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O Anel de Ruby

por Andrusca ღ, em 12.01.13

5.  Casa de Pedra

 

Passei o jantar completamente calada, sendo que o único barulho que fazia era o dos talheres a tocarem no fundo do prato quando ia buscar os alimentos. Ia trocando alguns olhares com a Be, e ela já tinha percebido que queria falar com ela sobre algo sério, mas não sabia como abordar esse assunto. Sabia que ia ser complicado convencê-la. Ela também não abria a boca, devia ter percebido também que eu precisava de tempo para pensar bem no que queria dizer, e a nossa relação baseava-se nisto. Quando sabíamos que a outra queria dizer alguma coisa, não pressionávamos, dávamos-lhe tempo até se sentir confortável para o fazer.

- Be… - acabei por murmurar, quando comi a última garfada de puré.

- Sim, Ruby?

- Tenho uma coisa para te dizer.

- Diz.

Respirei fundo e olhei para o relógio pendurado na parede, seguindo o ponteiro dos segundos por pouco tempo até me mentalizar que ia estar a dar uma “facada nas costas” da minha avó. Sabia que ia encarar isto como uma traição, escolher Lewis em vez dela, mas não era assim. Pelo menos, eu achava que não era assim.

- O Lewis convidou-me para ir morar com ele e com a família dele. E a casa é grande. E sabes, é mesmo no centro da cidade… fico mais aberta a propostas de emprego, é melhor para o meu futuro.

Ao contrário do que esperava, a sua reacção não envolveu exclamações profundas, nem zangas nem conflitos. Resumiu-se a quatro palavras que me magoaram muito mais do que se tivesse ficado chateada, enquanto nem se dignou a olhar para mim.

- Faz o que quiseres.

Não esperava por isto. Não esperava que aceitasse assim aquela notícia, que depois continuasse a comer a sua carne e o seu puré como se tivéssemos estado a comentar o estado do tempo e não a minha saída daquela casa. Da casa onde cresci, onde ela me criou. Mas, apesar de magoada pela sua falta de interesse, decidi não dizer mais nada. Se fazia o que quisesse, estava decidido.

- Começo a mudança amanhã – acabei por declarar.

- Avisa-me se quiseres ajuda para empacotar as coisas.

Levantei-me, limpei a minha loiça e fechei-me no meu quarto. Não compreendia como podia estar a ser assim para mim. Nunca antes me tinha tratado com aquela frieza. Sei que não apoia o meu relacionamento com Lewis, e apenas posso pensar que me está a dar esta liberdade na esperança que eu me arrependa, lhe dê razão, e volte para cá. Mas está enganada. Não me vou arrepender. Não vou voltar atrás. Vou morar com o Lewis e está decidido.

Tal como tinha dito, no dia seguinte comecei a empacotar as coisas, e Lewis foi pela primeira vez ao sítio onde eu tinha crescido. Quando o apresentei à minha avó jurei que ela parecia querer saltar-lhe para cima e tentar desfazê-lo à dentada, o que até seria hilariante de ver devido à sua idade e ao facto de as probabilidades da sua dentadura postiça ficar presa ao nariz dele serem bastante altas. Olhou para ele como se ele fosse algum monstro subido do inferno o que, para ela, até fazia algum sentido pois era ele que me estava a levar embora.

Ao fim de três dias mudei-me, e nem sequer me despedi da minha avó de um modo decente. Nesses três dias tínhamo-nos tornado distantes, como se fôssemos duas estranhas a morar por baixo do mesmo tecto.

Aquela casa de pedra acolheu-me como se eu sempre lá pertencesse. Fiquei no quarto de hóspedes, apesar de imaginar-me de noite a escapulir-me para o de Lewis.

O quarto era simples. Tinha uma cama de solteiro, um roupeiro não muito grande, uma cómoda e uma mesa-de-cabeceira com um candeeiro em cima. Havia uma pequena janela, com um bonito cortinado a tapá-la, e um tapete a condizer com o tom da colcha da cama. Estava um pequeno espelho pendurado numa das paredes.

A Elise foi uma querida, ajudou-me a arrumar as roupas, pôs-me lençóis novos na cama, apanhou-me flores do jardim para as pôr dentro de uma jarra com água em cima da cómoda,…

- Tens tudo o que precisas? – Perguntou-me. Assenti com a cabeça e sorri a Lewis, que se encontrava encostado à ombreira da porta. Sem esperar, ela chegou-se a mim e abraçou-me, sussurrando-me algo que não compreendi bem na altura: - Gosto de ti, Ruby, devias ir embora.

Saiu do quarto e fechou a porta, deixando-me apenas com o auxílio do meu namorado. Quando acabámos de arrumar tudo decidi telefonar à minha Be, para lhe dizer que estava bem instalada e que a ia visitar em breve. A sua voz pareceu-me mais frágil, mas supus que estivesse apenas triste por eu ter finalmente “saído do ninho”. Mal sabia que ela estava, na verdade, a ficar doente.

Quando ia a sair do quarto, para ir jantar à cozinha com os meus novos companheiros de casa, Joshua vinha também a sair do dele e olhou-me directamente. Não percebi como não tinha visto antes, mas ele não me olhava com raiva. Pelo menos não unicamente. Olhava-me com algum desapontamento.

Sem me dar tempo para fazer nada, aproximou-se de mim com um ar intimidante – pelo menos intimidante para um miúdo de quinze anos – e parou mesmo juntinho a mim, a observar-me com uma expressão bastante séria.

- Vais-te arrepender seriamente de te teres mudado para cá – aquilo pareceu-me uma ameaça, mas afinal era um aviso.

- Estás-me a ameaçar? – Perguntei, fazendo-me também de forte. Ele abanou a cabeça.

- Estou-te a avisar, para não ficares surpreendida quando isso acontecer.

Sem me deixar dizer mais nada, começou a descer as escadas e juntou-se à família da cozinha, deixando-me aparvalhada durante mais meio minuto antes de me juntar a eles.

 De novo, e tal como já tinha notado das outras vezes em que estávamos os quatro juntos, o ambiente parecia ser um bocado pesado. Já faltava pouco para descobrir porquê.

 

 

O próximo capítulo já vai ter um bocadinho mais de acção...

Que acharam?

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