Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Déjà Vu Sobrenatural

por Andrusca ღ, em 13.11.10

E o capítulo de hoje é...

 

Capítulo 24

Liceu

 

Na manhã seguinte acordei com Jason ao lado, já acordado, com o seu braço à minha volta.

- Desculpa, acordei-te? – Perguntou ele.

- Não faz mal. – Respondi. – Estava a…

- Ter um pesadelo?

- Não, por acaso não, por acaso estava a meio de um sonho lindo, mas agora estou num melhor.

- Bem, não te levantaste da cama nem me mentiste… é um começo.

Ri-me.

- Não te preocupes, não estou a pensar voltar a fazer isso. Já viste? As coisas estão finalmente a encaminharem-se.

- Não fazes ideia do quanto quis que este momento acontecesse.

- Talvez faça. – Sorri. – E aconteceu, e as coisas agora só vão melhorar, porque finalmente sei quem sou, e…

- Eu sempre soube quem eras. És uma pessoa maravilhosa, bonita, simpática, meiga e que se preocupa com os outros. Os poderes são apenas um bónus.

Sorri.

- Obrigado, é bom saber. Mas a sério, é como se me tivessem tirado um enorme peso de cima, ao terem-me contado tudo. As coisas com a minha mãe até melhoraram e as coisas contigo… palavras para quê?

- Já não era sem tempo, mas tens razão, as coisas agora vão ser bem melhores.

- Então… o que é que somos? Quer dizer, somos dois amigos que gostam um do outro mas que isto nunca mais vai voltar a acontecer, somos tipo amigos coloridos ou…

- Deixa-me facilitar-te a vida. Melanie McKensie, queres ser a minha namorada? Antes de responderes deves saber que não tenho muita prática em relacionamentos longos, a única vez em que estive num acabei por magoar a pessoa mais importante da minha vida…

- Quero. Claro que quero. – Sorri.

De um momento para o outro reparei que a sua feição mudou, já não estava tão encantada e feliz, agora deixava transparecer preocupação.

- Que foi? – Perguntei, virando-me de lado para ele.

- Não é nada, é só… eu quis tanto que as coisas se encaminhassem contigo e agora…

- Não é o que esperavas?

- Não é isso, é só que… eu sou um caçador, e sei que não achas que isso seja um problema, mas na verdade é, eu nunca vou poder ter uma vida normal, nunca vou poder casar ou ter filhos, não vou poder chegar à minha casa azul com a cerca branca vindo do trabalho e encontrar a minha mulher e os meus filhos à minha espera…

- Então esse é o problema… - Respirei fundo. – Jason, eu gosto de ti, a sério que sim, e sinceramente, casar, ter filhos… eu tenho 22 anos Jason, não estou preocupada com nenhuma dessas coisas, neste momento só me preocupa uma coisa, que és tu. Neste momento, tu és tudo o que eu preciso.

- E quando não chegar, e quando quiseres mais?

- Então resolveremos na altura em que isso acontecer. Uma coisa de cada vez. Não vamos sofrer por antecipação.

- Tu não existes mesmo. – Disse ele, virando-se para mim e beijando-me.

Entraram de rompante no quarto.

- Mel! – Gritou Bryan. – O Jason não está… no… quarto. – Disse ele, diminuindo o pânico, ao vê-lo na minha cama.

Os meus pais vinham atrás com Vicky e ficaram os quatro a encarar-nos, que ficámos um bocado atrapalhados, “Yap, definitivamente, 17 anos outra vez”, pensei.

- Olá. – Disse Bryan, um bocado atrapalhado mas a tentar aliviar o ambiente que se criara naquele quarto.

- É por estas e por outras que eu digo para baterem à porta. – Protestei. Fiquei a olhar para eles. – Já podem ir… ele está aqui, não foi raptado nem nada parecido.

Eles começaram todos a sair do quarto, e quando finalmente se pararam de atropelar, conseguiram sair todos e fechar a porta.

Olhei para Jason, na sua cara estava estampado um gozo enorme e uma enorme vontade de rir, ao contrário da minha, que devia estar a mostrar inquietação e desconforto.

- Então, como é estar de volta à casa dos papás? – Perguntou ele, deixando finalmente uma gargalhada sair.

Tirei a almofada debaixo da minha cabeça e dei-lhe com ela.

- Não é engraçado Jason, que vergonha. – Manifestei.

- Vá lá, tens que admitir que é um bocado cómico acabarmos aqui, a ser apanhados pelos teus pais, como há seis anos atrás…

- Cómico?! É mais como uma tragédia. Mas vá, o melhor e despacharmo-nos e descermos senão acho que eles voltam a subir…

- Acho que tens razão.

Levantámo-nos e eu fui tomar um duche rápido enquanto Jason voltou para o seu quarto, o quarto de hóspedes, onde tinha a roupa. Depois de tomar duche, vesti umas calças cor-de-laranja claro com uma blusa preta, de alças e calcei uns ténis também pretos. Estiquei o cabelo e deixei-o solto. Bateram à porta e eu, como estava de saída do quarto, fui abri-la.

- O que é que estás aqui a fazer? Não ias lá para baixo? – Perguntei, quando vi Jason encostado à parede da saída do meu quarto.

- Pois é que… os teus pais estão lá e… eu achei que era melhor ideia descer contigo.

- Estás com medo deles? – Perguntei, franzindo o sobrolho.

- Medo não mas… o teu pai tem uma espingarda e a tua mãe é uma bruxa, sem querer ofender, e além disso, eles detestam-me.

- Oh meu Deus, estás mesmo! – Comecei a rir.

- Talvez só com um pouco de receio da reacção deles…

Descemos e juntámo-nos a eles, que já se encontravam à mesa a comer. Jason ficou ao meu lado e começámos a comer.

Cada vez que permitia aos meus olhos que vagueassem para uma direcção diferente da chávena de café e da torrada que estava a comer, via olhares indiscretos para mim e para Jason. Primeiro foi a minha mãe, que não se esforçava minimamente para esconder os olhares ferozes que mandava a Jason, depois foi o meu pai, que olhava, embora numa tentativa discreta, e seguiram-se Vicky, Bryan e Gabriel.

Pousei a chávena no pires, fazendo um barulho pequeno e comecei a olhar para eles.

- Nós namoramos. – Acabei por afirmar. – Eu e o Jason, nós estamos a namorar.

- Oh. – Disse Bryan, agindo com indiferença, porém com a sua expressão muito mais aliviada. – Que bom para vocês, estou muito feliz.

- Sim… que bom. – Disse Gabriel, com a mesma atitude.

- Vá lá rapazes, vocês estão felizes com isto, por isso parem lá com essas vozinhas fúnebres. Eu estou muito feliz por vocês e tenho que dizer que já estava a ver que isto nunca mais acontecia. – Disse Vicky, sorrindo-nos.

- Sim, hum… desde que tu estejas feliz… são as tuas decisões, eu respeito, e espero que estejas mesmo feliz. – Disse o meu pai.

- Estou. – Assegurei. – Obrigado pai.

- Vocês só podem estar a brincar… estás mesmo a falar a sério Melanie?! Depois do que ele te fez passar, depois de todos aqueles dias fechada no quarto e a chorar por teres sido deixada, vais mesmo dar-lhe a oportunidade de fazer isso outra vez?!

Coisas destas só podiam vir da boca da minha mãe, quem mais é que teria o dom de arruinar um bom momento, um momento feliz, se não a minha mãe?!

- Mãe… isso foi há seis anos… - Retorqui.

- Sim, foi. Mas não foste tu que viste a tua filha transformar-se numa pessoa completamente diferente, uma pessoa que costumava andar sempre a sorrir começar a chorar pelos cantos.

- Já reparaste que és sempre tu que te opões às coisas que me fazem bem?! Sempre tu! O que é que é desta vez? Da outra era porque eu não sabia da verdade, e desta mãe? Hum?

- Não me fales nesse tom Melanie McKensie, olha que eu sou tua mãe! Deves-me respeito.

- Então e tu, também não me deves?! Eu respeito-te, e esse é o problema. Se eu te tivesse questionado muitas mais vezes, talvez a esta altura não estivesse aqui, porque já tinha descoberto a verdade mais cedo!

- Pensei que já tínhamos posto um ponto final nesse assunto.

- Não, eu disse que te perdoava, mas não significa que vá esquecer, porque isso vai demorar muito tempo mãe, se é que algum dia vai acontecer…

- E tens mesmo que me atirar isso à cara? Que eu te menti, que te escondi coisas, não percebes que foi porque me preocupo contigo?! Porque és a minha filha e te amo?!

- Percebo! – Gritei. – Tu é que não percebes nada mãe… és uma óptima amiga, pareces boa esposa… mas como mãe, como mãe erraste imenso. Compravas-me coisas novas todos os dias para que eu fizesse o que querias, eu não precisava disso! Ou achas que precisava de sapatos de 100 dólares aos quinze anos?! Eu precisava de uma mãe que confiasse em mim e que me ensinasse a enfrentar o mundo! Eu precisava que tu agisses como minha mãe, e não como uma pessoa que é obrigada a aturar-me.

- Querida… eu nunca me senti assim, obrigada a aturar-te… aliás, eu sempre adorei tratar de ti, e foi por isso que agi como agi, porque nunca te queria perder, queria proteger-te, de tudo.

- Incluindo das coisas que me fazem feliz! – Gritei novamente. – Não percebes? Sempre que estava com o Jason ou o Bryan e me divertia e vinha com uma cara feliz para casa, tu conseguias sempre deitar-me abaixo ao dizer que eles eram isto ou aquilo… não percebes? Sempre que te queria contar qualquer coisa que tinha acontecido e que me fez feliz, não contava, porque sabia que ias desvalorizar, porque em vez de eu andar a fazer compras e gastar o meu tempo com coisas fúteis, estava a divertir-me com os amigos de quem tu não gostas! Eles fazem-me feliz mãe, eu não estaria com eles se não me fizessem.

Ela engoliu em seco. Agora estava um silêncio de morte naquela sala de jantar. Finalmente tinha dito tudo aquilo que me estava atravessado ao longo de tantos anos, tudo o que nunca tinha tido coragem para dizer. E apesar de saber que devia ter ficado calada, soube bem, soube bem deitar tudo cá para fora.

- Eu já acabei, fiquei sem fome. – Declarei, levantando-me da mesa.

Subi para o quarto e vesti uns calções de fato de treino, castanhos com uma risca branca de cada lado e uma blusa bege, de cavas. Subi até ao sótão e procurei por um antigo saco de boxe que o meu pai tinha comprado quando eu ainda devia ter sete ou oito anos. De certeza que ainda lá estava, naquela casa raramente se mandam coisas fora. Depois de poucos minutos a procurar, encontrei-o e levei-o para o jardim, e pendurei-o num ramo mais baixinho de uma árvore.

Comecei à pancada ao saco de boxe, como se estivesse frente a frente com um demónio. Devo ter estado assim durante a manhã quase toda. Fui trazida de volta à realidade com um som de palmas. Virei-me.

- Não tinha ideia de que lutavas assim tão bem. – Disse o meu pai, com uma cara bastante surpreendida, enquanto me observava.

- Há quanto tempo é que aí estás? – Perguntei, desviando o cabelo dos olhos.

- Há algum, o suficiente. Gostava a falar contigo sobre uma coisa sobre a qual ainda não tivemos a oportunidade de falar… vem sentar-te.

Obedeci e sentámo-nos no banco de pedra, que estava em frente à árvore em que tinha pendurado o saco de boxe.

- Eu sei que fui um bocado má e… - Comecei eu a justificar-me.

- Não é sobre há bocado. É sobre outra coisa… - Ele parecia não encontrar as palavras certas para utilizar. – É sobre… os teus… poderes.

Respirei fundo.

- O que é que queres saber?

- Sabes que este assunto ainda é muito recente e para mim, e bem, não é lá muito confortável…

- Tudo bem pai, sem pressão. O que quiseres saber eu digo.

- Que tipo de coisas é que podes fazer? Magicamente, digo.

- Bem… tudo começou com sonhos, previsões do futuro. E depois comecei a mover coisas com a mente, ainda que inconscientemente, e depois comecei a explodir coisas…

- Isso é tudo?

- Que eu saiba sim, e acho que é suficiente.

- Pois, claro… então e… como é que moves as coisas, com a mente?

- Bem… agarro-me a uma emoção, uma emoção forte, e depois, com a mente ou um simples gesto faço com que as coisas mudem de sítio… é um bocado difícil de explicar…

- Podes-me mostrar? Mover coisas e explodi-las…

- Não sei se estás preparado…

- Não vou desmaiar, prometo. – Disse ele, suplicando, com os dedos cruzados.

- Está bem. Estás a ver aquela pedra ali? – Perguntei, apontando para uma pedra que se encontrava a mais ou menos cinco metros de nós.

- Sim. – Elevei a pedra, fazendo com que ficasse a flutuar no ar. – Uau… és tu que estás a fazer aquilo?

- Sou. Prepara-te. – Com um pequeno gesto com a mão, explodi a pedra. O meu pai deu um pulo, não estava à espera.

- Isso foi… Uau. Então e tu… vais mesmo ter que lutar contra o…

- Diabo?

- Sim.

- Vou. Tenho a certeza que mesmo que fugisse ia acabar por ser apanhada, e além disso, eu não vou fugir. É o meu destino, e eu não vou lutar contra ele…

- Pois… já deu para perceber que discutir contigo não vai levar a nada.

- Pois não, mas então e tu, como é que andas, com estas coisas todas?

- É um bocado estranho, as coisas são novas, mas não muda nada aquilo que eu sinto, tu continuas a ser a minha filha e a tua mãe a minha mulher, e eu continuo a amar-vos imenso, às duas. Não interessa se são bruxas ou humanas, vão ser sempre as mulheres da minha vida. E… o Jason é o homem da tua?

- Já estava a estranhar não teres tocado nesse assunto. – Murmurei, revirando os olhos. – Não sei pai, mas a este ponto, acho que sim. Eu adoro-o, e ele adora-me e não há nada que nos vá separar, por agora, isso é tudo o que sei.

- Ei, aqui estás! – Disse Jason, ao chegar ao pé de nós. – Corri tudo à tua procura… podemos falar? Queria-te pedir uma coisa…

- Muito bem, já vi que estou a mais. – Disse o meu pai, levantando-se e começando a afastar-se. – Tenham juízo.

Jason sentou-se ao meu lado.

- Eu sei que a tua primeira resposta vai ser não, mas tenho que tentar… sabes que hoje é a reunião do liceu… eu gostava de te levar lá…

- O quê?! Nem penses Jason.

- Mel, vá lá, além disso… ia marcar uns pontos com a sogrinha… sabes como ela gostava que fosses…

- E então tenho que se torturada? Eu pensava que nos íamos embora hoje…

- E assim vamos amanhã… vá lá, vai ser giro, vamos nós e o Bryan, como nos velhos tempos… que me dizes?

- Vale a pena discutir?

- Não.

- Então pronto, já que é assim tão importante… vamos lá.

Depois do almoço fui com Vicky às compras para comprar um vestido para levar, sim, porque as pessoas que lá iam estar iam exibir lindos e radiosos vestidos de alta-costura, logo, se Jason me queria lá, tinha que arranjar um vestido à última hora. Essa tarefa até não foi difícil, o pior foi quando tive que cortar a cabeça a um vampiro que nos atacou quando saímos. Consegui matá-lo, mas fiquei com o ombro um bocado magoado, por sorte, era o ombro em que o vestido tinha a manga.

Depois do jantar subi para o quarto e vesti o meu vestido novo, preto e curto, com apenas uma manga, que era curta, do lado esquerdo. O vestido tinha uns brilhantes prateados espalhados. Calcei umas sandálias de salto alto prateadas, com umas tiras à frente, fiz unha francesa e pus espuma no cabelo, fazendo caracóis. “Nem sei porque é que tive o trabalho a esticar o cabelo de manhã”, aparentemente, tinha que começar a ser mais prática no vestuário… mas quem é que estou a enganar? Eu não sou prática, gosto de estar bonita, sou vaidosa, como todas as mulheres, posso não ser extremamente vaidosa, mas mesmo assim… vaidosa. Logo, se isso implica esticar o cabelo numa manhã e depois estragar esse trabalho todo à noite, é isso mesmo que eu faço. Peguei numa mala pequena, preta e prateada e desci as escadas.

Jason e Bryan já estavam à espera no hall e ficaram atónitos a olhar para mim. Fui ter com eles.

- Vamos embora antes que mude de ideias, ok? – Perguntei, retoricamente.

- A princesa manda. – Disse Jason.

Disse adeus a Vicky e Gabriel, que ficaram lá em casa com os meus pais e dirigi-me para o carro. Entrei para o banco de trás, onde ia sempre e Jason entrou para o lugar do condutor, e, com Bryan ao lado, rumou até ao liceu de Beverly Hills, L.A., onde, outrora, nos conhecemos. Quando chegámos, encontrámo-nos num parque de estacionamento com alguns dos carros mais caros do mundo e algumas limusinas. Jason estacionou e saímos do carro.

- Temos mesmo que ir? – Perguntei, reticente, à entrada do ginásio, onde se ia dar à festa.

- Sim… Mel, tu prometeste, vais ver que não é assim tão mau. – Disse Jason, dando-me a mão.

- Sabes como é… - Disse Bryan. – Em Roma sê romano, e em Beverly Hills sê como a Paris Hilton….

- Não tem graça. – Respondi eu. – Mas pronto, vamos lá. – Dei a mão a Jason e entrámos os três no ginásio.

O ginásio estava muito bem decorado, cheio de balões e de fitas amarelas e brancas, a fazer laços em todos os lados nas paredes. Tinha buffet com vários aperitivos e bebidas e depois tinha o palco, onde tinha um DJ e um microfone em que iam anunciar, mais tarde, a rainha dos finalistas de 2006.

- Eu nem sei porque é que queres estar aqui… vocês nem sequer foram finalistas aqui… - Disse eu.

- Mas tu foste. Além disso, nós conhecemos estas pessoas todas, não te preocupes, vai correr tudo às mil maravilhas. – Respondeu Bryan. – Olha, aquele não é o Peter?

- Acho que sim, vamos lá cumprimentá-lo? – Perguntou Jason.

- Já que me arrastaram até aqui… porque não?! – Esta festa ia ser uma seca total, dentro de breves segundos ia estar rodeada de pessoas ricas e mimadas, que, provavelmente, não cresceram nada.

Fomos cumprimentar Peter, continuava com o mesmo visual, camisinha por dentro das calças que subiam até acima do umbigo, e cabelinho para o lado, mas tornou-me num desenhador de softwares. Ficámos um bocado à conversa com ele.

- Eu preciso de uma bebida. – Disse eu. – Quem que traga alguma coisa?

Ninguém quis nada por isso fui até à mesa e tirei uma pinga de ponche, já que não havia cerveja ou martinis… estava-me a virar para voltar para ao pé de Jason, Bryan e Peter quando esbarrei numa figura lindíssima, muito bem estruturada, com longos cabelos lisos da cor de ouro, e com um vestido de alto design, e, por sorte, não entornei a minha bebida para cima de… Maddison. Maddison Conrad, a minha ex-melhor amiga/inimiga do liceu.

- Maddison! – Disse eu, enquanto o meu coração voltava à normalidade. – Desculpa, não te vi.

- Melanie? – Perguntou ela, espantada. – Oh meu deus, nunca pensei que te fosse ver aqui, é tão bom ver-te!

- Obrigado… é bom ver-te também. – Respondi.

- Então, como é que a tua vida tem sido?

- Boa…

- Tipo… já tens uma carreira promissora?

- De certo modo… eu… eu trabalhei no New York Times durante um tempo… e depois comecei uma viagem pelo país…

- Isso soa… interessante. – Notava-se pelo som da sua voz que se achava muito superior a mim. – E a respeito de rapazes, já encontraste o sortudo?

- Hum… é mais tipo reencontrei… o Jason.

- O mesmo tipo que te abandonou? – Agora era evidente que estava desagrada.

- Esse mesmo. Ele está ali… veio comigo. – Agora vinha a parte a que não me apetecia assistir, mas tinha que fazer um esforço. – Então e tu, como tem sido a tua vida?

- Bem… normal… tu sabes, coisas comuns, tornei-me uma estilista, tenho uma mansão em Paris, Londres, e uma casa de férias no Havai… nada de mais.

- Pois… coisas normais…

- Já me casei, duas vezes… mas agora estou solteira. Tu sabes, eu não acho que tenha sido feita para ficar presa por homens, preciso de liberdade. O meu segundo marido até me comprou uma estrela para me tentar reconquistar, mas não estava a dar em nada.

“Também eles precisam de liberdade, duvido muito que seja fácil aturarem-te, ainda para mais como esposa”, pensei.

- Bom… tu sabes… todos precisamos de liberdade. – Disse eu, forçando um sorriso, tentando parecer entusiasmada.

- Aqui estás tu. – Disse Jason, aproximando-se e pondo o seu braço em volta da minha cintura. – Pensava que te tinhas perdido.

- Eu, meio que… choquei, com a Maddison… - Respondi. – E depois começámos a falar.

- Culpada. – Disse Maddison, mudando depois o tom de voz para o tom que a minha mãe usava quando se dirigia a Jason. – Jason… a última vez que te vi deixaste a Mel…

- Sim… há seis anos. – Retorquiu ele. – A última vez que te vi, eras uma miúda fútil e mimada. A diferença é que eu já voltei para ela, mas tu continuas igual.

Abafei uma gargalhada e pus a mão à frente da boca. Maddison foi-se embora, chocada.

Mas numa coisa Jason tinha razão, ela continuava igualzinha, nada nela tinha mudado.

Falámos com mais pessoas da nossa turma, os seus acompanhantes e até alguns professores, até que, quando eram onze horas, nos conseguimos finalmente sentar um bocado nas cadeiras que lá estavam e ter algum sossego.

- Eu vou à casa de banho. – Disse eu.

Levantei e caminhei até à casa de banho das raparigas. Estava vazia. Não ia lá fazer nada, apenas ocupar tempo, já estava a ficar sufocada com as pessoas todas a perguntarem-me o que fiz nestes últimos anos e ter que lhes mentir a todas e pior, perceber que todas elas tiveram vidas fantásticas, apesar de fúteis, fantásticas. Até Maddison já concretizou mais sonhos que eu.

É nestas alturas, e só nestas alturas, em que penso como a minha vida seria se não tivesse largado tudo para ser uma caçadora. Será que a esta altura já era uma jornalista famosa? Será que já tinha viajado meio mundo? Mas uma coisa é certa, nunca teria reencontrado Jason e Bryan ou conhecido Vicky, Gabriel e Phil, e isso seria, de facto, triste.

Olhei para o espelho e baixei a manga do braço esquerdo, a única manga do vestido, e observei a minha nódoa negra, que agora ocupava um bocado da parte de trás do ombro mas também um bocado da parte de cima.

- Oh meu Deus! – Exclamou Maddison, ao entrar na casa de banho. – Ele bate-te?!

- O quê? – Ajeitei a manga e virei-me para ela. – Claro que não Maddison! Porque é que dizes isso?!

- Porque o teu braço está todo magoado… se ele te bate, tens que saber que há pessoas que trabalham em coisas que ajudam pessoas como tu, que não se conseguem defender e têm homens desses…

- Eu sei defender-me, a sério Maddison, não podes simplesmente entrar aqui e fazer suposições dessas, não é justo.

- Deus, que sensível… só queria ajudar. – E entrou para um cubículo.

Virei-me de novo para o espelho e vi, atrás de mim, uma estranha figura a formar-se, à frente da porta do cubículo para onde Maddison tinha entrado. “Isto não pode ser bom”, virei-me e aproximei-me da porta, bati.

- Maddison, estás bem? – Perguntei. Ela não respondeu. – Maddison? Maddison, fala comigo…

- Eu estou bem, qual é o drama, agora já não se pode ir à casa de banho descansada?! – Perguntou ela, ao abrir a porta.

Dirigiu-se aos lavatórios para lavar as mãos e eu dirigi-me à porta.

- Ahhh! – Gritou ela.

Virei-me e vi um homem, com aproximadamente vinte e cinco anos, à sua frente. Era obviamente um fantasma. Aproximei-me deles.

- Quem és tu? – Perguntei, para o fantasma.

- Ela sabe. Ela não quis saber. Ela vai pagar. – Disse ele, com uma voz rouca.

Maddison assistia a tudo, horrorizada.

- Lamento imenso mas não te posso deixar fazer isso. – Disse eu. – Sabes, ela pode merecer muita coisa, mas não merece morrer.

Tirei um prego da mala e mandei-lho, como era metal, enfraqueceu-o, por isso é que andava sempre com pregos nas malas, tinha aprendido a ser prevenida.

Puxei Maddison e corremos de lá para fora, aproveitando que ele estava enfraquecido. Corremos até Jason e Bryan, que continuavam nos mesmos lugares.

- Nós temos que ir! – Disse eu, quando lá chegámos.

- O que aconteceu? – Perguntou Jason.

- Fantasma. Vamos, eu explico melhor pelo caminho.

- Mas eles ainda não coroaram a rainha, eu tenho a certeza que vou ser eu… - Disse ela.

- Bem, podes escolher: ou vives, ou és coroada e morres. – Disse Bryan.

Fomos todos para casa e Maddison foi para o meu quarto enquanto falávamos do que tinha acontecido. Discutimos sobre quem ia falar com ela, porque, apesar de em tempos ela ter sido a minha melhor amiga, ela era completamente insuportável, a última pessoa com quem me apetecia lidar.

Aparentemente não era só eu que pensava assim, porque, no fim, tive mesmo que ser eu a ir falar com ela. Entrei no quarto e vi que ela já lá não estava. Tinha saído pela varanda, como eu costumava fazer quando lá morava.

Separámo-nos e fomos à procura dela. Eu segui a pé, e fui procurar a vários becos.

- Maddison! – Nada, sem resposta, e se chegasse tarde demais?

- Ahhh! – Ouvi, vindo de um beco na rua em frente à que eu estava. Era a voz histérica de Maddison.

Quando lá cheguei, o fantasma estava à frente dela, com uma pistola nas mãos. Às vezes os fantasmas podem manusear objectos, depende da energia que têm reservada. Corri até ela e pus-me à frente.

- Sai do caminho bruxa! – Gritou o fantasma.

- Tenho muita pena mas não posso fazer isso. – Disse eu.

- Ele quer matar-me Mel, por favor ajuda-me. – Dizia Maddison, a choramingar e com a voz trémula.

- Se não saíres do caminho a bem, terei que te tirar à força. – Ameaçou ele.

- Boa sorte. – Disse eu, levando a mão ao… cinto, que não tinha, por estar de vestido.

Não tinha arma, nem metal, e muito menos os ossos do fantasma para os queimar, estava completamente tramada.

- Última oportunidade. – Disse ele, erguendo a pistola. Mantive-me quieta, onde estava e engoli em seco, já a prever o que ia acontecer. – Tu é que escolheste.

Apertou a pistola e deu-me uma cacetada, com ela. Levei as mãos à cara instantaneamente e virei-a, com o impacto da pancada. Voltei a olhar para ele. Ele voltou a fazer o mesmo, porém, para o lado contrário. Voltei a levantar a cabeça.

- Estás mesmo disposta a levar tanta cacetada por ela? Uma miúda fútil e mimada? – Perguntou ele, indignado.

- Eu não escolho quem é que tenho que salvar. – Afirmei. – E só porque não gosto dela, não significa que acho que merece morrer.

Voltou a dar-me com a pistola, desta vez na barriga. Recuei dois passos. Ele apontou-me a arma, e quando estava prestes a disparar, Jason apareceu e eu baixei-me, puxando Maddison também para baixo. Ouvi um tiro e o fantasma tinha desaparecido. Jason tinha mandado uma bala de sal.

Voltámos a levar Maddison para casa e desta vez, fui com ela para o quarto.

- Ok, chega de conversa fiada e chega de ter pena de ti. Quem era aquele tipo? – Perguntei.

- Não sei. – Respondeu ela, a olhar para o chão.

- Deixa-te de tretas Maddison! Quem era aquele tipo?

- Não sei ok?!

- Não! Não é ok! Olha para mim. – Puxei-a e fiz olhar para a minha cara. – Olha para a minha cara. – Ela engoliu em seco. – Eu fui agredida por um fantasma por tua culpa, tu viste que tinha o ombro magoado, é por causa destas coisas, mas agora além do ombro, tenho a cara e a barriga, por isso deixa-te de tretas que eu não estou com paciência nenhuma. Quem era ele?

- Um tipo qualquer, não me lembro do nome.

- Estás a mentir.

- Não estou a mentir!

Explodi uma almofada.

- Eu sou uma bruxa Maddison, eu caço estas coisas, e eu sei que estás a mentir, então… vais-me dizer a verdade? – Ela continuou a olhar para o chão. Comecei a afastar-me. – Há montes de pessoas que precisam da minha ajuda Maddison, que querem a minha ajuda. Se não precisas de ajuda diz, porque não estou aqui para estar a perder tempo contigo, que não queres ajuda. Pensa, porque no segundo em que puser um pé fora da porta, a oferta de ajuda vai comigo… - Comecei a encaminhar-me da porta e abri-a.

- O nome dele era Charles. Ele morreu há poucos meses… ele era, hum, meu namorado.

Voltei para trás.

- Ok, porque é que ele estava tão chateado contigo?

- Eu fui numa viagem de negócios e… ele queria vir mas não tinha dinheiro e nós não nos tínhamos tornado públicos… ele morreu a tentar ir ter comigo, porque eu não quis arruinar o meu estatuto ao ser vista a ir com ele. E eu sei que soa horrivelmente e eu sei que sou uma pessoa horrível, mas não queria ser. Quando estava ao pé dele era simplesmente normal, sem estatuto, sem fama, só eu, e ele. – Caiu-lhe uma lágrima.

- Madd… - Sussurrei. – Sabes onde é que ele foi enterrado?

- Sei.

É incrível, como até uma pessoa com a Maddison Conrad consegue encontrar a sua alma gémea e depois, de um momento para o outro, deitar tudo a perder por coisas tão parvas como estatuto e reputação. Acho que essas coisas, para algumas pessoas, valem mesmo tudo, independentemente do que se possa perder para as ter.

Madd disse-nos onde é que ele estava enterrado e nós fomos queimar os ossos. Já era de madrugada quando lhe dissemos que estava a salvo e que podia ir para casa.

Dormimos um bocado e depois do almoço pusemos as coisas no carro e preparámo-nos para seguir viagem. Os meus pais vieram-se despedir de nós à entrada.

- Boa sorte querida. – Disse o meu pai, abraçado a mim. – E mantêm-te em contacto.

- Vou manter-me, não te preocupes.

- Eu quero que sejas feliz e quero que saibas que estou a torcer por ti, espero que tudo te corra bem. – Disse a minha mãe, mantendo-se à distância.

Puxei-a e abracei-a.

- Obrigada. Eu digo o mesmo. – Sussurrei-lhe, ao ouvido.

Entrámos para o carro e ao fim da rua vimos Maddison, que nos fez sinal para esperarmos. Saí do carro e fui ter com ela.

- Há algum problema? – Perguntei.

- Não, só queria despedir-me. Boa sorte com tudo. – Disse ela, parecendo extremamente sincera.

- Obrigada. – Quase de certeza que se conseguiu ver admiração espalhada pela minha cara.

- E obrigada por me teres ajudado. Foi muito bom da tua parte, não eras obrigada a nada e no entanto, e apesar das nossas divergências, ajudaste-me e isso significou muito, obrigada.

- Não tens que agradecer.

- Tenho sim, tu és uma heroína. Tu sabes, sempre tive ciúmes de ti… é ridículo mas…

- Porquê?

- Porque tu não te importas com o que as pessoas pensam, tu és só tu. Encontraste o verdadeiro amor e não tiveste medo de o ir buscar, e vais salvar o mundo da perdição. Tu és muito Melanie McKensie.

- Acho que nunca tinha pensado nisso dessa maneira.

Jason apitou a buzina do carro.

- Vai. O teu príncipe encantado espera-te. – Disse ela, abraçando-me.

- Adeus.

Enquanto caminhava para o carro, reparei que até os corações mais gelados derretem, até as pessoas mais insensíveis, se conseguem modificar, e mostram-se, apenas, como seres humanos.

8 comentários

Comentar post