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Love Between Changes

por Andrusca ღ, em 12.04.11

Capítulo 9

O Primo

 

Já se tinha passado uma semana desde o início das aulas, e as coisas andavam mais calmas. Kevin dizia que eu andava mais desligada e, nas suas próprias palavras, “mais morta em relação ao mundo e tudo o que te rodeia”. Mas isso não me interessava, pois ele era o único a reparar.

Desde aquela manhã nunca mais tinha estado sozinha com Logan, nem queria. Percebi finalmente que não importava em que lado da linha entre o amor e o ódio eu estava, pois o resultado iria sempre ser o mesmo. Ele estava do seu lado, e eu do meu. Não éramos compatíveis.

Acho que de uma certa maneira, comecei a tornar-me na “velha” eu aos poucos, e não gostava muito disso, mas assim sofria menos. Assim era apenas aquela rapariga que se está a lixar para tudo e todos.

A fila do bar estava gigante, não estava com a mínima paciência para isto.

Contornei todos os corpos imóveis que esperavam e pus-me no início da fila.

- Ei… - olhei para a pessoa que ia começar a reclamar e ela calou-se.

- Ias dizer alguma coisa? – Perguntei.

- Não, nada – ao dizer isto dirigiu o seu olhar para o chão. A melhor decisão que podia ter feito.

Depois de ter o meu pedido fui sentar-me sozinha numa mesa, não me apetecia ver Amy agarrada a Logan outra vez, nem aturar as palhaçadas de Collin e as birras das minhas amigas.

- Oi – tocaram-me no ombro, mas ao ouvir a voz nem precisei de me virar, e logo vi Kevin sentar-se ao meu ombro –, tudo bem?

- Tudo, e contigo? – Perguntei-lhe.

- Está melhor agora – dirigiu-me um sorriso e eu retribuí-lho.

Estivemos a conversar até tocar, e mesmo no caminho para a aula me ia a rir. Ele era definitivamente aquela pessoa que ia querer sempre ao pé de mim. Aquela luz ao fundo do túnel.

Quando as aulas finalmente acabaram fui para casa, queria limpá-la depressa para que à noite pudesse ir sair. Sim, porque a dona de casa sou eu, os meus pais não se deixam convencer pela minha conversa para contratarem uma empregada.

Estava quase a acabar quando vi que não havia detergente para pôr a máquina da roupa a lavar. Fogo, mas o dia ainda pode piorar?!

Agarrei nas chaves de casa, carteira e telemóvel e fui ao Supermercado a pé. A sorte foi que me despachei depressa de lá.

Resolvi voltar pelo caminho do jardim, que além de ser mais rápido era também muito mais agradável à vista.

Lembro-me de quando vinha para aqui brincar, em pequena, num tempo em que os meus pais nem sonhavam em ter discussões ou trabalharem um terço do que trabalham agora. Num tempo em que era querida e inocente, e não tinha que esconder as coisas que sentia como forma de passar pelo Ensino Secundário por cima. No tempo em que nem sabia o que a palavra “falsidade” significava.

Suspirei. Eu tinha saudades desses tempos em que tudo era tão simples.

Sem dar conta, fui de encontra a um menino pequenino, e se não me tivesse mexido tão depressa e o tivesse agarrado, ele ia ao chão. Ainda ficou um bocado desconfiado a olhar para mim, tinha um cabelo clarinho e uns olhos escuros, que me olhavam com certa curiosidade.

- Estás sozinho? – Perguntei, ao olhar em volta e sem ver ninguém que o procurasse.

- Nhão – respondeu-me.

- Como te chamas?

- Donny.

- Donny. Donny, quantos anos tens? – Ele esticou-me a mão, encolhendo o dedo polegar, mostrando-me que tinha quatro anos.

- Donny! – Ouvi. Oh não, não esta voz não. Voltei-me para trás e vi o seu rosto ficar aliviado e formar-me um sorriso, dirigindo-o em seguido para o pequeno Donny aproximou-se dele e pôs-se de cócoras – Pára de fugir de mim Donny, tens que ficar ao pé de mim!

- Mas eu nhão goto de tu! – Disse o Donny, ao cruzar os braços e fazer uma cara amuada – Eu goto delha!

- Donny! – Disse Logan, com uma voz chateada. – Anda lá, deixa a Daphne em paz, vamos.

- Nhão! – E assim do nada, o Donny agarrou-se às minhas pernas e eu olhei para Logan, que suspirou.

- Quem é ele? – Perguntei-lhe, secamente.

- O meu primo. Os meus tios saíram com os meus pais, a Jenny foi não sei aonde, e eu fiquei encarregue de aturar o pirralho. – Primeiro bufou, mas depois sorriu e olhou para mim. Vi logo no que estava a pensar.

- Não, não, não, é que nem penses Logan, vai-te lixar – disse logo eu.

- Vai-te wixai – Repetiu Donny.

- Não digas isso Donny – repreendeu Logan, ao que Donny respondeu deitando-lhe a língua de fora.

- Vá lá por favor – pediu Logan –, ele gosta de ti. Podemos fazer qualquer coisa, juro, mas fica connosco. Vá lá, eu não faço ideia do que fazer com ele.

- Qualquer coisa? – Perguntei, ao que ele assentiu freneticamente positivamente – Combinado. Vamos para a minha casa – afirmei, mordendo o lábio.

E assim foi, fomos para a minha e quando lá chegámos dei um monte de roupa para que Logan dobrasse, enquanto eu punha mais a lavar. Ele queixou-se, mas eu disse que ou fazia o que eu quisesse, ou nada feito. E ele não teve outro remédio, se não aceitar.   

- Finalmente – ouvi-o dizer, quando acabou de dobrar a roupa.

- Agora mete naquele armário – apontei para um armário que estava no hall de entrada – para depois se passar a ferro.

- Oh, vá lá…

- E não resmungues!

Quando acabámos tudo reparei que o pequeno Donny estava a dormir no sofá, por isso disse a Logan para o levar para o meu quarto para ficar mais confortável.

Sentei-me no sofá e mudei o canal da televisão dos desenhos animados para um filme qualquer.

Logan desceu e sentou-se ao pé de mim. Sentia o seu olhar preso à minha cara, como se quisesse dizer qualquer coisa mas não conseguisse, mas não me atrevi a olhar. Até certo ponto…

- O que é que queres?! – Perguntei-lhe, enfadada, virando-me para ele.

- Tem lá calma – reclamou.

- Tem lá calma?! – Ok, se ninguém lhe diz nada não é problema meu, mas eu não estou para aturar as suas mudanças de humor repentinas – Tu passas um dia inteiro comigo, dormiste na minha cama, e tornas-te no rapaz que eu conheci, só para depois, ao fim de tudo isso, voltares a mudar e tornares-te no tipo mais estúpido de todo o mundo?! Passaste um dia inteiro a fingir!

- Não, eu não estava a fingir – disse ele, calmo.

- Não! Eu é que não estava a fingir! – Gritei-lhe, mas depressa baixei o tom de voz para não acordar Donny – Quem és tu? Porque eu preciso de saber Logan. És o tipo que conheci na santa terrinha, ou és o idiota que faz de tudo para se manter no topo?

 Ele ficou atónico a olhar para mim, mas eu pouco me importei. Tentei ver nos seus olhos como se sentia, pensei que talvez o percebesse melhor, ou pudesse aceitar, se visse que o rapaz que conheci ainda restava algures dentro deste. Mas não o vi. Nem ponta dele.

Quando abriu a boca para começar a falar, o som da campainha fez-se soar e eu fui ver quem era. Ao abrir a porta fui atingida por um abraço super apertado e um sorriso brindou-me ao mesmo tempo que fui largada.

- Por aqui? – Perguntei, ao que Kevin apenas assentiu – Entra.

Ele entrou mas estagnou, e eu quando me virei fui contra ele. Esta gente pára sempre nos melhores sítios, não haja dúvida.

- O que foi? – Perguntei-lhe.

- O que é que ele está aqui a fazer? – Perguntou o meu melhor amigo.

- Longa história – respondi, com a voz azeda – Mas vem, senta-te, eu vou meter um filme.

- Olá meu – cumprimentou Logan, quando chegámos à sala – Não sabia que vinhas.

- Olá. Pois, não estava a pensar era de tu cá estares – disse Kevin. Ok… silêncio constrangedor… esta tarde não ia piorar.

- Querem comédia ou terror? – Perguntei-lhe.

- Comédia – disse Kevin, a sorrir-me.

- Terror – disse Logan, ao mesmo tempo que Kevin tinha respondido que queria comédia. Ai a minha vida…

- Porquê terror? – Discutiu Kevin – Esses filmes não prestam para nada.

- Mas a Daphne gosta mais de terror que de comédia – disse Logan, encolhendo os ombros. O quê? Ele lembrava-se disso? Apenas tínhamos falado sobre filmes uma vez há dois anos e ele lembrava-se?

Não sei o que senti neste momento, quereria isto dizer que ele estava de volta, que nunca se tinha ido embora, ou que finalmente percebera o estúpido que estava a ser?

Ou talvez nenhuma das três. Talvez estivesse apenas a brincar comigo como fez durante todo este tempo.

Mas podia jurar que pela maneira como me olhava o tinha de volta. O Logan, o rapaz de quem tanto gostava, o rapaz que tanto desesperei por voltar a ver depressa. Mas quem queria eu enganar? Mesmo que ele estivesse de volta, como saberia se era certo? Como teria a certeza que não ia voltar a mudar e a magoar-me? Como saberia de certo que o que me transmitia através de um olhar era verdadeiro?

Olharam os dois para mim para que eu desse, ou não, razão a Logan. Decidi não dar, se ele estava a ser estúpido para mim porque razão me havia de importar com ele?

- Comédia – disse-lhes –, vamos ver uma comédia.

Enquanto Kevin sorriu triunfante, Logan ficou amuado. Também só me faltava agora era lidar com crianças.

Quando Donny acordou ainda faltava um pouco para o filme acabar, mas Logan decidiu ir logo com ele para casa, por isso fui levá-los à porta enquanto Kevin ficou à espera no sofá.

- Da póxima vez bincas comigo? – Perguntou Donny, esticando-se para me dar um abraço.

Baixei-me e abracei-o.

- Sim, da próxima vez brinco contigo – respondi-lhe.

Ele deu-me um beijo na bochecha e deixou-me levantar-me.

- Obrigado por me teres deixado vir para aqui com ele – disse Logan, visivelmente chateado.

- Não agradeças – respondi –, não foi por ti. Adeus Donny – dirigi um último sorriso ao primo de Logan e fechei a porta, mesmo com Logan a olhar espantado para mim.

“Não te importes, não te importes, não te importes”, exigi-me, em silêncio.

Voltei para a sala e continuei a ver o resto do filme com Kevin. Quando acabou, convidei-o para ficar para jantar e depois fomos dar uma volta ao parque.

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