Déjà Vu Sobrenatural
Dedico este capítulo à minha Bebé Annabella ^^
Ela sempre disse que queria aparecer, por isso neste capítulo cá está :D
(mas calma, ela não tem nada a ver com a personagem)
Capítulo 36
O Diabo bate à porta
- Pareces cansada. – Disse Bryan quando se sentou ao meu lado no sofá, na casa de Phil.
Bocejei.
- E estou. – Respondi.
- O mesmo sonho da noite passada?
- E da outra antes. – A minha voz saía num tom ensonado, quase de aborrecimento. – E é sempre a mesma coisa.
- Mas eu não te tenho ouvido gritar, é que do quarto ao lado ouve-se tudo…
- Isso é porque eu não tenho gritado com este pesadelo. Mas é muito mais desgastante que os outros, é como se eu estivesse acordada e a viver aquilo. Apesar dos outros também parecerem reais, este é mais, é mais… intenso.
- Por isso é que parece que não dormes há três dias e três noites. – Gracejou.
- Não tem graça.
- Mas como é que isso é? O pesadelo… ontem disseste que era como se o pesadelo não chegasse ao fim… como é que não chega ao fim se acordas?
Conseguia ver a curiosidade estampada no seu olhar, mas não sabia como lhe explicar uma coisa que simplesmente sentia.
- Não sei explicar… - Calei-me por momentos à procura de palavras. – Eu estou nesta casa velha, com sangue por todo o lado… e depois há uma porta, e eu tento abri-la mas ela não abre, depois eu dou meia volta e começo a afastar-me mas ela abre… e quando me vou a virar de novo para espreitar acordo.
- E porque é que achas que há mais?
- Eu sinto que há, não sei porquê, mas sinto que há qualquer coisa atrás daquela porta. Mas nunca consigo chegar a saber o que é.
- Achas que vais sonhar com isso até saberes? – Perguntou Jason, encostado à ombreira da porta que dava para a cozinha.
- Honestamente, não faço ideia. Mas espero que não…
- Já estás despachado? – Perguntou Bryan a Jason.
- Já. Vamos?
Eu e Bryan levantámo-nos e despedimo-nos de Phil. Dirigimo-nos para Montpelier, a capital de Vermont.
O caminho ia ser longo por isso aproveitei e recostei-me no carro, na esperança de descansar um bocado. Não pretendia fechar os olhos e adormecer, apenas recostar-me e descansar a cabeça. Mas acabei mesmo por adormecer.
Acordei com uma buzinadela e dei um solavanco para a frente.
- Acordei-te? – Perguntou Jason.
- A porta estava-se mesmo quase a abrir! – Disse eu, bocejando. – Mas eu não ia ver o que se seguia. E não se pode chamar dormir a isto, estou mais cansada agora do que quando fechei os olhos…
- Foi este parvalhão que se pôs à frente. – Reclamou Bryan, acerca de um camião que estava agora à nossa frente. – Há pessoas que não deviam ter carta de condução.
- Deviam ser proibidas de andar na estrada é o que é. – Reforçou Jason. – Ai, desculpa Mel…
- Que foi? – Agora não estava a acompanhar.
- Tu não tens carta… - Pareceu imediatamente arrependido pelo que disse.
- Porque não quero. – Objectei. – Porque bati com o carro num poste…
Começaram-se a rir.
- Não sabia disso. – Disse Bryan, a tentar conter-se.
- Bem, riam-se à vontade, têm razões para isso. Ninguém bate com o carro num poste… - Disse eu, também com vontade de me rir.
- Aleluia. – Jason parecia aliviado. – Chegámos. Prontos para o plano?
Ele e Bryan pareciam bastante empolgados com o plano para esta caçada, mas eu não estava a achar lá muita piada.
- Seja o que tiver que ser. – Acabei por dizer.
Eles saíram do carro e entraram para um agitado posto de polícia. Eles são procurados em todos os Estados Unidos, e acabaram de se entregar às autoridades para que os levassem sobre custódia para a prisão onde estão a acontecer as estranhas mortes.
Tal como previsto, os polícias algemaram-nos e levaram-nos logo nos carros de patrulha. Eles eram demasiado procurados e temidos para serem mantidos ali.
Segui o carro e quando eles entraram tive que me vir embora, só ia poder falar com eles amanhã, durante a hora de visita.
Fiz o check-in num hotel lá perto e fiquei a ver as plantas da prisão para arranjar um plano que os tirasse de lá quando a missão estivesse acabada.
Acordei novamente estafada e completamente fula por nunca conseguir ver o que se esconde por trás da porta que aparece no meu sonho. Tomei um duche rápido e vesti umas calças de ganga com uma blusa castanha escura de meia manga.
Dirigi-me imediatamente para a prisão e depois de muito pedir para falar com Bryan e Jason, deixaram-me. Levaram-me até ao refeitório onde estavam todos os presidiários a comer e eu sentei-me na mesa em que Jason e Bryan estavam. Olhei em volta, além dos reclusos estavam ainda talvez seis guardas armados.
- Alguma coisa nova? – Perguntei, baixinho.
- Não muito. As mortes começaram há aproximadamente três meses, como sabemos. Os corações desaparecem, são comidos. – Respondeu Jason.
- Mas temos alguém com quem achamos que deves falar. – Disse Bryan. – O nome dela é Katricia, chamada mais frequentemente por Kat. É uma traficante que saiu mesmo antes de as mortes começarem.
Soprei, já a pensar nos problemas e dores de cabeça que ia ter para a encontrar e para a fazer falar comigo.
- Onde é que a encontro?
- Por aí, nas ruas. – Jason fazia tudo parecer tão simples.
- Óptimo… - A minha voz soava pessimista. – Como é que ela se parece?
- É uma mulher negra. – Bryan calou-se e ficou a olhar para mim. Fiz-lhe sinal que continuasse. – Só isso. É tudo o que sabemos.
Olhei para a sala em que estávamos, em que talvez 40% dos reclusos eram pessoas negras.
- Vocês estão mesmo a tentar matar-me… - Queixei-me. – Mas como é que se têm aguentado aqui?
- Bem, tu sabes, a comida é uma lástima, e da companhia nem se fala. – Disse Jason. – Mas eles respeitam-nos, os que não nos chamam nomes ou dizem que somos uns paneleiros… aposto que mudavam de ideia se eu lhes apresentasse a minha linda namorada.
- Dá graxa dá. Bem eu…
- Hora da visita acabou. – Interrompeu-me um polícia.
- Já? Mas acabei de chegar. – Ripostei.
- Mas estes são especiais, não podem ser tratados da mesma maneira.
Depois de sair de lá fui comer a uma hamburgueria e depois percorri as ruas à procura de uma traficante de quem nem sabia o aspecto, além de ser de cor, como talvez vinte por cento das pessoas que se encontravam à minha frente.
- Desculpe… - Disse eu, para uma mulher negra, baixinha e toda vestida com roupas rotas. – Você é a Katricia?
Fiz isto a várias mulheres e a resposta foi sempre a mesma, não. Estava prestes a voltar para trás quando vi uma mulher negra, de cabelos compridos às tranças, com um top castanho, umas calças pretas à chunga e uns ténis desapertados, a vender um pequeno pacotinho com um conteúdo branco a um homem com talvez trinta anos.
Aproximei-me dela.
- Katricia? – Perguntei.
- Depende de quem quer saber. – Respondeu ela, bruscamente. Tinha uma pronúncia latina.
- O nome é Melanie.
- És uma polícia? – Virou-se para mim e pôs as mãos na cintura. – Porque se és, tenho que dizer, estou completamente limpa.
- Não sou polícia. Mas tenho que te fazer algumas perguntas. Sobre a prisão.
- Desculpa branquita, se não és polícia, significa que não tenho que te chibar nada. Por isso, estou fora. – Começou a afastar-se.
- Tudo bem. – Gritei. – Posso sempre ir à polícia e dizer que te acabei de ver a vender droga àquele homem.
Parou e voltou para trás. Observou-me durante alguns segundos.
- O que queres saber? – Falava de uma maneira tão rápida que as palavras quase que se atropelavam.
- Aqui não.
- Tudo bem. Segue-me.
Foi à frente e levou-me para um beco. Fez-me sinal para avançar e quando avancei à sua frente ouvi o som de um gatilho.
- Oh, perfeito! – Exclamei retoricamente, quando me virei para ela.
Nunca confies num demónio, mas na realidade, é tão perigoso confiar num demónio como num malfeitor.
Aproximou-se de mim e tirou-me a minha Desert Eagle, que estava escondida na parte de dentro do casaco e mandou-a para o chão.
- Não és polícia mas tens uma arma.
- Também tu. – Revirei os olhos. – Olha, eu só quero falar contigo.
Aproximei-me muito lentamente e aproveitei que ela desviou o olhar para trazer a minha Desert Eagle de volta para mim. Empunhei-a e apontei-lha.
- Pousa a arma. – Ordenou-me.
- Pousa a tua e eu pouso a minha. – Notava-se perfeitamente na minha voz que não estava aberta a discussões.
Ela obedeceu e eu também.
- Despacha lá isto. – Pediu-me, mais num tom de ordem. Era arrogante como tudo.
- Tu saíste da prisão há três meses, que foi quando as mortes começaram a acontecer. – Pude observar a sua testa a franzir-se. – Quem é que anda a matar presidiários?
- O que é que te faz pensar que eu sei?
Aproximei-me dela e olhei-a nos olhos.
- Eu sei que sabes. É coincidência a mais.
- Talvez saiba. O que te faz pensar que te vou dizer?
- Não acho que tenhas percebido bem… - Olhei para baixo, abanei a cabeça e depois agarrei-a pelos colarinhos e encostei-a à parede. – Eu não estou a pedir, por isso começa a desembuchar.
Pareceu que não ia ceder, mas depois a sua cara modificou-se, ficou mais… cooperativa.
- O nome é Anabelle. Ela controla esta coisa esquisita que come corações de mentirosos ou uma coisa assim.
- Onde é que a posso encontrar?
- Não, não, não. Tu não encontras Anabelle. Irmã, Anabelle é que te encontra.
- E se eu a quiser encontrar e ela não quiser?
- Não tenho ideia.
Apertei mais um pouco com ela, mas não me pareceu que soubesse mais alguma coisa, ou se sabia, não dizia.
Voltei para o hotel e chamei Vicky, que me disse que conhecia Anabelle e onde se situava o seu… esconderijo.
Anabelle era uma vampira de três mil trezentos e quarenta e cinco anos, que vivia tranquilamente, sem respeito pela vida humana como é de esperar, mas até agora, apesar dos pequenos massacres, nunca tinha mandado ninguém fazer o seu trabalho sujo.
- E vais combatê-la sozinha? – Parece que ainda depois de tanto tempo Vicky não acreditava nas minhas… capacidades.
- Vai correr tudo bem Vicky.
- Eu vou contigo. O Jason e o Bryan estão presos e tu não vais sozinha. A Anabelle é perigosa, não a subestimes.
Assim que abri os olhos após Vicky ter estalado os dedos encontrei-me numa casa lindíssima.
- Muito… rústica. – Elogiei. – Tens a certeza que é aqui?
- Certezinha absoluta. A Anabelle gosta de modificações, não é como certos vampiros que ficam presos ao passado.
- Ok… vamos lá a isto.
Procurámos pela casa inteirinha e não encontrámos qualquer pista de Anabelle.
A casa era maravilhosa, era de pedra, muito rústica e estava decorada de uma maneira lindíssima em tons de castanhos. Tinha muitos castiçais, velas, candeeiros… tudo o que desse um ar ainda mais refinado à casa.
Descemos para o sótão.
- Whoa… - Disse eu.
À nossa frente estava uma criatura com cabeça de crocodilo, patas da frente de leão e as detrás que pareciam ser de hipopótamo. Era enorme.
- O que é aquilo? – Perguntei, enquanto levei a minha mão lentamente à Desert Eagle.
A criatura estava prestes a saltar para cima de nós, e eu e Vicky permanecíamo-nos o mais quietas possível.
- É um Ammit. – Respondeu esta.
A coisa, Ammit, saltou para cima de nós e eu disparei sem sequer piscar os olhos. Num segundo, estava morto no chão, deitado em cima de uma poça com o próprio sangue, dos ferimentos das balas.
- Correcção. – Disse eu, voltando-me para Vicky. – Era um Ammit. Mas o que é que eles são afinal?
- Ammits também podem ser chamados de Devoradores. Eles devoram a alma dos pecadores depois do seu julgamento final. Basicamente comem o coração de mentirosos. Sentam-se durante tempos infindáveis enquanto um coração está numa balança, numa sala chamada Sala das Duas Verdades e quando o peso vai mais para um lado, comem o coração, e o morto desfaz-se. – Fiz uma careta.
- Mas estas pessoas estavam vivas Vicky. Espera, como é que alguém pode ter um coração na balança e estar vivo?
- Bem, tecnicamente está-se morto, e morto pode-se tirar qualquer parte do corpo.
- Ok, isso é simplesmente perturbador. Mas sendo assim a culpada não é a Anabelle… é o Ammit.
- Não… Ammits só agem no submundo. Ele teve que ser controlado…
- O que é que fizeram ao meu bichinho?! – Perguntou uma voz feroz e ameaçadora atrás de nós.
Virámo-nos lentamente e ficámos de frente a uma rapariga absolutamente radiante. Não devia ter mais de dezasseis anos. Tinha longos cabelos ruivos presos em duas tranças e uma roupa que parecia um uniforme de um colégio, uma blusa branca e uma saia azul, com riscas. Tinha uns sapatos castanhos que faziam também parte do uniforme.
- Deixem-me adivinhar… - Disse-nos. – Melanie a bruxa.
- A própria. – Disse eu.
Ela agarrou-me e mandou-me contra uma parede. Tinha uma força extraordinária para alguém com um aspecto tão indefeso. Bati na parede e caí para o chão. Vi-a a mandar Vicky para fora da cave, depois de a deixar inconsciente e a trancar a porta, que era de vidro.
- Vamos brincar. – Desafiou-me.
- Temos mesmo? – Perguntei, com uma mão na cabeça, que já estava a deitar um pouco de sangue. Olhei para a minha mão. – Oh não…
- Relaxa bonequinha. Eu lido bem com sangue. Sou velha o suficiente para dizer “não”.
- Bom para ti. Não estava preocupada com isso. Só com a dor de cabeça com que ia ficar.
- Claro que estavas. – Dirigiu-se a mim e eu explodi-a… mas nada aconteceu e ela continuou com a sua marcha.
Tentei afastá-la com a telicnese mas nada, nenhum dos meus poderes funcionava nela.
- Estou tão tramada. – Murmurei, antes de ela me voltar a mandar contra outra parede.
Levantei-me lentamente e quando olhei, ela já estava à minha frente. Deu-me um murro que fez com a minha cabeça batesse de novo na parede, fazendo com que ficasse um pouco de sangue lá. Ela olhou para o sangue, parecia estar prestes a perder o controlo. Porque é que os meus poderes não funcionavam?
Desta vez tinha que fazer isto da boa maneira antiquada. Matar um vampiro cortando-lhe o pescoço.
Olhei para ela e dei-lhe um pontapé, mas ela agarrou-me na perna, rodou-me e mandou-me para o chão.
- Eu pensava que eras temida por alguma razão. – Disse-me, a provocar.
Virei-me de barriga para cima e enquanto ela se deslocava fiz-lhe uma rasteira que fez com que caísse mesmo ao meu lado. Pus-me em cima dela e tentei fazer com que não se levantasse, mas ela era demasiado forte e eu estava magoada.
Mandou-me para o lado e pôs-se em cima de mim. Pela primeira vez mostrou a presas, tão brilhantes que me encadearam por alguns momentos e quando olhei para os seus olhos vermelhíssimos, senti um calafrio enorme. Como é que uma rapariga tão bonita se podia tornar numa criatura tão horrenda?
Consegui tirá-la de cima de mim e rastejei, mas ela puxou-me de novo e agarrou-me pela cintura. Pontapeei-a para que me largasse e ao fim de um pouco foi o que aconteceu.
Já estava perto do corpo do Ammit, com o seu sangue a toda à volta.
Ela não se cansava de me puxar de novo para ao pé de si, então tive uma ideia. Molhei nas mãos no sangue do Ammit e mandei-lhe pingas. Ela agiu enojada com tal atitude e largou-me. O tom de voz que usara quando viu o Ammit morto não era apenas por ter perdido um bom matador, mas era, como ela lhe chamou, um animal de estimação. E todos os bons donos adoram os seus animaizinhos.
- Eu pensava que gostavas de sangue. – Disse eu, com as mãos esticadas na sua direcção.
Ela afastava-se, notava-se nos seus olhos que queria atacar, mas o luto era demasiado forte, não iria passar pelo sangue do Ammit.
Elevei um pouco de sangue com a telicnese e mandei-lho. Enquanto ela estava a fazer caretas cortei-lhe o pescoço com o meu punhal, com muito esforço.
Saí de lá e despertei Vicky.
- Mel… O que é que aconteceu? – Pareceu alarmada ao ver o sangue nas minhas mãos e roupa.
- Tem calma, não é meu. – Tranquilizei-a. Bem, pelo menos todo.
Voltámos para o hotel e eu lavei-me e fiquei acordada o resto da noite a tentar desvendar como iria tirar Jason e Bryan da cadeia. Combinámos que Vicky os ia teletransportar. Vicky explicou-me que eu não consegui usar os poderes em Anabelle porque esta tinha um medalhão no colar que anulava os poderes das bruxas. Vicky guardou-o, poderia vir a fazer falta.
De manhã fomos à prisão e fizemos isso mesmo. Vicky teletransportou-os para o carro e eu, que estava pronta para conduzir, carreguei no acelerador. Infelizmente houve um polícia que nos viu a fugir e vieram mais carros patrulha atrás de nós. Comecei a conduzir a alta velocidade.
- Sinto-me como se estivesse num filme policial! – Desabafei, enquanto me ria.
- Tu vais matar o meu carro. – Dizia Jason ao meu lado.
Fiz uma curva apertada sem diminuir a velocidade e o carro derrapou um pouco, mas voltou rapidamente à normalidade. Entrámos numa rua em que não estava ninguém e eu estacionei e saí do carro num ápice.
- Continuem. – Disse eu. – Encontramo-nos no hotel, vou despistá-los.
Os polícias conheciam-me por ter ido visitar Jason e Bryan à prisão por isso sentei-me no chão, no meio da estrada, como se me tivessem mandado para lá e os carros de patrulha pararam à minha frente. Saiu um polícia que veio ter comigo.
- Por onde é que eles foram? – Perguntou-me. – Está bem?
- Perdón. – Disse eu. – No hablo inglés. Mi hermana los conoce. Fueron por allí. – Estiquei o braço a apontar para a rua contrária de onde eles tinham virado e os polícias pareceram entender, pois depois de me ajudarem a levantar seguiram por ali.
«Não acredito que caíram nesta…»
Comecei a caminhar para o hotel. Quando lá cheguei já estava tudo arrumado e pronto para a partida. Não íamos ficar nesta cidade nem mais um minuto.
Fomos para casa de Phil e o resto do dia foi para o descanso.
À noite deitei-me na cama ao lado de Jason, que me envolveu nos seus braços.
- Espero que consigas descansar. – Disse-me.
- Também eu…
Adormeci pouco depois.
Estava numa velha casa, que aparentava ser de madeira, e o chão rangia conforme eu andava. Ouvia barulhos estranhos que podem ser o som do vento a passar por brechas nas paredes ou então murmúrios de fantasmas. Haviam vários símbolos nas paredes, desde pentagramas até outros tipos que não conheço. Havia também uma frase em latim «Afasta-te, ou morrerás» mesmo ao lado do sangue que lá estava. Haviam poças de sangue, sangue nas paredes, e gotas de sangue a caírem do tecto, e depois… aquela porta de madeira que nunca se consegue saber o que esconde atrás.
Caminhei lentamente para a porta e estiquei o braço para agarrar na maçaneta. Pousei a mão em cima e tirei-a instantaneamente, a maçaneta estava coberta de sangue. Voltei a agarrá-la e tentei a abrir a porta, mas nada aconteceu, não se movia nem um centímetro.
Ouvi um ranger atrás de mim e voltei-me.
- Está aí alguém? – Perguntei.
Voltei a virar-me para a porta e forcei um pouco mais. Acabei por desistir e dar meia volta. Dei dois passos quando ouço ranger de novo e me viro para a porta, que já está apenas encostada.
Olhei em volta e os meus olhos pararam num vidro partido que reflectia a minha imagem. Estava lindíssima, com um vestido roxo escuro até aos pés, justo até à cintura e depois a fazer uma pequena roda para baixo e com o cabelo apanhado e preso com um gancho lindíssimo em forma de uma flor roxa e preta.
Voltei a olhar para a porta e avancei cuidadosamente. Encostei-lhe uma mão e empurrei-a, devagar. Isto era mais longe do que alguma vez tinha ido.
- Está aí alguém? – Perguntei, quase a sussurrar devido ao pânico.
Entrei para a sala e a porta fechou-se repentinamente, apagando o único flash de luz que havia, deixando tudo às escuras.
Ouvi passos atrás de mim e virei-me, mas não vi nada. Apareceu um foco de luz que iluminou apenas um espelho. Aproximei-me dele e vi de novo a minha imagem. Atrás de mim apareceu lentamente um homem. Estruturalmente não era assustador, mas os seus olhos arrepiavam-me completamente. Estavam cheios de sede de vingança, de desejo de derramar sangue, sangue inocente. Eu sabia exactamente quem era. Apoiou as suas mãos nos meus ombros e aproximou os lábios do meu ouvido.
- Bem-vinda ao Inferno. – Sussurrou.
Acordei sobressaltadamente, aos gritos e a mexer-me imenso. Fiquei sentada durante uns segundos, a assimilar tudo com o que tinha sonhado. Jason, que acordara com os meus gritos e que me encostara a cabeça ao seu peito, chamava-me mas eu fiquei completamente apática durante uns segundos. Vicky, Phil e Bryan entraram de rompante no quarto.
- O que é que se passou? – Perguntou Bryan.
- Não sei. – Respondeu Jason.
- Mel? – Perguntou Phil, quase como uma súplica para que lhes explicasse o que estava a acontecer.
- Ele está aqui. Vivo de novo. – Disse eu, com um esforço tremendo.
- Quem? – Perguntou Jason.
Olhei-o nos olhos e engoli em seco.
- Lúcifer.
Aproveito para dizer que já só faltam 4 capítulos para a fic acabar