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Destino Amaldiçoado

por Andrusca ღ, em 27.02.11

Este capítulo saiu-me depois de ver um episódio de CSI, por isso pronto... xD

Dedico-o à Leonor, que faz hoje anos!! :D

 

Capítulo 21

Nem todos os maus são demónios

 

Já há quase duas semanas que estava lá em casa e até já tinha ido comprar roupa. Criámos os quartos, como planeado e agora cada um tinha o seu. O meu tinha a cama encostada à parede, com uma colcha roxa e umas almofadas pretas, parecida à da minha antiga casa. Tinha também um roupeiro de portas de correr e numa delas tinha um espelho. Tinha uma varanda que dava para a parte de trás da casa.

O quarto de Luc tinha a cama ao centro com uma colcha azul e um roupeiro de portas de puxar.

O quarto de Chad estava cheio de posters de bandas.

Apesar de estar um pouco reticente ao princípio, acabei por concordar que esta ideia tinha sido maravilhosa, só tinha um senão: Sheilla e Louis não me deixam pagar-lhes. Mas com o tempo ainda os hei-de convencer a deixar.

Desci as escadas e veio logo um cheirinho super apetitoso da cozinha. Sheilla tinha feito panquecas para o pequeno-almoço e estava sentada na mesa a ver televisão e a comer. Parecia preocupada.

- Bom dia. – Disse-lhe, sentando-me na cadeira ao lado e tirando uma panqueca. – Passa-se alguma coisa?

- Estava a ver os filmes daquele novo sequestrador. É mesmo horrível, como é que alguém consegue fazer coisas daquelas.

- Aquele que mantém as vítimas presas e depois as viola e mata?

- Esse mesmo. Ele filma tudo a tempo real enquanto manda para os noticiários que aproveitam de tudo para fazer notícia. A polícia também os vê, mas nunca descobrem onde é que ele está.

- Deve ser super frustrante estar lá sem poder fazer nada. Elas devem ficar completamente desesperadas.

- Sabes que há uma que ele nunca matou? Deixa-a sempre para ver as mortes das outras…

- Coitadas…

Luc entrou na cozinha.

- Bom dia mãe. – Disse para Sheilla. – Vou sair.

- Bom di… – Ia-lhe eu a dizer, mas ele saiu sem que me deixasse pronunciar quase nada. – Eu juro que não o percebo.

- Então? Ele ainda não te fala? – Perguntou Sheilla.

- Não, e o pior é que eu não faço a mínima ideia do que fiz mal.

Luc já não me falava há três dias, desde que fizemos uma caçada juntos, e eu não conseguia perceber o porquê daquele silêncio. Por muito que não quisesse, o silêncio dele incomodava-me mais do que deveria.

Fui dar um passeio e acabei por me sentar num banco no parque. Por muito que quisesse, não conseguia deixar de me sentir observada. Olhei em volta várias vezes mas nada. Fui até ao sítio em que troquei o meu primeiro beijo com Luc, aquela pequena cascata e bela que se tornara no meu sítio secreto. Cheguei lá e deitei-me no banco de pedra a olhar para o céu. Pensei em deitar-me na relva mas acho que as minhas calças roxas e a blusa de alças preta não iam gostar muito da ideia. Desde o incêndio na minha antiga casa que não usava saltos altos sem ser para sair à noite. Agora, encontrava-me de ténis. Pensei por que motivo estaria Luc a reagir assim comigo. Será que tinha feito alguma coisa de errado? Ele sabia que não estávamos juntos, será que se chateou e já nem meu amigo quer ser? Chateei-me com todas as teorias do porquê de Luc estar assim comigo e levantei-me. O melhor seria perguntar-lhe, se ele conseguisse estar na mesma sala que eu por cinco segundos.

Saí do meu “sítiozinho mágico” é dirigi-me à casa dos Connor, que agora, era também a minha casa. O sentimento de estar a ser seguida não me deixava. Seria outro demónio invisível?

Cheguei a casa e entrei, apanhando Luc a subir as escadas.

- Luc. – Chamei. Ele parou e olhou para mim. – O que é que se passa?

- Nada porquê?

- Bem, porq…

- Tenho que ir. – Disse, apressando-se teletransportando-se.

- Por isso. – Sussurrei.     

Fui até à sala e liguei a televisão. Estavam a dar mais notícias do sequestrador mais procurado do momento. Chad apareceu por trás de mim, assustando-me.

- Então que estás a ver?

- Notícias. – Respondi-lhe.

- Está tudo bem? – Perguntou-me, com um ar suspeito.

- Tudo… por acaso não sabes porque é que o Luc me anda a evitar pois não?

- Por acaso… não.

- Não acredito. Vá lá Chad, o que é que eu fiz?

- Isso é uma coisa que lhe vais ter que perguntar.

- Mas tu sabes o que é?

- Talvez sim, mas a sério Jô, se ele quiser ele conta-te.

- Pois… outra coisa, por acaso não me seguiste hoje, não?

- Não… devia?

- Não sei, é que tenho esta sensação de estar sempre a ser observada. É estranho.

- Vais ver que não é nada.

O resto do dia foi calmo. Nem um demónio à vista. Luc não falou comigo durante o resto do dia e eu não forcei nada.

Fui tomar banho e depois fui-me vestir para o quarto. Olhei para a rua, observando-a bem e em seguida fechei as persianas. Vesti o meu pijama, uns calções e um top azuis-escuros com bolas amarelas e fui para a cama. A meio da noite acordei um pouco sobressaltada, não sei bem porquê e decidi ir beber um copo de água. Desci as escadas e fui até à cozinha. Pareceu-me ver um vulto na sala e fui espreitar. Encostei-me à parede e esperei que os passos se aproximassem. Quando já estavam mesmo a chegar ao pé de mim estiquei o braço, dando-lhe um murro, só então vi quem era. Chad encontrava-se agora sentado no chão, a refilar de dor.

- Oh meu Deus! – Exclamei, dando-lhe a mão para o ajudar a levantar. – Desculpa Chad. Estás bem?

- Bolas! O que é que se passa contigo? Andas com a mania da perseguição ou quê?

- Desculpa. – Repeti.

- Tudo bem, sem stress. Tens é que ser menos paranóica ok?

- Vou tentar, juro.

Com tudo isto perdi a sede. Voltei para o quarto e deitei-me, já sem sono nenhum. Passei o resto da noite às voltas na cama.

Levantei-me quando já eram dez horas. Vesti uns calções pretos com uma blusa cai-cai azul-turquesa e calcei uns ténis pretos com uns enfeites azuis. Prendi o cabelo e pus um brinco em forma de pena, azul na orelha esquerda. Pus uma pulseira no pulso direito. Desci as escadas e fui tomar o pequeno-almoço. Sheilla já tinha ido para o High Spot e Chad e Luc também já tinham saído. Louis estava com os pequenos na sala. Tomei o pequeno-almoço e saí para fazer uma visita a Claire. A caminho da casa dela passei por uma rua completamente deserta e um homem interceptou-me.

- Desculpe, uma informação. – Disse-me.

- Sim diga. – Disse-lhe eu.

- Estava a tentar chegar à ilha de Alcatraz…

- Ahh, bem, só sei que é na baía, eu não sei bem como lá ir, deveria tentar falar com o National Parque Service ou então com a Área de Recreação Golden Gate, são os responsáveis pelo turismo para essas zonas…

Senti uma grande pancada na cabeça e perdi os sentidos. Quando acordei estava numa jaula, com umas cinco mulheres à minha volta.

- Auch. – Pronunciei, tentando pôr-me de pé. Elas ajudaram-me.

- Como está? – Perguntou-me uma, morena, com o cabelo curto.

- Já estive melhor. – Respondi, olhando em volta. – Onde é que eu estou?

Todas elas baixaram a cabeça como se tivessem a evitar responder. Continuei a observar a sala em que me encontrava. Era rectangular e parecia muito velha. Tinha muitas teias de aranha nos cantos do tecto e uma cama, com uma colcha que parecia de veludo vermelho, muito bem enfeitada no centro. Tinha também uma mesa com umas cadeiras, encostada à parede. Aquela cama não me era estranha. De repente, por uma porta dupla, entrou o homem que me pedira informações. Tinha o cabelo muito curto, ruivo e um bigode. Parecia ter à volta de 40 anos e com um corpo muito descuidado. Tinha uma pistola no cinto. Vinha a fumar e deitou o cigarro para o chão quando me viu de pé. Em menos de um segundo percebi logo onde estava e o porquê da sensação de estar a ser vigiada. O homem aproximou-se da jaula.

- Finalmente acordada boneca. – Disse-me.

Senti-me tão estúpida. Tive à minha frente um dos sequestradores mais procurados do momento e nem me apercebi. Como é que posso ter sido enganada dessa maneira?!

- Não me chames boneca! – Disse-lhe, rudemente.

- Bem, parece que alguém não está com medo… Deve ser a primeira vez… - Disse, gozando.

- Já vi monstros piores. – Disse-lhe, ainda no mesmo tom de voz.

- Claro que sim, assim como as outras 14 raparigas que já se foram.

Senti um frio na barriga. Catorze raparigas? Como é que podia ser possível? Estava prestes a imobilizá-lo quando olhei para um canto. Vi a câmara de filmar, as imagens eram emitidas a tempo real para os noticiários e para a polícia, usar os meus poderes estava fora de questão. «Raios!»

- Então, o gato comeu-te a língua? – Perguntou, com cara de maníaco, a gozar comigo.

- Tem cuidado, pode ser que a seguir te coma a tua. – Respondi-lhe.

Ficou com uma cara séria e zangada. Cuspiu para dentro da jaula, acertando numa das outras mulheres.

- Temos uma corajosa. Vamos ver se continuas assim quando as vires a morrer, ou quando for a tua hora.

-Porco… - Disse, baixinho. – Acredita, se queres alguém para implorar, não vou ser eu. – Gritei-lhe.

Ele saiu da sala, batendo com as portas.

- Atrasado! – Exclamei, com raiva, a abanar as grades da jaula.

- O que é que estás a fazer?! – Perguntou-me uma rapariga ruiva, com o cabelo pelos ombros.

- Estou a tentar sair daqui, o que é que parece?!

- Não vais conseguir. Só o vais deixar mais chateado e depois sobra para nós. Acredita, já o vi acontecer.

- Então tu és a sobrevivente…

- Em carne e osso.

- Ouve, ele já nos quer matar, já nos quer violar e nunca nos vai deixar ir. Temos que tentar qualquer coisa!

- Para o teu bem, é melhor que não tentes nada. – Disse-me, num tom que parecia ameaçador.

Afastei-me das grades e sentei-me encostada à parede, ao lado de uma rapariga a chorar. Tinha o cabelo enorme, castanho clarinho, apanhado numa só trança e os olhos azuis, tinha também umas sardas nas bochechas e os lábios muito vivos. Parecia muito novinha.

- Olá. – Comecei por dizer-lhe. – Chamo-me Joanna, mas podes-me chamar Jô, e tu?

- Kim.

- Kim, quantos anos tens?

- Quinze. – Respondeu-me a soluçar.

- Vá lá, não chores. – Disse-lhe, pondo o meu braço à volta dela. – Vai passar tudo, vai ser só uma má lembrança, prometo.

Ainda a fiz chorar mais. Passaram-se umas horas até ela parar de chorar. Reparei que a maioria das mulheres na jaula deviam ter entre vinte a trinta anos, há excepção de Kim. Ao todo estavam nove mulheres lá dentro, incluindo-me. Kim continuava com o meu braço à sua volta.

Já tinha anoitecido quando o homem voltou a entrar. Vinha a comer uma sandes e com um saco com pães na mão. Agarrou em quarto pães pequenos e mandou-os para dentro da jaula. Levantei-me e aproximei-me das grades.

- Quatro pães?! A sério, só isso? – Perguntei indignada. – Já sabia que eras um cretino, não sabia era que também eras semítico.

- Bom apetite. – Disse-nos, rindo-se.

- Ei! – Gritei-lhe. – Tenho que ir à casa de banho.

- E se eu não te levar?

- Então faço aqui e depois tens que levar com cheiro. – Respondi-lhe à bruta.

Ele agarrou na pistola e abriu a jaula para eu sair, depois voltou a trancá-la. Levou-me até uma casa de banho minúscula. Pelo caminho e pela própria casa de banho, percebi que devíamos estar numa velha estação de serviço. Entrei para a casa de banho e ele ficou à porta. A casa de banho era muito velha e como a outra sala, estava cheia de teias de aranha. Eram cubículos minúsculos. O espelho estava partido.

- Luc. – Sussurrei. – Ok, ouve, eu sei que estás chateado, não sei bem porquê mas sei que estás. Eu estou em grandes apuros e neste momento só tu é que me podes ajudar. Se fiz asneira desculpa a sério. Luc… eu sei que me ouves!

Ele apareceu à minha frente.

- Não sabes mesmo que fizeste?! – Parecia indignado.

Tapei-lhe a boca apressadamente.

- Shiuu. – Sussurrei-lhe, destapando-lhe a boca.

- Onde é que estamos? – Perguntou, já em voz baixa.

- Eu fui raptada. – Disse, baixinho, muito perto dele.

- Raptada?! Demónios?

- Não, aquele sequestrador que anda a dar nas notícias.

- O quê?! Tu deixaste-te apanhar por ele?

- Nem me lembres... Mas enquanto eu aqui estiver ele não vai matar ninguém asseguro-te.

- Como é que estás?

- Com medo, por aquelas raparigas todas e por mim. Preciso que descubras onde é que isto fica e que tragas cá a polícia. Eu acho que isto é um tipo de estação de serviço velha e abandonada.

- Tudo o que precisares. – Disse-me, suavemente, enquanto começava a desaparecer.

- Luc. – Gritei-lhe, em voz de sussurro. – O que é que eu fiz para te deixar chateado?

- Demoras muito?! – Perguntou o sequestrador enfurecido do outro lado da porta.

- Só mais um pouco! – Gritei-lhe. – Podes-te desviar um bocado? Assim não consigo… tu sabes….

Consegui ouvi-lo a refilar e a dar talvez dois passos.

- É por causa do encontro que tiveste. – Disse-me Luc ao ouvido.

- Encontro? Que encontro? – Perguntei-lhe.

- No High Spot, há umas noites atrás. Acho que posso ter ficado com alguns ciúmes… tu tens esse efeito em mim… - Lamentou-se.

- Ahh, era só um rapaz que estava com um problema com um demónio inferior que eu destruí, só isso, não precisas de ter ciúmes. – Disse-lhe, apesar de ter gostado do facto de ele os ter tido.

Ele sorriu-me e assegurou-me que ia trabalhar o mais rápido possível e depois foi-se embora.

Saí da casa de banho e voltei para a jaula, literalmente. Apesar de estar lá muita gente, estava muito frio. Havia apenas cinco cobertores muito pequenos. Consegui um para Kim.

- Queres o meu? – Perguntou Kim, com uma voz muito cansada e de choro.

- Não, estou bem, obrigada.

O sequestrador encontrava-se a dormir na cama e com o tempo deixaram-se todas de dormir na jaula menos eu e a sobrevivente, a rapariga ruiva, que se chegou ao pé de mim.

- Então, menos confiante sobre um plano de fuga? – Perguntou-me sarcasticamente.

Não sei porquê mas era-me difícil de confiar nela. Havia algo de muito diferente entre ela e as outras raparigas da jaula. 

- Nem um bocado. – Respondi-lhe, secamente, afastando-me.

Não preguei olho a noite toda e ao amanhecer o sequestrador começou aos berros para nos acordar. Tinha uns fatos nas mãos, que distribuiu, um a um a todas nós. Eram fatos provocantes demais.

- Não o vou vestir. – Assegurei-lhe.

- Desculpa? – Perguntou, indignado.

- Não vou vestir esta porcaria.

- Ai, isso é que vais! – Disse-me, entrando da jaula com a pistola na mão e aproximando-se de Kim. – Ou ela é já a primeira.

Acabei por ceder, para bem de Kim e fomos uma a uma à casa de banho para nos vestirmos. Vesti o fato de mulher-aranha. Era um vestido cai-cai, muito curto, com o padrão da roupa do homem-aranha. Calcei umas botas pretas até ao joelho, de salto alto. «Odeio este homem…». Depois chamei por Luc que chegou num piscar de olhos.

- Então, novidades? – Pedi. – Rápido.

- Não há muitas, estou indeciso em dois sítios, só preciso que empates um bocado… que raio de fato é esse?!  

- Aparentemente antes de nos violar e matar também nos humilha. – Respondi, revirando os olhos.

- E dizes que não tenho razões para ciúmes?! Eu sei que já não temos nada mas assim é difícil qualquer homem resistir-te. – Apesar de perceber que estava a falar a sério também deu para perceber que estava a tentar acalmar-me, e isso soube bem.

Dei-lhe um empurrãozito na brincadeira, mas depois tornei-me séria.

- Luc, por favor, despacha-te. Não sei se vou conseguir empatar durante muito mais tempo.

Voltei para dentro da jaula enquanto as outras mulheres, uma a uma se iam vestir. Voltei a sentar-me ao lado de Kim, que usava um fato de enfermeira.

- Tenho medo. – Disse-me.

- Eu sei, temos todas.

- Tu não.

- Também tenho, acredita.

- Não parece nada! – Exclamou a rapariga dos cabelos ruivos, que estava de pé à nossa frente.

Levantei-me.

- Sabes que mais? Eu não gosto de ti. – Disse-lhe. – Tenho o pressentimento que queres ver-nos cheias de medo e a lamentar-nos e como eu não vou nessa andas a atrofiar comigo. Deve ser horrível viver isto várias vezes mas eu não tenho culpa, nem eu nem elas e não vou desistir e parar de lutar só porque tu dizes, por isso podes parar por aí.

Ela ficou indignada e afastou-se. A última das raparigas voltou e o sequestrador obrigou-nos a sentar no chão, à volta da cama. O que me fazia confusão era como é que um só homem conseguira tudo aquilo. Apanhar estas mulheres, sozinho, não era tarefa fácil e muito menos repetidamente. Não podia ter conseguido fazer tudo sozinho… então lembrei-me que quando levara a pancada na cabeça, estava frente-a-frente com ele, logo tinha que haver um cúmplice e estava naquela sala connosco. Só podia ser a rapariga que sobrevivia.

- Muito bem senhoras, eis o momento tão esperado. Quem quer ser a primeira? – Perguntou, seguindo-se de uma gargalhada maléfica. – Que tal tu? A mais respondona de todas e aparentemente mais corajosa? Mas, pensando bem, acho que as devias ver a morrer primeiro… acho que sofrerias mais. – Disse, dirigindo-se a mim.

Andava às voltas, atrás de nós a tentar decidir qual a primeira vítima, o que até era bom pois dava tempo para Luc actuar. Senti, de novo uma pancada na cabeça.

Acordei com as mãos e os pés amarrados. Estava deitada e amarrada em cima da mesa, que se encontrava encostada à parede.

Ouvia o choro de Kim, que estava sentada na cama.

- Kim! – Gritei. – Não!

- Isso mesmo. Grita. É para veres que os teus esforços não servem de nada. – Disse-me o raptor.

- Como é que podem ficar assim a olhar?! – Dizia eu para o resto das raparigas. – Ele vai matá-la e a seguir são vocês! Como é que podem não fazer nada?! Vocês são mais, nós somos mais.

O que é que eu podia fazer neste momento? Apesar de ser óptima a lutar, mesmo sem os meus poderes, como é que podia ir contra um homem armado, sem o poder imobilizar? Será que se me expusesse ao usar os poderes, salvaria alguém? E quanto a Kim, que estava agora em cima da cama, ela iria ser a primeira vítima do dia. Voltei a olhar para a posição das câmaras, que cobriam a sala inteira. «Que se lixe» pensei, mesmo que meia dúzia de pessoas me visse a imobilizar o raptor eu podia sempre apagar-lhes a memória. Depois inventaria qualquer coisa. O que importava era agora, e agora eu não podia não fazer nada. Fechei os olhos e concentrei-me, fazendo com que as cordas que me enrolavam as mãos e os pés se desenrolassem. Saltei da mesa num pulo e pus-me em frente ao raptor.

- Se queres brincar com alguém, tenta alguém que não tenha medo de ti. – Disse-lhe.

- Olha, olha, mas quem é que tu achas que és?! Não passas de uma pirralha que já me começa a irritar. – Disse-me, apontando-me a arma.

Dei-lhe um pontapé na mão, o que fez com que a arma saltasse para ao pé da rapariga do cabelo ruivo. O homem olhou para mim incrédulo e começou a tentar esmurrar-me mas eu conseguia defender-me com bastante facilidade, aquilo comparado com demónios não era nada. Ouvi as raparigas discutirem se deviam ou não agarrar a arma.

- Agarrem a arma! – Dizia-lhes eu, enquanto lutava com o sequestrador.

- Pára! – Gritou a rapariga do cabelo ruivo, com a arma na mão, apontada a mim.

Respirei fundo.

- Eu sabia. Tu não és uma coitadinha. És uma cúmplice. – Acusei-a.

- Parabéns. – Disse-me sarcasticamente.

- A sério, o que é que achas que vai acontecer? Achas que ele te vai deixar ficar com ele para sempre ou que não te vai matar quando já não precisar de ti? – Dizia-lhe eu, enquanto me aproximava devagar.

Num golpe que Luc me ensinara semanas atrás desarmei-a e a arma rolou pelo chão. Ela tirou uma faca do cinto, que se encontrava escondida, e apontou-ma. Apressei-me a ir buscar a arma e apontei-a, não para ela, mas para o sequestrador.

- Ahh é melhor parares por aqui ou eu disparo. – Ameacei.

- E porque é que achas que me interessa? – Perguntou, com cara de chica-esperta.

- Bem, se não te interessa então acho que não se perde nada.

Num movimento brusco fingi que ia disparar e ela gritou para não o fazer.

- Ah, agora já é outra história. – Comecei. – Mete a faca no chão. Já! E senta-te na cadeira.

Ela obedeceu.

- Agora… porque é que não queres que o mate? – Perguntei.

- Porque… porque ele é meu irmão.

- Então e as raparigas que ele matou, não eram irmãs de alguém? Filhas de alguém?!

- Sim. – Respondeu começando a soluçar.

- Senta-te na outra cadeira! – Ordenei ao raptor, que obedeceu.

Apontei agora a arma à rapariga ruiva.

- Então e tu, importas-te que a mate? – Perguntei ao raptor.

- Nem um bocado. – Respondeu amargamente, cuspindo para o chão. Voltei a apontar-lhe a arma a ele.

 A rapariga ficou com lágrimas nos olhos.

- Vês? – Disse-lhe. – Agora vais ficar o resto da tua vida numa cela de prisão por causa de alguém que não te liga nenhuma. Espero que tenha valido a pena.

Ouvimos sirenes da polícia, que entrou pela sala armada e pronta a disparar, apesar de estar a par da situação pelos vídeos. Luc e Chad vinham com eles. A polícia prendeu o raptor e a sua irmã e auxiliou as outras raparigas enquanto eu corri para os braços de Chad e Luc.

- Estás bem? – Perguntou Luc com uma grande preocupação na voz.

- Assim-assim, mas agora já estou melhor. Obrigada.

- Pregaste-nos cá um susto. – Disse Chad, com o seu braço por cima do meu ombro.

- Tu é que dizias que era mania da perseguição… - Disse eu.

Fomos para casa e lá fizeram-me montes de perguntas. Claire, Rick, Sue e Josh estavam lá à minha espera e também participaram no questionário.

- Devias estar aterrorizada. – Disse-me Rick.

- Estava, mas tentava não mostrar.

- O que é que foi pior? – Perguntou Claire.

- Ter que fazer tudo vestida à mulher-aranha. – Respondi, em tom de gozo.

Todos riram, incluindo eu. Acho que a melhor maneira de lidar com isto é mesmo gozar e tentar esquecer.

 

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