Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Espinhos de Rosas

por Andrusca ღ, em 14.09.10

E no capítulo de hoje há uma pequena reviravolta... vamos ver se descobrem qual é.

Espero que gostem, e obrigada pelos comentários que têm deixado :D

Boa Leitura ;)

 

 

Capítulo 7

Festa

 

O mistério da janela aberta do meu quarto estava resolvido, era Derek quem a abria para entrar. Descobri que ele ficava a ver-me dormir. Quão distorcido é isso?! Como é que ainda quer que confie nele?

Passou-se uma semana, e o meu plano principal era evitá-los a todo o custo. A janela do meu quarto permaneceu fechada, tal como eu a deixava.

Derek, Verónica e Gary observavam-me à distância, mas não se aproximavam, tal como eu lhes pedi. Depois de ouvir a história toda, como me tinham pedido, insisti que queria ser deixada em paz, e que não queria ter absolutamente nada a ver com vampiros. Eles acabaram por respeitar a minha decisão, e desde então que não falamos. É estranho, nunca pensei que cedessem à primeira tentativa.

Ouvi passos a aproximarem-se de mim e olhei para trás, era Gwen. Ela sentou-se na relva, ao meu lado. Eu estava encostada a uma árvore, já há algum tempo, não tínhamos tido aula.

- No que é que estavas a pensar? – Perguntou-me.

- Só… na vida… e na morte – foi pouco mais que um murmúrio, mas ela ouviu.

- Tu andas estranha… isso não tem nada a ver com o facto de já não te dares com o Derek?

- Não. Eu não quero ter nada a ver com Derek, ponto final.

- Tens a certeza? É que há bastantes candidatas ao lugar que supostamente era teu…

- É o funeral delas – sussurrei. Ela não ouviu, tenho a certeza.

- Então, o que vais fazer durante a tarde? – Perguntou, só para fazer conversa.

- Bem, a Abby vai estar na escola, e o Dylan com o psicólogo cá da escola, por isso não faço ideia.

- Já notaste que a tua vida gira ao torno deles?

- A toda a hora.

- Bem, eu vou às compras. Queres vir?

- Eu não estou com muito dinheiro para gastar Gwen…

- Não faz mal, vamos só para nos divertirmos, só isso.

- Ok, alinho.

Depois da nossa última aula, fomos directas ao centro comercial. Andámos às voltas de uma loja para a outra, sempre a conversar e a rir. Experimentámos vários visuais e fartámo-nos de tirar fotografias.

- Ei, queres um gelado? – Perguntou-me Gwen.

- Claro.

Fomos comprar um gelado e depois sentámo-nos num dos bancos do pátio do centro comercial.

- Olhem quem cá está – esta voz presunçosa eu conhecia bem, e ainda tinha que ter uma conversa de esclarecimento com ela, infelizmente.

- Olá Josh – cumprimentou Gwen, sem qualquer ponta de entusiasmo na voz.

- Oi – disse eu.

- Podemos falar? – pediu ele – Não demora muito, por favor.

Dei uma olhadela rápida a Gwen, que me fez sinal para ir.

- Ok.

Levantei-me e fui com ele para debaixo da sombra de uma palmeira.

- Ouve, eu sei que era suposto dar-te espaço mas está-se a aproximar a festa do ano, e eu gostava imenso que…

- Pára – pedi – Josh, tu és um tipo esplêndido, mas… não dá. Lamento muito mas… eu só… não sinto.

- Não sentes? Estás a acabar comigo?

- Sim.

- É por causa daquele tal Derek?! Eu vou matar esse tipo!

- Não! Não é. É por minha causa, ok? Eu só… está acabado, ok? – Eu sou das piores pessoas para acabar relações, fico sempre com metade das palavras atravessadas na garganta e acabo por não dizer nada de jeito.

- Tu vais-te arrepender por isto – avisou, antes de virar costas e começar a afastar-se.

Voltei para junto de Gwen e como ela já tinha acabado de comer o gelado, voltámos a entrar para uma última vista às lojas.

- Olha aquilo – disse ela, com os olhos a brilhar.

Aproximou-se de uma montra e quase que lhe encostou o nariz. Estava a olhar para um vestido violeta clarinho de atar ao pescoço e curtinho, tinha um cinto preto. Da cintura para baixo fazia uma pequena roda. Era totalmente lindo.

- Tu ias ficar completamente linda com ele – murmurou – Podias usá-lo na festa e…

- Excepto: já viste o preço? Gwen, eu não posso pagar isso nem com três ordenados – disse-lhe, com um bocado de pena, mas a minha decisão estava tomada.

- Ias ficar espectacular… - insistiu – Eu podia pagá-lo, tu depois devolvias o dinheiro…

- Além disso, eu não vou à festa.

- O quê?! – Parecia que lhe tinha dado a pior notícia do mundo.

- Não vou.

- Tens que vir. Não é todos os anos que a associação de estudantes convence a escola a fazer uma festa. Please!

- Não.

- É por causa dos teus irmãos? Ou porque não tens par?

- Não… a ambos. Eu só… não estou com humor para esse tipo de coisas.

Passaram-se três dias, e o dia da festa chegou. A escola andava toda em pulgas e a enfeitar o ginásio. Não há motivo nenhum em especial para a festa, deu na cabeça de um qualquer, pediram autorização e já está. Só não sei como é que o director se deixou convencer tão facilmente…

Eu continuava a evitar os vampiros, como pretendia fazer para o resto da minha vida.

As aulas foram entediantes, mas o tempo que estive sozinha em casa ainda foi mais. Vesti uns calções e uma t-shirt (os dias, mesmo sem sol, estavam incrivelmente quentes, Verónica andava-se a descuidar), e sentei-me no parapeito da janela, a ouvir música e a observar o céu.

Ouvi a campainha, mas não tinha visto ninguém ir entregar nada… desci as escadas e abri a porta. Estava uma caixa no chão, com um laço e um envelope. Agarrei na caixa, levei-a para dentro e pousei-a na mesa da cozinha. Tirei o envelope e comecei a ler a carta que estava dentro dele.

 

«Espero que gostes, vi-te a olhar para ele e não resisti. Diverte-te hoje.»

 

Não estava assinado, e eu não conhecia a letra. Abri a caixa e vi o vestido que tinha estado a ver na montra, três dias antes, com Gwen.

- O quê? – Perguntei, em voz alta.

Olhei para o relógio, eram quase sete horas. Eu tinha pizza no frigorífico, era rápido de comer, e a festa só começava às nove… Porque não?

Levei o vestido para o quarto, esperei mais um tempo e chamei Abby e Dylan para jantar.

- Dylan, vais à festa, lá na escola? – Perguntei.

- Não… vai ser uma seca – respondeu-me.

- Então vais ficar em casa?

- Eu não disse isso… o que é que queres?

- Que fiques com a Abby, para eu ir.

- O quê? Nem sonhes…

- Eu posso ficar sozinha – prontificou-se Abby.

- Nem penses – respondi-lhe – Dylan, por favor.

- Tu nem sequer querias ir a esta festa. O que é que te fez mudar de ideias?

- Só… por favor. Eu raramente te peço alguma coisa. Por favor.

- Está bem, mas deves-me uma – fiquei a olhar para ele seriamente. Se eu lhe devo uma, quantas é que ele me deve? Ele chegou ao fundo da questão em menos de meio minuto – Tudo bem, não me deves nada.

- Obrigado.

Depois de jantarmos subi para o quarto e vesti o vestido, que me ficava a matar. Calcei as minhas sandálias pretas de tiras e salto alto, maquilhei-me e prendi o cabelo atrás. Quando desci as escadas para me despedir, até Dylan ficou pasmado a olhar para mim, por muito que quisesse disfarçar.

Quando cheguei à escola a festa já tinha começado. Estacionei o carro e dirigi-me ao ginásio.

Gwen apareceu atrás de mim, assustando-me.

- Pensava que não vinhas! – Gritou, por causa da música.

- Decisão de última hora! – Respondi-lhe, no mesmo tom – Tu estás linda! – Ela estava com um vestido verde-seco, com folhos na parte de baixo.

- Obrigado! – E depois arregalou os olhos – Oh meu Deus, é aquele vestido! Pensava que não o ias comprar!

- Pois, e não comprei. Apareceu à minha porta com um bilhete.

- Uhh, um admirador secreto?

- Não faço ideia.

Fomos dançar e quando era quase meia-noite fui buscar mais uma bebida. A festa estava espectacular.

- Vejo que trouxeste o vestido – uau, eu não ouvia esta voz há quase duas semanas…

Virei-me subitamente para Derek.

- Era teu? – Perguntei, pasmada.

- Bem, eu nunca o usei… - gracejou ele, mas eu continuei com a mesma cara séria – Eu comprei-o e entreguei-o, mas tecnicamente é da Verónica, ela obrigou-me. Acho que pensou que assim tu ias pensar que nós éramos menos maus…

- Portanto, comprar-me… vampiros serão sempre vampiros…

Dei meia volta e saí de lá.

- Um obrigado custava muito?! – Ouvi.

Caminhei até ao carro e fui para casa.

Quando cheguei as luzes já estavam todas apagadas. Vesti o pijama, uns calções curtinhos e uma blusa de alças, desprendi o cabelo e tirei a maquilhagem. Assim que me meti na cama adormeci, apenas com o lençol por cima.

 

***

 

Acordei sobressaltada, cheia de calor e completamente transpirada. Ainda era de noite, o meu quarto encontrava-se totalmente às escuras. Sentei-me na cama e passei com a mão pela testa.

Comecei a ouvir um barulho, parecia passos muito rápidos, mas não muito ruidosos. Comecei a tentar forçar os olhos a verem pela escuridão, mas foi em vão. Ouvi movimentação de novo e estendi o braço para acender o candeeiro da mesa-de-cabeceira, mas ele não estava lá. Mais passos vieram. Engoli em seco e percorri de novo o quarto com os meus olhos, que não captavam nada.

- Derek? – Perguntei. Afinal, é ele quem entra no meu quarto às escondidas… pervertido…

- Errado! – Ao ouvir isto vi, por um feixe de luz muito reduzido, um corpo jogar-se a mim, deitando-me para baixo.

Não vi a cara, não vi os olhos, estava concentrada nos enormes e pontiagudos dentes que se aproximaram da minha cara a uma velocidade sobrenatural.

 

***

 

- Não! – Exclamei, acordando-me e sentando-me, num reflexo.

Tinha sido só um sonho. Levei a mão à testa e constatei que estava a escaldar. Não tinha febre nem nada, mas a temperatura estava altíssima, e eu estava prestes a ir “mergulhar” a cabeça no frigorífico.

O meu quarto ainda estava completamente escuro, não conseguia ver nada. Ouvi um pequeno ruído e fiquei sem pinga de sangue. Engoli em seco.

- Derek? – Perguntei, sussurrando a medo.

- Estou aqui – respondeu-me, fazendo-me dar um pulo de susto.

Ele aproximou-se e eu consegui finalmente ver, mal, o seu corpo, que mais parecia uma mancha mais escura em toda a escuridão.

Estendi o braço e acendi o candeeiro da mesa-de-cabeceira.

- O que é que estás aqui a fazer?! – Perguntei, furiosa mas aliviada ao mesmo tempo – Eu disse-te para parares de fazer isto!

- Desculpa, eu estava só… a ver-te dormir. Sonhaste comigo? É que disseste o meu nome… - disse, vaidoso.

- Tive um pesadelo – respondi.

- Oh. Estás bem? É que…

- Tens que dizer à tua irmã para baixar a intensidade do “ar condicionado”, ok? Eu estou prestes a virar uma torrada, tal como o resto das pessoas vivas.

- Ok, eu digo. Acho que é melhor ir… a não ser, não queres que te refresque?

- Não… - disse-lhe, decidida.

Ele não ligou, aproximou-se da cama e deitou-se ao meu lado, encostando o seu corpo ao meu.

- Eu acho que queres – murmurou.

Ia começar a ripostar e a chamar-lhe nomes, mas o frio do seu corpo sabia-me tão bem… era ainda melhor que a ideia do frigorífico. Vi a porta do meu quarto abrir-se repentinamente e Abby a surgir atrás dela, com a sua camisa de noite dos coelhinhos, ensonada. Virei-me logo para Derek, sem saber o que dizer a Abby, mas constatei que ele já lá não estava. Ele movia-se a uma rapidez incrível…

- Abby, querida, o que foi? – Perguntei, levantando-me para ir ter com ela.

- Tive um pesadelo – queixou-se. Também eu…

- Outro? O que é que se está a passar? Tu não costumavas ter pesadelos…

- Eu sei… posso dormir contigo?

- Vamos fazer diferente, eu vou contigo para o teu quarto e fico lá até adormeceres, ok?

- E um bocadinho mais? Só para te certificares…

- Claro.

Fui para o quarto dela e esperei até que adormecesse, o que demorou montes de tempo. Ela começou a falar e estava a fazer de tudo para não adormecer, mas finalmente, o sono foi mais forte.

Quando ia voltar para o meu quarto esbarrei com o Dylan.

- Tem cuidado – disse-me. Devia ser a birra do sono…

- Desculpa lá – e dirigi-me para o quarto.

- Como foi a festa? – Perguntou. Mas ele acha que isto são horas para perguntas destas?! A minha vida dava para fazer um reallity show.

- Boa. Vou dormir, até amanhã.

Estagnei em frente à porta do meu quarto. O que é que ia fazer? Tinha um vampiro na minha cama… vou ter que o mandar embora, senão não passo de hoje mas… se ele me quisesse morta, não me teria já matado? Não, não posso pensar assim, ele é um vampiro, um vampiro. Eu devia estar completamente enojada por ter um rapaz morto na minha cama… mas não estou completamente, estou só metade…

Abri a porta e percorri o quarto com os olhos. Nada. Estava completamente vazio, sem sinal de vida… quer dizer, existência, de qualquer tipo.

Suspirei, não sei se de alívio, e dirigi-me à cama. Vi uma rosa vermelha em cima dela. Ao pegar nela piquei-me num dos picos, e olhei em volta, sobressaltada. Agora que me piquei, que duas gotas de sangue caíram, será que ele me vai atacar? Nada. O quarto continuava tão calmo quanto estava antes de me picar.

- Acho que se foi mesmo embora – murmurei.

Pus a rosa em cima da mesa-de-cabeceira, apaguei a luz, e tentei adormecer. Voltei a acordar durante a noite, desta vez com frio. Derek já tinha falado com Verónica.

11 comentários

Comentar post