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Spotlight

por Andrusca ღ, em 09.12.10

Capítulo 15

Choque

 

Seth

 

A última semana tem sido de sonho. Desde que beijei Alyson na praia, que não nos separamos. E acho que o pai dela não gosta muito disso. Mas sinceramente não quero saber. Só quero estar com ela. Gostava que pudéssemos estar só os dois, assim juntinhos, para sempre.

Ela estava a olhar para a televisão, mas a sua mente devia estar no mesmo sítio que a minha.

Enquanto brincava com o seu cabelo, divagava mentalmente sobre este ser o penúltimo dia que a tenho comigo. Não quero que se vá embora. Não a posso perder. Não conseguiria sobreviver.

Por um momento, desejei que ela me dissesse que não se ia embora. Quis que ela dissesse que ficaria aqui comigo, sem olhar a qualquer tipo de consequências. E desejei poder dizer-lhe que não ia ser preciso. Que eu iria com ela para Los Angeles. Que não interessava onde ou como, mas que iria arranjar sempre maneira de estarmos juntos. Sempre, independentemente do que acontecesse.

Mas sei uma coisa. Antes de ela ir, tem que saber uma coisa. Tem que saber a verdade.

 

Alyson

 

À medida que o sentia mexer no meu cabelo, a dor no meu coração aumentava. Já nem via, e muito menos ouvia, o que estava a dar na televisão. Estava-me a afundar cada vez mais. Queria ficar com ele. Mas como? Em dois dias vou estar fora daqui. E a minha vida voltará a ser o circo que sempre foi. Em dois dias o sonho vai acabar.

Mas é assim tão errado não querer voltar para a vida real? E se esta for a vida real? Porque é que não posso escolher simplesmente aquilo que quero e que me faz sentir bem?

Toda a minha vida foi programada por agentes, e pelo meu pai. Toda a minha vida… excepto esta última semana. Nesta semana as coisas fluíram naturalmente. Não tive que estar num sítio onde não me apetecia, ou sorrir quando me apetecia fugir. Não. Esta semana foi a melhor semana que alguma vez poderia algum dia desejar. E o Seth foi a melhor pessoa que alguma vez conheci. E tudo o que queria era que o tempo parasse. Mesmo aqui. Mesmo neste momento. E então estaríamos nós os dois, juntos, independentemente do que acontecesse lá fora.

- Estás muito calada – observou ele.

- Sim… - suspirei – Estava a pensar.

- Também eu. Ally, há uma coisa que tenho que te contar.

Sentei-me direita no sofá, desencostando-me dele, e observei a sua cara. Parecia preocupado.

- O quê? – Perguntei.

- Vais achar uma loucura completa mas… quero que mantenhas uma mente aberta.

- Seth, seja o que for, podes dizer.

- Alyson, eu sou…

- Cheguei! – Seth foi interrompido pelo grito do meu pai, ao entrar para a suite. Vi-o mandar a cabeça para trás, pousando-a no sofá.

- Desculpa – sussurrei-lhe.

Ele suspirou e não tardou até ao meu pai praticamente o expulsar daqui.

Levei-o à porta e despedimo-nos com um beijo, com já era habitual. Ele era meu namorado? Quer dizer… sentimo-nos como namorados, tratamo-nos como namorados, parecemos namorados… mas… então e tudo o resto?

Depois do jantar, fui para o quarto e fiquei a falar com Seth ao telemóvel até quase de madrugada. Combinámos que nos iríamos encontrar amanhã às quatro horas, ele vinha ter comigo.

Quando adormeci sonhei com ele. Estou completamente apanhadinha.

Acordei ao ouvir a porta bater, e saí do quarto para ver o que se passava. O meu pai tinha saído, como sempre.

Já era tarde, por isso vesti-me mas não tomei o pequeno-almoço, ia esperar pelo almoço.

Depois de comermos, o meu pai limpou a boca ao guardanapo e observou-me cuidadosamente. Quando faz isto só podem vir más notícias.

- O que é que queres dizer pai? – Perguntei.

- Bem… estás a gostar das férias?

- Sim…

- E sabes que estão a acabar… certo?

- Ainda temos hoje e amanhã – vi-o fazer um certo trejeito com o lábio. Oh não – Temos hoje e amanhã, certo?

- Lamento querida, mas aconteceu uma coisa em LA e temos que ir amanhã cedo.

- O quê? Não posso ficar?

- Ora essa Alyson, claro que não.

- Porquê? Já viajei aí umas mil vezes para filmagens.

- Mas isto não é um filme. A vida não corre sempre como queres.

- Pai, isso não é justo.

- Eu sei que querias ficar, e conhecer melhor estes teus… amigos, mas és minha filha, e não te vou deixar aqui.

- Pai, por favor.

- Alyson, eu disse que não!

Levantei-me da mesa, agarrei na mala que tinha em cima do sofá e dirigi-me à porta. Não conseguia ouvir mais nada que saísse da sua boca. Este era o meu último dia aqui? O meu último dia com o Seth? Não, é cedo demais, não pode ser.

- Alyson Shepherd! Onde é que pensas que vais? – Perguntou-me o meu pai, com aquele tom de voz autoritário que raramente usa.

- Não me posso nem despedir?! – Respondi-lhe um bocado bruscamente, e ele fez uma cara de choque, mas nesta altura simplesmente não me conseguia importar.

Saí da suite e chamei um táxi, que chegou em muito pouco tempo. O táxi deixou-me perto da casa de Seth, e a partir daí caminhei. Estava gelada, tinha-me esquecido do casaco.

Estava quase a chegar à casa de Seth quando senti as lágrimas inundarem-me os olhos. Não, não posso chorar! Eu sou uma actriz, não posso chorar assim!

Contrariei a vontade enorme que tinha em desmanchar-me em lágrimas e quando estava quase a chegar à porta, Seth abriu-a e ficou surpreendido de me ver à sua frente.

- Pensava que te ia buscar… - disse ele.

- Seth, nós precisamos de falar – pedi.

- Sim, mas primeiro eu. Anda.

Fomos até uma falésia que metia medo só de olhar para baixo. Tinha o bosque por trás, e Seth ficou de costas viradas para ele, de frente para mim.

- Olha Ally… eu gosto mesmo de ti – oh não, as lágrimas outra vez não, vá lá Alyson, controla-te.

- Eu sei, eu também gosto muito de ti e…

- Espera. O que eu sinto por ti, não é… não é normal. É como este… vínculo sobrenatural. E eu… bem, fica mais fácil mostrar-te do que explicar. Depois posso responder a tudo o que queiras perguntar.

- Do que é que estás a falar? Seth, eu vou-me embora amanhã.

- Então é mais uma razão para eu fazer isto hoje. Eu sei que ao dizer-te isto, provavelmente estou a deitar tudo a perder e vou-te perder para sempre mas… tenho mesmo que fazer isto. Por favor, por favor, não tenhas medo.

E então o inacreditável aconteceu. Depois de me dar um beijo na testa, desviou-se meia dúzia de passos para trás, e no seu lugar ficou um enorme lobo. Era gigante, mais como um cavalo, mas era definitivamente um lobo.

Mas como? Não é possível, é? Quer dizer… lobisomens não são reais… são apenas ficção, apenas papéis que pessoas como eu podem representar… mas… ele está aqui. E é um lobo. E de alguma maneira, não tenho medo dele. Porque ao olhar naqueles doces olhos castanhos, sei que lá dentro está o meu Seth.

Senti uma coisa molhada escorrer-me o rosto e limpei-o. Era uma lágrima.

Finalmente percebi o que não queria ver a todo o custo. O Seth é um lobisomem… e…

- Nunca poderemos estar juntos – murmurei, ao limpar outra lágrima. Aproximei-me de Seth e afaguei-lhe o pescoço – Eu amo-te, e lamento… mas nunca poderemos estar juntos…

Desviar-me dele assim requereu mais energia do que aquela que eu estava preparada para dar, e correr dali para fora ainda foi pior. Enquanto corria e chorava, lembrava-me dos momentos passados. De tudo.

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