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Déjà Vu Sobrenatural

por Andrusca ღ, em 16.11.10

Capítulo 27

Crescimento

 

- Tens a certeza que acabou? – Perguntei, olhando em redor.

- Acho que sim. – Respondeu Bryan, que estava ao meu lado, a segurar uma espingarda.

- Vamos. – Ordenou Jason, dirigindo-se à saída. – Isto já deu o que tinha a dar.

Pendurei a minha Desert Eagle no cinto dos calções e segui Bryan e Jason para fora daquele armazém abandonado que, há segundos atrás, estava a transbordar de demónios. Voltámos para o hotel e sentei-me na cama, a desinfectar o joelho.

- Já reparaste que com os calções acabas sempre ferida nos joelhos? – Perguntou Bryan. – Devias considerar mudar de estilo…

- Tu sabes que eu nunca vou fazer isso. – Respondi, estremecendo em seguida pelo ardor da água oxigenada no meu joelho todo arranhado.

- Pois sei. – Respondeu ele. – É isso que eu gosto em ti. Tu mandas na tua vida, não deixas que ela te mande a ti.

- Essa é a minha miúda. – Disse Jason, com um tom orgulhoso, saído da casa de banho com um enorme curativo no braço esquerdo.

- Aquele acertou-te mesmo bem não foi maninho? – Perguntou Bryan, rindo-se. Estremeceu logo a seguir.

- Muito engraçado. – Respondeu Jason. – Mas parece que não foi só a mim que me acertaram…

- Mandaram-me com a minha própria espingarda nas costas. – Queixou-se Bryan.

- Ainda bem que não se lembraram de disparar. – Observei eu. – Desta vez ficámos mesmo mal. Todos… e não os matámos a todos…

- Pois… mas pode ser que tenham ficado com medo e agora nunca mais voltamos a ouvir falar deles… - Ser optimista não era muito o estilo de Jason, mas estava-se a esforçar um bocadinho.

- Não sei porquê, mas duvido muito. – Agora a pessimista era eu.

- Mel… eu reparei que não usaste os teus poderes… - Observou Bryan, com a maior das inocências.

- Ainda é por causa do que se passou na semana passada? – Perguntou Jason, apreensivo.

Baixei a cabeça.

- É. – Respondi.

 

Há uma semana atrás

 

- Eu tenho a certeza que ele é um demónio! – Afirmei.

Estamos num caso complicado, na minha opinião é um demónio a gozar connosco, porém, nunca conseguimos saber quem ele é ou como o apanhar, o que é muito frustrante.

- Tu não podes dizer isso só porque não gostas dele Mel. – Reprovou Jason.

- Eu não disse que não gostava dele, disse que ele era um demónio. – Reafirmei.

- Ele é o bartender Melanie… - Disse Bryan.

- E depois? Agora bartenders já não podem ser demónios?!

- Sim mas… ele não se encaixa num perfil demoníaco… promete-me que não vais fazer nada de cabeça quente. – Suplicou Jason.

- Tudo o que vocês quiserem, mas depois não se venham queixar. – Respondi, amuada.

Tudo bem, o bartender não se encaixava muito na categoria dos demónios, mas ele era um, tenho a certeza absoluta disso. Os sinais estão lá todos, ele é arrepiante, olha-nos de lado, parece estar sempre a prestar atenção ao que estamos a fazer e faz-me arrepios. Eu normalmente não me engano quanto a estas coisas, se o meu corpo, o meu instinto, me manda arrepios quando estou ao pé dele, alguma coisa deve significar. Será que devia ficar quieta? Fazer o que eles pediram e esperar por mais provas que não fossem os meus arrepios? Não, nem sei porque é que estava a pensar nisto, já estava claro o que ia fazer, o que sempre faço, avanço em frente. Ele é um demónio, é a única explicação… não digo racional, mas é a única que neste momento faz sentido, por isso não vou ficar quieta enquanto lhe damos mais tempo para se preparar.

Tenho treinado imenso os poderes e já os consigo controlar na totalidade, demorou um tempo, mas no fim, nada foi impossível.

Quando vi o bartender a sair, segui-o até um beco e explodi-o. Ele não chegou a assumir nada, mas eu sabia, eu sabia o que ele realmente era. Voltei para o hotel e adormeci. As mortes continuaram e eu comecei a perguntar-me se teria mesmo morto a coisa certa, se não me teria enganado…

Fomos ao funeral dele para ver se descobríamos alguma coisa e conhecemos a sua mulher, as duas filhas e o filho. No final de contas, tinha morto um inocente com os meus estúpidos poderes sobrenaturais.

 

Ano de 2010 (Presente)

 

- É exactamente por o que aconteceu há uma semana. – Reforcei.

- Mas Mel… fizeste bem em matá-lo. – Disse Bryan, consolando-me.

- No fim sim, mas não sem saber a história toda, e se ele fosse mesmo inocente?! – Perguntei, revoltada.

- Mas não era, e tu agiste bem, confiaste no teu instinto. – Disse Jason, apoiando o irmão. – Ele era um demónio. Nós só não sabíamos que tinha um parceiro que também fazia as mortes com ele…

- Mesmo assim. Eu matei-o sem ter as provas todas à minha frente.

- E isso levou-nos ao final da história Mel, se não tivesses tomado essa iniciativa ainda estávamos em Springfield. – Disse Bryan.

- Tudo dizia que ele era inocente, e mesmo assim matei-o porque confiei nos meus instintos, nos meus poderes. O que senti quando pensei que ele era inocente, quando vi a mulher e os filhos, que no final não sabiam de nada… foi horrível, foi como ser comida de dentro para fora. E nunca mais quero voltar a sentir isso.

- Então vais parar de usar os teus poderes? – Apesar de ser uma pergunta, conseguia identificar perfeitamente o som de reprovação na voz de Jason.

- E os meus instintos. – Completei. – Agora vou fazer tudo baseado em provas.

- Sabes que um caçador sem instintos não é nada Mel… - Disse Bryan.

- Não custa tentar. – Eu estava determinada, e no meu tom de voz notava-se isso mesmo, determinação.

- Deixa estar Bryan, ela está decidida. Nestas alturas tem que aprender por experiência própria. – Disse Jason a Bryan.

- Exacto. Deixem-me bater várias vezes com a cabeça na parede até acertar na porta. – Disse eu, com tom de gozo, mas eles não acharam piada e o ambiente não melhorou.

Fomos dormir e a noite correu no mínimo aterradora. Acordei em sobressalto, mas ao contrário das outras noites, não gritei, por conseguinte, Jason não acordou. Sonhei que estávamos encurralados num sítio qualquer e que tínhamos demónios a sair de todos os lados, e depois haviam inocentes, obrigados a lutar. Não liguei muito ao sonho, estava decidida a não acreditar em tudo o que o meu sangue mágico me oferecia. Liguei o candeeiro da mesa-de-cabeceira e vi que ainda eram cinco e meia. Apesar de tentar não levar os sonhos tão a sério, eles ainda me despertavam bastante. Depois de ter um, era muito raro voltar a adormecer, por isso levantei-me e vesti-me. Arrumei as minhas coisas e quando Jason e Bryan finalmente acordaram, às nove horas, já eu estava mortinha por sair dali.

Rumámos a uma nova aventura e parámos perto de Dover, Delaware, porque o carro ficou sem gasolina.

Empurrámos o carro até à cidade, que já não estava longe e encontrámos polícias a fazer vistorias aos carros. Jason e Bryan ficaram fulos comigo por não ter querido empurrar o carro com os poderes.

- Estamos tão tramados. – Disse eu, entre dentes.

- Tem calma. – Disse Jason, ainda a empurrar o carro. – Deixem-me ser eu a falar.

Os polícias, ao verem a situação em que nos encontrávamos, foram até nós.

- Ora muito bom dia. – Disse um deles.

- Bom dia. – Respondi. Jason lançou-me um olhar.

- Importam-se que vejamos o trazem no carro? – Perguntou o polícia, apesar de saber que no fim, tínhamos mesmo que lhe mostrar.

- Claro. – Respondeu Jason. – Esteja à vontade.

O outro polícia estava com a cara baixa, a escrever uma coisa qualquer num bloco de notas. Quando finalmente levantou a cara, reconheci-o. Era Randall, um ex-namorado meu, aliás, um dos melhores que tive.

- Randall? – Perguntei, quase em sussurro. Mas ele ouviu e aproximou-se de mim, enquanto examinava a minha cara.

- Melanie? Não acredito! – Exclamou, repleto de felicidade. Jason, Bryan e o outro polícia encaravam-nos com cara de quem não estava a perceber mesmo nada. – O que é que te trás a Dover?

- Estou numa viagem pelos EUA. – Respondi, sorridente.

- Uau… tu estás… linda. Sempre foste mas agora… Uau. – Elogiou ele.

Randall sempre fora um rapaz de sonho, bem-disposto, amável, notava quando as raparigas tentavam agradar e compreendia praticamente tudo. Era um excelente confidente. Claro que o seu cabelo loiro, olhos azuis-claros e os abdominais bem definidos também ajudavam imenso nas conquistas.

- Pois está. Está linda mas não está solteira. – Apressou-se Jason a dizer, com uma pontinha de ciúmes.

- Pois, era sorte a mais. – Respondeu Randall, um bocado atrapalhado.

- Pode abrir o porta-bagagens por favor? – Perguntou o outro polícia.

- Pois… - Disse Jason, apontando-lhe uma arma. – Isso é que já não vai dar.

Randall ia disparar em Jason mas eu pus-me à frente.

- Espera um minuto. Eu conheço-os. – Afirmou Randall. – São os irmãos Whickmonth, procurados em todos os EUA… Melanie, eles são perigosos, é melhor saíres da frente.

Sei que Randall não iria disparar em mim, não podia.

- Desculpa. Eles não são quem tu pensas. – Disse eu.

- Então agora andas com criminosos? – Perguntou, com uma raiva patente na voz.

- Eles não são assim. Nem tudo o que se ouve é verdade. Por favor Randall, deixa-os ir. – Pedi.

- Não posso acreditar que andas a dormir com este tipo! – Ele parecia ofendido.

- Não posso acreditar que ela dormiu contigo! – Respondeu Jason, com o mesmo tom de voz.

- Desculpa. – Pronunciou Randall, para mim. – Eu sou polícia, eles ficam.

- O que é que estás a fazer?! Tu podes-lhe tirar a arma da mão em três tempos Mel! – Sussurrou-me Jason ao ouvido, referindo-se ao meu poder de telicnese.

O outro polícia aproveitou o deslize de Jason e agarrou-o. Juntaram-se mais cinco que ajudaram o outro a agarrar Jason e agarraram Bryan. Randall ficou a agarrar-me e, apesar de conseguir mandar demónios ao chão, Randall tinha tanta força como eles, e de ele, eu não me conseguia soltar.

Levaram Jason e Bryan nos carros da polícia para a prisão de lá, para mais tarde irem a julgamento.

- Mel, eu sei que eles podiam parecer teus amigos, mas Jason e Bryan Whickmonth não são boas pessoas, eles enganam, eles mentem. – Advertiu Randall.

- Eles são meus amigos! – Ripostei. – E não são nada como o que tu ouves sobre eles! Eles são os bons da fita.

- Pois… não me parece. Ouve, eles vão a julgamento amanhã.

- Tão cedo? – Não era normal os julgamentos serem feitos tão em cima de hora como o deles.

- Sim, não queremos correr o risco que eles fujam… ouve, eles não se vão safar desta, com as acusações que têm nem o melhor dos advogados os safava. Mas tu não tens acusações nenhumas, podes ir embora.

- Pois, como se isso fosse acontecer. – Discuti. – Eu quero vê-los.

- Isso não vai ser possível.

- Ouve, eu não sou estúpida, eu sei que se pode ver os prisioneiros…

- Em horas próprias sim, mas a hora já passou.

- Tu és meu amigo, podias fazer com abrissem uma excepção!

- Eu não vou fazer nada que te permita ver ou socializar com aqueles delinquentes.

Virei costas e comecei a empurrar o carro, sem sucesso.

- Não podes levar o carro! – Gritou ele. – É uma prova.

- Não te preocupes que eu levo-o ao tribunal amanhã! – Respondi, dando um pontapé numa das rodas traseiras por ele não se mexer.

- Não te posso deixar fazer isso.

Fiz com que o carro desse um solavanco em direcção a ele e ele deu dois passos atrás.

- Oh, olha, parece que o carro está possuído! – Gritei, com uma voz furiosa enquanto entrava no carro.

Levei-o com os poderes até ao primeiro hotel que vi e estacionei. Estava completamente esgotada, usar os poderes com tanta intensidade faz-me ficar completamente estafada. Fiz o check-in e subi para o quarto.

Pensei em mil e uma maneiras de ajudar Jason e Bryan a saírem da prisão mas nenhuma me pareceu que fosse resultar. Sei que nenhum advogado particular os iria querer defender, afinal, como Randall disse, ninguém os iria conseguir safar das acusações e das provas mas mesmo assim contactei alguns, sem qualquer sucesso. Provavelmente ficariam com um advogado do estado que não se iria esforçar porque o seu nome já aparecia num caso famoso, quer perdesse, quer ganhasse.

Não comi durante o resto do dia, só de pensar em Bryan e Jason, dentro daquelas celas à espera de julgamento… partia-me o coração, mas não podia ceder, não ainda, tinha que arranjar uma maneira de os ajudar, mesmo que não fosse… legal.

Não dormi nada e quando eram oito horas já estava à porta do tribunal, que abriu às nove. Era domingo, por isso estava apenas uma juíza, uma mulher negra, já com cabelo grisalho e gorduchinha, o júri, formado por dois homens, um de óculos e cabelo escuro e outro bem-parecido e cabelo tom de avelã e duas mulheres, ambas muito bonitas e ambas morenas, um segurança e Randall, que fez questão em apoiar a acusação, tal como eu fiz em apoiar a defesa. Pouco depois entraram Jason e Bryan acompanhados por dois polícias e pelo seu advogado, um homem novo, de cabelo castanho-escuro. O advogado da acusação também chegou. Tomaram todos os respectivos lugares e a juíza bateu com o martelo.

- Vamos iniciar a sessão. – Anunciou. – Caso povo contra Whickmonth, caso nº 00997OK589WM. Acusados de assaltos, rapto, roubo de identidades, roubo de cartões de crédito, fingir a própria morte, homicídio…

- Acho que já perceberam. – Disse Jason. – Nós somos muito maus. Podem continuar com isto?

Ambos os advogados apresentaram os argumentos que tinham e as coisas pareciam bem feias até que o advogado de Jason e Bryan me chamou a depor. Levantei-me, um bocado atrapalhada e sentei-me ao lado esquerdo da juíza, numa cadeira mais abaixo da dela.

- Menina McKensie, é verdade que os seus amigos são acusados falsamente? – Perguntou o advogado.

E eu que pensava que me ir perguntar se jurava dizer a verdade e só a verdade.

- É. – Respondi.

- E o que a faz pensar isso?

- Porque os conheço. E quem os conhece sabe que eles nunca fariam as coisas pelas quais são acusadas.

- Descreve-os então como pessoas civilizadas e sem qualquer problema cerebral?

- Sim, completamente.

Fez-me algumas perguntas em que me vi aflita para responder. Vi Randall a sussurrar qualquer coisa ao ouvido do advogado da acusação.

- Muito bem então, pode retornar ao seu lugar. – Disse-me o advogado de defesa.

- Espere um pouco. Meritíssima, gostava de perguntar umas coisas à menina McKensie. – Disse o advogado da acusação.

- Concedido. – Respondeu a juíza.

Perfeito, agora é que estamos todos tramados.

- Menina McKensie, é verdade que mantém relações sexuais com um dos acusados, Jason Whickmonth? – Perguntou ele.

- Meritíssima, que importância é que isso tem para o caso? – Perguntei.

- Limite-se a responder menina McKensie. – Respondeu-me ela.

Voltei a olhar para o advogado.

- Sim, ele é o meu namorado.

- E é verdade que sabia que eles mantinham armas no carro?

- Sim.

- Muito bem. Voltando à sua relação com um dos arguidos, é verdade que no passado o viu a partir o vidro de um carro?

- Meu… quase toda a gente parte vidros de carros… acontece.

- Responda à pergunta.

- Sim, eu vi. Mas também já parti vários vidros e não sou nenhuma criminosa, e nem eles.

- Menina McKensie, é verdade que faria qualquer coisa para proteger os seus amigos?

- Sim. – Respondi, sem pestanejar. – Porque sei que eles são inocentes.

- Acho que já percebemos tudo. – Disse ele, virando costas.

- Não! Meritíssima, posso falar?

- Concedido. Mas seja breve. – Disse ela.

- Eu não estaria aqui se eles fossem culpados, não os defendia se eles fossem culpados, eu estou porque eles não são. Eles não são essas pessoas que vocês pensam, eles são os bons da fita e vocês vão fazer um enorme erro ao prendê-los.

- Isso é uma ameaça? – Perguntou o advogado de acusação.

- Não… é um aviso. Um aviso de amiga.

Saí do lugar em que estava e sentei-me atrás de Jason, Bryan e do advogado deles. Enquanto o júri deliberava, conversei um bocado com eles. Um dos membros do júri foi ter com a juíza e esta preparou-se para falar. Ao encostar-me de novo no banco, apareceram imagens na minha cabeça, como se estivesse a sonhar, mas estava acordada. Premonições.

- Raios! – Exclamei, baixinho.

Levantei-me e dirigi-me à porta calmamente. Vi um exército de talvez cinquenta demónios a dirigir-se para o tribunal. Corri para o carro e tirei o maior número de armas e munições que consegui e pu-las dentro de uma mochila que estava no porta-bagagens. Voltei a entrar no tribunal e fui barrada pelo segurança, que deitei abaixo. Tranquei a porta enquanto estavam todos a olhar para mim e depois virei-me para eles.

- Nós temos um problema. – Disse, com uma voz calma, apesar de estar em pânico.

- Melanie. Não podes fazer isto. Não és uma criminosa, não te enterres por causa deles! – Ordenou Randall, observando a arma que eu tinha na mão, a minha Desert Eagle.

- Cala-te Randall! – Ordenei. – Ok olhem, nós temos um problema. Há demónios a virem para cá.

- Quantos? – Perguntou Jason.

- Cerca de cinquenta.

- Quando? – Perguntou Bryan.

- Estão aqui à porta em cerca de três minutos, talvez menos. Por isso, – Comecei a mandar armas e munições às pessoas que lá estavam. – Espero que saibam usar isto, se não souberem não hesitem em pedir ajuda.

- Isto é de loucos! – Exclamou a juíza. – Tirem-me esta doida daqui imediatamente!

Os polícias começaram a dirigir-se a mim, em posição de ataque.

Explodi um banco.

- Há demónios a dirigirem-se para cá. – Repeti, agora já com uma voz de poucos amigos. – Eu estou a ficar stressada e quando isso acontece as coisas explodem, por isso vamos todos fazer o que a bruxa manda ok?

Ficaram todos a olhar para mim.

- Se não acreditam espreitem pela janela, mas ninguém sai daqui. – Continuei. Ficaram todos apreensivos a olharem para mim. Estiquei o braço para apontar para a janela e deram todos um passo atrás menos Bryan e Jason. – Calma… eu só expludo o que quero… podem ir… vão… - Incentivei.

Os dois advogados aproximaram-se da janela e voltaram para trás instantaneamente, a juíza levantou-se e espreitou também, tendo a mesma reacção que os outros. Depois de espreitar, Randall dirigiu-se a mim.

- O que é que fazemos agora? – Perguntou-me.

- Bem, a única coisa que podemos fazer. Agora tirem as algemas aos meus amigos e lutamos com eles. – Respondi. Entreguei-lhe uma pistola. – Tu sabes como usar. Está carregada. Vai à cabeça ou ao coração, não morrem de outro modo.

- Tu estás-me a pedir para libertar dois dos piores criminosos de todos os tempos para combaterem criaturas fictícias?

- Randall, eu percebo, é difícil de acreditar, mas não são fictícias, são reais. Eu sou uma bruxa e expludo coisas, como é que explicas isso?

- Ganhaste. – Disse, rendido. – Libertem os arguidos. – Ordenou para os polícias.

- Ok, vamos lá pôr mãos à obra. – Disse Jason, esfregando as mãos e agarrando numa arma. – Deixem-me lá ver o número.

- Estamos em muitos maus lençóis. – Disse Bryan, com uma voz pessimista, ao espreitar.

- Nós não éramos 12? – Perguntei, dando pela falta de uma pessoa.

Olharam todos à volta.

- O Crispian não está aqui… - Disse um dos júris, referindo-se ao colega.

- Oh meu Deus, nós vamos todos morrer! – Gritou uma das mulheres do júri.

Gerou-se o caos, todos aos gritos, sem saberem para onde se virar e sem sítio por onde fugir. Jason e Bryan tentavam acalmá-los, mas não conseguiam de maneira nenhuma. Revirei os olhos e explodi outro banco, fazendo com que todos voltassem a olhar para mim.

- Agora que já pararam, o Bryan e o Jason vão-vos ensinar a trabalhar com estas armas. – Disse eu. – Seguranças e polícias barriquem portas e janelas, Randall, tu e eu vamos lá dentro ver quem é que entrou.

- Ficas bem? – Perguntou Jason.

Aproximei-me dele e beijei-o.

- Tu ficas? – Perguntei, levantando o sobrolho.

Afastei-me e fui com Randall, devagar, percorrer as outras salas do tribunal.

Tinha a minha Desert Eagle empunhada e Randall usava uma espingarda, que lhe tinha dado. Não vimos nada por isso decidimos voltar para trás.

- Então… isto é mesmo o que vocês fazem? – Perguntou ele, com alguma surpresa na voz.

- É. – Respondi. – Surpreendido?

- Digo-te quando recuperar. Ahh! – E foi deitado ao chão.

Virei-me e dei um pontapé no demónio que estava atrás de nós, deitando-o ao chão e dando-lhe um tiro no meio da testa em seguida. Estendi a mão a Randall, que a segurou e levantou-se.

- Obrigado. – Agradeceu, ainda aparvalhado, a olhar para mim.

- Não tens que agradecer. – Respondi. Voltámos para ao pé do resto do pessoal e eu aproximei-me de Bryan e Jason enquanto Randall se juntou à juíza e ao júri que estavam com Jason. – Apanhámo-lo. – Disse-lhe, referindo-me ao demónio.

- E o outro júri?

- Não o encontrámos. – Sussurrei, para não causar mais pânico.

Aproximámo-nos do resto das pessoas e eu comecei a falar.

- Eles vão conseguir entrar. – Disse, em voz alta. Jason puxou-me para ao pé dele.

- Vai com calma Mel, eles não estão habituados a estas coisas. – Sussurrou-me, ao ouvido.

- E nós vamos conseguir matá-los. – Continuei, acenando a Jason. – Eles são fortes mas nós somos mais. Nós conseguimos fazer isto.

- Para com essas tretas motivadoras. – Disse uma dos júris. – Nós vamos todos morrer e vocês sabem disso.

Aproximei-me dela.

- Não vamos. Para ser sincera, vai ser horrível, difícil, sofredor… mas nós vamos sobreviver.

Ela ficou com cara de parva a olhar para mim, e passado pouco tempo acenou afirmativamente.

Separámo-nos e eu fui com as duas mulheres do júri e o segurança.

- Ok, para isto funcionar, eu vou precisar de saber os vossos nomes. Vocês não agem sem que eu diga e não se afastam. Se virem qualquer coisa, disparem. – Disse eu. – Agora, nomes.

- Eu sou Anna. – Disse uma júri.

- Mariah. – Disse a outra.

- Joseph. – Respondeu o segurança.

- Ok, eu sou a Mel. Se virem alguma coisa a dirigir-se contra nós muito rápido… não sei, gritem.

Continuámos a andar e matámos cinco demónios, até que, com todos os disparos desperdiçados, estávamos a ficar sem munições. Voltámos à sala principal, a sala do julgamento e vimos que Jason e Bryan, com os respectivos grupos, estavam lá. Não estavam nenhuns demónios à vista. Eu já tinha um joelho a sangrar, o segurança tinha o lábio rebentado e as mulheres do júri estavam a choramingar de medo.

- Estamos a ficar sem munições. – Disse eu, para Bryan e Jason.

Jason fez um sinal e o seu grupo, a juíza, o homem do júri e um polícia, aproximaram-se.

- Dois, mostra à Melanie as munições que temos. – Disse ele.

A juíza abriu a sua mala, toda finória, agora com poucas munições lá dentro. Depois voltaram todos para ao pé do resto das pessoas.

- Dois? – Perguntei incrédula, a Jason.

Ele encolheu os ombros.

- Não conseguia decorar os nomes…

Ouvimos barulho e encostámo-nos todos à parede em frente à entrada. Os demónios estavam a tentar arrombar a porta e estavam a conseguir, em breves minutos estariam aqui dentro e nós não iríamos sobreviver. O segurança chegou-se ao pé de mim.

- A minha arma partiu-se… - Disse, atrapalhado e cheio de medo, mostrando-me a arma.

Respirei fundo. Agora, para além de termos o exército mais fraco de sempre, tínhamos uma arma a menos. Olhei em volta, para todas as outras pessoas e entreguei a minha arma, a minha Desert Eagle, ao segurança.

- Não a partas. – Avisei. – Tem valor sentimental.

Ele consentiu e afastou-se. Olhei para as minhas mãos. Será que eu não precisava de arma? Será que só as minhas mãos conseguiam dar conta daquele assunto? Será que não ia atingir ninguém por acidente? Senti uma mão no meu ombro.

- Segue os teus instintos Mel… - Disse-me Jason, docemente. Naquele momento de horror, só a sua voz me podia confortar. – Acertas sempre…

Fiquei quieta durante uns momentos e depois voltei-me para eles.

- Ok toda a gente! – Gritei. – Nós vamos abrir as portas.

- O quê?! – Perguntou Randall, incrédulo.

- Eles vão entrar de qualquer maneira, é melhor que seja quando nos dá mais jeito e não a eles. – Disse Bryan.

Depois de uma pequena discussão e alguns insultos, voltámos a encostar-nos à parede e eu comecei, lentamente, a desviar os bancos que barricavam a porta, com a telicnese.

Os demónios entraram todos ao molho e nós mal podíamos respirar, era atirar para todos os lados. Reparei que um dos demónios tinha uma arma e a apontou a mim, antes que o pudesse explodir, ele disparou. Numa fracção de segundo, pus as mãos à frente, para me proteger e fechei os olhos com força, com esperança que acontecesse tudo rápido e… nada aconteceu. Abri um olho e vi tudo parado, e um silêncio desmedido. Nem os meus amigos e o resto da “equipa” se mexiam. Pareciam estátuas. Abanei a mão à frente dos olhos de Jason mas nada aconteceu. Comecei a andar no meio da imensidade de demónios e nenhum deles se mexia, independentemente do que fizesse. Voltei para o meu lugar e sorri. Afinal, seguir os meus instintos até nem era má ideia. Comecei a explodir as filas de demónios, um a um até que ao fim de dois minutos não sobrou nenhum. Sorri, feliz com o sucesso. Olhei para Jason, que, de súbito, deu um enorme salto de susto e ficou a olhar para mim com os olhos arregalados.

- Eles desapareceram! – Exclamou, pasmado.

Estavam todos com a mesma reacção que ele, e estranharam por eu já não estar no mesmo sítio e por não estar tão incrédula como eles.

- Eu acho que… eu acho que parei o tempo. – Pronunciei meticulosamente.

- Tipo… parar mesmo o tempo, literalmente? – Perguntou Randall. Não tenho palavras para descrever o espanto estampado na cara dele.

- Eu acho que sim… - Sorri. – E eles desapareceram porque… eu os explodi.

Saímos todos dali e toda a gente agradeceu a nossa ajuda, e mais importante, deixaram Jason e Bryan saírem em liberdade, por saberem agora o que faziam, mas com um acordo: nós não contávamos a ninguém que eles os tinham deixado escapar.

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