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Destinos Trocados

por Andrusca ღ, em 27.08.12

Capítulo 7

O Rapaz com o Plano

 

- Cindy… Cindy… - Nate ia correndo atrás da bela rapariga de cabelos negros pelos corredores da escola, enquanto chamava pelo seu suposto nome, mas Caroline ainda não se tinha apercebido de tal. Ia afundada nos seus pensamentos sobre o dia anterior onde, estranhamente, se sentira livre e ela mesma pela primeira vez desde que chegada a Beverly Hills. Apesar de ao início estar mais recatada e a pensar como a gémea agiria, a meio do jogo de basquetebol começou a sentir-se mais solta e limitou-se a jogar, rir e brincar como tinha saudades de fazer. Deram imensas gargalhadas naquele campo, ela e os dois rapazes, e Caroline tinha percebido que Keith tinha razão. Nate não era o menino mimado que lhe tinha parecido ser à primeira vista.

Quando uma mão lhe tocou no ombro, Caroline voltou-se subitamente e viu um rapaz de cabelos castanhos e olhos verdes a olhar para si.

- Nate! – Exclamou, surpreendida.

- Estou-te a chamar há séculos – disse ele, ofegante, enquanto se punha ao lado dela para caminharem juntos – Queria falar contigo sobre ontem.

Caroline franziu as sobrancelhas, o que viria dali?

- Diz.

- Tu foste… quer dizer… - Nate parou e engoliu em seco. Pôs-se à frente dela e colocou as mãos nos seus ombros, olhando directamente para os seus olhos – É tão estranho… é como se não fosses… - Caroline desviou o olhar e soltou das mãos dele, fazendo um riso nervoso. Sentia que, se o deixasse observá-la mais tempo, ele podia descobrir a verdade.

- O quê? – Perguntou, a tentar disfarçar – É como se não fosse eu? Isso é ridículo, Nate. Mudei, é só isso.

Nate sorriu.

- Mudaste? Quando te vi naquele campo… não te vi a ti – Caroline abanou a cabeça e ia continuar o seu caminho, mas o rapaz travou-a – Não vi a Cindy Geller. Vi uma rapariga que se parecia tal como ela, mas que estava descalça… e a jogar basquetebol… e a rir às gargalhadas do modo mais descontraído que uma pessoa pode estar.

- Talvez tenhas razão – disse ela, encolhendo os ombros – Viste alguém diferente, porque eu sou alguém diferente. Fiquei cansada de ser daquele modo… mudei. Sou uma Cindy completamente nova.

Foram cada um para a sua sala de aula, e não se voltaram a encontrar durante o resto da manhã. Rebecca e Phoebe convidaram Caroline para ir às compras, e ela percebeu que, se recusasse, mais valia mandar-se para dentro de um poço. Pelo que Keith lhe dissera, nunca Cindy recusaria uma oportunidade para gastar dinheiro e comprar roupas e acessórios. Combinaram então que iriam todas comer à casa de Rebecca, e então seguiriam logo para o Rodeo Drive.

Quando as aulas terminaram, Caroline conduziu atrás do carro da “amiga” até à casa dela, e abriu a boca de espanto ao contemplá-la. Era mais pequena que a sua, mas não deixava de ser um verdadeiro palácio.

Rebecca foi sempre rude para as empregadas que lhes serviam o almoço, e a mãe dela, que também comeu com as três raparigas, também as tratava do mesmo modo. Caroline estava indignada, como é que podiam tratar assim as outras pessoas?

 

✽✽✽

 

- Meu deus! – Estavam as três dentro da loja Ralph Lauren, uma conceituada marca de moda, e Rebecca tinha na mão um vestido curto e brilhante, com um decote generoso e uns folhos no fim – É lindo! Tenho que o ter!

- Completamente – concordou Phoebe, maravilhada com o vestido.

Caroline franziu as sobrancelhas e aproximou-se da outra. Sim, o vestido era lindíssimo, mas uma coisa assim não podia ser barata. Caroline procurou a etiqueta e abriu a boca de horror.

- Custa 629 dólares – murmurou.

- E? – Olhou incrédula para Rebecca e depois encolheu os ombros. Por momentos tinha-se esquecido que aquelas raparigas tinham milhões nas contas.

- Nada – disfarçou – É uma pechincha. Vai experimentar, de certeza que vais ficar linda nele.

Rebecca assim o fez e, de facto, o vestido ficava-lhe maravilhosamente bem. Depois seguiu-se a Channel, Prada, Tiffany, e muitas outras. Depois de duas horas às compras, Rebecca tinha quase sete sacos nas mãos, e Phoebe tinha cinco. Caroline, para que nenhuma delas desconfiasse de nada, sentiu-se na obrigação de usar o “seu” cartão de crédito e, já que o ia fazer, ao menos ia comprar qualquer coisa que gostasse. Comprou uma blusa, um par de calças e outro de sapatos, e uma mala da Channel.

- Não acredito que só compraste isso – comentou Phoebe, enquanto andavam na rua até à próxima loja.

- Porquê? – Caroline riu-se – Costumo comprar muito mais?

- Só as lojas inteiras! – Exclamou Rebecca.

Caroline riu-se. Estranhamente, estava a gostar daquela tarde. Por ter passado a sua vida inteira a viver na rua, todas estas coisas lhe tinham passado completamente ao lado. Nunca andara com as amigas pelas ruas. Nunca tivera ninguém consigo nos provadores a opinar sobre o conjunto escolhido. Nunca pudera comprar as coisas que gostava e que queria. Invejava isso em Cindy, ela sim tinha tido tudo isso. Tinha tido toda a vida facilitada.

Depois de mais um par de horas, Rebecca e Phoebe decidiram ir embora, mas Caroline ficou mais um pouco porque não queria ir já para casa. Deu mais uma volta pelas lojas e, já quando o sol se estava a pôr, caminhou em direcção ao seu carro. Porém, sentia que algo não estava bem. Após anos e anos em fuga, tinha desenvolvido um sexto sentido para perceber quando estava a ser seguida, e esse sexto sentido estava a dar sinal. Olhou para trás várias vezes mas nunca viu nada fora do normal. Então, quando já tinha chegado ao parque de estacionamento onde tinha o seu carro estacionado, uma mão tocou-lhe no ombro. À medida que se voltou, e devido ao medo que tinha começado a sentir, Caroline deixou os sacos das compras caírem para o alcatrão, espalhando o que lá estava dentro pelo chão.

Após se voltar, ficou frente a frente com um rapaz um pouco mais alto do que ela, com umas calças escuras e um casaco preto com capuz, que estava posto. Caroline olhou nos olhos dele e engoliu em seco. Estaria a ser assaltada? Será que era frequente ser-se assaltado nos estacionamentos de Beverly Hills?

- Cindy Geller… finalmente nos encontramos de novo – aquela voz não pareceu, de todo, amigável. O que o rapaz disse fez com que Caroline percebesse que a irmã o conhecia, logo não lhe podia perguntar quem ele era. Detestava “continuar o jogo” sem ter todas as cartas na mesa, ter uma conversa com alguém que não conhecia e que não sabia que relação tinha com Cindy. “Bem, pelo tom de voz a relação não é boa, de certeza”, deduziu.

- Sim… é bom ver-te – murmurou, engolindo em seco depois. Não sabia o que era suposto fazer, por isso calou-se.

- Bom ver-me? – O rapaz deu uma gargalhada e aproximou-se mais dela, como se a tentasse intimidar, o que resultou. Caroline encolheu-se e engoliu em seco. Já várias vezes se tinha defendido de Roger. Tinha-o arranhado, dado pontapés… mas não podia atacar assim um rapaz qualquer, que não conhecia de lado nenhum – Depois de teres dado tudo por tudo para que eu saísse da escola e fosse para um colégio interno? Ouve-me bem, sua miúda irritante e mimada, é bom que fiques atenta a tudo à tua volta, porque eu vou-me vingar. Agora estou de volta, e não há nada que possas fazer para me mandar de volta! Ouviste?!

Caroline engoliu em seco. Ia-se vingar? O que teria Cindy feito àquele rapaz? O certo era que ele parecia completamente descontrolado, completamente fora de si.

- Ouve… o que quer que seja que eu tenha feito… lamento. Agora estou diferente, já não faço… essas coisas. Lamento se te causei problemas, mas eu… - argumentou ela, com a voz a tremer.

- Lamentas? A Cindy Geller lamenta? Essa é uma boa anedota. Não lamentas ainda, mas hás-de lamentar quando eu acabar contigo.

O rapaz levantou a mão e deu uma chapada tão forte em Caroline, que a fez cair para o chão. Ela ficou lá sentada, com a mão na bochecha que ardia, a olhar para ele com os olhos enlagrimados. Sentiu-se indefesa, sentiu-se inútil, tal como Roger a fazia sentir-se. Detestava aquele sentimento.

- Vai-te embora – mandou, já com a voz firme.

- Eu vou… - disse ele, com um sorriso nos lábios – Mas vejo-te amanhã na escola.

À medida que ele se ia afastando, Caroline ia-o observando. Ele não a ia deixar em paz. Tinha regressado a Beverly Hills com um propósito. Tinha o plano de acabar com a vida de Cindy, de a destruir por dentro, e não ia parar enquanto não o conseguisse. Afinal a vida de Cindy não era um poço de felicidade como Caroline tinha imaginado. Talvez o seu desaparecimento tivesse algo a ver com as partes menos luminosas da sua vida, com as partes que ninguém sabe.

 

Então, que acharam?

Comentem, shim? c:

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