Together as One
Capítulo 7
Festa
Ellie
Finalmente a primeira semana estava a acabar. Não que não gostasse da escola, gostava sim, mas estava a demonstrar-se mais desgastante do que esperava. Enquanto que no colégio todos me diziam o que fazer e como me comportar, agora não tenho ninguém que o faça, apenas pessoas em casa que me apontam o dedo se não o fizer.
Ser a filha perfeita não é fácil, nunca ninguém disse que era, mas no entanto cada minuto que passava na escola me sentia mais livre, e por alguma razão sentia que era errado por várias razões. Os meus pais contavam comigo para gerir a empresa de advogados após o meu pai não se encontrar mais apto. Os professores contam que tire as melhores notas pois sempre tive uma educação bastante superior. E depois tenho o Michael que às vezes dá a entender que quer que eu esqueça tudo isto e aja como ele, que não se importa nem sabe o que quer ser do futuro. “Nem tu”, apareceu-me, no pensamento. Sim, é verdade, nem eu sei o que fazer do futuro. A verdade é que todos esperam qualquer coisa de mim, porém ninguém me pergunta o que anseio, o que eu espero de mim, de como quero que a minha vida seja. Eu não sou a filha perfeita, sou apenas uma boa interpretação de tal papel.
O meu telemóvel começou a tocar na mesa-de-cabeceira e apressei-me a atender. Era Alyssa.
- “Boa noite!” – Saudou, aparentemente feliz.
- Boa noite – e eu ri-me com a voz que me fez.
- “Vais à festa daqui a nada?” – Fiquei surpresa com esta pergunta. Já tinha ouvido falar da festa, porém não sabia onde era, nem quem a estava a dar. Mas a única coisa que sabia era que não podia ir.
- Não posso, desculpa.
- “O quê?! Mas vai ser tão giro, vá lá!”
- Não posso mesmo… - nisto ouvi a minha porta abrir e Jules apareceu, o jantar já estava pronto – Olha Alyssa, tenho que ir, vou jantar.
- “Mas pensa na festa” – Insistiu.
- Vou ver o que posso fazer.
- “Bom jantar. Depois telefona-me.”
- Está bem. Adeus.
Desliguei e desci com Jules, e enquanto me fui sentar no meu lugar na mesa, ela foi buscar o jantar.
Estava tudo muito silencioso, apenas se ouviam os talheres, e pouco depois o meu pai começou a falar dos negócios com a minha mãe.
Queria perguntar-lhes se podia à festa, porém já sabia que a resposta viria negativa. Mas também, se nunca tinha tido a oportunidade de ir a uma festa destas, eles deviam-me deixar viver esta experiência, certo?
- Há uma festa hoje… - comecei, fazendo com que todos na mesa olhassem para mim – e eu gostava de ir.
- Nem pensar – disse o meu pai. Tal como imaginara.
- Mas…
- Nem pense – cortou a minha mãe – Lá porque a deixámos sair do colégio não quer dizer que se possa comportar como uma desamparada, uma vulgar, uma…
- É só uma festa mãe – disse Michael, ele ia, ele ia sempre a estas coisas.
- Não interessa. A sua irmã fica em casa que fica muito bem – disse a dona Davies, já com a voz de “a conversa fica por aqui”.
Suspirei e continuámos o nosso jantar do ponto em que tínhamos parado.
Quando acabámos, subi para o quarto e telefonei a Alyssa a dizer que não ia mesmo poder ir, e depois sentei-me na cadeira da secretária a dar uma vista de olhos pelos cadernos, com música a dar baixinho no computador.
Eram quase onze horas quando bateram à porta, e sem esperar, entraram. Pelo comportamento nem precisei de ver para saber quem era.
- Pensava que estavas na festa – disse, para o meu irmão.
- Decidi esperar por ti – o meu coração palpitou ao ouvir isto e finalmente olhei para ele – Falei com os pais, despacha-te lá, temos uma festa para ir.
Os meus lábios abriram-se num enorme sorriso e saltei da cadeira para me agarrar ao pescoço do meu irmão e abraçá-lo. Sim, há vezes em que o odeio, mas também há aquelas raras em que tenho 99% de certezas que nenhum de nós é adoptado.
Dei-lhe um beijo na bochecha e abri o roupeiro a pensar no que vestir, mas depressa me apercebi que não fazia a mínima ideia do que usar.
- Michael… o que é que uso? – Perguntei-lhe.
Ele abanou a cabeça e revirou os olhos, e depois ajudou-me a escolher a roupa. Vesti-me na casa de banho, e apesar de não ter detestado o resultado final, também não me sentia eu. A saia era preta e algo acima do joelho, e a blusa tinha apenas um ombro e era azul-turquesa. Os All-Star eram da mesma cor. Deixei o meu cabelo solto e pus um brinco com uma pena azul na orelha esquerda, e várias pulseiras prateadas no pulso direito.
Maquilhei-me muito levemente, visto que não estava habituada a ver-me muito produzida.
Assim que saí da casa de banho, o meu irmão olhou para mim e sorriu.
- Uau, eu faço mesmo milagres – disse-me – Estás linda. De agora em diante eu vou escolher a roupa para o dia-a-dia.
- Ahah, nem sonhes Michael, eu só uso roupas curtas uma vez por ano.
Ele abanou a cabeça e enquanto eu arrumava o telemóvel, chaves de casa e o gloss numa pequena mala preta, foi buscar as suas coisas ao seu quarto.
Descemos as escadas e surpreendi-me ao ver já as luzes todas apagadas, os meus pais nunca se deitavam antes da meia-noite.
- Os pais já foram dormir? – Perguntei.
- Já, doía a cabeça à mãe e o pai estava cansado do trabalho – respondeu o meu irmão.
- Está bem. Vamos?
- Depois de ti – ele abriu a porta e esperou que eu passasse para em seguida a fechar.
Dirigimo-nos até ao seu carro e eu sentei-me ao seu lado, no lado do pendura.
- Onde é a festa? – Perguntei.
- Descobres quando lá chegares – ele olhou para mim e piscou o olho.