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DDO: Primeira Chamada

por Andrusca ღ, em 12.02.13

Capítulo 1

A Convocação * Parte 1

 

- Outra vez não! – Berrou Chelsea, enquanto agarrava numa maçã com uma mão e na mala preta de pôr ao ombro com a outra. Estava atrasada de novo.

- Chelsea, não comes? – Ralhou a sua mãe.

- Não posso, estou atrasada! – Respondeu a rapariga, já pronta para bater com a porta ao fechá-la.

Correu pelas ruas o mais rápido que conseguia. Chelsea nunca fora uma amante da madrugada, e levantar-se cedo para ir para as aulas é quase como uma tortura. Parou e inclinou-se, pousando as mãos nos joelhos e respirando fundo. Estava cansada. Tomou fôlego e continuou a corrida. Descuidada, acabou por pisar uma poça de água, queixando-se logo em seguida, mas sem nunca parar de correr. Os seus belos caracóis ruivos iam para a frente dos seus olhos, mas ela não se importava.

Quando ia a fazer uma curva parou de repente, vendo o sol reflectir-se num pequeno objecto abandonado na calçada de pedra. Chelsea abaixou-se de cócoras e agarrou no colar, que tinha um pequeno pingente roxo pendurado. Sentiu um choque eléctrico passar-lhe pelo corpo quando a sua pele tocou no pingente, mas logo a seguir foi invadida por uma sensação de calma e relaxamento. Um calor amigável. “É tão lindo”, pensou ela. E era. Simples e bonito. Chelsea pô-lo dentro do bolso das calças de ganga e continuou o seu caminho apressadamente.

Passou pelos portões pretos do Liceu de Diamond City e entrou pela porta principal, após subir a pequena escadaria. Era a única aluna que ainda se encontrava nos corredores, e enquanto corria com aqueles All-Star roxos e já algo usados, as auxiliares do liceu olhavam para ela de lado, mas já nem lhe ligavam. Já a conheciam há uns anos e sabiam que ela era assim mas não era por mal. Sempre foi desajeitada, não sabe como o evitar.

Quando finalmente chegou à porta da sala onde ia ter a primeira aula, Chelsea bateu levemente.

- Entre – ouviu. Não conheceu a voz, e só então se lembrou que hoje era o dia em que a nova professora de Inglês chegava.

A rapariga abriu a porta calmamente, ofegante, e dirigiu um pequeno sorriso à mulher de cabelos negros e escultura esbelta que se encontrava em frente ao quadro.

- Peço desculpa – desculpou-se ela, fechando a porta da sala.

- Como te chamas? – Perguntou a nova professora.

- Chelsea Burke.

- Chelsea… eu sou a nova professora, Sra. Curtis. Que o atraso não se repita, está bem? Vai-te lá sentar.

Chelsea assentiu com a cabeça e dirigiu-se para o seu lugar sem fazer barulho. As mesas eram individuais, mas ela ficava sempre perto dos seus dois melhores amigos, que hoje olhavam para ela com a mesma cara de sempre, a pensarem que devia fazer um esforço para não chegar sempre atrasada. Ela sentou-se em silêncio, lançando apenas um breve sorriso aos amigos, e tirou o caderno e o estojo de dentro da mala.

- Agora que já estamos todos – a Sra. Curtis lançou um olhar especialmente a Chelsea – podemos começar a aula. Como sabem vim substituir o vosso professor de Inglês, que se mudou. Bem, eu ainda não vos conheço bem nem sei as vossas capacidades, por isso pensei que esta aula poderia servir para isso mesmo. Trouxe umas fichas para fazerem para poder perceber o que sabem ou não, e depois planeei que podíamos falar um pouco de nós, que acham?

- Que seca… - murmurou Chelsea, enquanto brincava com uma das suas mil e uma canetas.

A Sra. Curtis entregou as fichas aos alunos. Alguns ficaram a olhar para o que tinham à frente, outros começaram logo a escrever, mas Chelsea apenas suspirou. Tinha dormido pessimamente, tal como nos dias anteriores. Todas as noites desde há uma semana que tinha o mesmo sonho. Era com uma bela heroína que salvava a cidade de várias desgraças, umas atrás das outras. Uma bela guerreira com a face imperceptível. E depois acordava sempre esgotada.

- Chelsea? – Chamou Helen, a sua melhor amiga. Chelsea dirigiu a sua atenção para o lado esquerdo, e viu que Helen lhe sorria – Tens uma coisa a cair do bolso.

- Hã? – A rapariga olhou para o bolso e viu que o colar com o pingente roxo que encontrara no caminho para a escola estava quase a cair, e por isso agarrou-o e pousou-o em cima da mesa – Obrigada Helen.

- Chelsea – chamou a Sra. Curtis –, não disturbes. Chegas atrasada e ainda fazes barulho.

- Desculpe – disse a rapariga, olhando logo em seguida para a ficha que tinha à sua frente.

Após responder a meia dúzia das perguntas da ficha, a rapariga dos caracóis ruivos deixou que os seus olhos fossem ao encontro do belo e brilhante pingente roxo. Agarrou-o com a mão e, de novo, sentiu um calor familiar percorrer-lhe o corpo. Não conseguia explicar. Era uma coisa que era apenas possível ser compreendida por quem a sentia.

Não sabe quanto tempo ficou apenas a encarar aquele colar, mas apenas regressou à realidade quando viu a nova professora começar a recolher as fichas.

“Ai não!”, pensou, em pânico, “mas eu ainda não acabei!”.

Começou a responder às perguntas à pressa, e com uma letra lastimável, mas ainda lhe faltavam três perguntas quando uma sombra parou sobre a mesa e se ouviu um barulho de clarear a garganta. Chelsea olhou para cima e viu a Sra. Curtis, de mão esticada, para lhe receber a ficha. Não estava com uma boa cara, Chelsea definitivamente não tinha feito uma boa impressão, e ela estava plenamente ciente disso.

Chelsea esteve como que ausente o resto da aula, e quando soou a campainha foi um alívio.

- Vamos para o pátio? – Perguntou-lhe Anthony, o seu melhor amigo, ao chegar-se ao pé da sua mesa e da de Helen.

- Claro – responderam-lhe as duas, em coro.

As raparigas acabaram de arrumar as suas coisas e saíram da sala, em conjunto com o resto dos alunos, para seguirem então para o pátio. Era um recinto oval, com uma parte de relva com umas mesas e bancos para os alunos estarem, e outra parte de cimento. Do outro lado do edifício era onde estavam os campos de jogos, também usados para as aulas de Educação Física.

Os três amigos sentaram-se a uma das mesas, e como já era habitual, Helen e Tony ralhavam com Chelsea por estar sempre atrasada. A verdade é que ela não é má rapariga, apenas, apesar de já ter vivido por dezassete anos, é um pouco cabeça de vento e algo irresponsável. Mas ao contrário das outras vezes, a rapariga dos caracóis ruivos não lhes prestava atenção, em vez disso brincava com o colar que tinha encontrado, balançando o pingente de um lado para o outro.

- Estás a ouvir?! – Perguntou-lhe Helen, num tom mais alto que o habitual, afastando os seus cabelos castanhos dos olhos.

- Chelsea! – Chamou Tony.

- O que foi?! – Gritou a rapariga, voltando-se repentinamente para eles – Já sei isso tudo. Desculpem, mas já sabem que sou mesmo assim.

- Mas Chelsy… tens que tentar ter mais responsabilidade. Já temos dezassete anos, não é brincadeira nenhuma – Helen repetiu tudo o que já tinha dito milhares de vezes.

- Eu sei – murmurou Chelsea, olhando em seguida para cima, para o céu que se encontrava com umas nuvens aqui e ali – Eu só… estou a ficar cansada, isto é sempre a mesma coisa pessoal. Escola, casa, sair. Onde está a diversão? A adrenalina de se ser adolescente? O príncipe encantado? – Chelsea suspirou, e dirigiu de novo o olhar aos amigos – Estou cansada que todos os dias sejam iguais – lastimou-se. Mal ela sabia que a partir do dia de hoje, nada mais seria igual. Mal ela imaginava que a adrenalina espreitava, e que o príncipe encantado afinal nunca estivera longe dela. Ela não sabia nada da vida. Era apenas uma miúda assustadiça e sem responsabilidade, mas a partir de hoje Chelsea seria forçada a mudar, quer quisesse, quer não.

Helen abriu a boca para responder à melhor amiga, mas em vez disso os seus olhos viajaram para trás dela e deitou uma exclamação de espanto.

- Quem é aquele? – Perguntou ela, fazendo com que Tony e Chelsea também se voltassem para trás.

Um rapaz de cabelos loiros e olhos azuis-claros caminhava calmamente pelo pátio. Tinha uma figura bonita. Era alto, e musculado, mas nada em exagero. Apenas o necessário para ser tornado atraente para a maior parte do pensamento feminino.

- Não sei – murmurou Chelsea, prendendo o seu olhar na figura que não parava de andar.

O rapaz parou, e começou a olhar em volta como se procurasse algo, que aparentemente encontrou quando pousou a vista em Chelsea, que se sentiu automaticamente a corar. Perante a admiração dos alunos que deram pela sua presença, o rapaz novo começou a dirigir-se à mesa em que Chelsea e os seus amigos repousavam.

- Olá – cumprimentou, desviando os lábios num dos sorrisos mais maravilhosos alguma vez vistos.

Chelsea ainda ficou na dúvida se deveria responder, se o rapaz estaria mesmo a falar com ela. Nunca nada disso lhe tinha acontecido antes. Mas quando o rapaz se inclinou mais na sua direcção e se preparava para voltar a falar, ela pareceu acordar para a vida.

- Olá! – Exclamou, retribuindo o sorriso.

- Chamo-me Will – apresentou-se o rapaz – E tu és…

E esperou, que ela completasse.

- Chelsea. Burke. Chelsea Burke.

- E eu sou a Helen! – Exclamou Helen, saltando logo do seu lugar e pondo-se ao lado de Chelsea. A Helen, Will apenas dirigiu um pequeno sorriso, para logo em seguida concentrar-se em Chelsea.

- Chelsea… tens um minuto? Gostava de te falar de uma coisa – pediu ele, calmamente. Chelsea até ficou estática. Que poderia ter aquele belo estranho para falar com ela?

- Hum…


Sei que os principios nunca são muito interessantes, mas pronto. Que acharam?

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