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Destino Amaldiçoado

por Andrusca ღ, em 05.03.11

Capítulo 28

Visita ao Passado 

 

Faltavam dois dias para o meu aniversário e os Connor estavam entusiasmadíssimos com a festa surpresa que estavam a preparar, apesar de eu já saber e não querer. Só queria que esse dia passasse rápido e que demorasse imenso tempo a voltar a chegar, no próximo ano. Estava também a fazer um ano desde que me mudara de volta para São Francisco pois eu mudara-me um dia depois de fazer os vinte e um anos.

Estava em casa sem fazer nada e quase a morrer de tédio. Pensei em convidar Chad ou Luc para irem dar uma volta mas Sheilla disse-me que eles tinham ido numa caçada.

Durante a última semana Sue perguntou-me milhões de vezes o que queria para prenda de aniversário. Eles não sabem da minha história completa, apenas sabem que os meus pais morreram quando eu ainda era muito nova.

- Então, o que é estás a fazer? – Perguntou Claire, entrando na sala.

- Nada de especial. – Respondi. – E tu, o que é que estás cá a fazer? Vieste fazer uma visitinha?

- A Sheilla precisava da minha ajuda para uma coisa.

Eu sabia eu se tratava da minha festa não tão secreta.

- Ah, ok. Até logo então. – Disse-lhe.

- Fica bem. – Respondeu ela, dirigindo-se para a cozinha.

Resolvi ir dar uma volta e fiquei a andar de um lado para o outro o tempo todo. Quando cheguei a casa os Connor estavam todos lá, provavelmente a falar da minha festa porque assim que entrei desconversaram logo, sem fazer sentido uns com os outros.

Subi para o quarto e o resto do dia não foi nada de especial, basicamente fiquei no quarto e saí para comer na cozinha. Deitei-me cedo e acordei na manhã seguinte a pensar como entediante ia ser o resto do dia, como o anterior foi. Levantei-me e vesti-me. Estava muito calor, já estávamos em pleno verão. Fui tomar o pequeno-almoço à cozinha e Louis disse-me para desmarcar qualquer compromisso que tivesse para amanhã, ao que eu respondi afirmativamente mas com pouco entusiasmo. Não houve um único demónio que eu pudesse explodir e estava a dar em doida por não ter nada que fazer. Pus um DVD e sentei-me no sofá a vê-lo, quando Luc chegou e se sentou ao pé de mim.

A noite chegou muito mais depressa do que eu desejava e ao deitar-me pensei nos meus pais, que neste dia, há sete anos atrás, foi a última noite que dormi na mesma casa que eles. Abanei a cabeça para parar de pensar nisso e adormeci. Acordei e espreguicei-me. Levantei-me e calcei os chinelos, saí porta fora e fui para a cozinha. «Prepara-te.» pensei.

- Bom dia Jô, já estás acordada? – Perguntou Sheilla, que estava a dar o pequeno-almoço aos pequenos.

- Bom dia, sim já, não conseguia dormir. – Respondi, agarrando no pacote de leite.

- Parabéns! Deves estar super entusiasmada.

- Obrigada Sheilla, nem imaginas o quanto.

- Parabéns! – Gritou Chad, enquanto me abraçou por trás, apanhando-me desprevenida.

- Obrigada.

Talvez me pudesse esforçar mais, mas naquele dia não em apetecia nada estar feliz. Subi as escadas e vesti-me. Vesti uma saia preta e uma blusa cor de laranja de atar ao pescoço, calcei umas sandálias rasas e fiz uma trança. Quando voltei a descer as escadas, já lá estavam os Connor quase todos, à excepção de Sue e Josh. Não me apetecia nada estar ali.

- Ei Chad, queres ir dar uma volta? – Perguntei.

- Agora nem por isso Jô, desculpa.

- Ok… e tu Claire?

Perguntei a todas as pessoas que lá estavam e todas elas recusaram, estava prestes a desistir quando chegaram Sue e Josh, apesar da primeira recusar.

- Josh! Mesmo a pessoa que eu precisa de ver. – Disse-lhe. – Anda dar uma volta comigo, por favor. – Pedi, já num tom de súplica.

- Tudo bem. – Respondeu.

Demos uma volta e parámos num banco, a conversar. Apesar de Josh não ser muito tagarela, era fácil falar com ele, como se ele compreendesse tudo. Estava tudo a ir bem, até porque ele nem tinha falado no meu aniversário, quando o assunto sobre o Luc veio ao barulho.

- Tu ainda gostas dele não gostas? Não tentes negar, nota-se nos olhos. – Disse-me.

- Gosto. – Respondi, depois de ter respirado fundo.

- Então qual é o problema? Ela já te provou tantas vezes que está arrependido e que também gosta de ti.

- Eu sei, é só… eu nem sei, acho… acho que lá no fundo estou com um bocado de receio.

- De te magoares outra vez?

- Exacto.

- Ouve, se queres um conselho… achas mesmo que vale a pena perder dez bons momentos porque causa de um único mau momento?

Fiquei em silêncio e ele percebeu que aquela conversa já dera o que tinha a dar por isso começou a falar de outras coisas.

- Então, o que é que achas que eles estão a fazer? – Perguntou-me.

- Definitivamente a preparar-me a festa surpresa.

Claire telefonou-me a dizer para irmos para casa para almoçar e nós fomos. Quando lá chegámos eles estavam todos em pé e Sheilla segurava num bolo. Todos gritaram e riram enquanto me cantaram os parabéns. Sentei-me, tentando acalmar-me e comecei a falar.

- Obrigada. – Comecei. – Mas…

- Não gostaste? – Perguntou Sheilla.

- Eu sei que não querias uma festa mas isto ainda não é a festa, é só o bolo, não percebo porque é que não gostas do teu dia de anos, é por ficares mais velha? Porque ainda és bastante nova. – Disse Claire.

- Não é nada disso é só que… ok, vocês merecem saber… - Disse eu. – Vocês sabem que os meus pais morreram muito cedo…

- Sim mas… - Começou Chad.

- Não interrompas. – Pedi. – Eles morreram no dia em que fiz quinze anos, por isso é que não gosto de celebrar o meu aniversário, porque me faz lembrá-los demasiado. Não foi propriamente o melhor aniversário de sempre.

- Jô… nós lamentamos imenso… não fazíamos ideia. – Disse Luc, cheio de remorsos.

- Claro que não, não tinham como saber, eu nunca vos contei. – Disse-lhes, tranquilizando-os. – Prometam só uma coisa… sem festa ok?

- Sem festa. – Prometeu Sue.

Apareceu-nos um homem à frente, um Criador.

- Parabéns Joanna! – Exclamou com um sorriso de orelha a orelha. Nós ficámos a olhar para ele e ele prosseguiu. – Nós sabemos o quanto te tens sacrificado por tudo isto, pela tua vida, e por isso vamos dar-te uma prenda.

- Uma prenda? – Perguntei, um bocado espantada mas também inquietante.

- Sim, vamos dar-te a oportunidade de teres uma vida normal, como sempre desejaste. Podes mudar tudo, é bem simples. Vais voltar ao passado, há precisamente sete anos atrás e podes escolher entre salvar os teus pais e ter a vida normal que tanto queres, ou não, e depois voltas e prossegues com esta vida. Se os decidires salvar, nenhum dos teus feitos nesta vida vão mudar, tu vais apenas continuar com vinte e dois anos só que os teus pais vão estar vivos e não vais ser uma bruxa, ou sequer lembrar-te que foste uma e consequentemente o que fizeste e quem conheceste. Uma vida completamente nova.

- Isso é possível? – Perguntei, curiosa, enquanto os Connor esperavam em silêncio.

- Bem possível.

- E quando é que me vão dar essa… “prenda”?

- Ora bem… a prenda começa já.

Ele estalou os dedos e de repente estava num quarto muito familiar, o meu quarto, naquela enorme casa azul clara e com os pilares brancos. O meu quarto estava decorado em tons de laranja, tinha uma cama ao centro e duas mesas-de-cabeceira dos lados, cada uma com um candeeiro em cima, que condizia com o do tecto. O roupeiro era enorme e havia montes de sacos de lojas ao lado dele, ainda com roupas por estrear. A secretária com o computador portátil em cima e os livros da escola estava encostada num canto, com uma cadeira à frente e um espelho enorme ao lado. Tudo exactamente como eu me lembrava. Vi as horas no despertador, eram três e meia, os meus pais só iriam ser mortos às cinco, por isso resolvi ir dar uma volta, pensar melhor no assunto, apesar de ter 98% de certeza de que iria salvar os meus pais. Conforme ia andando, as memórias do tempo que passara com os Connor vinham-me à cabeça, por muito que as quisesse evitar. «Nunca conhecer não é exactamente como me mudar de cidade ou isso, não me permite ter saudades, é como não nascer, não nascer é muito diferente de morrer» pensei, tentando fazer sentido. Dei por mim na praia, onde tinha estado antes de regressar a casa, naquele mesmo dia. Eu tinha o meu aspecto normal, estava com a roupa que vestira e os mesmos anos, estava apenas sete anos atrás, ou seja, a minha versão mais nova devia estar quase a chegar à praia.

Sentei-me na areia, ainda a pensar nos Connor e no que podia vir a perder quando me vi a mim, com quinze anos, a chegar à praia. Lembrei-me de súbito dos meus pais e corri até casa, entrando pela varanda do meu quarto, pois eles já lá estavam. Ainda faltava uma hora para a decisão por isso deitei-me na cama e tirei o telemóvel do bolso do casaco que ainda tinha vestido. Reparei que tinha uma transferência concluída, apesar de não me lembrar de ter transferido nada. Fui ver o que era e era uma música, The Reason, de Hoobastank. Pus a tocar baixinho, para que os meus pais não ouvissem e ouvi Luc a cantá-la, lembrei-me que nunca o tinha ouvido a cantar e reparei que até se safava bem, desafinava em algumas partes mas foi o suficiente para me fazer dar uma gargalhada. Senti-me feliz por uns quantos momentos. Quando se aproximaram as cinco horas, desci as escadas da minha glamourosa casa e escondi-me na sala, atrás de um móvel. Esperei impacientemente até que os meus pais entraram na sala, deu-me um aperto enorme no coração ao vê-los, reparei que a minha mãe pôs um papel em cima da mesa. Depois, apareceram os dois demónios e ficaram os quatro frente a frente. Imobilizei a sala e saí do esconderijo. Olhei para os meus pais e fiquei com o coração nas mãos e com as lágrimas nos olhos, depois olhei para os seus assassinos e vi que as caras deles eram exactamente como eu me lembrava. Eram apenas questões de segundos até o efeito do meu poder acabar e eu ter que decidir o que fazer. Se quando cheguei tinha a certeza do que queria, agora tinha o coração divido em milhões de pedaços. Eu amava, amo, os meus pais, mas quem é que me garante que as coisas serão só maravilhas? Quem é que me garante que a minha vida vai ser melhor, feliz? Tinha que decidir, ou explodir os demónios ou deixá-los matar os meus pais. Vieram-me recordações de quando conheci os Connor na casa deles, de quando conheci Chad e Luc no centro comercial e até quando estava em coma e o pequeno Luc disse a sua primeira palavra. Lembrei-me de começar a namorar com Luc e de como me sentia ao pé dele, sobretudo lembrava-me de como era bom ter o que eu tinha.

- Lamento imenso. – Pronunciei, com lágrimas a escorreram e agarrando no pedaço de papel que a minha mãe deixara em cima da mesa, com o meu nome, e voltei costas, escondendo-me de novo atrás do móvel.

Aos poucos o móvel foi-se desvanecendo e eu caí para a frente, de joelhos, no pátio da casa dos Connor, com lágrimas a caírem desalmadamente. Estava de volta ao meu tempo. Fiquei sentada lá no chão por um tempo até me acalmar. Precisava de tempo para me recompor, não queria que me vissem tão em baixo e a chorar. Quando senti que as lágrimas estavam controladas, abri a porta lentamente e entrei. Ouvi-os falar, estavam lá todos.

- Vou ter saudades dela. – Dizia Chad. – Não sei como mas conseguia sempre pôr toda a gente de bom humor.

- Ela era especial. – Disse Claire, fazendo um esforço enorme para conter as lágrimas. – Ainda nem acredito que nunca mais a vamos ver.    

- Ela merecia o melhor e merecia ser recompensada mas eu vou ter tantas, tantas, tantas saudades dela. – Lamentava-se Sue.

- Eu sei, eu também. – Disse-lhe Rick.

Louis e Sheilla permaneciam abraçados um ao outro, com um ar triste, sem se pronunciarem.

- Nem acredito que ela se foi. – Disse Luc, por fim, quase com as lágrimas a cair. – Ela não pode ter ido, não pode! A culpa foi toda minha, se eu não tivesse estragado tudo ela não tinha ido.

- E eu que pensava que tínhamos tido uma boa conversa e que lhe tinha dado um bom conselho. – Disse Josh.  

Avancei em direcção a eles.

- O conselho foi bom. – Disse, em voz alta, fazendo com que se virassem todos para mim. – O conselho foi bom. Eu pensei em salvá-los, aliás, eu tinha a certeza que os ia salvar mas… quando chegou a altura eu percebi que adoro o que faço e que não me queria não me lembrar de vocês e de tudo o que fiz. Eu adoro os meus pais mas aprendi como viver sem eles há sete anos atrás, e… eu não quero viver sem vocês. Porque no momento da decisão vocês eram tudo em que pensava. Tu eras tudo em que pensava. – Disse, agora, dirigindo-me para ao pé de Luc. – Não eram as discussões ou as caçadas ou os treinos, eras simplesmente tu, as gargalhadas que demos, as danças no High Spot, as noitadas a ver filmes. Porque eu amo-te e por muito que tente não amar, é impossível, porque nunca parei de te amar. E desculpa só dizer isto agora mas se ainda me quiseres… eu estou aqui.

Ele sorriu e agarrou-me, beijando-me em seguida.

- Eu vou sempre querer-te. – Afirmou-me.

Sorrimos todos e foi um belo reencontro até à parte em que senti que havia mais uma coisa que tinha que fazer, algo que nunca tinha tido a coragem de fazer antes.

- Desculpem mas eu tenho que ir. – Disse.

- Vais sair? Queres que vá contigo? – Perguntou Luc.

- Não obrigada. Isto é uma coisa que tenho que fazer sozinha. Sheilla, emprestas-me o teu carro?

- Sim, claro.

Conduzi até ao cemitério e aproximei-me das campas dos meus pais, que se encontravam lado a lado.

- Desculpem, não consegui. Esta é a minha vida agora e só porque podemos mudar as coisas não significa que devêssemos. Eu adoro-vos, nunca duvidem disso mas eu não podia. Ver-vos hoje foi… sei lá, trouxe tudo de volta, todas aquelas emoções que tentei esconder durante tanto tempo, mas foi também libertador, fez-me perceber o que eu quero, quem sou e o que tenho. Obrigado por isso.

Voltei para casa e fui para o meu quarto. Vesti o pijama e quando me ia deitar bateram à porta. Fui abrir.

- Posso dormir cá hoje? – Perguntou Luc.

- Claro que sim. – Respondi, beijando-o.

- Que papel é aquele? – Perguntou, apontando para o papel que eu tinha trazido do passado e que se encontrava agora na minha mesa-de-cabeceira.

- Esse papel é um problema para amanhã. – Respondi.

Deitámo-nos e encostei-me a ele.

- Sabes… isto assim, agora, parece bem. As coisas estão finalmente a ficar bem outra vez. Não só as coisas contigo mas também a morte dos meus pais. Acho que para o ano vou querer uma festa de arromba, eles não iriam querer que eu não gostasse do meu aniversário.

- Acho que tens razão.

- Amo-te Luc.

- E eu a ti.

 

Então, que tal?

Os (agora) habituais 13 ^^

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