Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Destino Amaldiçoado

por Andrusca ღ, em 21.02.11

Capítulo 14

Brincadeiras de crianças

 

O meu namoro com Luc estava a ir super bem. Já estávamos juntos há quase um mês e estávamos felizes.

Depois da derrota do Mestre os demónios ficaram com algum receio e ausentaram-se, fazendo com que apenas tenhamos visto e destruído um. As coisas estavam calmas, demasiado calmas.

Luc agora passava a maior parte do seu tempo na minha casa e quando não estávamos na minha, estávamos na dele. Chad dizia que estávamos no “Paraíso”. A Primavera já tinha chegado, o que era óptimo. Quanto mais longe pudesse estar do frio, melhor.

Fui à casa dos Connor porque Luc continuava a treinar-me lá. Quando cheguei deparei-me com Sheilla em frente à televisão, preocupada.

- Então, que se passa? Problemas?

- Não sei ainda. Houve uma morte no campo da Universidade. – Respondeu-me.

- Achas que é alguma coisa demoníaca?

- Não sei Jô, mas acho que vale a pena ir dar uma olhada.

- Tens razão, não custa nada. Vais ver, provavelmente não é nada. – Disse-lhe, esboçando um sorriso enorme.

- Provavelmente… então e como vão as coisas entre ti e o meu querido filho? Sem muitos pormenores por favor. Ele é meu filho, é esquisito.

- Vão bem Sheilla, muito bem mesmo.

- Óptimo, é bom saber que não há problemas no “Paraíso”.

- Pois é.

Nisto, Luc chegou à sala.

- Bem me parecia ter-te ouvido. – Disse-me, beijando-me de seguida. – Pronta para o nosso treino?

- Prontíssima! – Respondi.

Depois do treino mudei de roupa e fui com a Sheilla ao campo da Universidade. O corpo já tinha sido levado pelo médico legista, obviamente, e os comentários que conseguimos arranjar não ajudaram muito. Entrámos e demos uma vista de olhos pelo local onde tinham encontrado o corpo. Fora exactamente no meio do pátio do lado de dentro da Universidade. O espaço estava vedado e no chão tinha o desenho do corpo. Tentámos falar com alguns professores mas não conseguimos nada pois estes se recusavam a falar com qualquer outra pessoa que não fosse da polícia, sobre este assunto.

De seguida fomos até à morgue onde Sheilla tentou distrair o médico legista para eu entrar e ver o corpo. Deu-me uns arrepios ao entrar lá, a última vez que lá tinha estado foi quando os meus pais morreram. Enquanto Sheilla falava com o médico legista fui verificando os corpos que ainda não estavam nas gavetas. Só sabia que era uma rapariga, para a minha sorte só lá havia uma. Chamava-se Lizzie Tusconne e tinha 21 anos. Estremeci ao ver que era da minha idade.

O corpo parecia normal, não havia sinais de estrangulamento nem de envenenamento, nem feridas de bala. Parecia uma morte muito estranha, só poderia ter acontecido se algum órgão parasse de funcionar muito rapidamente sem dar nenhum aviso. Reparei que o relatório estava na mesa ao lado dela. Lá estava escrito que ela era saudável, todos os órgãos funcionavam bem, nem um bocadinho de colesterol tinha.

- Lizzie, o que é que se passou contigo? – Perguntei em voz alta.

Decidi voltar ao corpo apesar de já não ter muito tempo até que o médico legista entrasse e eu tivesse que arranjar uma razão muito boa para explicar o facto de lá estar. Ou imobilizava-o e saía.

A Lizzie era magra, loira e tinha um tom de pele muito clarinho. Tinha um piercing na orelha e foi então que vi, ao rodá-la, uma tatuagem na parte de trás do pescoço. Era um pentagrama revertido, com duas pontas viradas para cima.

- O que é que foste fazer Lizzie? – Perguntei de novo.

Nisto ouvi o médico legista a aproximar-se e escondi-me atrás da porta, quando ele estava distraído saí silenciosamente e fui ter com Sheilla.

- Então, descobriste alguma coisa? Foste vista? – Perguntou.

- Calma. Não fui vista mas sim, descobri que a nossa universitária era uma bruxa. Infelizmente não como nós.

- Queres dizer que ela andava a adorar o Diabo?

- Não sei, mas ela tinha um pentagrama invertido na parte de trás do pescoço.

- Odeio esta parte mas acho que temos que falar com os pais dela. Talvez ver com quem ela se dava. Podem haver mais…

- Concordo.

Antes de irmos falar com os pais de Lizzie fomos a casa de Sheilla para almoçarmos. Contámos a história a Chad, Luc e Louis que acharam que definitivamente se passava qualquer coisa estranha. Chad e Luc ofereceram-se para irem comigo à casa dos pais de Lizzie enquanto Sheilla ia resolver uns problemas de canalização no High Spot.

Chad, Luc e eu fomos aos registos ver onde era a casa dos Tusconne e seguimos para lá. Era numa zona de mansões. Na mesma zona em que eu cresci. Chad e Luc estavam boquiabertos com os enormes casarões e os carros topo de gama. Eu já nem ligava. Até que vi de novo o sítio onde a minha casa ardera.

- Era a tua casa? – Perguntou Luc, com um braço a agarrar-me.

- Era. – Respondi, baixando a cabeça.

- Lamento que tenhas passado por tudo isso.

- Já passou. Vamos? – Este assunto, por muito que me esforçasse, ainda me mandava um bocado abaixo.

Chegámos à casa dos Tusconne. Era enorme, como se era de esperar. Era branca mas tinha uns enfeites a castanho. Tinha muitas flores à entrada e umas árvores. Estavam dois carros estacionados. Era-me tudo estranhamente familiar.

Batemos à porta e tocámos à campainha. Quem a abriu foi uma empregada, que nos conduziu logo a uma sala enorme e extremamente bem decorada. Aproximámo-nos do sofá onde estavam o Sr. e a Sra. Tusconne. Assim que olhei para a cara deles vieram-me lembranças à cabeça. Lembranças sobre eles, sobre Lizzie e sobre aquela casa enorme em que costumava passar muito tempo a brincar em criança. Apesar de não ser muito amiga de Lizzie, os meus pais costumavam deixar-me lá quando iam sair.

- Joanna Cronwell. És mesmo tu? – Perguntou-me a Sra. Tusconne.

Sorri.

- Sim Lindsay. Sou eu. Olá Harry. – Disse acenando ao Sr. Tusconne.

Chad e Luc olhavam-me confusos.

- Bem-vinda Joanna. – Disse o Sr. Tusconne, aproximando-se de mim. – Apesar de, infelizmente, ter-mos uma notícia muito perturbadora para te dar.

- A Lizzie... – Comecei. – A Lizzie morreu.

- Já sabias. Como? – Perguntou a Sra. Tusconne.

- É por isso que estou aqui. Antes de tudo o mais, estes são o Chad e o Luc. – Disse apontando respectivamente. – Nós estamos aqui para vos ajudar.

- Ajudar como? – Perguntou.

Baixei a cabeça por momentos e depois levantei-a, olhando nos olhos da Sra. Tusconne.

- Lindsay… a Lizzie andava metida com coisas sérias...

- Como drogas? – Perguntou o Sr. Tusconne.

- Não. – Respondi. – Coisas diferentes, bruxarias.

Ficaram chocados.

- Como é que sabes disso? – Perguntou Lindsay.

- Isso agora não importa. Eu preciso de saber com quem é que a Lizzie se dava mais. As melhores amigas, o namorado, tudo.

Eles ainda estavam boquiabertos.

- Joanna, se isto é alguma brincadeira é de muito mau gosto. – Disse o Sr. Tusconne, Harry.

- Não é uma brincadeira. Vocês conhecem-me. Eu não ia brincar com isto. É sério demais.

- Muito bem. – Começou Lindsay. – Há uns anos mudaram-se para cá duas famílias. Os Bulaeton e os Guarld-Cond. A Lizzie dava-se muito bem com os filhos de ambas as famílias. Jennifer Guarld-Cond e Mike Bulaeton.

- Ok... eles também andam na Universidade em que ela andava?

- Não, eles ainda andam no secundário. No último ano. Devem estar juntos a esta altura. Costumavam ser inseparáveis, os três. – Disse, desfazendo-se em lágrimas.

- Lindsay, nós vamos apanhar quem fez isto. Prometo. – Disse-lhe.

Depois de sairmos da casa dos Tusconne dirigimo-nos para o secundário. Chad foi até à secretaria para ver quando acabavam as aulas e eu e Luc ficámos sentados num banco ao ar livre.

- Nunca me disseste que cresceste num ambiente daqueles. – Disse Luc.

- Não havia nada para dizer. Sinceramente nunca gostei muito. É tudo demasiado superficial. Mas tu já sabias que eu vinha de uma família com dinheiro…

- Sim mas… nunca tinha imaginado como é que foi para ti cresceres num ambiente daqueles. Não é muito o teu estilo…

Os alunos começavam a sair e a ocupar as mesas no pátio para almoçar.

- Eu no secundário era aquele tipo. – Disse Luc, apontando para um rapaz que estava a ser incomodado por outros. – Não podia usar os poderes por isso não podia dar luta.

- Não acredito. Lutavas mesmo sem magia.

- Eu depois escondia-lhes as coisas. – Rimo-nos. – É claro que era mais difícil, o Mestre andava sempre à nossa procura, de mim e do Chad…

Vimos um grupo de cinco raparigas, com cabelos perfeitamente penteados que usavam roupas extremamente curtas, saltos altos e acessórios muito brilhantes.

- Até aos meus pais morrerem eu era como aquelas. – Comecei, apontando. – Tudo o que importava era a aparência, o estatuto… acho que se pode dizer que era uma ignorante…

- A sério? Joanna a popular. – Riu-se. – Que aconteceu?

- Eles morreram e eu percebi que há mais na vida que roupas caras e maquilhagem. Por isso passei a ser como aquelas ali. – Disse, apontando para um grupo de raparigas, não muito produzidas mas ainda assim bonitas, que se divertiam.

- Fizeste bem. – Disse Luc, abraçando-me. – Não sei até que ponto ia gostar da Jô popular.

Sorri-lhe. Chad chegou ao pé de nós.

- A senhora da secretaria disse que a turma dos nossos alvos já não tem aulas à tarde e ainda consegui duas fotografias. – Disse-nos.

- Óptimo. A popular e o atleta! – Exclamei sarcasticamente. – Aí está um grande choque… - Revirei os olhos.

Eles riram-se.

- É melhor irmos ter com eles. – Disse Luc.

Jennifer e Mike estavam na mesma mesa, com as outras quatro raparigas populares e uns quantos atletas. Chegámos ao pé deles.

- Jennifer, Mike, podemos falar? – Perguntei.

- Contigo vestida assim, deixa ver, nunca. O que é que tu és? – Perguntou ela.

- O nome é Joanna. – Disse, apesar de ter pensado em ter respondido simplesmente «bruxa». – Podemos falar?

- Ouve Joanna, até que mudes de roupa, nada feito. – Disse ela, rindo-se, com um ar superior. As outras raparigas riram-se com ela.

Olhei para a minha roupa. Tinha uns calções de ganga e umas botas castanhas. Tinha também uma blusa cor-de-laranja e uns brincos.

- Claro! – Exclamei. – Oiçam, tenho mesmo que falar com vocês. – Insisti.

- Nós não falamos com plebeus. – Disse ela, enquanto os outros riam.

- Claro que não. Deixa estar que se vir um aviso-o. – Disse, enquanto lhe agarrei no braço e a levantei.

- Não me toques. – Disse, com um ar de enjoada. – Queres falar fala, mas eu não te vou dizer nada.

- Claro que não, porque tu és tão superior a mim. – Disse.

Ela ficou com uma cara de espanto, devia ser daquelas raparigas a quem nunca ninguém respondia. Ouvi Chad e Luc a rirem-se.

- E tu? – Perguntei olhando para Mike. – Não te importas de falar comigo ou também não gostas da minha roupa?

- O que queres saber? – Perguntou-me.

- Lizzie Tusconne. O que sabes sobre ela? – Perguntei.

- Nada. Nunca ouvi esse nome. – Respondeu-me.

- Claro que não. – Sorri, fingidamente. – Mas ela ouviu falar de ti. E eu também. E sei o que vocês os três andavam a fazer.

- Ouve, Joanna, não sei do estás a falar, mas se não te fores embora agora mesmo chamo a polícia. – Ameaçou Jennifer.

- Claro. – Aproximei-me de Mike. – Eu sei que vocês sabem muito bem do que é que eu estou a falar. A Lizzie morreu e eu não vou desistir.

Virei costas e comecei a andar com Chad e Luc e esperámos até que Mike e Jennifer fossem para casa. Seguimo-los.

Quando já estavam ao pé das grandes mansões surgiram dois homens enormes, demónios, que os iam atacar. Eu, Luc, e Chad começámos a lutar contra eles e não tivemos escolha senão usar os nossos poderes.

- Joanna Cronwell, cruzamo-nos de novo. – Disse um.

- De novo? – Perguntei, mas ele já se tinha teletransportado.

Corri até Jennifer e Mike enquanto Chad e Luc tratavam do outro demónio.

- Estão bem? – Perguntei.

- Joanna Cronwell? – Perguntou Jennifer.

- Sim...

- A Joanna Cronwell, das revistas?

- Depende de qual estás a pensar.

- Moravas aqui não moravas? E eras das mais bonitas da escola e super rica.

- Essa mesmo. – Afirmei revirando os olhos.

- Como é que acabaste assim? – Perguntou com desagrado. Ok, para que conste, não culpo ninguém que me detestasse quando tinha a idade dela.

Chad e Luc juntaram-se agora a nós.

- Ok, vais ter que parar com isso porque não estou para aturar adolescentezinhas com manias percebes?

- Obrigado. – Disse Mike. – Mas um deles fugiu.

- Foram eles que mataram a Lizzie? – Perguntei.

- Cala-te! – Disse Jennifer a Mike.

- Não, não calo. Queres ser a próxima a morrer? Porque eu não quero. – Voltou-se para mim. – Não foram aqueles que mataram a Lizzie. Eles são apenas mensageiros, o amo deles é que a matou.

- No que é que vocês se meteram?

- Era suposto ser só uma brincadeira juro. – Disse ele, abanando a cabeça. – Não queríamos que ninguém se magoasse.

Levámo-los para a casa dos Connor e ficámos todos lá com eles. Telefonei aos pais de Mike e Jennifer e inventei uma desculpa, para eles não ficarem preocupados. Jantámos todos menos Jennifer, que se recusou devido às calorias. Fui ter com ela à sala e levei-lhe um prato de comida.

- De certeza que não queres comer? – Perguntei. – É a tua última oportunidade.

- Não. – Disse rudemente.

Sentei-me ao lado dela.

- Tens que parar com essa atitude, assim não ganhas nada. Nós estamos a tentar ajudar, sabes?

- Tu sabes lá como é que é. O secundário, a família, a morte da Lizzie. Estão todos à espera que me aguente e que mantenha a cabeça firme.

- Ninguém está a espera disso Jennifer.

- Tu sabes lá. Desististe de tudo.

- Eu não desisti, eu mudei. É diferente.

- Claro que sim. Tu tinhas tudo. Beleza, riqueza, inteligência, amigos.

- Sabes, nem tudo na vida é como no secundário. Há mais para além de malas e roupas chiques. E os amigos, esses amigos que tens agora, os amigos que dizes que eu tinha, vão-te deixar a partir do momento que tiveres um problema sério. No secundário eu era exactamente como tu.

- Tu nunca foste como eu.

- Pensas que és a melhor do mundo e que os outros te têm respeito. Tens boas notas e lindos vestidos. As tuas amigas concordam com tudo o que dizes e invejam-te, mas lá no fundo não gostas de nada disso, porque sabes que nada disso é real. Que é tudo uma invenção. Que a roupa, os sapatos, é tudo uma forma de compensar pelo resto que te faz falta. As coisas verdadeiramente importantes.

Ela ficou a olhar para mim sem pronunciar uma palavra.

- Eu não gostava de quem era. Por isso é que mudei. Não era real, isto é. – Continuei. – Quantos anos tens?

- Faço dezoito para o próximo mês.

- Os meus pais morreram quando eu tinha quinze, tu provavelmente sabes disso porque saiu em várias revistas, mas eu vou-te dizer uma coisa que as revistas não sabem: eles foram mortos por demónios.

- A sério?

- Sim, e eu vi. Esse é o verdadeiro motivo do porquê de eu ter mudado. Eu não era eu, era quem os outros esperavam que fosse. Por isso mudei, tornei-me eu. Descobri que tinha poderes, que era uma bruxa, e comecei a evitar que os pais de outras pessoas morressem, percebes? Porque… o que é mesmo bom não é ter dinheiro para fazer compras, é fazer uma boa coisa, uma coisa que se goste.

- Lamento. – Pronunciou por fim. – Eu não quero mesmo morrer…

- E não vais. Eu não vou deixar.

Usámos o livro que eles usaram para invocar o demónio Krashmanan pela primeira vez e ele veio até nós. Depois usámos um feitiço do meu livro para o destruir. Fomos deixar Mike e Jennifer cada um na sua casa e fui até à casa dos Tusconne. Falámos por um bocado e eles ficaram mais calmos.

Finalmente lembrei-me quem era o demónio que tinha dito que já me tinha visto. Ele tinha fugido de mim depois de me tentar matar há três anos, mas como eu dei luta, ele não teve alternativa sem ser fugir.

Mais tarde, já quando a noite estava caída, fui ter com os Connor ao High Spot.

- Então, achas que ela vai mudar? – Perguntou-me Luc.

- Duvido. Pessoas como ela têm que viver por experiência própria. – Disse sorrindo.

- Estou feliz que tu tenhas vivido.

- Sabes que mais? Também eu.

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.