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Déjà Vu Sobrenatural

por Andrusca ღ, em 30.10.10

Este talvez seja dos mais fraquinhos por os irmãos não aparecerem muito...

Mas mesmo assim espero que gostem

 

Capítulo 9

Hotel Assombrado

 

Depois de sair da casa de Phil voltei para Nova Iorque para ir buscar o resto das minhas coisas mas decidi manter a casa, só para o caso de precisar dela por algum motivo. Fui até ao ferro velho e resgatei um carro que estava em boas condições, estava era um bocado fora de moda. Passaram-se três semanas que eu caçava sozinha e os demónios, quando olhavam para mim, era como se já me conhecessem, alguns deles chamavam-me nomes como “bruxa” ou então ficavam a olhar fixamente para mim, como que em pânico, apesar de eu não ser assim tão assustadora.

Agora encontrava-me em Missouri, na sua capital, Jefferson City. Estava a caminho de um hotel em que ultimamente tinham ocorrido duas mortes e vários acidentes quase fatais. O hotel era novo, tinha apenas um ano e pelo que dizem é muito bom… com a excepção das mortes inexplicáveis e de hóspedes caírem constantemente das escadas, e alegarem que foram empurrados mas sem estar alguém atrás deles. Na minha opinião, estava a lidar com o meu primeiro caso de fantasmas.

Estacionei o carro e entrei num café para ir à casa de banho. Troquei as minhas calças de ganga por uma saia preta até abaixo do joelho, o meu top de alças lilás por uma blusa de manga curta branca e os meus ténis pretos por uns sapatos pretos fechados, de salto alto. Vesti um casaco preto, do mesmo tecido que a saia e pus uma cabeleira postiça, que tinha comprado. Apesar de ser postiça, a cabeleira era muito realista, nem parecia uma cabeleira. Pus o meu colar com o pendente do coração para dentro da blusa. Saí de lá completamente renovada, não era eu, era a Michelle Newent, do FBI, a minha identidade falsa para estes casos.

Normalmente não uso perucas nem nada do género, mas neste caso tinha que ter cuidado, ia ser muito mau se fosse reconhe

Voltei a pôr-me no carro e dirigi mais umas ruas até ao hotel, tirei o distintivo e todas a identificações de precisava para me tornar na Michelle e saí do carro. Olhei para o hotel, que indiscutivelmente era muito bonito. Tinha um estilo vitoriano e estava em tons de castanho, tinha um enorme jardim e um grande estacionamento. Quando entrei a beleza do hotel continuou, estava decorado em tons de dourado e castanho, tinha imensos pilares. À esquerda estava a recepção e à direita as escadas, com o elevador ao lado. Em frente estava uma sala enorme, com sofás, uma mesa de snooker, uma aparelhagem e uma estante com livros. Tinha uns candeeiros de tirar o fôlego.

Aproximei-me da recepção, com as malas atrás.

- Bom dia. – Disse a recepcionista. – Como posso ajudá-la?

- Bom-dia, eu sou a agente Newent, FBI. – Disse eu, mostrando o distintivo. – Vim para investigar sobre as mortes que têm havido…

- Sim, claro, mas, não leve a mal, ninguém as conseguiu explicar… como é que o FBI vai conseguir?

- Não sei, acho que vamos ter que tentar para descobrir.

- Muito bem, pode ficar no quarto 666, faça favor. – Disse-me ela.

- Belo número… quantos quartos há?

- Ao todo… 200.

- Mas o quarto é o número 666…

- Nós não fomos por ordem.

- Foi neste quarto que ocorreu a primeira morte não foi?

- Foi sim. Acho que assim poderá investigar melhor.

Subi pelo elevador e deixei as malas no quarto, examinei-o e fui ver o resto do hotel. O meu falso distintivo permitia-me entrada em todo o lado, o que facilitava as coisas. Fui até à cave, onde ocorreu a segunda morte, mas também não havia vestígios de nada, nem fantasmagórico nem demoníaco.

Voltei a subir para o quarto, desanimada. Entrei no quarto e tranquei a porta, tirei a peruca e vi-me ao espelho. A peruca… tinha feito esta incrível compra por causa de Jason e Bryan, eles também estavam a caminho deste hotel mas não se iam dar muito bem, eu sonhei com eles, um a entrar em coma e o outro com as pernas paralisadas… por isso, e por muito que me custe, vim ajudar… apesar de ser à distância. Nunca mais voltaria para os ajudar cara-a-cara, não me ia rebaixar ao ponto de voltarem a fazer-me a mesma coisa.

Fui tomar um banho e vesti um fato de treino azul-claro e fiz um rabo-de-cavalo. Sentei-me em frente ao computador portátil a pesquisar coisas sobre fantasmas e lembrei-me que a primeira morte podia ter algo a ver com o quarto em que a vítima se encontrava, o mesmo quarto onde eu me encontro, o quarto número 666, o número do Diabo. Comecei a pesquisar sobre isso. Apareceram várias coisas em grego e uma pequena frase em latim, «Hic sapientia est. Qui habet intellectum, computet numerum bestiae. Numerus enfim hominis est, et numerus eius est sescenti sexaginta sex.»…

- É pena o meu latim estar tão enferrujado… não sei quê intelectual… qualquer coisa numero da besta… números… tal, tal… seiscentos e sessenta e seis… - Dizia, enquanto tentava traduzir, porém não tive sorte nenhuma, estava decidido, ia voltar a estudar latim.

Fui a mais uns sites e descobri e que isto do número do Diabo originou-se de um texto da bíblia sagrada dos cristãos, no Livro do Apocalipse, Livro das Revelações, “tenho a certeza que esse ainda nos vai dar muito jeito”, pensei. Esse livro fala de acontecimentos proféticos de um determinado período na história que levam à contagem dos últimos dias antes do fim dos tempos. A marca da Besta, 666 é associado a um controle de escravização do homem. Descobri que há vários álbuns e canções em alusão a esse número, como Helloween – The Dark Ride; Slipknot – The Heretic Anthem; Rolling Stones – Sympathy of the Devil; o álbum Antichrist Superstar de Marilyn Manson ou também The Number Of The Beast, de Iron Maiden.

Como Jason e Bryan chegariam amanhã depois do almoço, resolvi fazer uma investigação mais aprofundada antes que chegassem, porque a partir do momento que chegassem, as minhas acções seriam limitadas. Desliguei o computador portátil e abri a porta, espreitei para ver se estava alguém mas a costa estava livre, fechei a porta do quarto e desci as escadas, com muito cuidado onde punha os pés. Senti uma brisa muito fresca e arrepiei-me toda. Eram três e meia da manhã, a hora em que a segunda morte tinha ocorrido. Desci de novo até à cave.

- Olá. – Disse eu, baixinho. – Está aí alguém?

Não ouvi nada por isso dei meia volta e saí de lá. Fui até à cozinha, à recepção e à sala de convívio mas não via nada fora do normal. Entrei no elevador e pressionei o botão com o número 3, que era o andar em que o meu quarto ficava. O elevador começou a subir, mas a certo ponto parou e começou a abanar todo, como se fosse cair, as luzes começaram a acender e a apagar e começou a ficar muito frio.

- Sai daqui. – Ordenou uma voz ameaçadora. – Vai-te embora, não te metas!

Vi uma figura de um homem no reflexo das portas do elevador, era um homem todo molhado, mas a grande surpresa para mim era que tinha a farda do hotel vestida.

- Quem és tu? Eu posso ajudar-te! – Disse eu, a olhar em todas as direcções.

- Eu não quero ajuda! – Gritou ele, fazendo-me cair.

O elevador voltou ao normal e parou no meu andar. Levantei-me e entrei no quarto. Fui buscar um pacote de sal à minha mala e espalhei-o por baixo da porta e nas janelas. O sal impede os fantasmas de passar.

Sentei-me em cima da cama, com o portátil ao lado e comecei a investigar mortes de pessoal do hotel, mas não deu em nada.

Quando acordei eram nove e quarenta e cinco da manhã, vesti umas calças de bombazina pretas, uma blusa cinzenta clara, muito madura e calcei os mesmos sapatos fechados, pretos, do dia anterior. Pus a peruca e olhei-me ao espelho. Voltei a pôr o colar para dentro da blusa e saí do quarto. Dirigi-me à recepção.

- Bom dia senhora agente. – Disse-me a rapariga de lá. – Deseja alguma coisa?

- Por acaso sim. Gostava de te perguntar se já morreu cá alguém, sem ser hóspede, alguém que trabalhasse cá.

A cara dela ficou entristecida.

- Sim. Michael Gury… ele… ele morreu afogado na piscina.

- Lamento imenso. – Disse eu.

- Já foi há quase um ano, foi mesmo no princípio do hotel ter sido construído… mas ainda sentimos muito a falta dele.

- Há alguma coisa que me possa dizer sobre ele?

- Mas porquê? Foi um acidente, o que é que tem a ver com esta investigação?

- Talvez nada… talvez muito… eu preciso mesmo de saber tudo o que me puder contar.

- Muito bem… ele tinha 27 anos, era solteiro, não tinha família…

- Onde é que morava?

- Aqui mesmo, no hotel. No quarto 999. Nunca voltámos àquele quarto, nunca sequer lá entrámos. – Isso poderia explicar a primeira morte, talvez ele tivesse visto o hóspede no quarto 666 e ter confundido com o seu, o 999. Pode ter pensado que lhe estavam a invadir o espaço…

- Como é que ele era, tinha muitos amigos? – Perguntei.

- Não… era solitário, não falava muito, evitava olhar as pessoas nos olhos mas… estava sempre lá para ajudar quando era preciso.

- Bom-dia. – Disse um homem, ao aproximar-se de lá. – Queríamos fazer o check-in por favor.

- Bom-dia. – Respondeu ela. – Só um segundo. Precisa de mais alguma coisa?

- Não, é tudo por agora. – Respondi eu. – Obrigada.

Voltei a subir as escadas, à procura do quarto 999, mas antes fui ao meu, buscar uma pistola com balas de sal, repelia e enfraquecia o fantasma se este se tornasse muito intenso. Corri os corredores todos até encontrar o quarto 999 mas não o encontrava. Perguntei a um dos empregados de lá e ele disse-me que era no último andar, o andar dos aposentos dos empregados. Subi até lá e abri a fechadura do quarto com um gancho. Entrei e fiquei completamente chocada com o que vi.

- Ele era completamente doentio. – Murmurei, olhando para todo o lado.

Haviam ratos abertos ao meio em todo o lado e montes de ervas e bonecas com alfinetes de vudu, a um canto estava um pequeno colchão com uma manta e uma almofada. Abri o mini-bar e tive que me desviar por causa do cheiro. Estava lá um guaxini morto e uns quantos louva-a-deus. Dentro de umas jarras de vidro estavam orelhas e pés de porcos. “Que nojo”.

Dei meia volta e assustei-me, ao vê-lo mesmo à minha frente.

- Eu disse para te ires embora! – Disse ele. – Agora, alguém vai sofrer! – Exclamou, desaparecendo.

Saí e voltei a fechar a porta, ouvi um estrondo e alguns gritos vindos do andar de baixo. Corri escadas abaixo e quando finalmente cheguei à última carreira de escadas, que davam para a recepção vi um homem estendido, metade nas escadas e metade no chão. Desci o resto das escadas, saí pelo lado e inclinei-me sobre ele, virando-o.

- Há aqui algum médico?! – Perguntei.

O homem não respondia a nada, chamaram a ambulância, que o levou para o hospital.

Fui comer qualquer coisa ao restaurante do hotel e depois voltei para a recepção, para fazer mais perguntas sobre o nosso estranho Michael Gury. Quando ia a fazer a curva vi duas caras conhecidas e apressei-me a parar e a esconder-me. Ouvi a conversa entre eles e a recepcionista.

- Nós somos agentes Kull e Smith. – Disse Jason, enquanto ambos mostravam os distintivos. – FBI. Estamos cá para investigar as mortes e acidentes estranhos.

- Eu sei. – Disse ela, muito repentinamente.

- Bem… - Continuou Bryan. – Há alguma possibilidade de ficarmos com o quarto 666?

- Lamento mas já o entreguei à vossa parceira.

- Parceira? – Perguntou Jason, confuso.

- Sim, um pouco mais baixa que você, loira, muito educada… com um distintivo do FBI… disse que se chamava Newent…

- Ahh, sim, já sei quem é! – Exclamou Bryan, apesar de eu saber que não faziam ideia quem era. – Então nesse caso aceitamos qualquer outro quarto.

Entrei à socapa no elevador e subi até ao meu andar, entrei no quarto e tranquei-o. Agarrei nas minhas coisas e mandei-as à toa para baixo da cama e para dentro do roupeiro. Ouvi passos e fui espreitar pelo óculo da porta. “Raios, eles estão a vir para aqui!”. Corri até ao roupeiro e entrei, escondendo-me entre mantas, almofadas, cobertores e malas. Ouvi as vozes deles e o clic que a porta fez ao ser destrancada, ouvi-os a entrar e a aproximarem-se.

- Tem sal em todo o lado. – Disse Jason. – Definitivamente não é do FBI.

- Concordo. – Disse Bryan. – Ela pesquisou tudo muito bem. Está cheia de papéis sobre o hotel, funcionários e sobre as notícias das mortes e dos acidentes.

“Raios! Não acredito que me esqueci de esconder os papéis!”

Ouvi-os a darem mas uns passos pelo quarto e depois a aproximarem-se ainda mais do roupeiro.

- Olha o que encontrei. – Disse Jason. – Podia jurar que a Mel tinha uns brincos iguais a estes. E se for ela?

- A Mel não é loira.

- Tudo bem mas… pode ter pintado o cabelo…

- Porque é que não admites que querias que fosse ela?

- Não disse nada disso.

- Sim, mas querias?

- Sim… pode parecer estranho mas gostava que fosse ela. Tenho saudades daquele sorriso pela manhã, sabes? É pena nunca mais termos ouvido nada dela…

Sorri, envergonhada.

- Estás é a ficar apanhadinho pela miúda outra vez.

- Não estou nada!

- Pois sim, mas eu sei o que queres dizer, apesar de termos insistido tanto para ela acabar com esta vida, às vezes gostava que ela não nos tivesse dado ouvidos.

- Só te digo, quando ela disse que se ia embora foi como se o mundo parasse, se foi isto que ela sentiu quando eu a deixei há cinco anos… bem, deixa lá. Falta ver no roupeiro, vai lá tu, estás mais perto.

- Ainda dizes que não estás apanhadinho. – Disse Bryan, enquanto eu ouvia os seus passos a aproximarem-se de mim.

Enterrei-me no meio das almofadas e tapei-me com um cobertor e depois ouvi o roupeiro a ranger um pouco, ao abrir.

- Não está aqui nada. Seja quem for, não a vamos achar aqui. – Disse Bryan, fechando o roupeiro de novo.

Suspirei de alívio e esperei que eles saíssem do quarto para sair do roupeiro. Saí do roupeiro e tirei o computador lá de dentro, pousei-o na cama e pesquisei o nome do fantasma, descobri que tinha sido enterrado no cemitério da cidade, agora era só salgar os ossos e queimá-los.

Quando a noite chegou vesti umas calças de ganga, rasgadas e vesti uma blusa púrpura, calcei os ténis pretos e soltei o cabelo. Como Jason e Bryan não sabiam nada sobre o fantasma, não iam ao cemitério ainda. Saí pela porta da frente, sempre com cuidado para que eles não me vissem e fui de carro até ao cemitério. Quando lá cheguei tirei do porta-bagagens uma pá, um pacote de sal e um pacote de fósforos. Procurei pela campa de Michael e comecei a cavar. Depois de meia hora ainda nem devia estar a meio do caminho e já estava cansada. “Eles fazem isto parecer tão fácil”. A verdade era que Jason e Bryan faziam aquilo num instante, não sei se era por estarem habituados mas a verdade era que faziam com que parecesse que não custava nada. Comecei a ficar cheia de arrepios, pousei a pá e quando me virei estava lá o fantasma de Michael. Mandou-me com água para cima.

- Estás mesmo a fazer isto?! Água, a sério?!

Baixei-me para agarrar na pá mas esta desviou-se. O fantasma estava-se a rir, mas depois de me mandar com mais água, que desta vez me mandou ao chão, a sua cara tornou-se séria.

- Eu disse-te para te afastares, agora, vais morrer, tal e qual como eu!

Mandou-me para dentro do carro e este fechou-se e começou a inundar. Tentei abrir as portas ou partir os vidros mas não conseguia, o carro estava cada vez mais cheio de água e eu não tinha escapatória possível, então vi os faróis de um carro conhecido, um Opel, que em tempos foi o meu melhor transporte.

O fantasma parou de tomar tanta atenção em mim e concentrou-se em Jason e Bryan. O seu poder no carro diminuiu e eu consegui partir um vidro e depois abrir a porta. Jason e Bryan estavam agora à procura da campa dele. “Claro, viram a minha pesquisa em cima da mesa no quarto do hotel e souberam logo quem era o fantasma”, corri até à campa de Michael e vi este atacar Jason e Bryan, agarrei na pá e continuei a escavar o mais rápido que consegui e quando o caixão já estava desenterrado, parti a madeira com a ponta da pá e mandei o sal, espalhado, lá para dentro.

Michael ainda estava a lutar com Jason e Bryan, acendi um fósforo e deixei-o cair dentro do caixão, incendiando o corpo. Vi a cara de surpreendidos de Jason e Bryan ao verem o fantasma a queimar mesmo à sua frente, devem ter ficado a pensar como é que ele tinha sido morto. Mas eu não quis ficar mais tempo, deixei a pá e comecei a correr até ao hotel, cheguei lá, arrumei as minhas coisas e vim-me embora, para apanhar um autocarro o mais depressa possível, o que tinha ido fazer estava feito, e o meu primeiro fantasma, destruído.

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