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Destino Amaldiçoado

por Andrusca ღ, em 09.02.11

Ah, estou tão feliz, vocês gostaram do primeiro capítulo *-*

Espero que também gostem deste...

 

Capítulo 2

O Encontro


Acordei sobressaltada, o despertador não tocou, por isso estava atrasada. Era a minha primeira entrevista para um trabalho de que realmente gostava. Agora que estava em São Francisco tinha que tentar endireitar a minha vida, torná-la mais normal, e, como a maior parte das pessoas normais, tinha que conseguir manter os demónios afastados dela. A entrevista era para trabalhar numa discográfica, como adoro música era um trabalho perfeito.

Vesti umas calças de ganga justas e uma t-shirt cor de laranja. Calcei umas botas por cima das calças.

O caminho até lá foi fácil de encontrar, apesar de já não vir cá há seis anos e tal ainda me lembro de muita coisa daqui.

Reparei que fizeram obras na rua ao lado da minha antiga casa, aquele lindo e exagerado casarão onde vivi o meu maior pesadelo até agora. O espaço que em tempos a minha casa ocupava, ainda estava vazio, está para venda mas aparentemente, e apesar de ser num dos melhores sítios de São Francisco, o facto de terem lá morrido duas pessoas e de não haver aparente causa para o incêndio, levou as pessoas a acreditarem que está amaldiçoado. Quem sabe...

Finalmente, quando cheguei à discográfica, entrei pela porta principal e dirigi-me ao balcão.

- Bom dia, tenho uma entrevista marcada com a Sra. Notburg.

- Nome por favor.

- Joanna Cronwell.

- Muito bem, acompanhe-me por favor.

Passámos por um corredor largo e com muitas portas, estava muitíssimo bem decorado, em tons de dourado, vermelho e preto. Finalmente avistei uma porta com o nome da Sra. Notburg.

Entrei.

- Bom dia, Joanna certo?

- Sim, bom dia.

- Bem-vinda à minha discográfica, senta-te por favor.

Obedeci.

- Vamos começar então. – Disse-me enquanto me observava de cima a baixo.

- Muito bem, o meu nome é Joanna Cronwell, tenho 21 anos, nasci aqui em São Francisco mas morei fora uns anos, primeiro com uma tia minha em Toronto, depois andei a viajar, fui a L.A., Las Vegas, Nova Iorque... e agora voltei e pretendo assentar. Não tenho registo criminal...

Fui interrompida.

- E porque acha ser a pessoa adequada para este trabalho?

- Bem, eu adoro música, percebo bastante, toco guitarra e já me disseram várias vezes que canto bem. Apesar de não estar do lado em que se está a gravar acho que posso motivar quem lá está.

- Quanto ao registo criminal, disse que não tinha, mas pelo que estou a ver nos papéis foi uma vez apanhada a assaltar uma loja de desporto.

- Não foi bem isso que aconteceu... eu estava lá... – Não podia dizer que estava a matar o demónio da electricidade, então é que não me dava mesmo o trabalho. -...dentro, mas não estava a roubar nada, foi uma confusão... – Ups.

- Pois, pois, bem isto é tudo por agora. Pode ir, se for a escolhida irá receber um telefonema nesta semana.

- Obrigada, um resto de um bom dia.

- Igualmente, igualmente.

Vi na cara dela que não me ia dar o lugar. Há certas coisas que não é preciso sonhar para se saberem.

Como não tenho carro fiz o caminho todo de volta a pé. Passei pela praia.

O sol estava quente, era aproximadamente meio-dia. Sentei-me a olhar as ondas. Quando era pequena sonhava em ser uma sereia, gostava de passar o tempo todo dentro de água, se bem que não precisava de ser sereia para isso... o mar acalma-me, para mim não há nada como sentir a brisa e o cheiro do mar. Passei tempos a olhar para o mar. Quando dei por mim já eram 14:30h, parecia que estava em transe, não queria que aquele momento acabasse, não queria voltar para a vida real, para a minha vida real.

Levantei-me e fui comprar um cachorro-quente.

Parei no Golden Gate Park. Estava lá um rapaz a brincar que me fez lembrar o quanto eu era feliz como criança. Soltei um sorriso.

Acabei por dar tantas voltas que às tantas já não sabia onde estava, reparei numa casa lindíssima. Tinha dois andares, era amarela clara e tinha umas tulipas à entrada. E à sua frente lá estava, o que eu mais queria evitar, do que eu queria fugir. Em frente à porta estava um deles.

Tinha um machado enorme cheio de faíscas e parecia pronto a atacar. Só o conseguia ver por trás, tinha umas calças compridas que pareciam de fato de treino amarelo desmaiado e estavam rotas, tinha uma blusa muito quente para a altura do ano em que estávamos e o cabelo era preto com umas madeixas brancas. Apesar de não ser o que planeei para São Francisco, não pensei duas vezes. Lancei-me sobre ele, mas ele era demasiado forte, elevou-me no ar e mandou-me contra a porta, abrindo-a. Derrubei uma pequena mesa que estava no meio do hall. Levantei-me. Lutámos, mas ele era muito forte, demasiado forte, e para ser sincera estava um pouco destreinada. Derrubou-me outra vez, como era imune à minha imobilização, tentei explodi-lo. Só lhe afectou um braço, mas fez com que gritasse de dor.

Quando dei por mim estava sozinha. De repente entrou uma mulher pela porta que ligava a outra divisão.

- Eu posso explicar tudo, juro – Como poderia jurar uma coisa destas?! Ela nunca acreditaria em mim.

Reconheci-a, era a dona do High Spot.

- O que és tu? – Perguntou-me na defensiva.

- Joa... espera, disses-te «o que és tu»? – Desta não estava à espera.

- Eu já disse para dizerem ao vosso Mestre que quantos mais mandasse, mais morreriam, parece que tens azar, és a próxima da lista.

- Eu... espera, estás a falar de... demónios? – Custou-me pronunciar o nome.

A cara dela não se alterou, noutras circunstâncias ter-me-iam chamado louca.

- Do que mais haveria de estar a falar?

- Então tu sabes...

- Claire, Sue – Gritou

- Quem... – Não tive tempo de acabar.

Apareceram outras duas mulheres, ambas extremamente belas.

Sheilla, Claire e Sue, de repente estavam as três a olhar para mim. Tinham as três as feições muito parecidas, eram morenas apesar de uma ter o cabelo mais claro, não sei se era a Sue ou a Claire. Sheilla era a que tinha o cabelo maior e os olhos mais expressivos, as outras pareciam tão calmas quanto ao assunto como ela.

De repente percebi. Uma casa grande, três mulheres, o marido dela ter falado comigo no bar...

- Vocês são As Bruxas, não são? – Perguntei com a curiosidade estampada no olhar.

As caras delas alteraram-se.

Uma delas falou:

- Como assim se somos, como sabes disso? Quem és tu? – Tinha uma voz doce.

- Chamo-me Joanna Cronwell, eu também sou... uma… bruxa.

Agora havia um silêncio constrangedor. Elas estavam pasmadas.

A que eu conhecia, Sheilla chamou o seu marido Louis, e com ele veio também outro homem igualmente atlético a quem chamaram Josh.

Eu não sabia o que fazer, estava naquela casa maravilhosamente enorme com uma família inteira a olhar para mim e a falar baixinho, quase em sussurros sobre mim. O primeiro a chegar-se à frente foi Louis.

- É bom voltar a ver-te. – Afirmou, parecendo sincero. – Tenho que admitir que quando te vi ontem à noite esperava que fosses mesmo quem aparentavas ser... a Escolhida.

Senti um frio na barriga. Sabia que me chamavam assim, mas após todos estes anos ainda não me tinha habituado à ideia.

- Talvez seja. Vocês são quem eu estou a pensar, não são? – Ele confirmou – Bem... Que fixe! Bem, ouvi falar tanto sobre vocês, deve ser óptimo ter uma família de quem não se tem que esconder este segredo, ouvi tantas histórias sobre a vossa família, é claro que nunca esperei conhecer-vos mas...

Sheilla interrompeu-me.

- Nós não sabemos quem és. Não sabemos se és quem afirmas ou não, por isso é bom que não te mexas até te dizermos que podes, ou vamos ter que te fechar em qualquer sítio.

- Sabes que posso rebentar portas, certo? Tu és a irmã mais velha... já devias saber das histórias – Respondi em tom de graça. Ela não achou piada mas uma das irmãs riu-se.

- Bem – Disse a outra voz masculina – Se não confiam nela e não sabemos se está a dizer a verdade ou não, só temos uma coisa a fazer, temos que chamá-Los. Se Eles lhe concederam os poderes sabem se é verdade ou não. É a única solução.

Não precisei de pensar muito para descobrir de quem falavam. Estavam-se a referir aos Criadores. Eles criaram tudo o que conhecemos em conjunto com Deus, pelo que ouvi dizer são muitos mas apenas conheci quatro ou cinco. Eles deram-me a notícia de que era... a Escolhida quando eu tinha 16 anos, apesar de já ter percebido que havia algo de diferente em mim. Explicaram-me o meu destino e tudo o mais. Apesar de tudo, eram muito controladores e mandões. A minha vinda para São Francisco era também para os afastar, agora que penso nisso acho que não tinha sido muito boa ideia.

Ia começar a resmungar acerca da ideia mas concluí que se queria que eles acreditassem em mim teria que mostrar que podiam, e se eles precisavam da palavra de um Criador, então que fosse.

- Muito bem então. – Disse, torcendo o nariz.

Eles juntaram-se a um canto e sentaram-se numa mesa. De onde estava já conseguia ver a sala. Tinha um sofá enorme, bege, com um cobertor por cima. Tinha a televisão em frente e uma mesa enorme ao lado. Quem construiu e decorou a casa tinha um gosto espectacular.

Reparei num pequeno rapaz, não devia ter mais de três anos. Estava a olhar para mim com uma cara curiosa. Aproximei-me dele.

- Olá. – Disse-lhe – Chamo-me Joanna, mas tu podes-me chamar Jô. Como te chamas?

Ele pareceu assustado.

- Está tudo bem. – Disse-lhe, agarrando-lhe na sua pequena e suave mão. – Eu não te faço mal.

- O meu nome é Chad.

Ele era tão querido. Era loirinho e tinha os olhos azuis-escuros. Era muito branquinho e os lábios eram rosados.

- És muito bonita... Jô – Disse-me.

- Obrigada, tu também Chad – Respondi sorrindo.

- O que é que estás a fazer? – Gritou uma voz enfurecida. Era Sheilla. – Eu disse-te para ficares quieta, afasta-te do meu filho. – Continuou.

Quando me virei para Chad vi-o a teletransportar-se para junto da mãe. Tal e qual como os Criadores. Então lembrei-me que nas histórias que ouvira Sheilla era casada com um Criador Aprendiz, que mais tarde se tornou humano para poderem ficar juntos. Por isso Louis notou logo em mim. Já devia estar à minha espera.

- Desculpa a Sheilla – Disse uma voz suave. – Ela é muito protectora em relação aos filhos. Sou a Claire, ou a irmã do meio, como me deves conhecer.

Ao contrário de Sheilla, Claire aparentava ser muito simpática.

- Não faz mal, eu percebo. – Respondi. – Afinal, eu sou uma estranha. Com a vida que vocês levam, quer dizer, nós levamos, é difícil confiar nas pessoas. Espera, se és a irmã do meio então és a mulher daquele outro homem ao pé do Louis?

- Josh. Não, ele é marido da Sue.

- Ele é um...

- Criador? – Afirmei, à espera do resto. – Não, ele é um anjo da guarda. Tem várias pessoas para tomar conta... é como um babysitter mas de pessoas adultas.

Rimo-nos as duas. Foi quando Sue se juntou à conversa.

- Claire, o Rick telefonou. Disse que ia chegar atrasado, teve um compromisso no hospital. – Ao que Claire agradeceu.

Nesse momento, na sala entra o resto da família com um dos Criadores.

- Bons olhos te vejam Jô. É um prazer depois de tanto tempo. – Disse-me o Criador.

- O prazer é todo seu. – Resmunguei baixinho. – Então é isso, já me reconheceu, já sabem quem sou, podemos acabar com isto e posso ir à minha vida? – Perguntei, já num tom alto.

- Claro. Mas estou curioso, porquê São Francisco? – Perguntou.

- Porque não? – Retorqui.

- Ambos sabemos que para ti não é o melhor sítio do mundo.

- Também não é o pior.

- Bem, acho que nos vemos depois. Abençoados sejam, todos vocês.

Ainda não tinha reparado mas tinha passado a tarde toda ali. O sol já se estava a pôr.

Ouvimos um estrondo. O demónio do princípio da tarde voltou. Agora não queria só matá-las, queria-me também a mim. Algo o fez mudar de ideias enquanto se encaminhava para mim. Com um pequeno gesto agarrou o pequeno Chad e levou-o consigo sem nos dar nem tempo para pestanejar.

A histeria instalou-se naquela casa. Todos queriam ajudar o pequeno Chad e todos tentavam acalmar Sheilla mas não sabiam como.

Eu tentava ajudar, apesar de me sentir intimidada, porque ao pé delas, grandes bruxas, eu não passava de uma miúda.

- Vai-te embora! – Disse-me Sheilla bruscamente. – Já fizeste o suficiente. É melhor ires antes que te ponha a arder.

Olhei para o resto da família. Todos me olhavam, sérios, à espera que saísse. Nem Claire me defendeu. Como podia aquilo ser culpa minha? Saí, mas no meio de tudo aquilo só queria ajudar o pequeno Chad. Pobrezinho, devia estar num sítio qualquer horrível e malcheiroso, sozinho, frente-a-frente com uma criatura assustadora.

Pensei em ir-me embora como todos disseram, mas fiquei à porta montes de tempo, a pensar se devia ou não ir atrás daquela besta.

Já estava provado e visto que a minha vinda para São Francisco não altera as minhas responsabilidades como a Escolhida, por isso para quê fugir? Porquê correr? Qual o objectivo de me esconder se depois tenho sempre que abandonar o esconderijo para salvar alguém? Será que o melhor era desistir de tentar levar uma vida normal? Desde que comecei esta “cruzada” que salvo algum inocente, bem, neste momento o inocente é um bebé inofensivo, meio bruxo, meio Criador, chamado Chad. Nem sabia o que havia para pensar. Eu não sabia, mas a minha decisão estava tomada mal vi o demónio agarrá-lo. Não o ia deixar. Por muito que Sheilla me gritasse, ia salvar aquela criança.

Fui a casa e consultei uns livros, fiz a poção mais forte que conhecia e agarrei num casaco. Não foi difícil descobrir o esconderijo. Já anoitecera. O carro de Sheilla estava lá estacionado. Não era possível toda a família lá caber, mas, como Sue tem poderes de Criadora, como Chad, pode-se teletransportar levando quem não cabe no carro com ela.

Quando entrei estava escuro. Segui os corredores de pedra e fui dar a uma espécie de sala redonda. Tinha umas fogueiras espalhadas e umas tochas presas à parede. Vi toda a família presa numa jaula, menos Chad, que estava amarrado numa espécie de maca. Vi o demónio ao lado dele. Escondi-me. Não tenho plano, acho que desta vez é para atacar às cegas.

Esperei pelo momento certo e ataquei-o. Não pareceu esforçar-se muito para me mandar ao chão. Levantei-me e recomecei apesar de ter perdido a poção de vista. Mandou-me ao chão mais umas vezes. Parecia que nada do que lhe fizesse o magoava. Parecia feito de pedra. Mas todas as pedras quebram, de uma maneira ou de outra.

Pus-me de pé e lutámos. Parecia que dava um passo em frente e dois atrás. Era completamente frustrante. Tinha mesmo que treinar mais, se esta era a minha vida tinha que me esforçar um bocadinho mais.

Finalmente, após de cair vezes sem conta, consegui derrubá-lo. Não deve ter ficado mais de 5 segundos no chão mas chegou para eu ver onde estava a poção. Chad estava a olhar para mim. Não parecia nada assustado como eu imaginei que estaria. O olhar dele estava calmo. Como se confiasse 100% em como eu ia conseguir, ia matar o demónio e que o ia salvar e à família dele, que assistia sem fazer barulho nenhum.

Sem pensar muito fiz-lhe um sinal e ele teletransportou a poção para mim, mandei-a para o demónio, que começou a arder, em chamas vermelhas vivas e laranjas amareladas.

Cortei as cordas à volta do pequeno Chad, que me abraçou. Cheirava tão bem. Em seguida abri a porta da jaula de onde saiu o resto da família, que rodeou o pequeno Chad para ver se ele estava bem.

Doía-me o corpo todo, estava a sangrar dos joelhos e tinha as costas super doridas, deviam estar todas esfoladas para variar. Tinha ainda um arranhão na face. Afastei-me subtilmente e quando estava perto da saída ouvi alguém atrás de mim. Era Sheilla.

- Desculpa ter desconfiado. Eu não te queria ter tratado daquela maneira, mas eu não te conheço. E por teres salvado o meu filho agradeço-te porque sinceramente, se não fosses tu estávamos perdidos ali dentro... – Disse ela.

Notei a sua sinceridade.

- Não, não estavam. Eu li sobre vocês, ouvi montes de histórias em como davam sempre a volta à situação. Tenho a certeza que arranjavam uma maneira, arranjam sempre. Quanto a não gostares de mim não posso fazer nada, mas gostava de aprender mais, sobre tudo e acho que vocês são as pessoas ideais para me ensinarem, eu podia ajudar-vos no que quisessem e...

- Podes contar connosco... e... eu até gosto de ti.

O resto da família já se encontrava junto a nós. Sue, agarrou-me no rosto e tocou-me no corte, senti-o fechar, sarar, e o mesmo aconteceu aos joelhos. Não sei como o fez mas aparentemente o seu poder era curar. Poucos segundos depois, nem as costas me doíam.

 

Que tal?

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