Déjà Vu Sobrenatural
Capítulo 30
Rainha da Paciência
- O que é que viemos caçar? – Perguntei, enquanto observava as ruas.
Estávamos em Little Rock, Arkansas. As ruas não estavam muito agitadas mas notava-se que havia alguma tensão no ar.
- Não sei ainda. – Respondeu Bryan.
- Achamos que são vampiros mas… podem não ser. – Disse Jason.
- E estamos à procura do quê? – Via muitas coisas em redor, mas não sabia o que procurar.
- De qualquer coisa que nos ajude a descobrir alguma coisa ou que pareça suspeita.
- Meu, lembras-te da última vez que cá estivemos? – Perguntou Bryan, a dar um pequeno empurrão a Jason.
- Se me lembro…
- Ok, rapariga a sentir-se excluída da conversa. – Pus o dedo no ar e eles riram-se.
- Nós fizemos várias coisas aqui. – Disse Bryan.
- Uau, isso esclarece-me. – A minha frase não podia parecer mais sarcástica.
- Não te preocupes. – Disse Jason. – Não aconteceu nada assim tão especial.
Eles pararam a ver umas montras de coisas electrónicas e eu continuei a observar a rua.
Os meus olhos foram parar numa mulher lindíssima e muito bem arranjada que se dirigia para aqui. Tinha umas calças justas castanhas e uma blusa verde, e tinha umas botas pretas, curtas, calçadas. Era alta e tinha um cabelo loiro comprido, com caracóis em baixo.
Estava-se a aproximar da montra e nem reparou que eu estava a olhar para ela. Vinha-se a rir e parecia um bocado nervosa. Pôs a mão no ombro de Jason e virou-o para ela.
- Há que tempos que não te via. – Disse ela, e depois puxou-o e beijou-o.
Fiquei de boca aberta, sem ter qualquer reacção até que Jason a desviou e olhou para mim. Passou-se tudo em questões de segundos e eu não fazia a mais pequena ideia de que aquela rapariga ia beijar o meu namorado até a ver a fazê-lo.
- Isso pareceu especial. – Murmurei, com um tom zangado.
Jason desviou-se da rapariga e aproximou-se de mim.
- Mel, não é nada do que estás a pensar… - Justificou-se.
- E o que é que estou a pensar? – Cruzei os braços.
- Aquela é a Michelle, nós saímos umas vezes mas foi só isso. – Ignorou a minha pergunta.
- Que queres dizer com “foi só isso”? – Perguntou ela, aproximando-se. – Eu gosto mesmo de ti.
- Importas-te?! – Perguntei. Se o olhar matasse, a esta hora ela estava caidinha no chão.
- Mel, a sério, eu nem a vi chegar. Até pensava que eras tu…
- Jason eu… não quero falar disto. Não agora. Eu vou voltar para o hotel, se acontecer alguma coisa de novo telefonem-me.
- E nós ficamos assim?
- Nós podemos falar depois… não te preocupes, eu não vou a lado nenhum…
Dei meia volta e comecei a caminhar de volta para o hotel. Nos reflexos dos vidros dos carros consegui ver Jason a mandar a rapariga, Michelle, embora. E ela obedeceu.
Dei mais uma volta antes de ir para o hotel e quando estava praticamente a chegar, ouvi gritos histéricos vindos de um beco a talvez dez metros de mim. Corri até lá e vi cinco indivíduos, que pareciam demónios, mas no entanto também tinham traços de wendigos e de vampiros, era como uma mistura. No meio deles estava uma rapariga, loira.
Dois deles vieram ter comigo e começaram a atacar-me, mas eu defendia-me.
Nunca tinha visto nada como eles, tinham olhos pretos como os demónios, dentes enormes, afiados e brilhantes como os vampiros e pêlo no corpo, como lobisomens ou wendigos. Explodi-os aos dois e os outros fugiram. Aproximei-me da rapariga e vi quem era.
- Tu? – Notou-se perfeitamente que havia desagrado na minha voz.
Levei Michelle, que não se calou, para o hotel e telefonei a Jason a dizer para nos encontrarem lá. Quando eles finalmente chegaram, Michelle começou a dizer que tinha sido muito assustador e pediu para Jason não sair do lado dela porque tinha muito medo. Eu estive quase, quase, a mandá-la calar, mas Bryan tirou-me de lá antes disso e levou-me para o seu quarto.
- Eu quero tanto dar-lhe um tiro. – Comecei.
- Eu sei que é complicado… mas ela agora é uma potencial vítima. Eles podem querer vir buscá-la.
- Perfeito. Nós damo-la. – Sorri, forçadamente e fingi uma gargalhada maléfica enquanto esfregava as mãos.
- Mel… tu não és esta pessoa, concentra-te e respira fundo. – Obedeci. – Mais calma?
- Não. Continuo a querer dar-lhe um tiro.
Jantámos todos juntos e depois decidimos (decidiram) que era melhor ela ficar no meu quarto e Jason ficar no de Bryan, e dormir no sofá ou assim.
Quando subimos para o quarto ela vestiu um dos meus pijamas e mandou-se para a cama.
Eu vesti uma camisa de noite preta e calcei os meus chinelos cor-de-rosa choque.
Sentei-me no cadeirão do quarto, ao lado da cama, a ler um livro até me dar o sono.
- Então… - Começou a meter conversa. – Tu andas com o Jason?
- Sim. – Respondi, sem tirar os olhos do livro.
- Auch, tu sabes que ele me beijou certo?
- Sim, eu estava lá, eu vi.
- Tu ouviste-me dizer que gosto dele?
- Acho que até metade da cidade ouviu.
- Então percebes que não vou desistir.
Fechei o livro e virei-me para ela.
- Olha, o Jason é o meu namorado e eu adoro-o e a única razão porque te estou a aturar é porque sei que se não o fizer, ele fica completamente fulo…
- Porque gosta de mim?
- Não, porque o nosso trabalho agora é proteger-te.
- A sério, já olhaste para mim? Como é que ele pode não gostar de mim? É impossível. Acredita querida, eu consigo sempre o meu homem.
- Pois, azar o teu que ele já está ocupado, e eu não estou a planear dar-to.
Levantei-me e saí do quarto. Encostei-me à parede ao lado da porta e respirei fundo várias vezes. Ela ainda não sabia que as coisas faziam puff à minha volta, e para azar dela, esteve mesmo muito perto de descobrir.
Vi uma figura amiga dirigir-se a mim e deu-me um abraço.
- Então, como estás? – Perguntou-me.
- Podia estar melhor.
- Pois, ouvi dizer que estavas com uma ex-namorada do Jason…
- Algo desse género.
- Ela expulsou-te do quarto?
- Não, eu saí, senão explodia-a.
- Bem, seja como for, eu fico aqui para ajudar nas coisas, e para te impedir de a matares...
- Obrigada Vicky. Eles amanhã vão ver se encontram as coisas que eu vi e eu tenho que ficar com ela o dia todo. – Queixei-me.
- E como vão as coisas com o Jason?
- Não sei. Mas não me apetece falar disso agora, amanhã falo com ele.
Depois de me acalmar fui para o quarto e Vicky acompanhou-me, apesar de não dormir.
Michelle já estava deitada e a dormir por isso eu sentei-me no cadeirão a falar um bocadinho com Vicky até que também me deixei de dormir.
Acordei tapada e com uma horrível dor de costas. Michelle já lá não estava, nem Vicky.
Vesti uns calções curtinhos de ganga esverdeada e uma blusa castanha, de cavas, e um colete, também castanho mas mais escuro, que usei desapertado. Calcei umas botas também castanhas, não muito compridas. Deixei o cabelo solto e pus umas pulseiras e o meu fio habitual.
Quando desci para tomar o pequeno-almoço lá no hotel, já estavam todos a comer.
- Bom-dia. – Disse eu, sentando-me.
- Bom-dia. – Responderam-me, em coro.
- Podemos falar? – Perguntou Jason.
- Sim, podemos. Tem que ser agora ou posso comer?
- Come. Falamos a seguir.
Comi e depois, como combinado, fui para o meu quarto falar com Jason.
- Ouve eu… - Começou ele, sendo interrompido por mim.
- Não tens que explicar. – Por muito que custasse, estava a ser honesta. – Tu estavas de costas, e quando viste quem era desviaste-te. Está tudo bem.
- A sério? Porque…
- Jason. A sério, não te preocupes…
- Mas tu parecias bem chateada e eu admito que se fosse comigo ia ficar.
- Eu sei. Eu acho que estava com ciúmes… mas isso é porque gosto de ti, porque não te quero perder…
- Ciúmes são bons. – Disse ele, aproximando-se e enrolando-me nos seus braços musculados. – Eu gosto disso. – Sorriu e beijou-me.
Como combinado, eles foram à procura daquelas criaturas estranhas e eu e Vicky ficámos com Michelle. Até Vicky, que não tinha nada contra ela, a achou extremamente irritante. O que faltava de cérebro tinha em beleza.
- Então, em que é que trabalhas? – Perguntou Vicky a Michelle.
- Sou DJ numa discoteca aqui perto. – Respondeu ela. – As pessoas chamam-me Queen of Love (Rainha do amor). E tu Mel?
- Tu já sabes… eu salvo pessoas em perigo, e desde ontem que sou a rainha da paciência. – Respondi, forçando um sorriso. – O problema é que ela se esgota. – Resmunguei, baixinho.
- Enfim… então Vicky, só aqui entre nós, também andas enrolada com o Jason? – E piscou-lhe o olho.
Vicky, atrapalhada, olhou para mim.
- Ok. Tu tens que saber quando calar a boca. – Repreendi. – Não tens ideia nenhuma do quão longe podes ir com as pessoas por isso eu vou-te dizer, comigo, já passaste o limite.
- O que é que me vais fazer? – Levantou-se e aproximou-se de mim, com cara de quem estava a desafiar-me.
- Podia dar-te um tiro agora mesmo. Nem ias sentir nada. Mas não vou. Em vez disso vou sair. E se por acaso chateares a Vicky, eu dou-te o tiro, acredita.
Saí porta fora e dei uma volta pela cidade. Quando voltei a entrar no hotel Vicky e Bryan estavam na entrada e disseram que o Jason tinha ido falar com a Michelle, o que não me agradava nada, ele sozinho com ela, num quarto, com uma cama… mas não, o Jason nunca me iria trair, nem que fosse com aquela deusa grega com uma beleza proporcional à dele, sendo um deus grego. No que é que me estava a tornar? Numa namorada ciumenta? Não!
Sentei-me ao lado de Bryan e Vicky, num sofá no hall do hotel mas pouco depois levantei-me e comecei a andar às voltas.
Bryan aproximou-se de mim.
- Como é que te estás a aguentar?
- Desculpa Bryan, mas eu não quero falar.
- Mel, sabes que o Jason nunca te trocaria por ela, não sabes? – Ele fingiu que não me ouviu.
- Eu gosto de pensar que sim. Já olhaste para ela? Ela é tipo uma deusa.
- E tu és uma bruxa. – Isto soou em tom de brincadeira mas eu deitei-lhe um olhar feroz. – Ouve, sabes qual foi a melhor coisa que o Jason alguma vez lhe disse?
Abanei a cabeça.
- Quando a conheceu, o Jason disse-lhe que ela era linda. Sabes o que é que ele te diz todos os dias? – Fiquei calada e imóvel. – Ele diz-te que te ama. E é verdade, tu és tudo para ele Mel… e além disso, eu não acredito que estás com inveja do aspecto dela.
- Bryan, tu és um rapaz, olha para ela.
- Já olhei.
- Ela é alta, tem pernas longas, é loira… é completamente linda. E eu…
- E tu também és. O meu irmão soube escolher bem Mel…
- A sério, como rapaz, quem é que achas mais bonita, eu ou ela?
- Como teu amigo tenho que dizer que a beleza não interessa nada, mas como rapaz, tenho que dizer que ela é maravilhosamente bonita. – Pôs-me a mãos nos ombros e virou-me para um espelho que estava atrás de mim. – Mas também tenho que dizer que é bom que abras os olhos Mel, porque tu não só és bonita, como és tudo o que o Jason, eu, o Phil, o Gabriel e a Vicky precisamos.
Sorri.
- Obrigada.
Passados poucos minutos subi, não para os controlar mas para ir à casa de banho, no quarto de Bryan porque eles estavam no meu.
Ia a passar no corredor quando a porta do meu quarto se abre e eu escondo-me, ao ver Jason sair de lá. Michelle veio atrás e puxou-lhe o braço. Vi tudo pelo espelho que estava na parede.
- Estás mesmo a tratar-me assim?! Jason, eu sou a melhor coisa que alguma vez viste! – Ela soava desesperada.
- Michelle, vê se percebes uma coisa, eu não quero nada contigo! – E o Jason soava aborrecido.
- Por causa dela?! Ela não é nada comparada comigo!
- Ela é tudo! Não percebes? Ela é tudo para mim, e para que conste, ela é a rapariga mais bonita que eu alguma vez podia ter encontrado.
- Isso não é justo!
- E não só. Eu sou sortudo por ela me querer. Por isso vê se paras de te intrometer!
Sorri. Afinal Jason era tudo o que eu pensava, e muito mais. Ele entrou para o quarto e Michelle, chateada, desceu as escadas, a toda a velocidade, para sair do hotel.
Fiz a curva e ia para entrar para o quarto de Bryan, que se encontrava em frente de onde eu estava, quando ouço Jason, atrás de mim.
- Andas a espiar-me?
Virei-me para ele.
- Intencionalmente não.
- Mas ouviste tudo. – Não era uma pergunta, ups, apanhada.
Aproximei-me dele. Agora sentia-me culpada por ter sido tão ciumenta, mas o facto de o ter sido só prova que eu gosto realmente dele, e ele devia gostar de saber disso.
- Mesmo que não tivesse ouvido. Eu confio em ti.
- Eu sei. Eu também confio em ti. E é por isso, Melanie McKensie, que eu quero reforçar tudo o que disse à Michelle. Porque foi tudo verdade.
- Pois… - Aproximei-me mais e pus as minhas mãos à volta do seu pescoço. – És mesmo sortudo… - Fiz uma cara pensativa. – Por me teres a gostar tanto de ti. – Gracejei.
Ele deu um risinho falso.
- Engraçadinha.
E puxou-me.
Desejem-me sorte, vou fazer teste de MACS xD