois deu-me o telemóvel para as mãos.
- Ele é bom rapaz, Sarah – repreendeu-me ele, referindo-se a Tom – O que é que andas a tramar?
Suspirei, que ele era bom rapaz já eu tinha percebido. Sentei-me no sofá, ao lado dele, e agarrei-lhe nas mãos.
- O irmão dele está preso – expliquei.
- Sim, uma injustiça se queres saber, conheço aquele rapazito desde que usava fraldas… - reclamou ele.
- Eu sei, toda a gente diz que ele é inocente. De qualquer maneira, ele estava à espera de ir a tribunal, mas o advogado desistiu e eu ofereci-me pelo cargo.
- E isso é sábio? Considerando tudo o que se passou…?
- Claro que é! Não percebes? É perfeito. É contra pessoas importantes, o que significa que a comunicação social vai estar a cobrir o julgamento de uma ponta à outra. Se fizer tudo bem, um inocente sai livre e eu posso voltar à glória, percebes? Alguma grande firma de advocacia de DC pode ver uma reportagem, ver o meu trabalho, e decidir que me quer a trabalhar para si.
Vi o meu pai abanar a cabeça e suspirar, calmo como sempre.
- Espero que não te enterres mais – disse ele –, porque, pelo que percebi, ele não sabe o verdadeiro motivo para estares aqui em Iowa.
- Não lhe podia dizer que tinha sido despedida! – Exclamei – Mas nada disso importa, porque eu sou boa no que faço. E vou impedir que o irmão dele vá preso, vais ver.
- E depois vais-te embora daqui.
- E depois vou-me embora daqui.
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