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Espinhos de Rosas

por Andrusca ღ, em 26.09.10

Este capítulo é um bocadinho maior que os outros, mas acho que ficou bem :D

Espero que gostem.

Bjs

 

Capítulo 19

Intrusos

 

Derek tem andado sempre perto de mim e a vigiar-me nos últimos dias, e eu nem sequer me oponho. Depois do que aconteceu no bosque, acho que finalmente percebi a perspectiva dele sobre o perigo que enfrento, por isso acho melhor não passar por riscos desnecessários. Dei-lhe o frasco com o sangue do vampiro, era a última coisa que ia querer perto de mim, ou dos meus irmãos.

Com o meu telemóvel partido Derek arranjou um pretexto para me dar uma prenda: um novo telemóvel todo XPTO. Ele disse que o outro já era meio velhinho e que não gostava, por isso ofereceu-me um moderno, um telemóvel Touch Screen, branco e com uma flor a cor-de-rosa atrás. Não me serviu de nada dizer-lhe que não precisava, porque no fim ele ainda queria adicionar um MP3 à lista. Será que as minhas coisas são assim tão más?

Verónica e Gary também têm andado mais juntos de mim, tanto na escola como em casa. Faça como faça, nos últimos dias os únicos momentos em que estou sozinha são para dormir. E mesmo assim quase que aposto que sou vigiada…

Gwen anda a estranhar este novo comportamento dos irmãos, e Lisa não pára de falar no assunto.

Ontem fui, sem querer, de encontra a Josh e ele mandou-me bocas sobre os irmãos que não gostei nada, nunca pensei que ele ainda estivesse azedo por causa da separação. Até ele já devia estar à espera que ela chegasse.

Abby anda feliz da vida por ter Verónica connosco lá em casa, desde que eu tive aquele acidente de carro e Verónica e Gary ficaram com os meus irmãos, que conquistaram Abby.

Gary tem concentrado o seu tempo em seguir Dylan porque, segundo Derek, o traficante pode usar qualquer pessoa perto de mim para me apanhar. Quando não está na nossa casa, Verónica segue Gwen, discretamente.

Avistei Derek a dirigir-se ao seu carro e corri até ele.

- Derek! – Chamei.

Ele virou-se logo para mim, um bocado alarmado, mas quando viu que eu estava bem descontraiu.

- Está tudo bem? – Perguntou.

- Sim – cheguei ao pé dele e respirei fundo -, mas a Gwen quer ir dormir lá a casa hoje e ficar lá o dia todo amanhã.

- À tua casa?

- Sim, eu inventei milhões de desculpas mas nenhuma pegou. Acabei por dizer que sim.

- Ok, não é problema, em vez de eu estar dentro de casa vou estar do lado de fora. Assim posso dar folga ao Gary e à Verónica, já que vão estar todos no mesmo sítio.

- Ok mas… ela não sabe dos vampiros, eu gostava que continuasse assim…

- Ok, da minha boca não sai nada.

- Obrigado.

- A que horas é que ela vai?

- Às seis e meia. Eu agora vou buscar a Abby e depois vou directamente para casa, ok?

- Ok, eu vou falar com os meus irmãos e depois vou ter contigo à tua casa, combinado?

- Ok.

- Ficas bem entretanto? Não tens medo?

- Eu fico bem Derek.

- Ok, até já.

Entrou para o carro e eu dirigi-me ao meu. Fui buscar Abby e fomos directamente para casa, e Dylan já lá estava.

Eu e Abby fizemos logo os trabalhos de casa para ficarmos livres para o fim-de-semana.

Gwen chegou um pouco mais cedo que o previsto e ficámos as três a ver um filme. O meu telemóvel tocou pouco depois e era Derek a dizer que já estava ao pé da casa.

Fiz o jantar e depois Dylan foi para o quarto e Gwen foi com Abby para o meu quarto, enquanto eu fiquei a arrumar a cozinha. Gwen queria-me ajudar, mas eu prefiro que ela esteja com Abby para o caso de acontecer alguma coisa.

Ouvi baterem muito levemente na porta das traseiras, que está na cozinha, e virei-me sobressaltada. Aproximei-me e abri a porta. Era Derek.

- Queres entrar? – Perguntei.

- Não, eu vim dizer que tenho que ir a casa, estou a começar a ficar com sede Chloe.

- Oh, ok.

- Queres que telefone à Verónica ou ao Gary para que um deles venha ocupar o meu lugar?

- Não, a casa está cheia, duvido que o vampiro ataque assim, ele deve preferir-me sozinha.

- Acho que tens razão. Demoro menos de uma hora, prometo.

Ia para lhe responder, mas ele já lá não estava.

Passei pela sala para subir as escadas e vi que estava a dar a série preferida da Gwen e da Abby, elas são parecidas em montes de coisas. Ficámos as três a ver. Dylan desceu pouco depois e sentou-se ao pé de nós, a jogar na PSP. Será impressão minha ou o Dylan está a tentar socializar um bocadinho?

A primeira meia hora foi uma seca para mim, especialmente porque não gosto da série que elas estavam a ver.

Ouvi de novo como se estivessem a bater apenas com as unhas na porta das traseiras e calculei que Derek já tivesse chegado, mas levantei-me para ir confirmar.

- Onde vais? – Perguntou Gwen.

- À cozinha, volto já.

Fui até à porta e abri-a, mas não vi ninguém. Fechei-a e voltei-me para ir para a sala e gelou-me o sangue todo.

- Eu avisei-te – disse-me o vampiro alemão traficante.

Engoli em seco e tentei agarrar numa faca, mas ele impediu-me e fez-me cair de encontra aos armários. Caíram alguns copos e partiram-se. Ouvi passos na nossa direcção e quando olhei para a porta vi Gwen, Abby e Dylan horrorizados a olharem para os dentes e os olhos do vampiro.

- Corram! – Gritei.

O vampiro dirigiu-se a eles, eu agarrei numa faca e tentei cortar-lhe a cabeça enquanto estava de costas, mas não tive força suficiente, a pele dele era tão rija quanto parecia, e ele agarrou-me e mandou-me para fora da cozinha. Enquanto ele tirava a faca que lhe ficara cravada no pescoço, agarrei na mão de Abby e comecei a empurrar Dylan e Gwen pelas escadas acima.

Gwen e Dylan correram para o mesmo lado, e eu e Abby corremos as duas para a casa de banho e eu fechei a porta e tranquei-a, embora saiba que não é isso que o vai impedir de nos apanhar.

Ficámos as duas paradas, em frente à porta, a suster a respiração o mais que pudemos.

- Ele vai matar-nos – sussurrou Abby – Assim como o outro vampiro matou o pai.

Olhei para ela chocada.

- O quê? – Perguntei, no mesmo tom baixo que ela – Abby, tu lembras-te disso? Só tinhas três anos…

- Acho que têm razão quando dizem que há coisas que ficam para sempre.

- Querida, eu juro que não fazia ideia. Tu podias ter-me dito…

- O que é que vamos fazer? – Ela estava em pânico, e eu não conseguia ajudar a aliviar a tensão, porque também estava.

- A única coisa que podemos fazer: ter fé – ela sentou-se na sanita e eu olhei para o espelho – Eu preciso de ir agarrar o meu telemóvel.

- O quê? Não, não podes! – Tapei-lhe a boca porque estava a falar demasiado alto.

- Shh, não fales tão alto – pedi, tirando a mão. Ela concordou com a cabeça – Eu tenho que ir Abby, tenho que telefonar ao Derek para que ele se despache e nos venha ajudar.

- Mas…

Tirei o colar do pescoço e pu-lo ao pescoço dela.

- Fica com ele – pedi – É para te dar protecção, ok? – Ela estava obviamente aterrorizada. Pus-lhe as mãos na cara e fiz com que me olhasse nos olhos – Abby, eu não sou o pai, ok? Não vou morrer, nós vamos ficar todos bem, prometo.

- Mas…

- Sem “mas”. Eu vou ficar bem – dei-lhe um beijo na testa e destranquei a porta – Tranca a porta quando eu sair e não saias daqui, ouviste?

- Sim.

Respirei fundo, abri a porta e fechei-a. Eu não acredito nem numa das palavras que disse a Abby. As chances estão contra mim, e é completamente de loucos pensar que consigo achar o meu telemóvel sem ser descoberta.

Olhei em volta. Estava tudo calmo, e não havia ninguém empoleirado no candeeiro nem no tecto, o que só por si já era um alívio.

Entrei para a porta que estava mais próxima de mim, que era o quarto de Abby, e procurei pelo telemóvel. Ajudava se me lembrasse de onde o tinha posto...

Comecei a ouvir um barulho que parecia ser qualquer coisa a tremer… e então vi o telemóvel de Abby em cima da cama. Alcancei-o e atendi.

- Dylan, vocês estão bem? – Perguntei, a sussurrar.

- É a Gwen – respondeu-me Gwen do outro lado – Não sei onde o Dylan está. Eu estou no quarto dele. O que é que se está a passar?! Chloe, estou com medo.

- Eu sei, não és a única. Não saias daí, ok? Vai ficar tudo bem.

Desliguei sem lhe dar a oportunidade de responder. Eu tinha um telemóvel na mão e não me lembrava da porcaria do número que precisava. O número de Derek. Abri a porta e espreitei para o corredor, não vi ninguém. Lembrei-me de onde tinha posto o telemóvel, ficou em cima da mesa da cozinha. “Perfeito, simplesmente perfeito…”, pensei.

Dei poucos passos e depois ouvi um barulho muito fininho atrás de mim. Virei-me sobressaltada e não vi nada.

Voltei a virar-me para as escadas e vi um homem de cabelo ruivo, apanhado num rabo-de-cavalo, e a barba por fazer. Era o homem que tinha dado o sangue de vampiro, como droga, a Dylan. O homem que me tinha quase morto no bosque. O vampiro que me quer morta acima de tudo. Os seus olhos metiam medo ao susto e os dentes também não deixavam ninguém confortável.

Mal o vi a levantar o braço, e quando dei por mim estava a rebolar pelas escadas abaixo. Quando cheguei ao fim, mal me consegui mover para me levantar. Olhei para o cimo das escadas e ele já não estava lá. Olhei em volta, nada.

Corri até à cozinha, mas tropecei e caí mesmo à estrada. Ouvi um riso.

- Uau, tu és mesmo destemida. Ou burra – disse ele, com a sua pronúncia alemã irritante.

- Sim, e tu és persistente até dizer chega. Ou teimoso – Resmunguei.

Levantei-me e olhei para ele. Se eu não chegar àquele telemóvel e não chamar ajuda, então está tudo acabado para toda a gente dentro desta casa. Bem, todos os que estejam vivos. Engoli em seco. Como é que vou fazer para telefonar a Derek?

Olhei para a mesa, com cinco passos chegava lá, o problema é que o vampiro só precisaria de um.

Vi Dylan aparecer por trás do vampiro e dar-lhe com um dos castiçais da mesa da sala de jantar na cabeça. Qualquer pessoa teria ficado inconsciente, desde que não fosse vampiro. O vampiro virou-se para Dylan e mandou-o com toda a força para as escadas. Ele ficou quieto, provavelmente ficou desmaiado.

Aproveitei a distracção do vampiro para agarrar no telemóvel, mas ele tirou-mo da mão no segundo a seguir e deu-me uma chapada que me mandou de novo ao chão. Eu odeio mesmo este tipo.

Eu estendi o braço e após andar aos apalpões, agarrei num prato que estava em cima do balcão e dei-lhe com ele na cabeça. Ele continuou a olhar para mim sem se mover um único milímetro, e os vidros caíram-me todos em cima.

- Sabes, eu antes queria matar-te, agora também te quero fazer sofrer – e deu uma daquelas gargalhadas roucas dignas de filmes de terror.

Vi Gwen aparecer e dar-lhe com um chapéu-de-chuva, também na cabeça. Ele virou-se para ela e mandou-a, só com uma mão, de encontra a uma das cadeiras, deitando-a abaixo.

- Vocês nunca se cansam de me mandar coisas à cabeça, pois não? Humanos patéticos.

Pôs-me de pé e olhou-me directamente nos olhos, e aproximou os seus dentes afiadíssimos do meu pescoço. Não me conseguia soltar, não conseguia fugir. Era agora, o fim. Ia-me morder.

- Ahh! – Gritei, ainda antes de ele cravar os dentes na minha pele, e depois caí para trás. Olhei para todo o lado até que vi Derek a lutar com ele. Levei a mão ao pescoço, estava intacto. Gwen observava tudo com os olhos prestes a saírem-lhe das órbitas. Derek também já tinha deitado os dentes cá para fora.

Levantei-me e comecei a remexer nas gavetas à procura da maior faca que tinha, até que finalmente a encontrei. Eles estavam na sala.

Corri até eles e vi que Derek estava relativamente perto.

- Derek! – Gritei, e assim que ele olhou mandei-lhe a faca. Ele agarrou-a e num movimento eficaz cortou a cabeça ao vampiro, que se transformou em areia negra.

Respirei fundo por fim e depois desatei a subir as escadas. Dois já cá estavam em baixo, agora falta a Abby. Tentei abrir a porta da casa de banho e depois lembrei-me que estava fechada.

- Abby, sou eu, abre a porta – ela obedeceu e eu entrei – Está tudo bem, ele já se foi.

Quando retornámos ao andar de baixo Derek e Gwen já tinham acordado Dylan, que estava sentado no sofá da minha sala destruída, a olhar para o além. Abby sentou-se ao lado dele e de Gwen, com a mesma expressão que todos tinham. Eu dirigi-me a Derek, que estava ao pé da porta da cozinha, com uma cara de caso.

- Obrigado – disse-lhe –, eu podia estar morta a esta altura. Obrigado.

- Não agradeças ainda – ok, ele estava esquisito – Vamos, esta noite ficam na minha casa.

Fomos os cinco no carro dele para a sua casa, a viagem foi bastante silenciosa, só se ouvia a música do rádio, que ia baixa. Quando chegámos os meus irmãos e Gwen ficaram de olhos arregalados ao verem aquela beleza de jardim e a enorme mansão. Das outras vezes que cá estive não reparei, nunca vim de bom humor ou de própria vontade, mas de noite há luzinhas espalhadas por todo o jardim.

Derek estacionou o carro na garagem e acompanhou-nos até à sala. Verónica e Gary apareceram logo.

- O que é que aconteceu? – Perguntou Verónica, alarmada – Estão todos bem?

- Sim, eles estão bem, mas vão passar cá a noite – esclareceu Derek.

- Foram atacados? – Perguntou Gary.

- Fomos – olharam os três para mim – Desculpem, não percebi que era uma conversa entre irmãos…

- Não era, mas não estava à espera que fosses falar depois do que passaste. Pensei que estivesses em choque ou assim – o que Derek disse até faz sentido, qualquer pessoa normal estaria, e o facto de ainda não ter aberto a boca depois de ter sido salva ajuda.

- Eu estou bem – até me surpreendi a mim mesma quando me ouvi a dizer isto, e ainda mais quando percebi que estava a ser sincera.

- Provavelmente ainda não caíste em ti – disse Gary.

- Não duvido – e sorri-lhe.

Verónica e Gary ajudaram Gwen, Dylan e Abby, que pareciam estátuas, a sentarem-se e depois foram os dois buscar qualquer coisa para beber, para nós os humanos.

Eu fiquei a falar com Derek a um canto da sala e passado pouco tempo ouvimos uns passos dirigirem-se a nós. Era Gwen.

- O que é isto?! – Perguntou-me ela, com uma pontinha de pânico, mas bastante curiosidade.

Inspirei e expirei com força.

- Gwen, bem-vinda à parte da minha vida sobre a qual nunca vou falar com os meus filhos.

- Do que é que estás a falar?! Eu estou a enlouquecer aqui.

- Ok, resumindo, foi um vampiro que matou o meu pai – ela ficou chocada a olhar para mim – Ah, e eles são vampiros. – Apontei para os Thompson.

- Devia estar assustada? – Apesar de a pergunta me ser dirigida, ele fitava Derek.

- Não – respondeu ele.

- Não quero ouvir de ti. Chloe podemos confiar neles? São bons?

- Sim.

- Não chega, eu preciso de te ouvir dizer.

- Eles são vampiros… bons.

- Tens a certeza?

Se tenho a certeza? Isso vai contra qualquer coisa em que alguma vez acreditei. Tenho a certeza?

- Gwen, eles já me salvaram algumas vezes, ok? E tu já os conheces, da escola…

- Eles não me vão morder?

- Não. Estás a salvo, prometo.

- O que é que vais dizer aos teus irmãos?

- A verdade, acho eu – por muito que custe, eles merecem, além disso Abby já sabe da existência de vampiros. Não acredito que ela ainda se lembra, coitada.

- Precisas de ajuda? – Ofereceu-se Derek.

- Sim, definitivamente.

Aproximámo-nos os três do sofá e enquanto Gwen se sentou, eu e Derek ficámos de pé. Verónica e Gary chegaram e deram um copo com água aos meus irmãos e a Gwen, e eu pousei o meu na mesinha em frente ao sofá.

- Ok, Dylan, Abby, Gwen… há algumas coisas que vocês vão ter que saber.

- Eu já sei – interrompeu-me Gwen.

- Eu sei. Ok, Dylan, eu sei que não acreditas nestas coisas mas vampiros são reais, não são nenhuma alucinação por causa de alguma droga.

- Tens a certeza? – Perguntou-me ele – Se calhar também tomaste uma cena qualquer e não sabes.

- Pois, não. Abby, eu lamento muito, não fazia ideia que ainda te lembravas do que se passou.

- O que é que se passou? – Perguntou Dylan.

- Um vampiro matou o nosso pai – respondeu-lhe Abby, sem sequer piscar os olhos – Não te preocupes Chloe, eu estou bem, a sério. Eu gosto de acreditar que também há vampiros bons.

- E tens razão – disse-lhe Verónica.

- Ok, Gwen, acho que a tua parte da história já foi dita, por isso vou passar à parte do porquê termos sido atacados esta noite.

- Sim, faz isso – Dylan estava completamente pasmado, mais que qualquer outra pessoa.

- Dylan, o traficante que te vendeu o frasquinho com sangue viu-me e contou-me um plano marado, mas como não me conseguiu matar porque o Derek apareceu, duas vezes, voltou a tentar hoje.

- Tu disseste “sangue”? – Agora parecia que ia vomitar – Que nojo! Eu bebi daquele frasco! – E bebeu a água toda que estava no copo.

- Não te preocupes, já está fora do teu sistema – disse-lhe Gary.

- Continua Chloe – pediu Abby.

- O Derek apareceu e matou-o. Ele também é um vampiro, assim como a Verónica e o Gary.

- Esperem um minuto – pediu Gwen, levantando-se –, então estás-me a dizer que vampiros são reais?

- Sim, eu já te tinha dito, há cinco minutos atrás Gwen…

- Eu sei mas… é tão esquisito – depois virou-se para Verónica e para Gary – Então vocês podem, tipo, voar?

- Não – respondeu Verónica.

- Oh, já sei! Podem controlar mentes?

- Não – disse Gary.

- E ler pensamentos? Isso devem de poder, certo?

- Também não – respondeu Derek.

- Não me digam que se transformam em morcegos…

Derek e os irmãos soltaram uma gargalhada enorme.

- Não Gwen, não nos transformamos em morcegos – disse-lhe Gary.

- Mas vocês são vampiros… - agora parecia desiludida – O que é que podem fazer?

- Bem, nós somos muito mais fortes, velozes, e vivemos para sempre – elucidou Derek.

- Só isso? Sem poderes especiais? – É impressão minha ou Gwen está desapontada ao ver que os vampiros não se transformam em morcegos?

- Bem, eu consigo alterar o clima – disse Verónica -, isso chega?

- É um princípio.

Abby queixou-se com fome, normalmente bebia um copo de leite antes de ir para a cama, e foi com Verónica à cozinha. Gary foi mostrar a casa a Gwen e a Dylan, e quando eu os ia seguir Derek agarrou-me e pediu-me para falar comigo a sós. Ficámos à espera que eles subissem as escadas para que não ouvissem nada.

- Então, por quanto tempo é que vamos ter que aqui ficar? – Perguntei, sem lhe dar tempo para me dizer o que queria.

- Não sei, até termos a certeza de que a vossa casa é segura – respondeu-me ele, respirando fundo.

- Porque é que fazes isso? Tu não precisas de respirar…

- É… tens razão, é… um reflexo, acho eu – e soltou um pequeno sorriso, mas depois ficou sério – Era um vampiro lá na casa…

- Eu sei, foi por isso que…

- Deixa-me acabar. Era um vampiro na casa, mas também lá estava um humano. Ninguém que eu tenha conhecido. Achei que quisesses saber – e tiveste toda a razão.

- Como é que sabes? – Ok, agora além de vampiros, também tenho pessoas humanas a perseguirem-me? Eu sou um espectáculo.

- Pelo cheiro. Cada espécie tem um aroma diferente, e dentro da espécie, esse aroma também muda.

- Hum… então, basicamente, tu cheiraste um humano e um vampiro?

- Sim. E não conhecia nenhum deles.

- Só por curiosidade… eu cheiro a quê?

Vi os olhinhos dele começarem a brilhar e um sorriso maroto a formar-se.

- É difícil de pôr em palavras Chloe…

- Bem, tenta.

Depois de fazer uma cara pensativa finalmente respondeu-me.

- A rosas, com um toque suave de mel – ele sabe que rosas são as minhas flores favoritas, que por alguma razão estranha aparecem nos meus pesadelos… e também gosto bastante de mel…

- Hum, parece-me bem…

- E é um cheiro bastante difícil de resistir…

- A mim parece-me que tens estado a fazer um bom trabalho. Ainda não me mordeste, é bom sinal.

- Sim – e riu-se –, eu não estava a falar de resistir ao sangue. Era outro tipo de “resistir”.

Ok, o silêncio constrangedor instalou-se.

- E eu? – Intrometeu-se Abby. Eu nem tinha dado pela presença dela até agora. Assim que pus os olhos nela, deu-me vontade de rir.

- Tu cheiras a… - começou Derek.

- Chocolate – interrompi eu.

- Como é que sabes? Tu não és vampira – disse-me Abby.

Sorri e virei-a para o espelho.

- Porque tens a boca cheia de chocolate – rimo-nos os três – Eu não sabia que vampiros comiam chocolate…

- Não comemos, mas desde que cá apareceste em casa das outras vezes que temos alguns doces guardados – explicou Derek.

- Oh, fixe.

- Chloe, eles têm uma piscina, é tão grande! Amanhã podemos nadar lá? Por favor… - olhei para Derek e apercebi-me que nunca tinha passado do hall e da sala de estar.

- Hum, se eles deixarem, claro – respondi-lhe.

- Já viste o teu quarto? Eu fico no da Verónica, é tão lindo, é em tons de roxo e cinzento claro… quando voltarmos para casa podíamos pintar o meu assim e…

- Abby, tem calma – pediu Derek – Fica aqui enquanto eu mostro a casa à tua irmã, ok? A Verónica vem já ter contigo.

- Ok – disse-lhe Abby, sentando-se no sofá.

- Anda lá – disse-me Derek.

Primeiro mostrou-me o resto do rés-do-chão, a cozinha, que era exageradamente grande para pessoas que não comem e muito moderna; depois o escritório, que tinha desde computadores a quatro estantes até ao tecto cheias de livros, e um sofá; depois fomos para o andar de cima e levou-me até aos quartos. Mostrou-me o da tia dele, o da Verónica, o do Gary e o das visitas, onde eu já tinha estado, mas que ao contrário de antes, agora tinha uma cama; e quando chegou à última porta parou e olhou para mim.

- E este é o meu quarto – disse, enquanto abria a porta – A melhor divisão da casa – e sorriu.

As paredes estavam num tom de amarelo clarinho, praticamente bege, e o tecto branco. Havia uma enorme cama no meio, com uma colcha azul e montes de almofadas de todos os tamanhos a enfeitar, encostadas à cabeceira. Tinha duas mesas-de-cabeceira e um roupeiro de portas de correr, em que uma era espelhada. Tinha um ecrã na parede em frente à cama e uma aparelhagem num canto, com prateleiras cheias de CD’s em cima. O cortinado era em tons de azul e prateado.

- É bonito – disse-lhe, enquanto ainda o observava de alto a baixo.

- E guardei o melhor para o fim – piscou-me o olho – Vem comigo.

Descemos as escadas e saímos para o jardim. Ele levou-me até às traseiras da mansão, onde estava a piscina e uma amendoeira em flor, que tocava num arco branco, cheio de rosas e com umas luzinhas brancas. Por detrás do arco ainda vi um pouco de água escorrer por entre pedras, e formava um pequeno lago, iluminado também por focos de luz vindos do chão.

Parece que tudo nesta casa foi planeado ao mais minúsculo pormenor. Quantos metros quadrados terá? Montes deles, de certeza…

- Uau… fiquei sem palavras – murmurei.

- Eu sabia que ias gostar – e sorriu.

Voltámos para dentro de casa e estavam todos na sala. Vi no relógio que estava em cima de uma das prateleiras que já eram quase duas da manhã.

- Vocês deviam de ir dormir agora – disse Verónica -, eu tenho pijamas que vos posso emprestar e um dos meus irmãos empresta um pijama ao Dylan. Mais logo vou à vossa casa e trago-vos roupa, está bem?

- Sim, parece-me bem – respondi – Obrigada.

Ela sorriu-me e depois fomos com ela até ao quarto dela, onde Abby iria ficar. Verónica emprestou-nos pijamas e Gwen foi para o quarto de Gary, onde ia dormir. Eu fiquei com Abby e depois de ela vestir o pijama, que lhe ficava enorme, aconcheguei-a e dei-lhe um beijo na testa.

- Tens a certeza que ficas bem? – Perguntei.

- Sim, não te preocupes, boa noite – Abby está a lidar com isto melhor do que muitos adultos lidariam…

Saí do quarto de Verónica e fui até ao de hóspedes. Bati à porta e entrei.

- Como é que estás? – Perguntei.

- É difícil de dizer – confessou Dylan, sentando-se na cama já aberta.

- Eu sei que foram muitas emoções, mas vais aprender a lidar com elas.

- É, espero que sim.

- Boa noite.

- Boa noite.

Saí do quarto e dirigi-me ao de Gary. Durante a meia dúzia de passos que tive que dar perguntei-me se não estaria a empatar tempo para não ter que ir para o quarto de Derek. Bati à porta e entrei em seguida.

- Bom, estás aqui – disse-me Gwen, puxando-me para cima da cama.

- Há algum problema? – Perguntei.

- Não, isto é fantástico. Se vampiros existem, imagina o que mais anda por aí…

- Prefiro não imaginar.

- Sabes, pela maneira como falavas dos vampiros, o Derek foi muito bom em ter-te ajudado.

- Sim, foi.

- Que sorriso foi esse?

- Que sorriso?

- O teu! Acabaste de sorrir quando falaste nele. Tu gostas dele… - insinuou.

- Não gosto nada. Ele é um vampiro. Eu nunca…

- Ele é forte, pode-te proteger, é bonito… tu gostas dele – eu calei-me – Quem cala consente.

- Não quero falar sobre isto.

- Sabes quão raro é ter-se um romance com um vampiro? – Perguntou, entusiasmada.

Posso imaginar, e de alguma maneira, só para se ver a minha sorte, foi-me acontecer a mim. Não que isto seja um romance. Não é um romance, certo?

- A sério, eu não quero falar disto. Posso ir?

- Podes, mas eu não me vou esquecer desta conversa. Já agora, o irmão dele também é tão lindo…

Dirigi-me à porta e abri-a. Depois voltei-me para Gwen.

- Como se isso alguma vez me tivesse passado pela cabeça. Pois é Gwen, é lindo e também é gay.

- Odeio-te – ouvi-a dizer, baixinho.

Fechei a porta e dirigi-me ao quarto de Derek. Mandei o pijama para cima da cama e olhei para o espelho. Voltei a observar o quarto. Aproximei-me da prateleira dos CD’s e vi que o que ele tinha. Havia de tudo um pouco, desde música Rock a Clássica, tinha dos anos setentas, oitentas e noventas, até chegarmos às bandas novas dos dias de hoje.

Aproximei-me da cama e vesti o pijama. Quando olhei bem para ele, é que reparei que não era um pijama mas sim uma camisa de noite curta azul pálida com rendas castanhas e um roupão de seda branco, também ele curto. Isto não tem nada a ver com o que Gwen tinha vestido, porquê eu?

Fui à procura de Verónica mas não a encontrei, não encontrei nenhum deles, por isso voltei para o quarto e vesti a camisa de noite. Enfiei-me na cama e senti um pico. Levantei-me e levantei o lençol de baixo, e então vi dois papéis agrafados, com o agrafo para cima, que foi o que me picou. Agarrei nos papéis e meti-os em cima da mesa-de-cabeceira. Ajeitei o lençol e voltei a deitar-me.

Tentei dormir, mas não conseguia. Virei-me para todos os lados, pus-me na diagonal e tudo, mas nada resultava. Estava completamente acordada.

- Não consegues dormir? – Apesar de conhecer esta voz, assustei-me bastante ao ouvi-la sair do meio do nada. Estiquei o braço e acendi o candeeiro da mesa-de-cabeceira.

- Não – respondi.

Derek, que estava ao pé da porta, aproximou-se da cama.

- Importas-te? – Perguntou, apontando para a cama.

Cheguei-me mais para o lado e ele deitou-se ao meu lado, por cima dos lençóis para não me passar o frio.

- Posso apagar a luz? – Perguntei.

- Sim.

- O que é que estás a fazer?

- Estou deitado, o que é que te parece?

- A mim parece-me que estás na minha cama.

- Tecnicamente é minha.

- Mas tu não dormes.

- Mas é o meu quarto.

Virei-me para ele e lutei contra a escuridão para conseguir ver a sua cara.

- Vocês não tinham que comprar camas – disse-lhe –, nós ficávamos bem em sacos-cama.

- Quem é que disse que as comprámos para vocês?

- Eu encontrei o papel da compra. Compraram-nas ontem.

- Ok, talvez tenhamos comprado camas para vocês.

- Mas ontem ainda não sabíamos que isto ia acontecer.

- Sim, mas eu achei melhor prevenir, e como comprámos para três quartos, comprámos para todos.

- Obrigado.

- Não tens que agradecer.

- Derek… posso-te fazer uma pergunta estranha?

- Podes.

- O que é que eu sou para ti?

Ouvi a sua respiração ficar mais pesada e pareceram passar longos minutos até ele responder, mas na verdade não foi mais que cinco segundos.

- Eu não vou responder a isso.

- Porque não?

- Porque seja qual for a minha resposta, não acho que a queiras ouvir.

- Ok.

- Tenta dormir, senão amanhã andas o dia inteiro rabugenta.

Sorri.

- Isso é verdade.

Fechei os olhos e minutos depois acabei por me deixar de dormir.

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