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SOS Nashville

por Andrusca ღ, em 16.03.11

"Quando cheguei à cozinha, mais uma vez, deparei-me com o retrato da bela família a tomar o pequeno-almoço, todos em paz e harmonia. Perguntava-me se algum dia poderia ser assim com os meus pais.

Ao entrar na cozinha, mais uma vez acolheram-me como uma das deles."

 

Parte 4


- Porque é que ela não anda?! – Perguntei, já falta de puxar a égua, e ela sem se mover um único centímetro.

- Ela não gosta de estranhos – disse Liam, ao descer do seu cavalo e vir ter comigo. Afagou a cabeça da égua e sorriu-me. Adorava o ser sorriso, ele tinha capacidade para ser um daqueles modelos mais bem pagos de sempre… mas de alguma maneira não sonhava com isso. Não conseguia entender porque não quereria ser conhecido…

A escola dele começa para a próxima semana, as obras já acabaram e estão na fase das limpezas… acho que me estou a afeiçoar a ele, por muito mau jeito que me dê. É que ele é… alguém. Não um alguém superficial ou mentiroso ou fingido… ele simplesmente é… alguém real.

Suspirei, detestava ter estas coisas na minha mente, esta não sou eu, é simplesmente alguém que está há tempo demais longe da própria vida.

- Há algum problema Jill? – Perguntou-me, ao ver-me a olhar embasbacada para ele. Jill… ele tem razão, eu já não sou a Amy, sou a Jill. Sou uma mentira. Sinto que já não existo, já não me sinto como antes. Não sou eu.

- Não – acabei por responder.

- Anda lá, eu levo a Star, tu podes ir no Trovão – disse, apontando para o cavalo castanho-escuro, que estava parado a poucos metros de mim.

- Ok – comecei a dirigir-me ao Trovão e parei, a olhar para ele. Ele era tão enorme… como raios é que Liam esperava que eu fosse subir para isto?!

- Não sabes subir, pois não? – Calculou, pelo tempo que eu demorei parada.

- Não – respondi, embaraçada.

- És mesmo menina da cidade – riu-se.

- Pois… parece que sou… - admiti.

Ele aproximou-se de mim, já montado na Star, e esticou-me a mão, ajudando-me a subir também para ela, ficando atrás dele.

Star caminhou até Trovão e Liam agarrou-lhe nas rédeas, trazendo-o também connosco.

Era a primeira vez que montava um cavalo, e senti-lo a mexer-se, a andar, metia-me completamente aterrorizada. Sentia que ia cair a qualquer momento.

Star era mais pequena que Trovão, aliás, era a mais pequena de todas as éguas e cavalos que Liam e os pais possuíam. Talvez por isso ele a tenha escolhido para mim… é pena não gostar de estranhos…

- Onde vamos? – Perguntei, quando notei que pela primeira vez saíamos da propriedade e íamos em direcção a um bosque.

- Eu quero-te mostrar uma coisa – disse –, não te preocupes, não é longe.

- Ok.

Andámos por pouco tempo, até começar a ouvir o barulho de água a cair. Liam desceu da Star, ajudando-me depois também a descer, visto que eu ia cair de boca se ele não me agarrasse, e depois agarrou nas rédeas dos nossos dois companheiros e caminhámos por poucos segundos até encontrarmos uma cascata enorme, que formava um pequeno lago. Era lindo… as únicas paisagens que tinha visto assim tinham sido em filmes, e bolas, não chegavam nem lá perto.

- Gostas? – Perguntou.

- Estás a gozar? – Murmurei, aproximando-me do pequeno lago de água cristalina – É fabuloso…

- Então raparigas da cidade sabem apreciar a natureza…

Voltei-me para ele, estava perto demais… a poucos minutos de nos tocarmos.

- Só uma pessoa burra não ia achar isto lindo – disse-lhe –, e eu sei que neste momento estou loira, mas não sou.

- Nunca me vais dizer o teu nome verdadeiro, pois não? – Perguntou, quase a sussurrar, aproximando-se cada vez mais. Eu queria dizer-lhe, mais que tudo, queria dizer-lhe tudo da minha vida porque era fácil falar com ele, porque ele ouvia…

- Eu… - parei a meio, a voz não saía, ele estava milímetros de me beijar e o meu coração palpitava no peito com uma ferocidade que pensei que o pudesse romper e sair cá para fora.

Engoli em seco e corei ao pensar que queria que ele se aproximasse só mais um bocadinho, que o queria beijar, que o queria para mim…

Oh não, eu não me podia estar a apaixonar verdadeiramente pela primeira vez. Não agora, não por ele.

Star fez um barulho que me assustou, visto que à nossa volta apenas ouvíamos os passaras, e que me fez saltar e impulsionar-me para trás.

Liam ainda me agarrou no pulso, mas não foi o suficiente e caímos os dois no lago, naquela água transparente e gelada como tudo.

Voltámos ao de cima quase ao mesmo tempo e nadámos até à margem. Ele saiu primeiro e eu a seguir. Ficámos os dois sentados na relva por dois segundos, até que ele começou a rir. Olhei para ele, não sabia onde estava a graça.

- Onde está a graça? – Perguntei-lhe.

- Nada eu só… - fez uma pausa e recompôs-se, para depois me olhar directamente nos olhos – Tu és única, já alguma vez alguém te tinha dito isso?

Corei. Não, nunca ninguém me tinha dito, nem mesmo o meu… agora já nem tinha a certeza que se o podia denominar de namorado.

- Não – admiti –, porque é que dizes isso?

- Só… eu não me consigo lembrar de uma época em que me ri tanto como me rio desde que cá chegaste.

E nisto começou de novo a rir à gargalhada.

- Obrigada! – Disse, fingindo um tom de ofendida – É bom saber que as minhas figuras tristes de animam os dias.

- Melhoram… quer dizer, a mangueira e o porco? Essas foram dignas de apanhados…

- Liam! – Dei-lhe um safanão devagar no braço e ele parou.

Ambos olhámos para a frente, mas a paz durou pouco tempo, pois desta vez fui eu que me desmanchei a rir.

Ele olhou para mim sem perceber nada.

- Eu faço mesmo algumas figuras tristes – disse-lhe, entre gargalhadas, enquanto revia todos os momentos que tinha passado desde que cá chegara.

- Ahah, pois fazes.

No meio do silêncio deste espaço deslumbrante, com os cavalos deitados a descansar, e nós completamente encharcados da cabeça aos pés, só se ouviam as nossas gargalhadas.

Não me conseguia lembrar da última vez em que me rira tanto, e com tanta vontade, com tanto prazer. Deve ter sido há tanto tempo… há demasiado tempo, na minha opinião.

Quando finalmente acabámos de rir, já me doía a barriga. Rir-me com ele sabia bem. Livre.

Um calafrio passou-me pela espinha e espirrei.

- Estás com frio? – Perguntou.

- Não… só estamos no Inverno e aquela água estava gelada – ironizei eu.

- Ah, nesse caso tudo bem.

- Estúpido.

- Loira.

Dei-lhe outro pequeno safanão, mas ele agarrou-me e aproximou-se um pouco de mim.

- Queres ir para casa? – Perguntou, de novo a querer juntar o seu rosto ao meu. “Se quero ir para casa? Não! Quero é que me beijes de uma vez!”, pensei.

- Sim – disse, quase com o coração a saltar-me do peito.

- Vamos – deu-me a mão e levantámo-nos os dois.

Voltámos para casa na Star, e sempre a rir e a falar. Não sei há quanto tempo é que não me sentia tão bem.

 

Não reli, por isso peço desculpa pelos erros que vocês provavelmente vão encontrar...

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