Destino Amaldiçoado
Capítulo 36
Dahaka
Quando chegámos a casa o livrinho dourado já não estava lá, acho que não iria precisar dele e, se voltasse a precisar, ele voltaria a aparecer.
Passaram-se duas semanas e desde a última que não parava de chover e fazer trovoada, e ainda não tínhamos ouvido nada de Jared.
Chad e Luc estavam obviamente muito devastados com toda a história. Luc ainda ficou pior depois de saber que eu já sabia de tudo há um tempo e que tinham sido eles a matar os meus pais. Ele andava muito protector em relação a mim e mal me deixava sair da vista dele. Acho que tinha medo que algo assim se repetisse, mas depois de uma conversa que tivemos consegui convencê-lo de que nunca me irá conseguir salvar de tudo. Chad também estava mal por causa de toda a situação mas mais que triste, estava revoltado. Mais por minha causa do que por tudo o que Paul e Jared lhes fizeram. Eles ficaram pior depois de saberem da chantagem, o que me fez perguntar-me se teria feito bem em contar-lhes.
Estava tão dentro dos meus pensamentos que nem reparei que Luc estava a falar comigo.
- Não achas? Jô! – Disse ele, tirando-me os fones dos ouvidos.
- Acho sim, claro que acho. O que é que eu acho amorzinho? – Perguntei, com um sorriso irresistível.
- Pois, estou aqui há meia hora a falar e agora vens-me com essa do “amorzinho”. – Disse ele, sentando-me em cima da cama ao meu lado.
- Tens razão, desculpa. Do que é que estávamos a falar? – Perguntei, chegando-me um bocadinho para ao pé dele.
- Do que estará Jared a planear, porque de certeza que se vai querer vingar de ti.
Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro do quarto.
- O que é que foi? – Perguntou.
- Já reparaste que agora tudo o que falamos vai dar ao Jared? Estou a começar a ficar um bocado cansada com esta história.
- Sim mas ele é perigoso, nós temos que estar muito atentos.
Sentei-me muito juntinho a ele e obriguei-o a olhar para mim.
- Mas ele não está aqui agora certo? Porque é que não descontrais um bocadinho? Podíamos namorar um bocado, relaxar… - Disse eu, beijando-o de seguida.
- Tu és horrível, é impossível negarem-te alguma coisa. – Disse ele abanando a cabeça e retribuindo-me o beijo.
Passado um tempo de estarmos a namorar ouvimos uma coisa a partir-se e descemos as escadas a correr.
- Está tudo bem. – Disse Louis, assim que nos viu. – Só deixei cair um prato.
- Deixaste cair um prato e fez este barulho todo? – Perguntei, à espera que ele dissesse a verdade.
- Tudo bem, foram cinco. Podem apanhar os vidros e acabar de fazer o almoço enquanto vou levar a sopa à Sheilla? – Pediu ele.
- Ainda sobraram pratos para poderes levar sopa à mãe? – Perguntou Luc num tom de gozo.
- Não, sobraram tigelas. – Respondeu ele, no mesmo tom de gozo que Luc utilizara.
- Não te preocupes, nós arrumamos isto. – Disse eu a Louis.
Sheilla estava um bocado adoentada e tinha passado os últimos dois dias na cama, agora que já estava melhor queria-se levantar e fazer o dia-a-dia normal mas Louis insistiu para que ela continuasse na cama pelo menos por hoje. Ela era tão má doente como eu, ambas detestávamos estar de cama.
Vesti um avental e agarrei na vassoura. Comecei a varrer os vidros. Luc agarrou-me por trás.
- Sabias que ficas bem sexy com um visual de dona de casa? – Perguntou-me, virando-me para ele.
- A sério? Sabes como é que tu ficavas sexy? – Perguntei, sedutoramente, beijando-o.
- Como?
- A varrer os vidros enquanto eu acabo o almoço. – Respondi, piscando-lhe o olho.
- Tu estragas logo o romantismo todo à coisa. – Disse ele, tirando-me a vassoura das mãos.
- Às vezes.
Ele riu-se e começou a varrer o resto dos vidros.
Almoçámos e depois eu e Luc aproveitámos que tinha parado de chover e fomos dar uma volta pelo parque. Quando já estávamos a sair do parque vimos Rick e fomos ter com ele.
- Então meu, por aqui? – Perguntou Luc.
- Sim, fui ali à farmácia comprar uns medicamentos para a Claire. – Respondeu ele.
- Mas ela está doente? – Perguntei.
- Está um bocado sim, deve andar uma virose por aí, o hospital tem estado completamente cheio, como nunca se viu antes. As pessoas andam desesperadas por médicos e medicamentos. – Disse ele.
- Pois, o Chad esteve doente a semana passada e agora está a Sheilla. – Disse eu.
Não pudemos estar muito tempo à conversa porque Claire precisava dos medicamentos e depois Rick tinha que voltar para o hospital.
Voltámos para casa e vimos Louis deitado no sofá, muito vermelho e transpirado. Sentei-me no braço do sofá.
- Sentes-te bem Louis? – Perguntei, pondo-lhe a mão na testa, que se encontrava a arder. – Tens a testa a escaldar Louis!
Pedi a Luc que o ajudasse a ir para a cama do quarto de hóspedes, para que não pegasse a sua doença a Sheilla e levei-lhe um comprimido e um termómetro. Tinha 39 graus de febre. Deixámo-lo descansar e descemos as escadas.
- Então pessoal, como é que é? – Perguntou Chad, acabado de chegar.
- Bem, os teus pais estão doentes, a Claire também e daqui a nada somos nós por estarmos em contacto com eles. Eu vou mas é ver o livro. – Disse eu.
- Espera lá. – Disse Luc. – Mas achas mesmo que é algum demónio que está a fazer as pessoas ficarem doentes?
- Não sei o que pensar, mas estas doenças todas não são normais. Ontem deu nas notícias que três pessoas tinham morrido de cancro e eram perfeitamente saudáveis e acabadas de fazer exames, que não mostravam cancro nenhum e tu ouviste o que o Rick disse, os hospitais estão mais cheios que nunca. E se pensares bem, estas tempestades e trovoadas não são normais em São Francisco, não durante tanto tempo seguido.
Ouvimos um zumbido e vimos uma mosca, imobilizei-a, abrindo a janela e pondo-a na rua.
- Ah! – Gritei para Chad. – Apanhei-a primeiro.
- Não contes só com esta, assim fica apenas seis a dez Joanna, o grande vencedor sou e sempre serei eu. – Respondeu ele.
- Vocês andam a ver quem é que apanha mais moscas? – Perguntou Luc.
- Claro que sim. Têm aparecido tantas que tivemos que arranjar qualquer artimanha para as fazer parecer interessantes. – Respondeu Chad.
- Vocês não existem. – Disse Luc, rindo-se.
Fui ver se encontrava algo relacionado com as doenças no livro, levei-o para o meu quarto e depois de algum tempo encontrei três demónios. Luc e Chad entraram na altura em que os ia chamar.
- Então, achaste alguma coisa? – Perguntou Chad.
- Encontrei, um demónio. Como é que estão os vossos pais? – Perguntei.
- A mãe está a ter uma recaída mas o pai ainda está a dormir. – Respondeu Luc – Mas diz lá, que demónio é esse?
- Bem, temos o Alknamid, o Belzebu e o Dahaka. – Disse eu.
- Pensei que tinhas dito um. – Disse Chad, confuso, sentando-se em cima da cama.
- E disse. Alknamid era uma óptima hipótese, doenças, tempestades… mas já o matámos lembram-se? Há cerca de cinco meses.
- Ah, pois foi. – Disse Luc. – E esses dois o Dakaka e o Bezube?
- Dahaka e Belzebu. – Corrigi.
- Sim esses. – Disse ele.
- O Belzebu é o Príncipe dos Demónios, senhor da pestilência e das moscas. – Esclareci.
- É isso que eles têm como príncipe? – Perguntou Chad, rindo-se.
- Mas não é ele. Ele foi morto há cerca de dois mil anos trás, foi assim que o Mestre começou a governar. O que nos deixa com o Dahaka. O Dahaka é parecido a um dragão com três cabeças e aqui diz que tem muitos sentidos, como o de matar das serpentes, escorpiões e outros bichos venenosos. Também pode controlar tempestades e trazer doenças. Este é o nosso demónio.
- Espera lá, recua lá um bocado. Ele é um dragão com três cabeças? – Perguntou Chad.
- Sim. – Respondi.
- E achas que ninguém ia ver um dragão com três cabeças a andar nas ruas de São Francisco?! – Perguntou Luc, sarcasticamente.
- Não sei. Mas só pode ser ele, tem tudo para ser ele. – Disse eu.
- Ok, como é que o matamos? – Perguntou Chad.
- Não matamos. Ele não pode ser morto. Como não pode ser morto, há muitos anos trás foi selado na montanha Damavand.
- Montanha Damavand. Onde é que isso fica? – Perguntou Luc.
- A montanha Damavand é uma montanha no Irão, é vulcânica mas não te preocupes, não está activa há já 2.000 anos, é do distrito de Laridjan, na província de Mazanderan. Está aí a uns 80 km do Mar Cáspio e há lá uma cidade próxima chamada Damavand, daí o nome. – Respondi.
- Ok, tudo o que disseste soou a chinês mas deste muitas indicações por isso suponho que queiras lá ir. – Disse Chad.
- E supões muito bem. – Disse eu.
Luc saiu a correr e voltou cinco minutos depois, muito pálido.
- É melhor irem só vocês, não me estou a sentir lá muito bem. – Disse ele.
Telefonei a Sue mas também ela e Josh estavam doentes. Escrevi o feitiço que estava escrito no livro para aprisionar o demónio num pedaço de papel, e quando Chad nos estava prestes a teletransportar para o Irão, bateram à porta.
Abri e vi Rick, estava a amparar Claire, que quase não se aguentava em pé. Decidimos que Claire devia ficar lá em casa com o resto das pessoas doentes e Rick devia ficar com eles, visto que as doenças não se contagiavam assim e que Rick era médico. Ele insistiu bastante em vir connosco e após um tempo a discutirmos esse assunto e de Chad e eu sermos levados à exaustão pela determinação de Rick, lá o deixámos vir connosco. Chad teletransportou-nos para a montanha mas ao contrário do que esperávamos não ficámos no topo, ficámos em baixo.
Fomos a uma loja lá perto e, com uma grande dificuldade por causa das linguagens diferentes, comprámos tudo o que era necessário para escalar, com um manual em inglês e fomos para um sítio que diziam que era bom para se escalar.
Chad vomitou para o chão.
- Eu acho que ir para as alturas nestas condições… - Começou ele.
- Sim é melhor ficares cá em baixo. – Disse-lhe eu. – Vamos lá Rick. – Disse, olhando para cima. – Estamos prestes a escalar o maior vulcão de toda a Ásia.
- Pareces um bocado ansiosa. – Disse ele. – Quantas vezes é que já escalaste?
- Surpreendentemente nenhuma, e tu?
- Três ou quatro, os meus pais costumavam fazer destas coisas comigo.
Preparámos tudo e começámos a subir, os meus poderes ajudaram bastante, pena não conseguir voar. Começámos a escalada e quanto mais nos aproximávamos do cimo, com mais intensidade nevava. Podia não saber onde é que o demónio estava mas se alguém o tentasse prender de novo, ele ia-se revelar, disso tenho a certeza.
- É melhor não olhares para baixo. – Disse-me Rick. – Pode-te causar vertigens.
- Pois, é melhor é.
Quando acabámos a subida, horas depois de termos começado, já era de noite e estava um frio de rachar. Apesar de no Irão estar de Verão, o Dahaka concentrava a maior parte da sua energia lá, fazendo uma tempestade horrível. Estávamos quase a chegar à rocha em que se dizia que ele tinha sido aprisionado quando ouvimos um ruído horrível e eu sou atirada pelos ares.
Caí em cima de um monte de neve, não me magoando, porém, estava tão gelada que mal me conseguia mexer. Olhei para cima e vi-o. Era tal e qual como o descreviam, tinha três cabeças e parecia um dragão, à excepção de que era três vezes maior que eles, tinha escamas laranjas acastanhadas e uns olhos amarelos horríveis.
Tentei explodi-lo mas nem um arranhão lhe fiz. Cuspiu fogo na minha direcção e eu desviei-me. O fogo derreteu a neve instantaneamente. Dahaka virou-se para Rick e preparou-se para lhe cuspir fogo para cima, eu levantei-me e mandei-me contra Rick, fazendo-o cair, de modo a que o fogo não lhe acertasse, mas ao mandar-me queimei a manga do casaco. Levantei-me e entreguei o papel com o feitiço a Rick. Afastei-me dele e o fiz gestos para o demónio, que veio atrás de mim.
- Lê o feitiço! – Gritei para Rick, enquanto me tentava afastar do demónio.
- Mas eu não sou bruxo! – Dizia ele, em pânico.
- Não o vais aprisionar mas vais enfraquecê-lo, enquanto ele estiver atrás de mim não vou conseguir ler o feitiço! – Gritei.
Ele leu-o e o Dahaka deu um grito ensurdecedor, de dor. Corri de volta até Rick enquanto o Dahaka estava distraído, agarrei na folha de papel e li o feitiço.
A rocha por trás de nós abriu-se e viu-se muita lava, o Dahaka foi arrastado para lá para dentro e mandado para a lava a fervilhar e a rocha voltou-se a fechar. Parou de nevar e as nuvens começaram a desaparecer. Luc apareceu ao pé de nós e Chad apareceu segundos depois.
- Ei, como é que estão? – Perguntei, aproximando-me de Luc.
- Melhor que nunca, graças a vocês. – Disse ele.
- Óptimo! – Exclamei, esboçando um sorriso.
- Sabem, isto é diferente. – Disse Rick. – Normalmente sou capturado e feito prisioneiro pelos demónios, não costumo ser eu a ir atrás deles. Podemos sair daqui?
Eu, Chad e Luc rimo-nos e depois voltámos para casa. Claire ia-nos matando por termos permitido que Rick fosse connosco mas ele acalmou-a. Claire e Rick foram para casa e Sue telefonou a dizer que ela e Josh já não estavam doentes.
A chuva tinha parado e o sol já estava a começar a aparecer.
- Estou tão feliz por me ter livrado daquela gripe horrível! – Exclamou Sheilla.
- Acredito. – Disse eu. – Atchin! Para a próxima vez que for para a neve tenho que me agasalhar muito mais. – Lamentei-me, deixando-me cair para o sofá.
- Oh, coitadinha da minha namorada, estás doentinha é? – Perguntou Luc, carinhosamente quando me encostei a ele no sofá.
E estamos em contagem decrescente para o final... só faltam 5 capítulos.
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