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O Anel de Ruby

por Andrusca ღ, em 10.02.13

Há muito tempo que não punha dois capítulos no mesmo dia... mas como a maior parte de quem lê já comentou o outro, e isto já está tudo feito, divirtam-se (:


15.  Males que Vêm por Bem

 

Cheguei a casa em sobressalto, sem me aperceber de que tinha sido seguida por Lewis, que ainda ficaria lá fora algum tempo para não levantar suspeitas. Joshua já tinha chegado e posto a mesa, estava quase na hora de almoçarmos.

- Bom dia, Joshua – cumprimentei, visto ainda não o ter visto hoje.

- Bom dia. Foste ao parque?

- Sim, aproveitei para sair um bocadinho.

- Hum… o que é o almoço?

Ri-me para ele e pus-me a cortar cenouras na bancada.

- Peixe cozido.

- Bah… - já conhecia bem os seus gostos, e peixe cozido era algo que detestava comer.

- Não sejas assim, faz bem à saúde.

Já tinha posto tudo na panela quando Joshua foi tomar um duche rápido. Estava transpirado por ter tido educação física na escola. Como me vi sozinha, peguei no telemóvel e marquei o número do centro de ajuda, implorando depois pelo número pessoal de Tyler. Depois do que se passara há alguns minutos, precisava de falar com ele. Sentia que tinha sido brusca, mal-educada, e queria pedir-lhe desculpa. Afinal, ele era a única pessoa que me ouvia. Tive que esperar quatro toques até me atender.

- “Estou?” – Atendeu ele.

- Tyler… sou eu, a Ruby. Desculpa ter-te telefonado para o telemóvel mas…

- “Não, estou contente que o tenhas feito. Desculpa por há pouco, acho que abusei. Mas Ruby, porque não o denuncias?”

- Ele mata-me… – assim que acabei de dizer isto ouvi a porta a abrir e estagnei por completo. Ouvi os seus passos pesados e grotescos contra o soalho fino da mansão e senti tremores por todo o corpo – Oh não… ele chegou mais cedo.

Nesse momento Lewis apareceu à minha frente. Tinha um ar mais chateado, mais revoltado, menos tolerável.

- Com quem é que estás a falar?! – Perguntou ele, com o seu modo mal-educado e bruto e a voz alta demais.

- “Ruby…?” – Ouvi Tyler pelo telemóvel. Não lhe consegui responder, era como se a voz não me saísse pela garganta.

- Por favor, eu… - apenas consegui sussurrar, mas de nada serviu. Lewis tirou-me o telemóvel das mãos e mandou-o à parede, desmontando-o e partindo o ecrã.

Mandou-me com a mão na cara e isso fez-me cair no meio do chão da cozinha, arrastando a toalha que estava na mesa, partindo toda a loiça que estava lá em cima. Soube, por instinto, que o meu fim estava próximo, e preparei-me para o pior. Pedi perdão a Joshua, mentalmente, por afinal não o conseguir livrar deste monstro, e aceitei de cabeça erguida o facto de que ia morrer. Não sabia na altura, mas o meu anjo da guarda tinha pedido a um amigo da polícia para localizar de onde a chamada tinha vindo, e a ajuda vinha a caminho. O meu problema mais grave era que não chegaria a tempo.

- Onde é que estiveste hoje? Hã?! – Berrou-me, mandando-me um pontapé de seguida.

- No parque, como sempre – consegui responder enquanto choramingava.

- Com quem? – Exigiu saber.

- Com quem? Que disparate, sozinha claro… - balbuciei, levando com outro pontapé na zona da barriga.

- Mentirosa! – Quando levantei o olhar para alcançar o seu, posso jurar ter olhado directamente nos olhos do diabo – Eu vi-te lá com outro homem! Achas que me consegues enganar, sua puta?!

Joshua desceu as escadas à pressa, já vestido, alertado pela zaragata, e logo se mandou ao irmão a tentar desviá-lo de mim. A confusão estava lançada, e o inferno parecia ter lugar naquela casa.

- Pára… parem… - implorava, enquanto constatava que tinha sangue na boca devido ao meu lábio rebentado.

Arranjei as forças para me levantar, mas não cheguei a Lewis depressa o suficiente e ele deu um encontrão brutesco em Joshua, que o fez bater com o corpo na parede e então com a cabeça no bico da mesa, ao cair, pondo-o inconsciente. Revivi a morte de Elise toda outra vez nuns míseros décimos de segundo. Lewis voltou-se então para mim e empurrou-me, fazendo-me bater com a anca com força na borda da bancada. Chorei mais. Pousei as mãos na bancada enquanto ele caminhava até mim, e senti que com a direita tocava em algo. Ao olhar de soslaio vi-a. A faca de lâmina afiada e punho negro com que cortara as cenouras e as batatas para o almoço que agora fervia na panela. Da maneira como Lewis andava furiosamente até mim nada o podia travar. Quando se lançou a mim nem sequer pensei, agi por impulso, por protecção. Apertei o punho da faca e espetei-a no seu peito, tentando depois olhar nos seus olhos apesar de lágrimas me enevoarem a visão. Como não o senti retrair, puxei a faca e voltei a enfiá-la de novo, com toda a força, no seu coração de pedra, enquanto chorava e soluçava ainda mais. Aí sim senti todo o peso do seu corpo cair sobre o meu e, não tendo força nas pernas, caí para o chão ficando com ele em cima de mim. Não tive reacção a não ser mandar a faca para longe e tentar cobrir os seus ferimentos com as mãos enquanto os seus olhos cobertos de maldade me seguiam com toda a cautela. Não o queria morto, apenas o queria longe de mim, não queria ter feito aquilo. Mas já não havia volta a dar. Poucos segundos depois cuspiu sangue, sujando-me toda, e então os seus olhos perderam todo o brilho e a sua respiração cessou. Levei as costas da mão esquerda à minha bochecha, para limpar minimamente as lágrimas, deixando lá algumas réstias de sangue, e logo de seguida mandei aquele cadáver para fora do meu colo.

Arrastei-me até ao corpo de Joshua e abanei-o, tentei acordá-lo, mas não obtinha qualquer resposta. Abracei-me a ele e apertei-o com força, a chorar desalmadamente, naquela cozinha fria e ensanguentada.

Comecei a ouvir as sirenes da polícia e de uma ambulância, e então arrombaram a porta da entrada.

- Estamos aqui! – Gritei, esforçando a garganta devido ao choro – Por favor ajudem-nos! Por favor… ajudem-nos!

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