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One Shot

por Andrusca ღ, em 12.03.11

SOS Nashville

 

Parte 1

 

O despertador tocou na minha mesa-de-cabeceira e apressei-me a mandar-lhe um encontrão, indo ele parar ao meio do chão.

- Amy Kristen McGavin, que barulho foi esse?! – Tapei a cabeça com a almofada, finalmente tinha calado o raio do despertador e agora tinha a minha mãe aos berros do andar de baixo. As manhãs na minha casa são sempre muito animadas.

- Nada mãe! – Gritei.

- Não fales assim com a tua mãe! – Gritou-me o meu pai.

Ai que raiva! Quem me dera sair desta casa e nunca mais cá voltar!

Levantei-me lentamente e a rastejar lá fui para a casa de banho, onde tomei um duche para ver se acordava.

Depois vesti os meus calções de ganga e uma túnica cor de laranja, e pus pulseiras e brincos. Calcei umas botas curtinhas, castanhas. Deixei o meu lindo e enorme cabelo cor de chocolate solto e a fazer os jeitos naturais.

Peguei na mala e desci as escadas, peguei numa maçã e dirigi-me à porta.

- Não vais tomar o pequeno-almoço? – Perguntou a minha mãe, com o tom arrogante que agora sempre usava quando falava comigo.

- Como a maçã no caminho – respondi-lhe, sem abrandar o passo.

- E… - não esperei que acabasse, fechei a porta atrás de mim e entrei no meu carro, um descapotável vermelho.

Alguém de fora que olhasse para mim, diria que tenho tudo. E ok, não é mentira. Dinheiro não me falta, popularidade na escola então tenho de sobra, e de estilo nem se falta. Para além de namorar com o rapaz mais lindo da escola.

Ser uma rapariga de 17 anos com a minha vida podia facilmente ser um conto de fadas. Mas quando se tem pais como os meus, de nada tem de bom ou feliz. Eles passam a vida a discutir um com o outro, e depois descarregam em mim. Já não há paciência.

Estacionei o meu carrinho no meu lugar habitual e caminhei a um passo apressado até à entrada do Liceu de Beverly Hills, onde o meu namorado digno de modelo me esperava. Claro que como sempre estava no engate com outras raparigas, mas tudo bem, a nossa relação não tem uma única pinga de amor, logo sem amor não podem haver ciúmes. Às vezes pergunto-me se a popularidade vale a pena tudo aquilo que faço, incluindo-o a ele. A verdade é que nunca fui anónima, e nunca espero ser. Luzes, copos e discotecas é a minha vida. Especialmente agora, que estou prestes a assinar um contrato com uma agência de modelos.

- Olá querido – disse, dando-lhe um daqueles beijos em que todos sentem a necessidade de olhar para o outro lado, mas que para mim não significa nada de nada.

- Olá sexy – sim, para o meu namorado atlético, chamar-me ‘sexy’ é um termo afectivo. Tudo bem, não é uma ofensa, mas mesmo assim não é como ‘fofinha’ ou ‘querida’.

Mas já me habituei.

As aulas foram chatas como sempre, mas ao menos pude gozar um pouco com a professora de Geologia. Ela gagueja até dizer chega! Ou melhor, eu digo chega e ela continua! Mete graça, especialmente quando é imitada por mim.

Nos intervalos mal me tive que mexer, tal como sempre, tive pessoas para me trazerem as coisas. Quem diz que não é bom ser-se popular é porque nunca o foi. E, para melhorar o meu dia, ainda consegui gozar um bocado com aquela rapariga super horrível com quem tenho Literatura, que se veste à avozinha.

Quando o inferno acabou, voltei ao meu descapotável e pelo caminho tive que me desviar de alguns rapazes que vinham “para cima de mim com tudo”. Há gente mesmo descarada.

Mas enfim, nada a que já não esteja habituada.

Entrei para o meu carro e comecei a conduzir estrada fora, com o volume do rádio sempre no máximo. Para minha grande seca fiquei presa num engarrafamento, mesmo ao lado de um beco a poucos metros.

Vi-me no espelho retrovisor e retoquei a maquilhagem, ia estar parada durante tempo demais.

Olhei para o lado sem segundas intenções quando vi dois homens que pareciam discutir. Um empurrava e o outro tentava-se defender, até que o primeiro tirou uma arma da parte de trás das calças e empunhou-a.

Fiquei sem respiração nesse momento, mas não me contive e tive que assistir ao resto.

O homem que tinha a arma elevou-a e premiu o gatilho, dando um tiro certeiro no peito do outro homem, que caiu contra a parede e consequentemente para o chão.

Fiquei petrificada, e ainda mais quando o homem olhou para mim e esforçou a vista para me identificar. Sei que devia virar a cara ou fugir dali, já sabia o que ia acontecer a seguir, eu via filmes, não era inculta. Mas o medo não me deixou virar a cara, e enquanto ele decorava os pormenores da minha feição, eu decorava os dele.

Elevou a arma na minha direcção e eu, finalmente reagindo, baixei-me mesmo a tempo de me livrar de ficar com um buraco no meio do crânio.

A fila de carros não andava, eu tinha que sair daqui.

Tirei o cinto e arrastei-me até ao outro banco, saí do carro e desatei a correr pelas ruas, sempre a olhar para trás, e poucos minutos e vários disparos e gritos meus, parei de o ver.

Sabia o que tinha que fazer, onde tinha que ir, e por isso decidi fazê-lo rápido.

 

***

 

Enquanto estava sentada na cadeira em frente ao agente do FBI perguntava-me porquê eu. Porque não tinha sido outra pessoa a ver aquele homem horrível e sem qualquer sentido de moda a assassinar o outro? Eu era boa pessoa! Mantinha uma dieta saudável, não roubava, não maltratava animais nem usava produtos que os faziam sofrer… muito. E só gozava com as pessoas umas cinco vezes por dia!

Por isso porquê eu?

Podia ter sido um ladrão, um burlista, o meu vizinho do lado! Mas não eu!

- Muito bem menina McGavin – começou o agente –, o que a menina viu faz parte de algo mais. O homem que viu ser assassinado era um dos nossos, estava infiltrado há mais de dois anos numa organização de tráfico de armas e de pessoas. Esta gente é perigosa, entende?

Limitei-me a assentir com a cabeça. Porque é que ele me estava a contar isto?

- Por questões de segurança, como deve entender, vou pô-la no Programa de Protecção de Testemunhas.

Engasguei-me mal ele disse isto. O Programa de Protecção de Testemunhas?!

- Vai-me mandar para a Dinamarca ou assim? – Perguntei, a medo. De súbito as discussões dos meus pais pareciam-me uma doce melodia que poderia acatar com felicidade.

Ele riu-se.

- Não. Vai ficar um pouco mais perto… porém vai requerer algumas mudanças. Tais como não se dar com ninguém desta sua vida, nunca, em alguma circunstância falar com alguém sobre alguma coisa da sua vida a não ser as pessoas com as quais vai ficar, e… mudar a aparência.

Mudar a aparência?! Ok, pronto, se pensava que as aulas de Matemática eram o inferno não podia estar mais errada. Isto sim, é o inferno!

- Para onde… para onde é que vou? – Perguntei. Não queria ir para nenhum sítio gelado. As Caraíbas pareciam-me boa ideia… ou talvez Havai.

- Nashville, Tennessee.

- Nash-Nashville Tenne-ssee? – Gaguejei.

- Mas isso não é tipo um sítio só de campo e animais e isso?

- Menina McGavin, a sua vida está em risco, acha mesmo que está em posição de escolher?

Oh não… eu, no meio daquela bicharada toda?! Isto não vai ser bonito, nada mesmo. Não sei do que é que tenho mais medo, se do assassino de polícias infiltrados, ou de aranhas e osgas.

Eu não sou uma rapariga de campo! Odeio a Primavera porque trás bichos! Odeio caminhadas porque são em campos!

Eu sou refinada, como uma flor delicada. E preciso de cuidados, muitos cuidados. Não vou sobreviver num sítio assim…

O agente levou-me até uma sala onde me cortaram o cabelo… quando o vi cair no chão até as lágrimas me vieram aos olhos, quando entrei lá estava pelo meio das costas, quando saí estava pelos ombros, escadeado e loiro, ainda por cima! Agora todos iam pensar que era burra!

- Não! – Resisti, enquanto uma mulher me queria tirar o telemóvel – Isso é meu!

- Lamento, mas isso é um modo de seres localizada – disse o agente.

- Mas… - uma lágrima escorreu-me pela face – então e a minha vida? Os meus amigos? Diabos, a escola?

- Isso é passado – disse ele, tirando-me gentilmente o telemóvel das mãos e entregando-o à mulher –, esta é a tua nova vida, Jill.

Passou-me para a mão um bilhete de identidade com a minha fotografia e o nome de “Jill Mary Logan” com montes de dados falsos. Jill? Que raio de nome era Jill?! Eu tinha mais cara de Rachel ou assim.

Nem me pude despedir de ninguém, disseram que se comunicasse com alguém estaria a pô-los em perigo, logo não me deixaram fazê-lo.

Fui num jacto privado com o agente para… brr, Nashville, e mal desembarcámos vi um casal com umas roupas super foleiras a olhar para nós, e a encaminharem-se para cá. O agente sorriu e cumprimentou o homem.

- Então és tu que vais ficar connosco – disse a mulher, com um sotaque demasiado carregado. Ai onde eu me vim enfiar…

- Bem-vinda a Nashville… vais amar isto! – Disse o homem. Era oficial, eles eram demasiado reluzentes, sorriam demasiado.

Brr, Nashville… “Socorro!”, pensei.

 

Se vocês gostarem, quando tiver a parte dois posto-a...

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